LASANA LUKATA
ao escrever A Madrasta de Pedra, eu não fiz opção pelo sofrimento, eu tinha um material sofrido de onde extraí poesia.
se a sua rotina começa 6 da manhã
e acaba às 9 da noite,
seu dia termina como um morcego:
de cabeça para baixo.
meus olhos
são dois cavalos rebeldes
que de repente disparam pra longe
e regressam com as patas sujas de versos.
ah, se toda pancada fosse de chuva
e a pouca distância, de fato, uma curva...
minha vida envolvida em água tão turva,
tropeçando, caindo, infinitos estorvos.
periferia
o vento de outono soprou
e fui colhendo folhas...
em cada uma havia um verso
e todas juntas um poema,
que agora averbo em teus ouvidos
e na margem deste mundo.
o meu poema te rodeia,
espaço branco producente,
de umidade e razão.
garça, alba plumagem
onde escrevo teu nome.
remembrar
depois do trabalho de cavar
à espera do profundo,
decepcionada com o ninho
e o ritmo ordinário,
a saúva sobe o abismo
e, entre as folhas do outono-,
reencontra suas asas.
boquiaberto
com a técnica oriental
de se olhar por dentro
o capitalista percebeu
que tinha coração
e assim começou a venda de órgãos
SUICIDA PÓS-MODERNO
por sua causa, Raquel,
ele foi para a frente dos carros,
mas eram carros de brinquedo;
por sua causa
ele pulou da ponte Rio-Niterói,
mas praticando bungee jump;
por sua causa
ele ia tomar chumbinho,
mas deu ao rato mesmo:
não se deve cobiçar as coisas alheias.
Eu sou auditivo
As pessoas dizem que uso palavras rebuscadas, umas maldosas dizem que quero ser diferente e não é isso. Eu quero oferecer aos ouvidos os sons diferentes. Eu sou aquele menino que reúne diferentes conchas do mar numa latinha e começa a buscar um ritmo, também assim faço com as palavras sacudindo-as dentro do poema. As palavras que causam estranhamento no leitor são palavras que eu amei pelo som como a palavra Flostriar, Conquassivo, Indelével com o L sendo pronunciado. Eu sou a simbiose de judeu com africano, dois povos extremamente auditivos.