Lêillane Soares
Éramos perfeitos um para o outro
Éramos amigos. Nos conhecíamos desde crianças. Diferentemente de Romeu e Julieta, nossas famílias se adoravam. Era quase como se fossemos parentes. Tínhamos muitos amigos em comum e os que não eram tornavam-se. Éramos perfeitos um para o outro: loucos na mesma proporção. Então um certo dia resolvi dar uma chance para a nossa relação e aceitei o pedido de namoro.
Passaram-se 14 dias de felicidade extrema. Nem eu te sufocava, nem você me prendia e assim queríamos estar sempre perto um do outro. Nos controlávamos só para não desfocar das atividades cotidianas que eram obrigatórias e de extrema importância. Eu sentia-me completamente feliz só por saber que você estaria ali para mim (e você dizia sentir a mesma coisa). Estava tudo muito perfeito. Eu deveria saber que viria uma bomba a qualquer hora, já que sempre me aparece um motivo para ficar triste quando fico alegre demais.
Então —como o destino demora, mas não falha— um belo dia eu acordei feliz por ter sonhado contigo e por termos conversado antes de dormir. Olhei meu celular com os olhos ainda embaçados e tinha uma porrada de mensagens e ligações perdidas suas. Esfreguei os olhos, li e não acreditei que era real. Voltei a dormir e acordei novamente. Para minha tristeza vi que não era pesadelo e sim uma realidade da qual eu não poderia acordar: você estava me deixando. E o pior: você me deixou sem motivos.
A facada que mais dói é a de quem você não espera. E eu nunca esperei uma de você. Então eu me acabei de chorar por dias, bebi muito (coisa que não faço), dei vexame, acabei com a minha dignidade e vomitei. Vomitei tudo que eu tinha por dentro. Lembrava de ti com um certo enjoo, ressacada. A paixão é mesmo uma coisa: uma hora existe, noutra some. E para sumir tive que vomitar todo o sentimento que eu tinha por você.
Sem ti senti como se nada tivesse sentido. Depois senti como se nada tivesse sentido por ti.
E sim, éramos perfeitos um para o outro, mas aí acabou. E fim.
Escolhi não te esperar
Te vi e assim que coloquei os olhos em ti, te quis. Aproximei-me e perguntei seu nome, que combina com o meu, então nunca esqueci. Outra vez estava sem óculos e, mesmo sendo míope, te reconheci de longe. Fiquei dali admirando a tua presença borrada.
Passaram-se anos até que, enfim, nossas vidas se cruzaram novamente. Finalmente tive a chance de te conhecer, conversar, conviver, e ter a ilusão de te ter por alguns instantes. Eu te tive por perto durante muito tempo. E apesar de poder te ver de perto, demorei a desembaçar a tua imagem e te enxergar de verdade. E nem é culpa sua, já que você vivia tentando abrir meus olhos a seu respeito, deixando bem claro que você nunca quis nada além comigo. Só que eu tinha esperança e esperei você mudar de ideia, tanto que me desfiz de quase tudo que eu achava correto só para tentar te ter sempre ao meu lado. Mas não vale a pena, meu amor. Nunca vale a pena se você tem de desistir de ser você mesmo ou não se orgulha do que tornou.
Certo dia, como outro qualquer, você finalmente quis dar um basta nisso e partiu. E foi diferente das outras vezes em que eu ou você partia e depois voltávamos à estaca zero. Dessa vez eu deixei você ir. E naquele dia em que você foi embora eu fiz uma das escolhas mais sérias da minha vida: eu escolhi não te esperar. Nunca mais.
E eu sei que quem fica se parte e quem parte nunca vai inteiro. E que não é fácil para nenhum dos lados. Você se foi, mas um dia pode perceber que deveria ter ficado e eu terei que ter forças para não te aceitar de volta. É necessário ser muito forte para deixar ir embora quem você quer e que quer ir e a ser muito firme para não deixar que o mesmo volte a lhe partir.
É melhor aceitar a perda e pagar a dor à vista do que passar a vida toda parcelando uma espera sem ter o devido retorno.
Quanto mais rápido aceitamos a tristeza, mais rápido ela acaba. A tristeza amassa, o tempo passa e as lágrimas secam. Um dia esse sentimento secará também. Espero.