Lalice
Passado
Em minha cama,
Voltada aos céus,
Surgiu um pequeno monstro.
Expulsei-o e tranquei a porta.
Mas, todas as noites,
Ele retorna
Nas horas mais tardias.
Memórias vivas
Das mais belas cores
Meu mundo transformou
Dei-lhe minhas flores
Mas tudo passou
Resta-me lembrar
Lembrar de ti
Do nosso lugar
Tudo que perdi
Ansiedade
Sinto um ar
Ar que arde em meu peito
Ar que me sufoca a alma
Ar que da pureza não respiro
Envenena minhas veias
Atrofia meu coração
Não consigo respirar
Apenas te peço
Leve minha angústia
E segure a minha mão
Por favor, devolva minha fala
Minha boca não diz nada
Quando a mente
Tem tanto a pensar
O ar preso no pulmão
Não me deixa falar
Por favor, devolva minha fala
Eu quero lhe dizer
Que sinto uma angústia
E talvez queira padecer
Minha mente não responde
Quando sei que morrerá
Como posso eu sobreviver
Sem tuas mãos na minha pele,
Sem teu olhar sobre os meus,
Simplesmente, sem você?
Apenas poderei acolher, portanto,
O destino da própria morte,
Que me libertará da vida,
Como uma amiga querida.
Carta de Despedida
Se vou,
Peço-lhe que deixes.
Não sinto dor,
Nem alegria.
Muito menos, amor.
Se vou,
Peço-lhe que deixes.
Há de existir,
No meu interior,
Um profundo vazio.
Se vou,
Peço-lhe que deixes.
Mas fico,
Se há alguém
Que me salve da vida.
De Vênus veio o amor
Belas, belas estrelas
Essas que escondem deuses
Os mesmos que profetizam o amor
De vós, só quero a luz
Para brilhar em meus céus
Como a melodia dos mares
Que envolvem meu silêncio
Oração ao tempo
Virou a esquina à frente,
E ficou para trás.
Mal passou,
E já chegou.
Amigo da cura,
E da angústia.
Tenha tempo, tempo.
Não corra!
Não pare!
Boa tarde
Tarde, boa tarde!
Como foi seu dia?
Não me diga!
Venha.
A noite demora ainda
e a felicidade espera
sua vinda.
Pessimista - Parte I
Levantei.
Mas para quê?
Levantarei outras vezes,
Outros dias,
Até que a morte
Mostre-me seu caminho.
Cinco segundos em chamas
Passou de relance
Olhou para trás
Encontrou seus olhos
Olhares profundos
Desconhecidos
Apaixonados
Que nunca mais se olharam
Sua falta
Sinto,
Sinto-me assim.
Não posso afirmar,
Mas está em mim
Cada parte do seu olhar.
Sinto,
Sinto-me sem mim.
Como pôde levar
Com destino ao fim
Uma parte do meu pomar?
Sinto,
Sinto-me no fim.
Não deixei de amar,
Mas mesmo assim
Foi e colocou-se a caminhar.
Apaixonei-me
Apaixonei-me pelo Sol
Sua chama me aquece, ilumina
Queima-me, porém
Ofusca minha luz
Minha luz
Apesar de tudo
Das névoas pertinentes
Surgem olhos,
Olhos contentes.
Das cinzas queimadas
Surgem mãos,
Mãos amadas.
De um fosco vazio
Surge um brilho,
Um brilho de alívio.
Sem você
De todas as formas
Não vivo
Sem o que me mantém vivo
Você
Seu quente toque
Mostrava-me seu mundo
Nuvens nas quais
Não vivo mais
As gotas de chuva
Que apenas molhavam
Nossos lábios colados
São, agora, lágrimas frias
Sem sua pele
Sem seu ar
Viver não posso mais
Sem você
País das Armadilhas
Se minha queda é de desespero
Tentam me levantar
Quando me levanto, "sou capaz"!
Tentam me arrastar
Não quero mais acordar
"Não aguentou e já quer se matar"!
Se...
Caso pensasse em você,
Estaria perdida!
Digo, pois, completa e totalmente
Que nego minha confusão!
Perdida de paixão não estaria
Se você não fosse a razão
Da minha confissão.
Diário de um lúcido louco
Raiva, por que sinto raiva?
Se solto algum som, grito!
Se ouso calar-me, grito!
Grito!
Para mim e para os outros:
Grito!
Apenas o que faço:
Grito!
CULPADA!
Pensou, pensou e pensou...
Mas sequer o fez.
Deixou passar,
quis a solidão,
mas nunca se sentiu tão só.
Perdida em meio a culpa solitária,
não soube viver.
Das mais escuras nuvens, cultivara.
Pelas mais escuras nuvens, morrera.
Uma brisa leve tocou os meus cabelos...
Gostei, permiti mais um pouco.
Então, um forte vento começou...
Diverti, estava descabelada!
Quando percebi, o violento ar envolvia-me...
Relaxei, estava voando!!
Agora, não mais envolvia, esmagava...
Tudo bem, vai passar.
Mas tudo foi fortemente sugado...
Socorro, estou presa!
Não conseguia respirar com tanto ar...
Por favor!!
Porém, com intenso clarão, tudo se foi...
Olhe! Minha alma passando pelo ar.