Layla Péres
Não consigo te ver como antes. Tudo está perdendo a graça. E você já não é mais tão misterioso como antes, aos poucos o amor vai virando lembranças de um tempo não tão distante, mas vai se conformando, ficando quietinho na memória e mais quieto ainda dentro de mim.
Sinto vontade de deixar tudo pela metade, porque todos nós sabemos o final. Olho no relógio a cada segundo, com o intuito de que eu desapareça e você apareça. Olho para o relógio como se estivesse esperando algo, mas não há nada para ser esperado nesse momento.
O que eu ainda estou esperando?
Espero algo como se fosse mudar minha vida para sempre.
Não estou me importando, assumo. Gosto do impossível, improvável. Mas isso me destrói aos poucos. Preciso começar a gostar de coisas mornas, de pessoas mais mornas ainda. E eu adoro o frio. Não existe para mim, o meio termo. Não consigo ser quase. Eu sou ou não sou. Odeio cobranças. Odeio que críticas sobre o meu modo de pensar, ou o jeito que eu sou. Odeio quem sempre me pergunta por que sou fechada. E eu amo, amo e amo perguntas que jamais vão ter respostas. Amo sentimento recém descoberto, que sempre vem com um frio na barriga, o coração dispara só de ouvir o nome ou só de ouvir o celular tocando, e mesmo assim, a vergonha de atender. Permito que me iluda, mas não me permito continuar iludida. Permito que se apaixonem por mim, claro, mas não permito que façam pressão para que seja recípocro.
Escrevo tentando adivinhar o sofrimento futuro e até mesmo, escrevo para tentar encontrar alguma coisa atrás-de-outra-coisa. E é com essa magia de mistério que me faz querer continuar.
Por mais que eu queira demonstrar alguém forte, acabo mostrando a minha verdadeira personalidade. Olho para o pôr-do-sol lá fora e peço renovação. Não agüento mais a mesma coisa de sempre. Não agüento mais falar em silêncio, chorar em silêncio e até mesmo, amar em silêncio, pensar em silêncio. Só consigo falar pausadamente, só consigo falar sobre as dores que não sei nem ao menos se existem realmente
Não agüento mais esse silêncio que vive dentro de mim.
E percebeu? Odeio silêncio, mas amo o sossego. Odeio silêncio, mas amo a paz interior. Odeio silêncio, e por isso, amo falar. Odeio silêncio, mas às vezes é preciso se calar. É preciso um dia, pedir silêncio ao mundo que grita em volta de mim, como se tudo fosse loucura.
Tive escolhas, apaixonava ou evitava. Quis evitar, mas acabei me colocando em risco, e me apaixonei, e hoje, a história não faz importância.
Querer é poder sim, mas às vezes a realidade prefere negar o seu poder, e impede o seu querer. Insistir em algo é como fosse explicado em atitude que ainda acredita em algo que não era mais para acreditar.
Insistir mesmo que o mundo fique contra você. Insistir até não ter mais forças e querer parar. Insista na sua felicidade, mesmo que ninguém que consiga acreditar nela.
Sou sentimental demais. Ando conhecendo partes minhas que já não me faziam tanta falta, mas que também não conhecia perfeitamente. Descobri. Sou sentimental demais! E agora Deus? E agora mundo? Além de ser dramática, sou sentimental. E agora estão explicados todos os meus problemas.
Eu penso, falo, sorrio com o coração, é exatamente isso.
O mundo me comove. E é por isso que odeio o vazio.
Porque sou cheia. Cheia de fases, cheia de sonhos, cheia de choros e carências.
Evito não amar. Evito não entrar em contato. Evito conversas, frases, sorrisos e suspiros. Evito porque tenho medo da dor. Evito porque no fundo tenho medo da rejeição. Evito porque não quero deixar minha maquiagem borrada pela milésima vez e meu orgulho ferido.
Evito porque no fundo, não quero dar uma nova chance ao mundo, mesmo todo mundo fazendo com que eu creia nessa chance de mudar a vida e o mundo.
Estou conformando dia após dia com a realidade. Ultimamente, ela anda comigo lado a lado. Me faz companhia e às vezes, me empurra na parede e me diz coisas terríveis, coisas que eu não queria saber, e não desejaria ter a noção do que são realmente.
Minha imaginação é mil vezes melhor e mais pura que qualquer realidade do mundo. A minha imaginação vai me levar a lugares incríveis e terei os sonhos mais doces e puros.
Faço drama porque acho os meus dias chatos demais, sensatos demais, sem graças demais. Todo mundo adora dramatizar o fim exageradamente, todo mundo aproveita a dor de cotovelo para poder escrever, compor músicas, chorar.
Todo mundo aproveita uma dorzinha verdadeira para poder dizer que está se acabando, sendo que mal começou. E mesmo se for uma dorzinha verdadeira bem lá no fundo da alma, para mim, sentimental demais, é uma dor exageradamente. Mas não me permito chorar.
Quando ele foi embora, admito, pensei que iria ficar louca de uma vez por todas. Pensei que a qualquer momento, seria capaz de pular de um prédio, da janela, mas não foi nem isso que aconteceu. Quando ele foi embora... na verdade, ele não foi embora totalmente. É uma das grandes coisas que gostaria de entender.
Por que ele nunca foi embora de verdade? Por que ele sempre fica aqui? Dessa vez, quero falar sério, não quero dramatizar dor alguma. Mas no fundo, sinto uma dorzinha, ela é extremamente patética e sem sentido. Eu que sempre fiquei tão conectada a ele, sendo que jamais se ligou a mim.
Essa dor irá acontecer milhares de vezes em toda minha vida. Deixo acontecer.
Não digo que um dia tudo vai ser esquecido, por histórias assim deixam marcas profundas que nem o vento e o tempo conseguem apagá-las. Mas você vai ver o choro de hoje menina, se transformará no sorriso puro de amanhã, e te prometo que vai ser isso que realmente acontecerá. Hoje, você se lamenta com a ausência, daqui um tempo, você pode ver que foi sentimentalismo exagerado. Nós mulheres possuímos a mania de exagerar um pouquinho... Tá bom, exageramos muito.
Te prometo que tudo um dia todo esse caos vai passar, te prometo que você um dia vai conseguir voltar a acreditar no amor. E foi isso que o meu pobre coração me disse.
Por que não acreditar que o impossível um dia, poderá chegar?!
I Believe!
Ela era a última menina sozinha daquela cidade. Amelie, dezessete anos, filha de pais separados, um metro e sessenta e nove centímetros de drama, sorrisos e amores. Com cabelos na altura do seu ombro. E ela adorava se comparar a Capitu, a personagem de Machado de Assis.
Sim, Amelie tinha olhos de ressaca. Era assim que aquela menina sempre se denominava, mesmo não sabendo o que significava detalhadamente essa expressão, olhos de ressaca. Amélia tinha algo que ninguém sabia o que era exatamente, sabia que ela sentia um amor inconsolável, mas ninguém realmente queria entender.
Amelie, agora com seus quase dezoito anos, agora sim, um número perfeito e ela também continua imperfeita. Qual é a graça de fazer tudo certo? Qual é a graça de ser perfeita? Não há graça alguma. E essa menina, que tinha olhos de ressaca, sabia de algo importante. Mesmo que a vida dela havia parado no tempo, conhecera os clichês como um bom e velho clichê dizia. "Depois da tempestade, chega o arco-íris".
E daí, Amelie? Todo mundo sabe que você adora tomar chuva.
Ele com seus dezessete, ou seria dezoito? Ela com seus dezesseis, ou seria dezessete? Em algum lugar do passado, eles eram um casal. Não, não casal propriamente dito, não um casal comum, mas eles sabiam que eram um casal, e isso era realmente importante.
Ela, com sua sensibilidade a flor da pele. Ele, com seu jeito arrogante e prepotente de ver o mundo e de se ver. Mas assim não dava, assim, nada se resolveu, até que em uma noite fria e bastante chuvosa, ela pode dizer o que queria. E ele? Ele fez o que? Ele apenas disse que não poderia corresponder toda aquela expectativa, mas ainda continuavam sendo um casal, um casal de conto de fadas moderno, mas sim, um casal.
Eles, que sempre foram tão unidos, tão bonitos e tão admirados, por pessoas diferentes, também seguiram caminhos diferentes. Era isso que o destino havia preparado para aqueles dois, aqueles que um dia duvidaram do amor, e que estavam recebendo em dobro as suas dúvidas, e as suas lutas.
Não se falavam mais, não se viam mais, não se importavam mais. Era isso que o destino queria? Não eram mais amigos, nem ao menos conhecidos, se afastaram e se perderam.
Tudo acontecera rápido demais, ela se apaixonou, ele não. Ela se iludiu, ele não. Ele partiu, ela ficou. Tudo era confuso, um passo adiante para ela, era trezentos para trás. Não era exagero, a vida não evoluía, a vida não queria mais nada a não ser afastá-los, afas... ta-los, afa...lo.
Quando houve uma forma de comunicação diferente, estranha, uma única forma. A forma de comunicação fora rejeitada e de novo, se perderam por meios de uma nova mulher, um namorado e muitos, MUITOS dramas. Mas de alguma forma encontrada, um se lembrava do outro, mas, a comunicação foi em vão, e mais uma vez se perderam. Ela se perguntava como ele está, se o cabelo dele ainda continua grande, se ainda ele quer participar de uma banda. Ele, deitado com outra em uma cama numa cidade litorânea, pergunta-se se ela ainda é dramática, temperamental.
Um se lembra do outro, mas por que não podem assumir isso? Ele sabia que se pudesse voltar, ela perdoaria. Ele sabia que para ela, nada mais interessava a não ser ele. Ela sabia que para o mundo ser perfeito, ele tinha que estar ao lado dela. Ela sabia que para ele, o desapego sempre foi maior, ele não sossegava com mulher alguma, por que sossegaria com ela?