LASANA LUKATA
o diabo é como o político que não revela aos eleitores a sua impugnação e os faz andar em passeata no sol de meio-dia.
oh Democracia,
como Saul em Davi
arremessou a sua lança,
quanta gente com sede
quer te encravar na parede!
um técnico de futebol dominado pela paixão, deixa de ser técnico para ser mais um jogador em campo. Ele passa para dentro das linhas do gramado e a razão fica sentada no banco de reservas.
especial leitura
distante,
fecho os olhos
para tocar seu nome em braille
e imediatamente brilhe
essa outra forma de senti-la
com duas mãos.
entre as pedras, a mais perigosa delas é a pedra oculta. Aquela bate e esconde a mão, a mão de pedra.
para entrar no poema
tire os sapatos...
como a garça, pé ante pé,
não esbarre nas palavras barulhentas:
minha cicatriz tem sono leve.
quando uma mulher fala:
você parece com o meu marido!
no mundo dos álbuns, ela está dizendo
que a figurinha é repetida,
não vai completar o álbum.
os muçuns
eles turvam a água
para que você não veja,
para que você não beba,
para que você não seja,
para que você não saiba,
para que você não suba
e depender da aspereza;
turvam a água e são retráteis,
retratos de déspotas a despistar
cinicamente;
eles estão na superfície
e nós no fundo, entre náufragos,
como seres estranhos,
se alimentando do que afunda
e está morto;
no fundo, sem vermelho,
sem amarelo,
sem verde
e o azul já se desfaz,
escuro e frio...
eles estão na superfície
e nós no fundo,
em baixa temperatura-
dentes à mostra-
e a pressão aumenta
esse entredevorar-se.
tempo em que a palavra verde esperança
é proliferação de bactérias
e há versos que nascem das feridas,
da injustiça, do incêndio, do abuso-,
e até os poemas são equipados para a guerra.
olho a para um lado,
lama e lodo.
talvez seja a parte,
parece o todo.
olho o outro lado-
lodo e lama-,
parece que este mundo
está em chama.
A internet deu a onipresença aos escritores, mas são criados novos corredores para passar somente alguns.
a garça aviva sua brancura
a garça encrespa sua brancura
a garça finge suabrancura
a garça é plágio do urubu
exposta à violência do vento,
do mar, do homem
e de sua fantasia,
a garça fica nua
para vestir a burguesia