L. S. Dias

Vagueio e me vicio no vazio de você.

Decepciono-me. Des-opciono-me.

A ruína em mim arruína-me.

Interessam-me os sons dos sentimentos silenciosos.

Não desate: esses nós somos nós.

Após os olhares terrenos
(Pequenos delírios carnais)
Nos resta apenas o menos
Querendo ser muito mais

Em um boicote à mudez, a pele denuncia o que a boca não diz.

Entreter: ter entre; te ter.

Preciso confessar: há tempos ultrapassei o limiar das segundas intenções.

Sinto falta da falta que sentia.

Desejar tanto quanto respirar.

Recriar perigos. Dispensar abrigos.

O menor desvio pelo meio poderia mudar nosso fim.
Nossos meios, porém, já estão quase no fim.

Sinto sob a pele a falta que tua pele me faz.

Receio esse ansiar sem freios.

Engulo suas vírgulas como quem bebe café frio.

Ainda que erva daninha, floresço.

E no fim ficamos nós. Ligados a nós que não ousamos desfazer.

Abster-se de intenções para aquietar tensões.

Apesar dos pesares, aposto nos opostos.

Das duas, uma: ou me afundo em você, ou nem me dou ao trabalho de entrar no barco.

E assim seguimos: ora reforçando, ora afrouxando os nós entre nós.

Me pergunto se sou o tipo de livro que você não quis ler até o fim.

Escrever: ver através da escrita.

Dispensei as palavras: ultimamente tenho me dedicado apenas à leitura corporal.