klara wingler
Era mais um dia de sol, era carnaval quando teu olhar pousou no meu,
como quem não queria nada, enquanto a vida vibrava naquela praça.
Aquele ambiente vivo, alegre e colorido,
novamente teu olhar pousou no meu.
Eu que respondia cada um deles, desfoquei, brinquei, conversei.
Você riu das minhas piadas com um sorriso bobo e uma gargalhada afiada,
foi quando descobri que do mesmo humor se tratava.
Calor de 40º no Rio de Janeiro, procurávamos sombra,
estávamos ali sentados, soberbos e agitados.
Dessa vez, meu olhar pousou no teu,
tua mão pousou na minha,
meu riso caiu no teu e teus lábios permaneceram nos meus.
Olha isso, olha aquilo e a gente ria,
em uma gargalhada infinita,
jurava que aquele dia não acabaria.
Corre para cá, corre para lá,
até que corremos para tua casa,
roupas no chão misturadas,
corpos em brasa,
então deixa a faísca,
nos deixamos pistas,
para quando precisarmos,
corrermos um para o outro,
com fôlego de quem quer e faria tudo de novo.
Guardei o que precisava, encaixotei o que faltava.
Embrulhei lembranças, reordenei memórias.
Assisto tranquila e serena as malas pela casa.
Sentimento de nostalgia, enquanto no silêncio absoluto, me pergunto:
“Quantas vezes já senti esse ambiente?”
Quantas pessoas aqui passaram?
Quantas lágrimas de riso e choro aqui já derramaram?
Quantas conversas geniais e fios soltos aqui ficaram?
Vejo a chuva cair, nessa cidade fria, onde ao anoitecer, parece que ninguém habita.
Sinto esse lugar pelas últimas vezes.
Sinto a alma justificar-me, sinto o cheiro dos amores passados,
sinto o vento socar as janelas, sinto a madrugada fria desafiando o escritor a escrita.
Eu quero que você saiba, que...
Pode se passar ao lado de alguém anos, meses, semanas ou apenas cinco dias, que nunca saberemos quem são as pessoas.
Nunca saberemos o que elas passaram, guardam, pensam, sentem, sofrem ou escondem.
Podem te passar análises psicológicas, históricos de saúde, árvore genealógica e mapa astral, mas nós nunca saberemos a verdade absoluta de quem são as pessoas.
Elas podem criar um personagem ou um novo universo a sua volta, sorrir, chorar, gritar, lhe beijar a alma e te fazer gozar, mas nós nunca em hipótese alguma, sabemos quem são as pessoas.
Então pense antes de navegar, reflita antes de se importar e mantenha seu “eu” sempre em primeiro lugar
O que se passa aí dentro?
O que houve que o deixou tão confuso sobre você mesmo?
Você tem seu universo particular, sua forma de agir, pensar.
Só não esqueça que dentro de cada um também há vida, momentos, cortes e feridas.
O calor que no teu corpo habita, em meu corpo fez breve moradia, e já não mais corresponde com tua saída vazia.
Seu toque, sua pele, seu beijo, se perderam em meio ao gracejo que a vida nos aprontou, como também por sorte e pouco tempo nos transbordou.
Mas a vida é assim, água que não deve ser desperdiçada, areia pisada, doce e marmelada, choro e ventania, água de coco e maresia, verso, prosa e poesia.
Simplesmente não é recomendável ouvir certos tipos de pessoas, pois se você observar, essas mesmas pessoas que aconselharam-te, julgaram-te e ainda observam-te, estão no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas e tendo as mesmas vidas.
Tal vida que queriam para ti, a qual queriam prender-te, sufocar-te na mesma cidade, vendo as mesmas coisas, sofrendo os mesmos desamores, pois por falta de fé ou caráter não acreditavam que tua capacidade não lhe deixaria permanecer ali.
Por fim, essas mesmas pessoas que perderam tempo minando-te ao invés de espelharem-se, não caminharão o abismo que andaste e nunca chegaram aonde tu traçaste.
"Andei procurando sentidos que pudessem levar-me do náufrago ao porto.
Desembarquei em ti Bahia.
Solo que me era pouco conhecido.
Pisei na tua terra, banhei-me em tuas águas, abracei teus nativos e respeitei tua mata.
De ti não quero distância, quero teu mel, tua pimenta, dançar com os Pataxós e fazer eternas lembranças.
Agradeço teu conforto, teu zelo, teu alvoroço,
que sem nenhum esforço faz de mim um todo".
Ás vezes precisamos fazer alguns esforços para construirmos o futuro que buscamos.
Abandonar nossa casa e criar asas.
Deixar amigos, desgrudar de amores e encararmos sozinhos o que está por vir.
Como dizia Suassuna “A tarefa de viver é dura, mas fascinante”, e estando sempre entre a constante do que dói agora e focar no futuro brilhante, mora a dúvida no peito dos que choram, de saudade ou nostalgia, de melancolia ou alegria.
Deixar nunca foi fácil para mim, simplesmente abrir mão e seguir, mas necessário foi!
Certamente é uma tarefa para os corajosos, esses que já se mudaram tanto que colecionaram lembranças suficientes para lhe marcarem o espírito e tocarem a alma.
E todo conselho que nos damos é: -“Calma!”.
Uma hora você chega, uma hora você descansa, pois a vida é uma dança, mas nunca foi brincadeira para criança, quem tem perseverança alcança e quem cansa não avança.
A Bahia tem uma magia que é só dela!
Ela ensina, cura e recupera.
São processos mágicos, lentos que te fazem perceber o gosto e a importância do vento.
É banho de mar de dia, banho de mar a noite, tira seus medos como uma mãe que te apresenta o escudo e a foice!
Por aqui também existe banho de sol e lua, dança na rua, que cativa os nativos, os visitantes e toma tua alma nua.
Eu, humana falha, aceito todo o poder, toda a sabedoria que ela vem me ensinando a cada dia, e é por isso que eu lhe digo, SOU LOUCA POR TI BAHIA!
Eu gosto mesmo são dos seres mutáveis,
Aqueles que se reinventam,
Ora suportam, ora aguentam
Gosto do sabor da metamorfose,
Onde apenas sobrevivem à mudança, os fortes!
É permitido dançar com a impermanência,
Enfrentar as turbulências, testar as convivências, buscando alimentar a sapiência.
Ele é breu
Faltou o doce do mel, faltou o azul do céu.
A nascente sem água, uma floresta sem mata.
Um céu sem estrelas, uma noite fria sem fogueira.
A vida é cinza do seu lado do horizonte, não existe cores, amores ou mais nada que o encante.
Ele é breu, não chama nada de seu, caminha na solidão, não quer nada no coração.
Há algo em você.
Há algo em você que não liberta seu potencial,
Há algo entrelaçado em você que te prende e não solta teu instinto carnal.
Há algo em você que tentei destrancar e deixar escorrer,
mas o seio de teus dogmas foram mais fortes, podou a fechadura sem corroer.
Há algo de diferente em você que às vezes briga querendo sair,
mas você por medo se fecha, pedindo a Deus para aquilo não existir.
Há uma dúvida em você, se sai correndo para libertar quem você é,
ou se fica em casa, trancado, esmagando os sonhos como quem nada quer.
Há algo que uma hora você precisa deixar florescer,
correr teus sonhos sem se enfraquecer.
Há sempre espaços novos para você existir,
sem crenças, sem dogmas, sem conto de fadas, sem receitinha de bolo,
mas um espaço livre para você mesmo descobrir.
O tal do si.
Às vezes tudo que você precisa é um de espaço seguro para manter o foco em si, redirecionar a atenção, o cuidado, o investimento do grandioso tempo, para si.
Às vezes o “si” , se colide com algo que poucas pessoas conseguem enxergar, mas o segredo é manter essa janela para si. Se o outro quiser ver, que a destranque e a abra.
O “si” é um espaço sagrado, é o lar, o refúgio das almas inquietas que estão a todo momento lutando para não transbordar e quando ela vaza de “si”, se torna instantaneamente vulnerável.
Às vezes é necessário parar, olhar ao redor e dar uma pequena vasculhada no “si” e investigar se realmente é ali que ele pertence, para que ele não se perca e o “si” permaneça onde se deseja e onde se cresça.