Kevin Martins
Acordo mais um dia, noite horrível.
Sempre esperando resposta do que não vem. Sentindo o vazio que tenho no peito, cada dia mais vazio, cada dia mais eu.
Me aprofundando em filosofia, esquecendo de exercer o amor como prioridade.
Eu te pediria todos os sonhos do mundo, pra que eu pudesse sonhar. Queria te ter do meu lado, pra que eu pudesse sonhar como criança, que o sonho é ter uma bola de futebol. Ao teu lado, os sonhos mais simples, seriam mais lindos e complexos, os mais complexos, seriam simples, os momentos, seriam amores, os amores, seriam todos os momentos, cada declaração, me faria repetir, mas cada vez que eu repetisse, quereria te amar de novo.
Só você preenche essa lacuna. Esse pedaço que falta, só você tem, ninguém mais, se tiverem, não quero.
Queria saber esconder esse vazio, não demonstrar num olhar, que a peça que tens em mãos seria minha chave dos momentos felizes.
Tudo nos impede. Nossas vidas, nossas histórias, você.
Quebre as regras, fuja das correntes, não fuja de mim. Eu sou um pobre coitado, de peito aberto e coração dilacerado. Ajude-me com sua companhia, suas mãos leves, seu olhar que me furta, sua voz que me ganha e sua dúvida que me corrói.
Podes rir, mas ria com força de mim, pra que eu veja seu sorriso refletido nas estrelas, do poço onde estou. Pra que eu deixe de achá-lo belo e encha meu vazio de mais álcool por um dia.
Insônia
Essa insônia que vos digo, não é sozinha. Na verdade ela é uma resultante. Ela vem de tantas coisas, tantas causas.
Parece que eu estou sempre angustiado, a angustia de dever ao mundo o poema perfeito, sei da impossibilidade, mas isso me move, move meus dias, meus passos, meus olhos e gestos. Quem sabe o mundo me dê as letras que faltam naquela palavra, ou me dê mais um dia, como hoje. Pra que eu busque as minhas perfeitas imperfeições.
Angustia de querer fugir pra longe, cheirar o céu e beijar a terra.
Amo sentar no sofá, fumar meu cigarro, discutir comigo sobre minhas discussões comigo.
Acho perfeito me imaginar namorando com cada moça que passa por meus olhos. Vejo namoro, casamento, filhos, família, tudo perfeito. Mas quero nada disso, tenho prazer na tristeza e na solidão. Não conseguiria seguir ao lado de alguém. Sou um quebra cabeças, sem desenho algum, que sobram peças, peças que não se encaixam.
Mas a coisa que mais me intriga, não é o frio na barriga, nem a rima perdida. É rimar sem perceber, enquanto tenta escrever, que a grande ironia, é o perceber... Que o problema de ser poeta, é não ser.
Eu sonhei com você.
Fazia mais de uma semana que eu não me importava mais com sua presença. Faz muito tempo que você desistiu. Mas hoje eu tive uma das maiores dores da minha vida. O sonho foi real.
Eu estava em alguma festa, não faço a mínima ideia de onde, deve ter sido a festa que meu coração fez quando te conheceu. Você estava sentada ao redor de uma mesa com os amigos. Vestia um vestido lindo, azul, ele brilhava, tão lindo que só existia você ali. Seu cabelo estava amarrado, seu sorriso era a luz que iluminava o local. Eu vestia, novamente, a mesma roupa.
Foi então que você perguntou: "Não vamos conversar hoje?". Eu respondi com um sorriso e caminhei em sua direção. Você sentada, eu sentei no chão, sim, eu me sinto bem sentado no chão. Começamos a conversar, eu te dei a mão, sua mão tão macia, me senti acalentado e minha solidão foi embora por um tempo que eu não faço ideia. Você me abraçou, novamente eu senti o que eu não devia e senti que naquela abraço eu poderia viver a eternidade.
Não, não houve beijo. Até em meus sonhos você sente vergonha de mim.
Lembrar-me que um dia fiquei bem em estar ao seu lado, é perturbador.
Nos meus sonhos você volta, pra eu não me esquecer de ser humano. Até em meus sonhos é real a dor que sinto.
Quero compartilhar o medo
Hoje
Amanhã
Cedo
Na eternidade
Com alguém que tenha coragem
de senti-lo
Do olhar
Ao asilo.
Ninguém percebe...
Ninguém percebe... Que eu percebo
Ninguém percebe... Que a solidão me é alegria
Ninguém percebe... Que as pessoas me adoecem
Ninguém percebe... Que tenho vergonha de meus dedos
Ninguém percebe... Que tenho medo de mim
Ninguém percebe... Que uso a mesma roupa... Sempre
Ninguém percebe... Que não tenho mais preocupações comigo
Ninguém percebe... Que sinto frio no frio e frio no calor
Ninguém percebe... Que fumo cada vez mais
Ninguém percebe... Que bebo cada vez mais... E isso me conforta
Ninguém percebe... Que eu adoeço
Ninguém percebe... Que a cada busca de um par, eu volto mais só
Ninguém percebe... Que meu escarro tem sangue... E minhas poesias também.
A conclusão que me chega é de que eu sou ninguém.
Eu queria não me importar. Mas dói em te ver sorrir. Como se eu fosse uma brisa, simplesmente passei por você, não sabes mais meu nome, cheiro, número, rosto...
Eu simplesmente fui rasgado do caderno. Apagado da folha. Queimado. Não canso de lembrar que te esqueço e me esqueceu.
Você desapareceu aos poucos. Foi covarde não ter dito adeus. Deixou o gosto do beijo e a marca do seu batom na minha boca. Seu cheiro ainda é recordado em muitos momentos. Sufocante. O toque das suas mãos, deixou um vazio nas minhas. O apelido que me deste, está na sua mochila que carrega tantos outros, de outros.
Não precisas mais fugir, meu bem. Podes ir aos lugares que um dia frequentamos, não estarei lá. E se eu estiver, não se envergonhe, levante a cabeça, repare os olhos de outros pessoas, não precisa ser os meus. Estufe o peito e se orgulhe de ser você.
Faça sua festa, dance, sorria, brinque, dê apelidos, saia de carro, jogue dinheiro, acenda cigarros, retoque o batom, feche a bolsa, arrume o vestido, brinque de ser Deus, seja ingênua, fique linda, beba, mas não se importe comigo. Foi lindo, pintei quadros de esperança no seu vazio.
Mais uma vez eu cheguei naquela bar. Quantas coisas eu passei, quantas lembranças eu tenho desse maldito bar. Nele eu trago amigos, trago cigarros, bebidas, mulheres... Mas eu esperei por uma, uma somente.
Fui, mais uma vez, fumar. Na área dos fumantes, minha cabeça era baixa. Eu enxergava pernas por cima de meu óculos, cada vestido, cada perfume, eu queria que fosse seu. Cada palavra, cada beijo, eu queria que fosse o seu.
Eu finalmente senti o perfume que tanto desejei, foi esplendoroso, eu nunca vou esquecer aquele perfume, eu nunca vou sentir nada igual. Depois de tanto tempo, depois de tantas conversar fúteis, tantas pessoas vazias e momentos mais vazios ainda, eu senti que um perfume e uma palavra me deixaram feliz. Me fizeram completo.
Eu troquei poucas palavras, meus amigos tocaram lindamente as músicas que eu também não vou esquecer, eles chatos, sempre perfeccionistas, querendo tudo certo, mas mostrando que aquilo corria em suas veias, como sangue, sangue na voz, sangue na melodia, música tocada com a carne e a alma. Aquilo me marcou, aquilo marcou o começo de algo.
Eu recordo de cada acorde e de cada olhar que recebi. Eu estava ali, viajei por momentos, mas esses momentos tinham você. Como poucas vezes, eu vivi o presente. Talvez embriagado às 6:00 da manhã, eu perceba que vivo, perceba que não estou completamente morto, que posso ter sentimentos, que posso viver o hoje, que posso viver... Viver... Contigo.
De repente você está com a idade que nunca imaginou ter. De repente a pessoa que você não imaginava ser, é sua realidade. Os dias passam cada vez mais rápidos, cada dia você se sente mais perto da única certeza da vida. Que ironia.
Você pensa nos planos que já fez, os que não se realizaram. Você planeja novos, para tentar realizar ou só para passar o tempo.
Você se dá conta dos momentos que passou, se dá conta do quão minúsculo é em relação ao mundo. Você lembra da infância como se ela tivesse sido a poucas horas, quando já se passaram décadas. Sente cheiros, lembra das dores, dos risos...
O seu físico não é o mesmo, seu corpo não responde todos os comandos. Seus olhos vêem menos, mas talvez enxerguem mais.
A vida não perdoa. O tempo é implacável. A vida é vivida por quem quer. O tempo é sucinto, duro, inflexível. Você enxerga como pode, enxerga pela janela que construiu. Viva para que sintam sua falta, para que o vento sinta falta de passar por sua lágrima e a chuva de molhar o seu sorriso.
Quando você perceber que somos quem somos, passou o dia. Quando você perceber que somos quem somos, terá passado a noite. Se você não perceber que somos quem somos, terá passado a vida.
O calor fazia com que as pessoas saíssem de suas casas, como formigas do formigueiro. Se reuniam em bares. Eu andava sobre a calçada, pois precisava, senão nunca escolheria fazer isso.
Os beijos, os abraços, as conversas e os sorrisos me incomodavam.
E eu continuava com os olhos do inverno. Cabisbaixo e com o olhar esquivo. Andando pelo canto da calçada, beirando os muros. Procurando o frio da minha casa e me acalentando ao encher o peito de fumaça, em me embriagar sozinho.
O que mais me deixava infeliz era perceber que acendi o último cigarro ao contrário... E também que a vida continuava.
A solidão é esse cigarro que me consome.
Fumado era eu, não ele.
Das merdas que eu fazia, ele sabia de todas... Das alegrias ele estava junto, junto da bebida que embriagava as palavras e molhava todos os versos. Foda-se sua opinião! Que escritor liga para opinião?! Ele quer saber o que ele não sabe, quer saber o que está dentro dele e não sabe de si mesmo.
Olha nos olhos dos outros para encontrar a si, não os outros. Solidão é a verdade dos mentirosos, mentira dos verdadeiros e a merda desse cigarro.
Não... Não tente me mudar, a minha vida não é seu livro, muito menos sua propriedade. Você não sabe o que se passa aqui, não sabe o que passou e nem queira saber.
A vida é simples, tragada, mastigada, cuspida, é tudo que você acha ridículo. É todos os sonhos de um sonhador fraquejado. É todas as faltas de sonhos de um realizado. A vida é isso, a vida é arte, a vida é nós, a vida é tua alma, a vida é tua morte.
Eu vivo na morte para não morrer em vida. Eu vivo na vida para morrer todo dia.
Ele disse oi com a alma
Ela abaixou a cabeça
Cumprimentou a calçada
Simples, conversar sem se ver
Nos olhos que se descobre
A profundidade do ser
Frustrado ele não ficou
Talvez a decepção
Que se apossou
Pode ser que ela seja rasa
Provavelmente sim
Provavelmente sim...
Vergonha que não era
Ela se mostrou desenvolta
Pelo dono dessa nova era
Ele seguiu a caminhada
Já ela
Com sua profundidade de calçada.
- Kevin Martins
As letras da máquina de escrever escrevem por mim. Nesse momento sou um tolo, pensando como será tudo depois de tudo.
Talvez eu seja reconhecido por meus textos, me farão melhor do que eu realmente era. Talvez me olhem com pena por ter sido tão solitário. Do menino que escrevia pela primeira vez em um jornal, com 18 anos. Talvez lembrem do menino que fumava. Do menino que bebia. As feições tristes serão os marcos. Os raros sorrisos também. Talvez eu tenha sido tão pouco, que ninguém se lembrará. Talvez lembrarei de tão pouco antes de ir. Talvez do bêbado, mais uma vez. Lembrarão que nunca recusei uma cerveja. Recusei tantos sorrisos... Meus pulmões doem. Minha respiração não é mais tão fácil.
Hoje recordo que tive um pai. Ele fez um trato com sua esposa. Quem morresse primeiro, seria enterrado com uma caixa de fósforos no bolso. Ele fumou, bebeu, deixou saudade nos que o amavam... Senhor, como eu o amava...
A vida me mostrou tanto sobre a morte, que o romantismo se encontra numa caixa de fósforos. Realmente posso ser reconhecido por muitas pessoas. Mas se eu for amado por uma, viverei eternamente.
É o poder da dúvida que me corrói agora... E se esse rosto lindo tiver paixão exata? Eu serei mais um qualquer, como sempre sou. Mais um humano nojento respirando fumaça, obedecendo sinais, leis...
Mas se eu puder ser o dono dessa paixão? Eu não serei mais um humano nojento. Serei o dono da maior joia que um homem sonharia. Ela não se compra, não se acha, se conquista. Serei digno disso? Provavelmente não.
Sonhar custa esperanças. Mas eu sempre tenho essas de sobra. Trago uma mala cheia de esperanças.
Dê mais um sorriso, por favor. Agora me deixe perguntar aos que nos rodeiam... Existe sorriso mais lindo? Eles poderiam responder que o de seus amores... Mas são tomados pelo medo de assumir que é, é sim o mais lindo. O sorriso não se chamaria mais sorriso. Teria teu nome. As coisas belas da vida, as simples, como a paixão, a flor, as luzes, o fogo, seriam batizadas com teu sobrenome.
Ah, menina... Eu sou mais um apaixonado por ti. Só mais um. Um fumante, bêbado e apaixonado comum. Só mais um.
Percebo que não só eu sou indigno de tê-la, pequena... O mundo também é.
Me perdi onde trançamos nossas pernas.
Escrevo em linhas embriagadas de angústia.
Te ver é veneno que se pede.
Te enxergar é esplendorosamente doloroso.
Queria lhe expressar a dor disso tudo. Mas você não compartilharia de dor.
Não vi um sorriso seu, nem um sequer. Ele foi perdido com canalhas aleatórios.
Até mesmo o seu sorriso é triste.
Nunca se escondeu. E nem vai. Não consegue.
Não bêbado o suficiente, eu senti que vivo. Até em ficar bêbado eu perdi a competência.
Depois de algum tempo longe, está perto de meus olhos. Somente meus olhos... De mim, está à quilômetros. Está à muitos corações.
Festas são piores que funerais. Copos e cigarros lhe escondem. Ninguém entende claramente o que deseja. Ninguém sabe exatamente o motivo.
Eu só quero esquecer. Esquecer sua boca, seus beijos, suas mãos. Esquecer suas pernas, para poder seguir com as minhas.
Corrompido pela paixão
Proibida
Ele buscou alternativa
Correu ao vento
E lembrou da vida
Foi uma merda sempre
Diferente
Contente
Corrompida
Ele chorou pela alma
Ferida
Sorriu a esperança
Desfalecida
e morreu todo dia
E viveu toda tarde
Madrugou na manhã
E amanheceu na noite
(que arde).
"Eu também"
Não é resposta pra quem ama
Quem ama arde
Na verdade
De quem chama.
Não na mentira
De quem responde
Sem mira
A saudade
Que engana.
Voltando na madrugada de um dia terrível, como quase sempre.
Os pensamentos se batem nas casas e ecoam pela rua onde caminho.
Os pensamentos da outra rua conversam, discutem comigo.
Me sinto acoado por mim mesmo.
Caminho à passos curtos e lentos.
Não querendo chegar a destino algum.
Pisando em analogias mal feitas.
Senti saudade do beijo que não te dei.
Do banco de praça que nem sentamos.
E daqueles longos papos que tivemos sem nos ter.
E temos.
Temo.
Seus laços se tornam mais fortes.
Eu continuo com passos lentos
Olhando pra trás e procurando você
Olhando pra frente
Esperando te ter.
Enquanto procuro as chaves
O mundo continua girando
Os amores acontecendo
As paixões chorando
E eu
acho a chave
Abro a porta
entro
Dou uma bela gargalhada
sobre tudo que senti
E penso:
Estou vivo
Por mais incrível que isso pareça.