Layla Péres
Faço planos em cima de pessoas que nem lembram de mim, escrevo para amores que já me esqueceram. Sou um verdadeiro oposto do que a sociedade manda e eu não tenho medo de ser o que eu sou, não mesmo.
Doeu demais, sofri demais, aturei tudo o que poderia aturar, e agora, fujo de tudo isso. Tudo que eu quero é não comentar esse assunto. Falo com quem se importa, caso ao contrário, jamais vão saber quem realmente foi você e qual foi o seu papel na minha história.
Não posso chorar para sempre por culpa de um amor mal resolvido. Não posso querer parar de viver só porque de vez em quando, me sinto uma fracassada. Não posso ignorar o fato que tenho um longo caminho a seguir. Sentirei saudade desse amor aglomerado dentro de mim. Sentirei saudade do modo que te via e que ninguém mais conseguia – Ninguém chegou a esse ponto de loucura por você, não é menino? – Aos poucos fui percebendo que você é apenas um menino imaturo que está crescendo e por isso, resolveu me abandonar.
Talvez, eu possa te encontrar daqui uns anos. Talvez, iremos embora para sempre desse lugar. Talvez tudo acabe hoje, mas talvez, nada disso acabe. Queria não mais enfrentar o mundo. Queria anular os fatos e ficar quietinha, escondidinha do meu mundo. Se eu pudesse, essa história jamais acabaria, mas eu não posso. Talvez, seja só o começo, talvez seja só o final.
Eu danço, bebo, comemoro por vencer mais um dia. Danço, bebo, comemoro e entrego meu corpo a qualquer estranho. Como se ele me pudesse me devolver inteirinha, sem tirar e nem por. Mas é em vão, e mesmo assim, ainda continuo nessa insistência de vencer os dias, nessa insistência de fingir que eu to ignorando.
Salto, maquiagem fortíssima, cabelo hidratado e copo de vodca na mão. Aos poucos percebo que sou intensa demais e preciso me comportar. Mais vodca, mais sorrisos, mais entregas. Nem ligo muito na hora, na verdade, a consciência pesa depois. Mais vodca, corpo mais leve e passa um menino e me leva junto. Quero voltar, e consigo. Volto, mais vodca, mais dança, mais entregas. Pensamento chega. Pensamento vai embora, quero ir embora mas ao mesmo vou ficando, já que sou uma nova menina com novas ideologias. Corpo leve, agora eu estou fácil, bem fácil.
Olhar intenso, foda-se o mundo, foda-se as ideologias do amor verdadeiro. E quando dei por mim, estava com sabe-se lá quem. Parece que a menina santinha e inocente já não é tão mais inocente. Parece que a sofredora se tornou a causadora de todo sofrimento.
Pouco penso nele, é verdade, pouco penso e pouco falo. Ninguém mais se interessa, nem eu. O mundo nem foi tão cruel comigo, eu fui muito mais cruel comigo mesma. Eu me iludi sozinha e boicotei todos os meus sonhos, porque era mais seguro amar alguém que nem lembrava meu nome. Sempre foi mais seguro me infiltrar nessa história do que viver alguma nova. Me iludi, criei sonhos em cima dele, e desisti de outros que eram tão bonitinhos.
Chorei sozinha, reclamei sozinha, acabei me tornando algo que não sei mais quem. Fui má comigo. Em vez de vítima, ganhei papel de destaque de vilã nessa história.
Não sou santinha, não sou boazinha. Sou uma menina que faz coisas certas e erradas e isso é absolutamente normal. Chega um dia que é preciso crescer. Chega um dia que a gente quer desistir e outros, queremos tentar. Chega um dia que o mundo não suporta mais sua carência e te rotula. Chega um dia que partimos para outra, já que estamos cansadas de esperar por alguém que não se importa.
Ele não me dá mais a mínima, não quer mais saber de mim, e deve nem mais me ler. Mas eu não sinto raiva, nem ódio. Não quero dar a volta por cima só para mostrar ao mundo que estou bem.
Eu sou forte, tenho sonhos, tenho uma vida inteira pela frente entre desilusões, vodcas e responsabilidades. Mas chega um dia que precisei deixar o rótulo de santinha só para dançar conforme a música da tal vida. Tive que deixar algumas ideologias para aprender corretamente como que se faz.
Chega um dia que ser taxada como louca não faz mais sentido. Chega um dia que eu vou querer ser levada a sério. E eu não tenho orgulho algum, e continuarei correndo atrás daquilo que acredito. Penso que muita coisa poderia ter sido evitada. Muito choro poderia ter sido adiado, muito sonho poderia se realizar, muitas pessoas poderiam ir embora de vez.
Já que ninguém mais me dá valor, eu também comecei acreditar que não merecia qualquer forma de valor. E garanto que é bem melhor assim. Não sou triste, não sou nada.
Sou uma menina com ideologias e atitudes complexas. Minha alma é pesada, é triste, é sombria. Tenho pensamentos obscuros, tenho vontade de parar a qualquer momento. Mas eu não me dou o valor que tão pedi para o mundo que me desse. Com a falta desse menino, conheci tanta gente, me virei em cada situação, pude enfrentar o mundo na base do grito ou até mesmo na base do silêncio.
Mas aí, a festa acaba. A bebida me faz ter amnésia. A bebida me faz ser o que sempre fui. E eu não me importo, porque todos estão bêbados e não vão se lembrar de mim. Não me importo, não mesmo. A festa acabou, fiquei de boa, brisando ou até mesmo querendo que tudo passe, porque eu sei, nada disso é sanidade, tudo isso é loucura. O tempo passou. E a menina cresceu
Depois de muito tempo fui me analisando, olhei fixamente para o espelho e eu já não sei quem mais sou. Tenho dez quilos a menos quando comecei a escrever, olheiras profundas, lágrimas querendo descer, e maquiagem borrada. Continuei me olhando no espelho fixamente e tentei adivinhar os fatores que aconteceram para que ele pudesse me ver longe. Não sou horrorosa, sou até bonitinha – quando estou em perfeito estado, sem olheiras ou maquiagem borrada –
Continuei me examinando e vi o corte no pescoço, não fundo, apenas um cortezinho como se um gato me arranhasse ou como qualquer coisa assim. Continuei por um bom tempo pensando no que eu havia me transformado, ou até mesmo, no que eu era verdadeiramente e que só agora revelou-se. Dez quilos a menos, um sorriso torto mas que possa mostrar a segurança de dizer que está tudo bem – mesmo sabendo que não há nada bem aqui –
Sobraram os restos. Restos de sonhos e amores, de risadas e de abraços compulsivos. Sobrou um corte na garganta, sobrou a pena das pessoas e o olhar surpreendente de todos. Mostrei ao mundo uma menina que ninguém havia conhecido. Mostrei ao mundo uma menina que eu nem sabia que existia dentro de mim. Uma menina liberal, fácil, simpática e sorridente. Uma menina que tem cabelos loiros tingidos, sorriso fraco, e um jeito fácil de lidar. Não há complicação, não há negação, é apenas sim. Eu apenas digo sim.
Lembrei de quando meus sonhos eram fáceis, e quando eu era apenas uma menina, que ainda assim, milhares de vezes queria desistir de tudo. Meus sonhos não são levados a sério, eu não me levo a sério e assim, ninguém também me leva. E eu nunca fui o exemplo de nada.
E eu nunca fui o exemplo de nada. Na verdade, nunca quis ser o exemplo de nada e ninguém. Sempre achei um porre ser exemplo de alguma coisa. Me idealizaram como a menina boazinha e descobriram que isso não tinha nada a vê comigo. Sempre soube que não nasci para ser boazinha mas preferi que os outros pudessem descobrir isso.
Sempre achei um porre essas meninas que são sempre legais, são sempre animadas, são sempre sorridentes. Eu não sou assim, nunca fiz questão de ser.
Me tornei algo que só Deus sabe, e eu não faço questão de descobrir, porque é melhor assim. Continuei parada e fui olhando cada espaço que há do meu corpo, meus braços magros, com alguns músculos salientes – faço academia ainda – E minha cor quase transparente, há séculos que eu não sei o que é ficar bronzeada, e não faço questão alguma disso. Tentei pensar que tudo estava bem e que já havia superado essa coisa interminável que há dentro de mim. Não consigo controlar. Quando dou por mim, estou sozinha, em desespero, pedindo para que tudo acabe rapidamente.
Desejei nunca mais te ver, desejei nunca mais falar seu nome e nunca mais sonhar com tua presença horripilante mas tudo isso continua sendo tão em vão. Continuei desejando sentir sua presença, quis te ver e sonhei contigo.