Keyla Fogaça
Eu sou artista!
Eu amo, desamo
Armo, desarmo
Beijo, esbofeteio
Mostro os dentes em alegria
Abro a boca pra chorar!
Galante, atrevida!
Sou louca, santa...
Destemida, medrosa...
Aventureira...
Dramática...
Múltiplas faces!
Sou artista!
Pedalando na vida...
Encenando!
Levando flores e sorrisos
Mágoas ou tristezas...
chorando o canto...
vivendo histórias...
colorindo sonhos...
Imaginando nuvens!
Sou artista
Com o violão componho!
Sou escultura?!
Esculpida por erros, acertos.
Sou artista!
Homem, mulher!
Garra de pai...
Seio de mãe...
Mente livre!
Sou artista!
Independente!
Dona de mim!
Tiro o chapéu...
Abraço o sol!
Danço na chuva!
Pinto a folia
E da arte sou cria!
Amor, amor, amor...
Agora dormes no silêncio
Da chuvosa madrugada...
Ao cheiro da terra molhada!
Acorda!
Encorajar-me-ei na esperança
De livre
Emaranhar-me em suas mãos perpétuas!
Encontrar-me-ia no afago dos seus braços
Se nada fosse errado!
Songes et mensonges
Apenas!
Por el amor perdí la cabeza!
¡Ella está aquí!
¡Sí, aquí!
¡Ella es una artista! ¿Quién es ella? ¡Mil caras!
Ángel ... ¡Mujer que vivió el dolor!
¡Es la falta de mi piso!
¡Pero es mi paz!
¡Al mismo tiempo, es la calma que viene a mi alma!
¡Una repentina tormenta de amor!
Yo la conocía de antes, pero era sólo la estrella de mis sueños.
Yo sólo sabía de sus características en fotografías. ¡Eso es lo que podría tener!
¡Solamente las fotos!
¡Sólo los artículos de su fama. Viví mi infancia en el conocimiento de amor por ella. Sonriendo ... ¡Feliz!
Perdiéndome en tantos juegos con otros niños...
¡Pero yo era una chica diferente!
¡Me gustaba jugar! Pero también me gustaba leer y ver películas culturales de cine brasileño.
¡Yo me crié! ¿Y ahora?
El amor existe en los diferentes espacios... ¡En el tiempo!
¡La religión separa la humanidad, separando el amor!
¿Y la fe?
¡La fe es independiente de la religión, se une a la gente!
¡Un prejuicio es capaz de herir el amor!
¡El juicio es capaz de destruir un sentimiento!
Duermo y sueño con ella y ella es muy querida.
¡La señora actriz!
¡Una mujer diferente!
¡Nunca voy a hablar de este amor!
¡Él va a morir conmigo!
Él será suavizado por nubes blancas que pasan en el gran cielo.
¡Ah, mi preciosa!
¡Mi ternura! Mi amor!
Yo no duermo porque sueño despierta...
Adiós, mi querida! Me enfrento a dormir!
Hasta hoy!
A paixão é uma coisa que acontece de repente, prendendo-nos em sua chama, envolvendo-nos, até mesmo nos tirando o chão. Por vezes é perigosa, por vezes é mais branda, depende da personalidade de quem a sente! Aí vem o amor, mais tardar o amor... Logo mais quando tudo já é passado! Há a lembrança daquela paixão que tocou o fundo do nosso coração e nos fez respirar mais forte! Por vezes podemos vivê-la, algumas horas, não! Quando nos é permitido, quando nos aceitam e nos aceitamos, ousamos arriscar! Quantas vezes nos apaixonamos até encontrarmos a pessoa certa? E quando encontramos muitas vezes não podemos viver! Ou se vivemos não sabemos entender! E se entendemos queremos crescer... Na paz, na esperança... No bem querer!
O que Vinicius de Moraes cantaria em acalanto a Darlene Glória
Aqui em Paris vê-se as folhas de outonos caídas ao chão, e quando muda a estação entrando o inverno, já é verão na terra de Tupinambá. Terra de viçosas palmeiras onde deixei à espera a minha eterna Ipanema, onde todos os casais, encontram-se, em êxtase constante, apaixonados, assustados, entrevados, ao medo de serem exilados. Nos jazigos empoeirados dos seus mortos inocentes, as poeiras se afastam dando espaço para o sol sair da sua nascente, adorando a mulher amante, ofegante! E os meus olhos marejados passeiam na vontade de amar o solo fértil da minha terra brasileira com a sua música faceira. O samba das brancas, da moreninha, da loura e da pretinha! É, Toquinho, meu camarada! Vejo quase distante, à paisana, com a sua beleza estonteante, musa feminina, quase angelical, em sua glória magistral. Bem apessoada essa mocinha chamada Darlene Glória! Furacão! Estrela do mais novo cinema nacional.
Tonzinho, querido, peça ao Baden que soletre em acordes a poesia da mulher amada!
Glorinha, bonitinha, as suas mãos pequeninas cabem em minhas mãos que hoje estão tão sós escrevendo versos aos amigos queridos.
Filha minha, creio que por aí esteja difícil de passar A banda do Chico... E aqui, visto-me em saudade!
Tão logo retorno ao Brasil, mas antes, conte-me da sua arte.
Ao poeta e político Benedicto Monteiro
A força das águas inunda de beleza a Amazônia. A Terra Molhada, caída, traz a lembrança dos que partiram, mas deixa também o cheiro da saudade, a saudade cristã, aquela saudade que vem com Deus, provedor da natureza, do Alenquer, das barrancas, da poesia e da rede dos pescadores no Tocantins.
A força da amazônia traz a voz dos cantores perdidos, traz o grito da esperança, traz a alegria dos filhos paridos à beira do rio... filhos tantos de Botos que se perdem na correnteza! Filhos que crescem na fantasia dos curupiras e vão amadurecendo indo embora no Carro dos Milagres!
A Amazônia é a força e todos os filhos molhados e tingidos pelo seu verde, no coração da mata, são tingidos também pela alma dos poetas inusitados, dos diplomatas e dos heróis não combatidos, dos políticos honrados guardados no chão de Belém, um horizonte sem fim.
A gente quer ter o mundo nas mãos. Às vezes só fazer parte dele já basta. O tempo que o mundo nos oferece é precioso!
Socorro!
Quem poderá salvar um coração, que perdido, pensa estar adoecido?
Quem poderá segurar esse coração com mãos firmes,
Sem deixar que ele escape por entre os dedos?
Ajudem o coração, que desatinado, saiu em busca do vazio
Para se alojar em um peito desconhecido.
Abrigou-se em vagas palavras, no breu da solidão...
E de tanto pular, correndo o mundo afora...
Deixou pequenas gotas de sangue semeadas pelo chão!
A Terra seca, compadecida, resolveu ajudá-lo:
_ Pobre Coração, sua dor se tornará extinta!
_ Verdade?
_ Sim. Olhe para mim! Estou começando a florescer!
_ Que beleza!
_ Não percebe? Do seu sangue germinado no fundo da minha terra, nasceu a Rosa Vermelha.
Quando sentir que o coração está se preparando para entrar em luto...
Esqueça quem o matou, assim ele ascenderá ao jardim do paraíso, em pedido de paz, erguendo uma bandeira branca.
Respeitemos aos idosos
O idoso é aquele ser que está prestes a nascer de novo!
Em seu rosto, cada marca que traz, revela uma estrada percorrida;
Uma alegria, um sofrimento, um filho criado, um neto formado...
O idoso é uma árvore de sabedoria e bondade;
É aquele que sabe lhe acarinhar diante suas necessidades.
É aquele que vai lhe dizer:
_ Não siga por esse caminho, você não se dará bem! Eu já vivi isso!
É uma fonte de vida inesgotável embora muitos pensem o contrário.
O idoso é aquele ser que está mais próximo de Deus, assim como as crianças!
Ele tem sempre boas histórias para contar.
Viveu em épocas melhores, ou piores...
Época de boas colheitas, nazismo ou ditadura...
Ele saiu vivo e ficou para a semente, sempre dando bons frutos.
Se não houver mais idosos em nosso planeta
É sinal de que o ser humano não está vivendo nada bem!
Mas graças a Deus teremos muitas cabecinhas brancas e floridas
Para nos contagiar de alegria e paz.
Ano novo
Um novo tempo para romper,
Um novo tempo para florir,
Um novo tempo para crescer,
Um novo tempo para seguir,
Um novo tempo para nascer,
Um novo tempo para viver,
Um novo tempo para transcender,
Um novo tempo para aquecer,
Um novo tempo para amar,
Um novo tempo para sentir,
Um novo tempo para permitir,
Um novo tempo para sorrir.
Tenho medo desse medo
Que pode afugentar
O signo da liberdade
De elemento ar,
Aquele que anseia pelo espaço
E desfaz de qualquer nó
Que planeia apertar
Nada sou de concreto
Para ameaçar,
Apenas uma ave rapina
Abrindo asas aladas,
Vislumbrando a terra, o tempo
E espreitando a hora certa
De pousar
Tive o mundo nas mãos,
Caronas para viajar,
Malas quase prontas,
Cheiros longínquos a me esperar
Mãos estrangeiras
Querendo os meus dedos cruzar,
Nas Alvenarias de Portugal
Eu poderia chegar
Mas aonde fui parar
Com esse desejo
Que custa a cicatrizar?
Talvez seja uma queloide
No dorso do peito
Que jamais fechará
De olhos fechados
Quase sempre,
Lanço-me em vastos campos
De flores raras,
Vejo-te alba
Com a alma da borboleta a bordejar,
Surtindo como doce efeito
Entre nuvens de sonho
Fazendo o meu coração
Abrandar
Eu não quero conflitar
Ou ser como uma teimosia
A desatinar
Mas o amor é algo que não se estanca,
Pondera-se
Com o desejo permanente de cuidar
Mesmo que sendo fuligem solitária
Da maria fumaça que passa,
Ele jamais deixará de amar.
A casa dos sentimentos
Eu sou uma casa
E abrigo os meus sentimentos.
Às vezes um invasor não bate à porta,
Simplesmente entra,
Aconchega-se na cama macia e vermelha
Que pulsa na cavidade
Do peito.
Deleito-me em devaneio a sonhar
Com a possibilidade de novas aventuras
Com o forasteiro
Encontrar.
Oras,
Por que não sossega e fica de vez?
Um bom intruso sabe como permanecer, mas...
Eu sou uma casa móvel
E abrigo os meus sentimentos
Hora dispersos, mas sempre inquilinos fiéis.
Dentro de nossa mansão particular
Há recortes de uma vida,
Há lembranças,
Algumas delas nunca vão embora
E basta que o antigo e primeiro residente
De encontro ao imóvel ambulante
Abrace-o com brando sorriso
E luz emanando dos olhos,
Para que o presente seja passado
E o passado seja novamente o presente.
Eu sou uma casa,
Abrigo os meus sentimentos
E não há hoje
Que possa perpetuar
Enquanto latente
Em mim
Durar.
A. de amor
Sinto a sua presença tênue
Quase que em esboço
Na nuvem que passa
Corrida no azul.
Em mim está
Como nota tocada,
A cada segundo respirado,
Numa madrugada acordada,
Em um amanhecer dourado,
No entardecer rosado.
Mesmo que nossos sonhos
Distantes estejam,
A verdade sobre o amor cai
No revérbero que não desvanece
Jamais.
A sua canção é doce,
misto de mar e paz.
A sua pele é seda clara,
Convida o meu sentimento
Que emerge em açodamento,
Voa como borboleta
E amerissa na flor.
Ah, esse amor meu!
Deveria ser fincado
À placabilidade
Mas teima
Em ser desvairado.
A vida é como um sopro. Aqueles que amamos voltam às estrelas e ficam os frutos das suas plantações.
Lembro-me de você
Assim:
Semblante
De de quem chega
Para ensinar,
Com o rosto branquinho
E o batom vermelho.
Tonalidade de roupa, clara.
Toda criança
Curiosa
Só pensa em admirar!
Ainda que fosse rude
Havia a disposição
De ajudar
Aqueles
Que quisessem se
Interessar.
Naquele tempo,
O coração
Menino,
Na inocência
Da infância querida,
O que fazia era te amar!
Ele cresceu,
Construiu-se
Pelas estradas
De uma vida
Esculpido
Por dores
E alegrias.
Na ternura
Da mocidade
Desfrutei de gratidão,
Com o peito repleto
De nostalgia
Traçado à minha
Emoção.
Ah!
Quanta lembrança
De um sorriso que
Causou-me paz!
E hoje, não muito diferente,
Com poucos anos à frente
Fez-se a mesma paz.
É bom saber,
sentir que está aqui,
E que assim
Podemos dividir
O dia a dia,
Somar enriquecimentos,
Multiplicar palavras
Amigas
E sermos a certeza
De que trouxemos
Algo de bom do que ficou
Atrás.
Ao mestre com carinho
Devoto-me
Por ser quem sou.
Ao mestre com carinho
Serei
Respeito e amor.
Infância, amor, tempo
Impossível fugir a esta dura realidade,
A de te querer.
Lapido-me
De forma contundente
Para que não percebas
O que por detrás dos meus olhos Há:
O amor que vem do tempo,
Há tanto tempo
Esculpido na delicadeza
Da inocência
Ainda indecisa,
Que não sabia,
Ao certo,
Como se proteger.
Pequeno grão de areia,
Pés descalços era eu.
Mochila da moda,
No meio da criançada!
Guardava, entre livros -
Sonhos e aprendizados.
Na castidade da serenidade,
Desenhava-te em sobriedade,
Enquanto o quadro negro,
De giz
Rabiscavas.
E contavas, ensinavas...
Ainda que em tom ríspido,
A alma branda
Acenava.
Já não sei se acordada,
Com a sua imagem, estupefata,
Desdobrava-me
Ascendendo ao céu;
Sinal de menina ludibriada.
Sim,
Todos os rebentos sonham,
Romantizam o primeiro amor,
Mas não fazem ideia de que crescem,
Transmutam-se em pássaros
E aconchegam-se em ninhos
Maduros,
Muitas vezes vazios.
À espera do novo sol
Esvaem-se. Espera dolorida
No peito que guarda o passado
Puro,
De seda clara,
Envolvido em lágrima
Partida,
Prateada,
Cristalizada
À lua da mulher amada.
Branca a sua pele
Em textura de Van Gogh,
Que eterniza o ser.
Estúpida sutileza esta,
A de não se saber!
Apego-me à lembrança
De um rosto que não é seu,
E na melodia da mais bela
Canção,
''We've only just begun''
(Estamos apenas começando)
Perco-me
Em devaneio,
No vestígio de uma ilusão.
Falo mais do que recebo,
Enlaço-me na esfera
De quem venera.
A sua boca pertence
A lábios que não são meus.
O seu corpo,
Que almejo
Como guri sedento
Por subir
Às fruteiras do quintal vizinho,
É selado.
O seu ventre
Deu luz,
Fruto bendito!
E por entre espaços
Fez-se paz.
Cerro os meus olhos
À tentativa de
Castrar os meus medos.
Amo-te, ainda,
No silêncio pungido.
Da infância à maturidade...
Amor, tempo
E a triste certeza
De ser predestinado
A querer o que não se pode
Ter.
O menino e a chuva
Chuva prateada,
Com leve tonalidade
Transparente.
Estação trocada,
Folhas ao chão.
Mas não estamos
Na primavera?
O outono é adiante.
Vejo um menino
Franzino
Vendendo suas
Traquitanas,
Cheio de badulaques.
Pergunta-me
Com curiosidade:
_ Tia, tem um trocado?
Um pouco aflita,
Pego umas moedas,
Meio contrariada.
Fome de comida
Ou do crack que
Assombra?
Lá vai ele,
Pulando poças,
Contornando as
Ruas do Centro de
Niterói.
Vou-me embora,
Na fria chuva,
Seguindo o vento.
Logo chego
Em casa.
Penso no dia,
No imenso amor
Que me toma.
Ainda acredito
Que amar vale
A pena.
Quantos meninos
Dançarão na chuva?
Quantos outros
Passearão
Em outra estação?
E se você soubesse?
Queria tanto
Que soubesse
Do sentimento
Que nasceu em
Meu coração,
Mas não há forma
De dizer,
A razão desfaz
A emoção,
Desejo que esteja
Sempre no ambiente
Como um facho de luz
Banindo a escuridão,
Já entrou o outono,
As folhas
Puseram-se ao chão,
Findam os dias de canção
E o meu amor vem crescente
Como o sol de verão.
Cabelos de raios de sol,
Não são loiros,
São cachos
Quase dourados,
Um âmbar,
Talvez sépia,
De toda forma iluminados
Um dia alguém me disse:
_ Cuidado para não morrer de amor!
Mas se é o que desejo,
Amar-te com esse louvor
Das borboletas que dançam
Suas últimas preces no ar,
Cantando suspiros em alegria
Por poder amar!
Quero a perseverança
Para trilhar nessa estrada
Ensolarada,
Em em meus braços,
Quem sabe um dia
Faças a sua morada!
A vida segue
E quando o coração
Propõe-se a esquecer,
Ele esquece.
Todas as estações
Terminam
E mesmo que elas
Comecem
Novamente,
Logo estamos ao final
De outra estação,
Porque para tudo
Há o seu ciclo.
A alegria,
O sofrimento,
Todos sentimentos
Transitórios.
Tanto tempo amando
O que não se pode
Ter
Faz com que a alma,
No meio do nada,
Do desconhecido,
Na noite tingida de nuvens
Num céu longínquo,
Pereça.
Mas tudo o que perece
Desperta logo mais
Para uma nova vida
Florida.
Não se pode amar
O que não é inteiro.
Engana-se aquele que acredita
Que no amor não deve haver
Recompensas,
Pois o presente da vida
É distribuir
E angariar os frutos desse amor
Espalhado.
Nutrir-se de esperança
Por fagulhas de carinho?
Não!
Não vale a pena.
Os olhos que olham
Com a paixão que vem
Do coração,
Fitam pra outro lugar
A fim de traçar novos rumos.
Por hora queria ser aquela
Criança na escola
Que não pensava no amanhã
E o que sabia
Era olhar apaixonadamente
Para a mocinha que vinha
Com o mundo nas mãos
Para levar adiante os rebentos.
Mas sozinha
A mente vagueia,
Perpassa por sonhos
Que jamais serão alcançados.
Porém,
Com o peito castigado
Ainda pelo grande amor,
Desato-me desse novelo
De dor,
Ainda que a pele branca
Como um botão de rosa alba
Pouse sobre o meu olhar.
E assim vai ficando para trás
O verão,
Junto com o seu sorriso.
Não quero mais dizer,
Espero o amanhecer.
ANDRÉA E A SUA MENINA
Menina dos olhos,
Pupila que ilumina e salta o coração
Da gestora que vê
Lá vai a mãe atrás da sua pequenina
Ainda sem muito saber o que fazer,
Arquinho, maria chiquinha,
O que de melhor há de ser?
Vestidos, sainhas,
Nenhuma noite despreocupada
Depois desse nobre nascer
Tecendo fios de sonhos,
Lá vai a mãe descortinando,
Vendo a sua garotinha crescer - pelo fio do tempo -
Os álbuns mostram a mão na barriga,
A esperança, os entrelaços,
Os primeiros sorrisos e passos
O amor se expande,
Enquanto segue rumo ao novo
Entardecer,
Como a ciranda cantada
Citada em um céu de estrelas
Fazendo a moçoila adormecer
Lá vai ela, deixando a boneca
Trocando as pequenas palavras
Por eu quero - eu vou!
Aí vem a teimosia,
As novas fantasias,
Mais dias sem sono,
Menos paciência para brincar -
A mãe que tudo facilita,
Com o elo de um amor humano
Entre as suas folhas de outono,
Deixando os seus rastros no chão,
Abre-se ao frio da próxima estação
Com o medo do futuro e da solidão
Mas logo desponta a primavera
Com suas flores, cores e a fita
Da mocidade
Agora, a mãe e a filha, mocinha esguia,
Juntas se fitam, tramam enredos,
Desatam saudades,
E...
Logo mais vêm os netos,
Os filhos dos netos,
Os novos retratos,
A próxima geração -
E tudo passa, passa
Menos a recordação.
POEMA INSISTÊNCIA
Amo-te tanto como o canto de soluço e pranto
Amo-te ainda na pungência de uma calma condolência
Ainda no silêncio da resposta transcendente
Amo-te loucamente tendo os olhos rasos de esperança
Numa dor que alucina, na saudade que agonia
Tenho sede de contentamento na certeza descontente
Amo-te simplesmente dessa forma insistente
Como aquele que se veste da mulher amada
Amo-te de forma desamparada
Como um apaixonado sedendo por colo
Como a criança triste que feriu o pé
Onde está a virtude se eu te amo da forma
Que alcança a infinitude?
Já não sei da razão, eu queria mesmo o desejo são
Dimensiono o esquecimento mas a persistência é como um calor
Que aquece o peito cheio de amor
Eu não tenho respostas,
Encontro sua dureza quando anseio pelo afago de sua mão
Amo-te como um ninho sozinho, aquele sem o passarinho
Que voou, voou e alcançou o céu
Vejo-te como uma caixa de surpresas
Hora sai braveza, hora sai leveza
Será que uma hora sai amor?
Amo-te almejando a desistência mas a teimosia da adolescência
Permanece na insistência.
MEDO
Medo emblemático paralisa,
A gente não anda, desliza
Medo de tudo o que agita
Medo daquilo que desvirtua,
Medo do que atiça
Medo do abraço,
Medo que até irrita
Medo do entrelaço
E também da mão amiga,
Medo,
Como os medos que se erguiam no cangaço
E medo ''inté'' das águas de março
Medo do que fica,
Medo do olho que fita,
Medo do silêncio
E das respostas -
O medo
Faz-nos olhar o relógio,
Faz-nos desligar a música
Medo da lembrança, medo
Esse medo da certeza
E de vislumbrar o futuro
Abrindo mão de uma vida
Para tragar outra vida
Naufrágio certo?
Quem sabe!
Medo,
Logo cedo
Borrão que enche de anseio
A alma aflita
Medo que degenera, que mastiga
Medo daquilo que instiga
Medo do desejo,
Medo do novo beijo,
Medo de uma flor
Cuja beleza surgiu das curvas
De um duro chão,
Medo da próxima estação,
Medo de acelerar o coração
Medo,
É só medo...
Medo da curva do rio,
Do vento no rosto
Que sopra do mar,
Medo...
Medo de amar.
Hoje o dia está
Tão triste
As folhas dançaram
No arvoredo, na praça
Do Leblon,
O vento foi forte
Mudei tudo de lugar
A chuva foi fria,
Abalou
Os meus sentidos,
Pus-me a chorar
Resolvi então,
Na quietude,
Fazer canção
Que pudesse acalmar
O coração
Doente, dormente
Em pedaços, fragmentos...
Um Holocausto da paixão
Hoje o dia está cinzento
Alagou tudo aqui
Dentro de mim
Quero o gosto da sua pele
O cheiro calmo da sua cor
O abraço firme da sua dor
A ternura na face, de um beijo
Que me faça relembrar
O antigo amor.