Kamylla Cavalcanti
No início era com ele que eu queria está todas as vezes que saíamos, você foi mais uma alternativa que minha preferência, todas as vezes que você me contava uma piada era da risada dele que eu lembrava, e toda coisa nova que acontecia comigo eu desabafava com você mas no fundo era para os olhos dele que eu queria ta olhando enquanto contava minhas desventuras. Um dia eu te contei o que o amor tinha feito comigo e você sorriu e disse: não era amor, nesse dia fui dormir pensando em todas as vezes que ele me fez acreditar que era. Você olhava pra mim com toda devoção que ele nunca me olhou e todo seu tempo livre era meu, como o dele nunca foi. Você ria de mim e comigo, e eu escondida chorava de mim e por ele. E todos os lugares que eu planejei ir com ele você me levou, sem cobranças, sem pedidos, você fez em pouco tempo o que em anos ele nunca fez. Eu engolia o choro, forçava o sorriso todas as vezes que você me ligava pra desejar boa noite, porque era a voz dele que eu queria está ouvindo. Mas porque eu não conseguia esquecer dele se tudo que vivemos me feriu tanto, se as coisas boas foram esquecidas por todo aquele fim atordoador? Mas você sempre fingiu não perceber, até o dia em que você pela primeira vez entendeu meu silêncio e quis ir embora, pensei que seria melhor, não queria te magoar mais com um passado que nem eu sabia lhe dar, mas na manhã seguinte eu quis olhar pra você como eu nunca quis olhar pra mais ninguém. E nos dias que se passaram eu chorei e não foi por você, pela primeira vez eu chorei por nós, porque foi com você que aprendi a ser junto. Você me ensinou a verdade de um sentimento recíproco, você me ensinou que o amor vale mais por atitudes. Me fez ver que toda aquela saudade que eu sentia dele era mais porque o pouco que ele me dava era tudo que eu jurava merecer. Mas hoje você me ensinou o que é ser amada e eu em troca, sem culpa, te amei também.
Você nunca vai saber mas eu chorei tanto por você, perdi a hora, passei um tempo sem cuidar de mim, odiando todo mundo, querendo dormir e só acordar depois que tudo tivesse passado. Parece difícil acreditar mas dormir não era mais tão simples, eu parei de comer e me isolar de todos por um tempo foi minha única opção. Ficava aliviada quando chovia, o dia acompanhava minha tristeza, nunca gostei de está triste em dias de sol, me sentia mal agradecida em ta tão infeliz num dia tão lindo, parecia que o sol me obrigava a está feliz. Você nunca vai saber mas eu reli todas nossas conversas nas redes sociais, no celular por dias a fio, refazia nossos passos juntos antes de dormir e chorava quando esquecia algum detalhe, me acabava por dentro ver que você tava indo, que nossas lembranças com o passar dos dias estavam tão raras. Ninguém testemunhou mas pedia a Deus por nós todas as noites “se ele voltar esqueço tudo o que aconteceu, paro de comer sushi, paro de reclamar do meu emprego...” e mesmo não acreditando que seria possível um nós nessa vida eu pedia, fazia promessas, chantagens, acordos. Meus amigos não sabem mas eu fingi está bem porque odiava ter que ver todos com pena de mim e com raiva de você. Esse fim de semana um amigo me perguntou quem tinha mais colaborado pra eu ser tão forte como sou hoje, na hora lembrei da minha infância, dos traumas e de você. Você nunca vai saber mas boa parte dessa mulher que sou hoje eu devo a você, quando você foi embora tanta coisa morreu dentro de mim que por um tempo me achei um nada, nada parecia caber no vazio que me tornei, nada parecia fazer parte de mim, até quando percebi que pra se renascer precisa antes morrer, que pra se reconhecer feliz precisa antes saber o que é ser triste. Até quando pude ver que todo aquele vazio não era o fim era apenas o espaço que eu precisava pra acomodar tudo que eu sou hoje, sem você.
Já é tarde da noite e fico aqui pensando se você ta acordado, se ainda costuma dormir tarde, se tiver acordado fico pensando no que hoje ta tirando seu sono, se está dormindo fico pensando qual a novidade que te devolveu o sono. Me acho boba por pensar tanto em você, mas engraçado como sei que ficaria um pouco feliz se você pensasse pelo menos um pouquinho em mim, com um pouquinho de saudade, com um desejo pequeno de que tudo tivesse sido diferente. Aí depois penso que eu poderia te ligar, pra saber de você, mas depois lembro que eu to tão feliz que isso não valeria a pena, arriscar perceber que a conexão que a gente tinha se perdeu com a distância, que já não rimos das mesmas coisas, que você ta mais feliz que eu. E toda vez que eu pego o telefone, mesmo não tendo mais suas mensagens, eu lembro do quanto uma mensagem sua era capaz de mudar meu dia, será que amar é mesmo isso? Tornar as coisas mais bobas do mundo um motivo pra rir a toa o dia inteiro? Lembrar de você me faz doer e sarar ao mesmo tempo, é um processo de dor e cura, por que você doeu tanto e o fim doeu tanto mais não dói mais sabe? E hoje mesmo não querendo te ver eu consigo até rir um pouco lembrando das nossas bobagens, do nosso jeito tão particular de fazer drama com tudo. Eu poderia apostar que você sabe que eu me feri, que me doeu tudo que aconteceu, mas prefiro acreditar que você não sabe, porque ainda quero pensar em você como o menino bobo que conheci, como o cara legal, cheio de amigos, incapaz de magoar quem quer que fosse. O tempo de raiva, mágoa passaram e me foram muito úteis, com a raiva aprendi a ver o seu lado obscuro que a paixão me cegava, com a mágoa enxerguei que nunca foi tudo que eu imaginei que fosse, que você não estava isento de erros e que eu fui a maior culpada por te pintar tão milimetricamente perfeito. Hoje é uma noite incomum de tantas outras que tenho dormido sem pensar em você, hoje fiquei inquieta, as lembranças vieram como um furacão mas minhas construções sobrevivem a você, você não destrói mais tudo em mim, é só uma saudade boba, de um sentimento antigo, não mais de você, não mais de nós.
A primeira vez que eu te vi, você estava tocando guitarra com sua banda, me lembro de ter te achado um tanto quanto imponente, tentei disfarçar o meu fascínio pelo modo como você tocava como se ninguém tivesse olhando e me concentrar em outras coisas que não fosse seus braços fortes e seu olhar firme. Desde esse dia vez ou outra você vinha na minha mente, achei seu perfil na internet e como um vício visitava todo o dia, comecei a pensar o quanto era engraçado o fato de você nem imaginar que uma louca que nunca trocou nem um oi com você futucasse sua vida todo dia. Como numa dessas coisas que tem que acontecer, a gente enfim se conheceu, amigos em comum, e numa saída sem pretensão, com meu cabelo num dia de mau humor crônico, lá tava você no restaurante, incrivelmente sentado na mesa reservada a minha turminha, aí eu comecei a me culpar por ter saído de casa com aquela roupa imensamente sem graça e por não ter feito um coque no cabelo, mas já era tarde você já estava de pé e um casal de amigo já estava fazendo as devidas apresentações. Tentei disfarçar mas vez ou outra nossos olhares se cruzavam e quando isso acontecia eu pensava ‘calma, você havia se prometido passar um tempo sem ninguém, nem inventa isso agora”. Mas no fim da noite, cheguei em casa cheia de expectativas e com seu número gravado no celular. Um tempo se passou e como você tinha meu número não liguei, vi algumas apresentações de sua banda e fui vivendo minha vida de sempre, sem nenhuma emoção aparente. Quando numa tarde de segunda feira, você liga, meio sem graça, pergunta como estou e quando me dou conta uma hora se passaram e já tínhamos intimidade de amigos de longa data, marcamos um encontro, e quando desligo o telefone fico olhando o aparelho feito uma boba, e algo dentro de mim grita: começou tudo de novo. Chega o dia de saímos, tento ficar um pouco apresentável, ultimamente tinha engordado um pouco, mas compensei com uma roupa apropriada para meu atual peso e meu cabelo resolveu me dá uma trégua, nos encontramos no shopping e você me parece mais bonito que todas as vezes que eu te vi e fico feliz por pensar que um encontro comigo mereceu toda aquela produção, vemos um filme sem graça, escolha sua, mas me divirto do mesmo jeito, mesmo o filme sendo chato sua risada tornou ele até que engraçado. Você me deixa em casa, a gente se olha, meu coração dispara, agora devia ser a hora que nos beijamos e eu entro em casa mais perdida que mulher em liquidação, mas você vai contra as regras, me puxa pra perto, me abraça e me dá um beijo leve na testa. Tudo que eu precisava pra ficar fascinada e com uma dúvida dos infernos, você mal entrou na minha vida e já conseguiu me deixar confusa e elétrica ao mesmo tempo, comento com meus amigos e enquanto um fala que talvez você queira só amizade o outro fala que você pode ser diferente dos outros. Não sei o que pensar, mas tento relaxar e ver no que dá. Você manda um sms de bom dia e eu percebo que talvez você seja mesmo diferente. De noite me surpreendo com uma ligação sua dizendo que gostou de me ver, que ficou nervoso quando eu cheguei perto e que queria me ver de novo, e de novo e de novo. Desliguei o telefone estérica e liguei para o meu melhor amigo: - Lembra quando você disse que eu iria encontrar um homem que achasse meu jeito bobo lindo, que me olhasse além de apenas um pedaço de carne desfrutável e que quisesse está comigo sempre, por algum e por qualquer motivo? Vou sair com esse homem hoje!
Eu não amo você, talvez eu goste, porque você ri das mesmas coisas que eu e eu fico boba de como você consegue me deixar sem graça sem nenhum esforço e por qualquer besteira. Mas eu não amo você, eu não vejo mais suas fotos, eu não entro mais no seu perfil na internet, eu não falo mais de você, não faço mais questão de te ver e nem de saber da sua vida. E você tenta ser engraçado, resgatar alguma coisa, mesmo sabendo que entre nós não existe nada mais do que risadas descompromissadas e assuntos inacabados, porque eu não te amo e sua vida não me interessa mais. Quando a gente se encontra parece que tudo já foi dito, mas quando estou só, pensando em você, o que acontece na maior parte do tempo, eu releio meus pensamentos e percebo que há tanto o que dizer ainda, mas eu não digo, porque afinal de contas eu não te amo e por isso nada do que eu falar importa mais. E eu repito em alto e bom som, pra quem quiser ouvir que eu não te amo, pra esse povo que me pergunta de você sem saber que seu nome é sinônimo de luto pra mim, pra nossos amigos que me falam de você enquanto eu resmungo baixinho “eu não te amo e por isso saber de você não me afeta, não me afeta, não me afeta”. Mas mesmo não te amando, e eu não te amo mesmo, é de você que eu lembro quando aquela vontade de tomar sorvete de madrugada vem, é por você que eu fico triste quando estou muito feliz mas lembro de repente que você nunca vai saber do porque de eu estar tão feliz, e é você que eu odeio quando alguma história qualquer que eu ouço me faz lembrar as nossas. Eu não amo você, eu amo suas costas, seu cabelo molhado, sua capacidade de falar besteiras que no fundo sempre tem nexo, seu jeito particular de parar pra pensar na vida na hora mais imprópria e me deixar louca querendo adivinhar por quais caminhos sua mente está passeando e se por acaso o nosso atalho torto está entre eles, eu amo seu sorriso sem pretensão, só isso, mas você mesmo, assim como eu vejo eu não amo. E eu não amo você, eu digo, repito, escrevo, penso porque fingir é meu único álibe, porque fugir é a única maneira que encontrei de sair limpa dessa história, porque não te amar é o único jeito que encontrei pra esquecer todo esse amor que tenho por você.