Khalil Gibran
Sua razão e sua paixão são o leme e a vela de sua alma navegante. Se um dos dois quebrar, você pode adernar e ficar à deriva ou ficar imóvel no meio do mar. Porque a razão, reinando sozinha, restringe todo impulso. E a paixão, deixada a si é fogo que arde até sua própria destruição.
Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar...
"Ainda ontem pensava que não era mais do que um fragmento trêmulo sem ritmo na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera, e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.
Eles dizem-me no seu despertar:
" Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia sobre a margem infinita de um mar infinito."
E no meu sonho eu respondo-lhes:
"Eu sou o mar infinito, e todos os mundos não passam de grãos de areia sobre a minha margem."
Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
"Quem és tu?" "
Quando te separares de um amigo, não te preocupes, pois o que tu amas nele pode tornar-se mais claro com a sua ausência, assim como para o alpinista a montanha aparece mais clara vista da planície.
O Amor
ENTÃO Almitra disse:
-Fala-nos do Amor.
Ele levantou a cabeça
e olhou o povo;
um silêncio caiu sobre eles.
E disse com voz forte:
- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e escarpados.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir.
E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.
Porque assim como o vosso amor vos coroa,
também deve crucificar-vos.
E sendo causa do crescimento,
deve cuidar também da poda.
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais tenros
que tremem ao sol,
também penetrará ate às raízes
sacudindo o seu apego a terra.
Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do palhiço.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.
Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.
Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer
os segredos do vosso coração,
e por este conhecimento
vos tornardes um bocado
do coração da Vida.
Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair da eira do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.
O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.
O amor não possui
nem quer ser possuído.
Porque o amor
basta ao amor.
Quando amardes, não digais:
-Deus está no meu coração,
mas antes:
- Eu estou no coração de Deus.
E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos julgar dignos,
marcará ele o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.
Mas se amardes, e tiverdes desejos,
deverão ser estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.
Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência
do amor, e sangrar
de bom grado e alegremente.
Acordar de manhã com um coração alado
e agradecer outro dia de amor.
Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.
Voltar a casa ao crepúsculo
com gratidão;
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado
e um canto de louvor na boca.
in "O Profeta"
de Khalil Gibran
Se tivesse de escolher entre a alegria e a tristeza, não trocaria as tristezas do meu coração, pelas as alegrias do mundo inteiro.
“Sim, conheci vossas alegrias e vossas mágoas, e quando dormíeis, vossos sonhos eram meus sonhos…
E muitas vezes estive entre vós como um lago no meio das montanhas…”
“Breves foram meus dias entre vós e mais breves ainda as palavras que pronunciei.
Mas se um dia minha voz se desvanecer em vossos ouvidos, e se meu amor se evaporar da vossa memória então voltarei a vós!”
“Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.”
“Os corações que as tristezas unem permanecem unidos para sempre. O laço da tristeza é mais forte que o laço da alegria. E o amor que as lágrimas lavam torna-se eternamente puro e belo.”
“As árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo o nosso vazio.”
“Muitas mulheres ocupam o coração de um homem; poucas chegam a apropriar-se dele.”
“Asas Partidas
O amor é a única flor que desabrocha sem a ajuda das estações.”
“Pois as distâncias não existem para a recordação; e somente o esquecimento é um abismo que nem a voz nem o olho podem atravessar.”
“O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio.”
“A música é a linguagem dos espíritos.”
“Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: Está em nossas lágrimas e no mar.”
“A consciência de uma planta no meio do inverno não está voltada para o verão que passou, mas para a primavera que irá chegar. A planta não pensa nos dias que já foram, mas nos que virão. Se as plantas estão certas de que a primavera virá, por que nós – os humanos – não acreditamos que um dia seremos capazes de atingir tudo o que queríamos?”
Hoje não podeis ver e nem ouvir, e é melhor assim. Mas um dia, o véu que cobre os vossos olhos será retirado pelas mãos que o teceram, e a argila que obstrui os vossos ouvidos será retirada pelos dedos que a amassaram. Então vereis, então ouvireis. E não deplorareis ter conhecido a cegueira e a surdez, pois,naquele dia, conhecereis a finalidade oculta de todas as coisas e bendireis as trevas como bendireis a luz.
Considero-me estrangeiro em qualquer país, alheio a qualquer raça. Pois a terra é minha pátria e a humanidade toda é meu povo.
Tenho diante de mim, uma vida que quero grande e bela,
uma vida que antecipe a chegada do homem de amanhã e
mereça seu respeito e sua afeição.
Vossos filhos não são vossos filhos, são os filhos e as filhas da ansia da vida por si mesma. Vem através de vós mas não de vós e embora vivam convosco não vos pertencem.
Quando descobrires todos os mistérios da vida, ansiareis pela morte, pois ela não é senão um outro mistério da vida.
A consciência de uma planta no meio do inverno não está voltada para o verão que passou, mas para a primavera que irá chegar. A planta não pensa nos dias que já foram, mas nos que virão. Se as plantas estão certas de que a primavera virá, por que nós – os humanos – não acreditamos que um dia seremos capazes de atingir tudo o que queríamos?
O amor é a única flor que cresce e floresce sem a ajuda das estações.
Ser ocioso é tornar-se estranho às estações e ficar afastado da procissão da vida que marcha majestosamente e com orgulhosa submissão em direção ao infinito. Quando trabalhais sois uma flauta através da qual o sussurro das horas se transforma em música. Amar a vida através do trabalho é ter intimidade com o segredo mais secreto da vida. É dar a todas as coisas um sopro do vosso espírito. O trabalho é o amor tornado visível.
Ainda ontem pensava que não era mais
do que um fragmento trêmulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera, e a vida inteira
em fragmentos rítmicos move-se em mim...
Prefiro que minha vida permaneça uma lágrima e um sorriso: uma lágrima que purifique meu coração e me faça compreender os mistérios e segredos da vida, e um sorriso que me aproxime dos meus semelhantes e simbolize minha glorificação aos deuses...
Prefiro morrer de muito desejar a viver na indeferença. Quero sentir nas minhas profundezas fome pelo amor e a beleza, pois observei e verifiquei que os satisfeitos são os mais infelizes dos homens e os que mais se assemelham à matéria inanimada; e escutei e descobri que os gemidos de saudade do apaixonado são mais embaladores que as melodias dos violinos.
Quando a noite cai, a flor fechas as pétalas e dorme abraçada aos seus desejos; e quando rompe a madrugada, descerra os lábios para receber o beijo do sol. A vida da flor é desejo seguido de união: uma lágrima e um sorriso.
Tu pouco dás quando dás de tuas posses. É quando dás de ti próprio que realmente estás dando. É belo dar quando solicitado; é mais belo ainda dar quando não solicitado; dar por haver apenas compreendido.
Para entender o coração e a mente de uma pessoa, não olhe para o que ela já conseguiu, mas para o que ela aspira.
A Alma...
... E o Deus dos deuses separou de si mesmo uma alma e a dotou de beleza.
E deu-lhe a suavidade da brisa matinal e o perfume das flores do campo e a doçura do luar.
E entregou-lhe a taça da alegria, dizendo-lhe: "Só poderás beber desta taça se esqueceres o passado e não te preocupares com o futuro." E entregou-lhe a taça da tristeza, dizendo: "Bebe dela, e compreenderás a essência da alegria da vida."
E soprou nela um amor que a abandonaria ao primeiro suspiro de saciedade, e uma meiguice que a abandonaria à primeira manifestação de orgulho.
E fez descer sobre ela, do céu, um instinto que lhe revelaria os caminhos da verdade.
E depositou nas suas profundezas uma visão que vê, o que não se vê.
E criou nela sentimentos que deslizam com as sombras e caminham com os fantasmas.
E vestiu-a de um vestido de paixão que os anjos teceram com as ondulações do arco-íris.
E colocou nela as trevas da dúvida, que são as sombras da luz.
E tomou fogo da forja do ódio, e ventos do deserto da ignorância, e areia do mar do egoísmo, e terra pisada pelos pés dos séculos e amassou todos esses elementos e fez o homem.
E deu-lhe uma força cega que se inflama nas horas de loucura e desvanece diante das tentações.
Depois, depositou nele a vida, que é o reflexo da morte.
E sorriu o Deus dos deuses, e chorou, e sentiu um amor incomensurável e infinito e uniu o homem e a alma
Quando vosso amigo expressa o pensamento,
não temais o "não" de vossa própria opinião,
nem prendais o "sim".
E quando ele se cala, que vosso coração
continue a ouvir o coração dele...
Quando vos separais de vosso amigo,
não vos aflijais.
Pois o que amais nele
pode tornar-se mais claro na sua ausência,
como para o alpinista a montanha
aparece mais clara, vista da planície.