L. Simões
Ah, você lá com suas incertezas, suas novelas na TV, sua cuba libre pela metade e seu amor próprio tão impróprio pra você mesma.
Minha urgência maior tem sido a verdade, assumir as saudades vez-em-quando-e-quase-sempre e dizer a mim mesmo que chorar é um indício de fraqueza muito saudável.
A verdade é que estou lembrando, ah, toda noite lembrando, não me importando tanto e seguindo. Nunca esperando, sempre acelerando.
Cheguei a acreditar em Deus, me embebedei em lugares estranhos e corri contra um tempo que não existe mais. Pensei em alguém.
É bonito ser feliz, embora às vezes eu prefira deitar numa grama morna com o único objetivo de fechar os olhos e ficar em silêncio, sem pedir ou querer nada.
Às vezes desejo ter para onde voltar, porque acredito que todo mundo deve ter um lugar para chamar de Seu e poder chegar quando as coisas não dão pé.
Ainda não encontrei. Nem nas bocas que não beijei, nem nos olhares que pouco desvendei, nem nas pernas, nos perfumes, nas entradas e entranhas de sexos e corações diversos. Nada que me machucasse tanto e me cuidasse tanto como você
Estou escrevendo para dizer que apesar de negar, eu senti nossa despedida acontecendo enquanto ainda nos beijávamos e já suspirávamos por coisas diferentes no desagarrar dos lábios
Quero correr perigo e sentir medo de perder tudo o que tenho novamente, ao invés desse sentimento branco de não saber mais o que é meu
Tudo bem? Você vai perguntar sempre, eu sei. Querendo ir além, saber de alguma coisa nova que mantenha esse fio fino de cabelo forte ligando a gente
Ainda guardo aquela boa sensação angustiante de que a qualquer momento você vai soltar num tropeço de impulso que quer sim dividir toalha e roupa de cama comigo
Aceitei te deixar como regra natural das coisas, para acabar com aquele blá blá blá de quero-você sendo que nada acontece enquanto o amor está em conserva, cuidado e esperando não sei o quê
Não sei até quando vou pensar nos porquês e poréns, mas a gente arruma artimanhas para evitar cogitar as reticências e aquilo que poderia ser
Acredito que somos capazes de olhar nos olhos um do outro e saber quem tem fome do quê. O resto é uma questão de vontade para matar ou manter as coisas e seguir viagem
Talvez seja apenas um frágil desencanto. Daqueles ruins de se ver passando pelo outro lado da rua, indo embora em um táxi insone, lento e vazio em um dia de chuva comum
Desculpa, mas perdi a compostura, o pique e o salto alto. Nunca tive dessa de me manter em pé a todo custo, viva para re-começar
Me responde cara, o que é que a gente faz quando não espera mais atitudes drásticas da vida? Continua e segue esperando um terremoto da natureza sacudir tudo de novo?
Deixei morangos perdidos na geladeira. Isso nunca acontece por acaso ou descuido e eu sei bem que eles estavam lá apodrecendo, e deixei, vi, senti, uma parte boa e bonita indo embora de mim
Me sinto tão despedaçada, com vontade de me pendurar envolta do pescoço de alguém e dizer: leva, cuida que é teu agora. Como se fosse simples transferir responsabilidades
Ainda sei tua música preferida e todos os pontos sensíveis do teu corpo. Mas, de nós dois mesmo, tô um pouco por fora, olhando de longe e, além de qualquer coisa, sentindo uma saudade passiva que me fez chorar agora