Klaas Kleber
Teus olhos meus
Teus olhos meus Djanira
lúbricos
ocultam desejos voluptuosos
Teus olhos meus Djanira
salazes
incitam o prazer e a sensualidade
Teus olhos meus Djanira
devassos
revelam minha essência explosiva
Bracara Augusta
Tuas ruas e vielas
retém estórias remotas
que a pobre posteridade
jamais conhecerá
Estórias desprezadas
porém, resguardadas
de glórias e maldizes
da gente desse lugar
Bracara Augusta
coração do Minho
se teus espectros sibilassem
as estórias que tem pra contar
Teus Sacro-Montes
rogariam aos poetas
para que grafassem em versos
as estórias desse lugar
Mais um
Minha solidez de caráter
esconde sob aparências enganosas
a vulnerabilidade do meu ser
Reconheçais como verdadeiro
minha natureza não é assim tão forte
como vós dizeis
Sou apenas mais um a tentar
mais um a tentar
mais um
Temor
Viver no temor do fracasso
no temor da miséria
e no temor da morte?
Que sensação penosa
agravar o fardo
do bem viver
Sou senhor
do meu destino
e árbitro da minha sorte
Temor é algo
que só existe
onde não há bom senso
Subsistir
Uma parte de mim
abriga sonhos desfeitos
esperanças vazias
e incertezas
Sentimentos nefastos
de insatisfação
de descrença
e temor
Não obstante subsisto
resistindo ao tempo
ao sofrimento
e à morte
Pois a paixão pelo viver
é a seiva que me nutre
que me faz forte
e audaz
Desejar
Quanto tempo ainda me resta?
Pergunto-me às vezes
Que a vida é efêmera e findável
Isso eu tenho consciência
E diante disso não há o que fazer
Se não, desejar
Desejar que o dia outro
não seja monótono e vão
Desejar que o amigo outro
não seja apático e desleal
Desejar que o amor outro
não seja tépido e fugaz
Desejar que o poeta outro
não seja falsídico e indolente
Desejar que o desejo outro
não seja nefando e ominoso
Minhas mãos
Ao contemplar minhas mãos
de súbito, senti um ardor de sentimentos
Meu Deus! Exclamei em voz branda
Estas mãos são a condição de tudo
são elas que afagam, que cuidam
que abençoam, que semeiam
que criam e que lutam
Instantaneamente uma emoção
contundente e imprevista
preencheu-me por inteiro
fiquei atônito, estacado
com o olhar pensante e sensível
Meu único desejo era captar
a essência daquele momento
Chagas
Seja cauteloso,
advertiu a minha intuição
E vencido pelo desejo,
num ímpeto irrefreável,
afundei-me no lodaçal da perversão
Resguarde-se,
advertiu a minha consciência
E fazendo-me surdo a ela,
num êxtase irreprimível,
lancei-me no abismo das sensações
O agravo de um ato bestial
são as chagas que
uma ação incontida
pode nos causar
Atenas
O sopro lírico de Éolo
avança o propileu da Acrópole
e encontra eco entre as colunas dóricas
do grandioso Pártenon
Ode em honra de Dionísio!
Exclamou o guardião dos ventos
Ao pé da colina rochosa
sustentáculo do Templo de Atena
abanquei-me para ouvir os poetas
do Odeão de Herodes Ático
Ode em honra de Dionísio!
Entoou alto e bom som o Corifeu
E ao som suave da Lira
o coro grego, em uníssono
compôs a récita poética
em louvor a Dionísio
Minh’alma, embriagada
encheu-se de júbilo
Não há mais volta
Lá se foi mais um dia
e com ele tarefas e aspirações minhas
que já não parecem fazer-me sentido
o que eu tinha a fazer foi feito
Já não há mais volta
Lá se foi mais um dia, redigo
e com ele alegrias e angústias minhas
que mesmo não esquecidas se foram
o que eu tinha a sentir foi sentido
Já não há mais volta
Entrego-me ao sono e descanso
Se o alvorecer me suscitar inspiração
escrevo um poema ou uma canção
exaltando os dias que se foram
Pois já não há mais volta