Kamylla Cavalcanti
É uma crise apenas e vai passar, talvez amanhã, talvez mês que vem, mas vai passar. Crise existencial não era o que você dizia? Crise de identidade? Mas hoje sei que não é crise existencial o que eu tenho é a crise de não mais existir, hoje sei que não é crise de identidade o que me afeta, e sim crise de quem não tem mais no espelho familiaridade, crise de quem não se reconhece. Hoje cheguei em casa e mesmo um caco eu não queria está ali mais, eu não queria olhar aquelas paredes, eu não queria estar naquele quarto frio, seco, isolado de mim, eu não queria sentir sono, eu não queria sentir nada... talvez andar por aí sem rumo, reconhecer em algo simples um motivo, um motivo sequer pra seguir nessa montanha russa que é a vida, sem vomitar diante de tanta hipocrisia. Sentir, nada mais ridículo que sentir, a gente não poderia apenas viver? Acordar cedo, trabalhar, faculdade, um cineminha quem sabe, levar os filhos a escola, atender o telefone e pronto. Porque diabos a gente precisa sentir? Quantas vezes critiquei pessoas vazias, ocas sem saber que só é feliz quem finge, só é feliz quem não vê com esses olhos de alma que poucos parecem ter. Hoje me sinto como uma criança que se acha estranha de todas por ter medo do papai Noel que todos dizem que é o bom velhinho, hoje me sinto como uma adolescente que se descobriu grávida sem nem saber que era mulher, hoje eu sou como um relógio quebrado que sempre marca o mesmo ponto e nunca sai do mesmo lugar, que insiste em um tempo que não volta mais. Hoje eu queria o colo de alguém que não me afetasse, hoje eu queria falar pra alguém que apenas ouvisse mas não me escutasse, hoje eu queria uma condenação que me desse um prazo, uma sentença qualquer que eu pudesse vislumbrar algo de digno no fim que pudesse me libertar de mim.
São tantas coisas suas que ainda estão aqui, aqui dentro, em mim. Você conseguiu me trazer tantas saudades nesse mundo que eu pareço não me apegar a ninguém, não ser de ninguém, você incrivelmente ainda parece ser meu e o nós parece ainda está vivo, no ar, à espreita. Você não está sozinho, aliás nunca esteve e eu também não, nunca me prendi por sua causa, nunca deixei de ser livre, solta, à toa, coisa de signo sabe? Você não vai entender. E todos os dias na minha superficialidade viciante sou de quem eu quiser porque por dentro das minhas entranhas ainda sou tua, ainda te pertenço, e na minha alma cansada eu sou leal a nós, a tudo que fomos, a tudo que ainda seremos, mesmo distantes. Hoje tudo soa tão banal e cansativo, as pessoas são apenas conquistas e sinto por isso, sinto porque tudo que sentimos me fez entender o que é o melhor, e quem sabe do melhor é inquieto com todo o resto. Hoje tudo é jogo, todos são meros jogos de sedução, de desempenho e quem ganha, me leva noite afora, sem destino, sem regras, sem motivos. Você era minha exceção, sinto falta de toda aquela ausência de banalidade, sinto falta de quando o desejo não era troca de favores, era sentimento, realidade. Você era incrivelmente meu mesmo sem estar presente, havia uma certeza que me fazia companhia na sua ausência, éramos um do outro, sem provas, sem convenções, sem papel passado. Mas me acostumei com tua ausência, aprendi a ser minha novamente sem nunca deixar de ser tua, aprendi a me educar me enganando com um até logo que nunca deixou de ser adeus. E as pessoas pensam que eu estou deixando a vida passar, perdendo a chance de se deixar ser de alguém, mas elas não sabem que sua ausência me ensinou a ser tão minha que hoje não consigo ser de mais ninguém.
Desde a última vez que nos vimos eu mudei, meus amigos falam que eu tô mais seca, menos inventada, mais eu. Com o tempo perdi aquela mania de acreditar em todo mundo por achar que eu era boazinha demais pra merecer uma traição, hoje não é todo mundo que divide a mesa comigo, que entra na minha casa, que eu compartilho meus sonhos. Perdi aquele jeito bobo de se deixar levar, hoje são poucas as pessoas que me fazem perder a hora. Demorou mas aprendi, aprendi que o fato de eu amar alguém não é pré-requisito pra essa pessoa não me magoar, aprendi que ninguém é o que parece até me provarem ao contrário, percebi que mesmo aos trancos e barrancos a vida continua sendo minha e ninguém tem o direito de tomar decisões por mim. Se eu tô mais fria? Não, tô no chão! Hoje não é qualquer conversa que me distrai, não é qualquer “eu te amo” que me tira o sono. Depois de tanto tempo eu finalmente aprendi a gostar de mim, a me querer por perto. Depois de tanto não, hoje eu sou a primeira pessoa pra quem eu digo sim e quem quiser que me acompanhe, não vou atrás de ninguém, hoje eu não conquisto, eu sou conquistada. Mas eu não perdi minha sensibilidade, só uso ela com quem merece, ainda sou a amiga, companheira, ainda me preocupo, vou atrás, mas hoje nada que eu sinto agride mais minha auto estima, hoje não sou coadjuvante da história de ninguém. Quando você foi embora por um tempo me senti como se estivesse morrido, não havia mais o que ver, nem o que senti, mas a verdade é que eu morri mesmo. Junto com você morreu meu medo, minha insegurança, minha falta de amor próprio. Você foi e me devolveu, você sumiu e me fez aparecer. E ainda me perguntam se eu tenho raiva de você, que nada! o que eu tenho tem outro nome: gratidão.
Hoje a noite não vou sair e por incrível que pareça depois de um tempo esperando respostas suas pra toda a minha vontade de estar com você, hoje não estou esperando você, hoje não saí porque simplesmente quis estar com alguém que há tanto tempo não cuidava: eu mesma. Pode parecer louco pra você mas a verdade é que eu não quero mais minhas emoções em frangalhos, não quero mais acordar no meio da noite querendo está com alguém que tem milhões de prioridades e eu não estou em nenhuma. Durante um bom tempo estava pensando que você talvez poderia ser a pessoa certa: você todo certinho, cabelo, roupas impecáveis, compromissos agendados, emprego fixo e com um bom futuro pela sempre, olhava pra você e nada parecia tá errado, filho querido, amigo disputado, mas hoje tenho raiva de mim por ter acreditado algum dia que existe a "pessoa certa", você nunca foi a pessoa certa pra mim porque isso não existe o que existe são duas pessoas erradas tentando acertar juntos, e de nós dois só quem quis acertar fui eu. No início queria me divertir, mas a verdade é que eu melei nosso trato, porque eu me apaixonei e o pior como toda mulher apaixonada comecei a acreditar que um dia você enxergaria isso, e pensaria com carinho em mim, eu e você, almoço de domingo, passeios de mãos dadas, brigas intermináveis, reconciliações com direito a amor depois. Boba eu sei, e isso pra mim é segredo de morte, você nunca vai saber. Agora simplesmente é hora de cair na real, aprender com tudo isso, e olhe que estou aprendendo, não significa que não sinta uma falta absurda de você porque eu sinto e dói, é engraçado como mesmo não te esperando mais algumas coisas perderam a graça pra mim, mas isso é questão de tempo um dia isso vai passar, sempre passa, pena pra você, pena porque estando tanto tempo comigo nesses últimos dias pude ver a mulher fantástica que eu sou, teimosa um pouco egoísta mas verdadeira, que seria mais que uma amante seria sua amiga, compraria sua briga, adotaria sua causa. Mas agora já deu, eu fui, desculpa não ter te avisado, mas é que me lembrei que eu precisaria significar um pouco mais pra você merecer uma explicação.
É esse medo de não pertencer a lugar nenhum, de sentir que você está caminhando e caminhando, deixando coisas e pessoas pra trás mas nunca se sentindo a vontade o bastante pra se acomodar em algum lugar, pra encostar a cabeça em algum ombro e descansar. É tanta bagagem, dores, saudades e nenhum lugar pra acomodá-los, nenhum cômodo pra guardá-los e voltar a caminhar leve pra quem sabe encontrar um lar. Um horizonte que me acolha, um sorriso que me peça pra ficar, nenhuma promessa, apenas a certeza de uma paz esquecida, de uma paz de ter um lugar pra onde voltar quando meus pés estiverem cansados de ir por aí querendo encontrar sei lá o quê, quando meus olhos tiverem embaçados de uma dor que não é minha mas que carrego por força do destino. Mas eu não posso voltar, meu medo me fez perder o caminho, meu coração abriga uma fé que resiste mesmo que meus joelhos doam, mesmo que minhas orações se repitam, mesmo quando as pessoas se vão. É só uma vontade simples de querer me esquecer, acreditar que esse sol que me acorda é por um motivo, por uma razão. Não há vidas vãs, não há lágrimas vãs, esse sufoco de chorar só não é em vão, essa esperança que me faz acordar não é vã. Só me deixa dormir um pouco, me deixa fechar os olhos e ver nos meus sonhos uma razão pra tudo isso, me espera na próxima parada do fim da minha dor, me espera no início da minha cura, aceita meu coração cansado, meu caminho errado, minhas mão vazias e me pede pra ficar mesmo que seja pra doer de novo, mesmo que seja pra construir uma catedral e me perder dentro dela, por você eu fico, só por você eu aceito ter um lar.
Ainda não sei o nome disso, qual o nome daquilo que a gente senti quando quer ficar e precisa ir? Indecisão? Não, não é indecisão porque eu sei o que eu quero, eu quero teu andar distraído-apressado-troncho andando sempre a minha frente, eu quero teu sorriso despretensioso que te faz ser o cara mais bonito que qualquer protagonista de filme de super-herói, eu quero essa sua mania de me querer de vez em quando que me faz te querer pra sempre. Mas eu não posso querer você, eu não posso me diluir em gotas toda vez que você escorrer pela minha porta, exausto de mim. Eu não posso fingir que não tô na sua pra depois chorar com saudades de você, sentada no banquinho do shopping tomando o quinto sorvete seguido da McDonald’s. Eu não posso, não posso. Mas eu faço, eu finjo ser a menina mais centrada do mundo na sua frente mas minhas unhas estão todas ruídas de ansiedade, eu finjo ser a mulher mais descolada e liberal do universo pra você mas eu guardo no íntimo de mim um desejo bobo de que você me assuma, me leve pra um jogo de paintball e me apresente a seus amigos. Eu sei que eu não podia querer demais, você veio com prazo de validade no rótulo e eu agora tô aqui torcendo pra que você fique mais um pouquinho mesmo estragado, mesmo me causando náuseas. Ninguém ama aquilo que tem na mão e você nunca esteve na minha, você canta pra mim e sorri pra moça parada na lanchonete, você liga pra mim e manda sms pra vizinha nova do seu primo, você é livre demais pra mim, você é um passarinho no universo e eu tô presa na gaiola do meu mundinho. Hoje pela milésima vez ensaiei meu pedido que você fique, listei minhas qualidades que você adora, e como a garota comportada que nunca fui me eximi dos meus erros corriqueiros numa forma esdrúxula de apelo. Mas deixei o papel em casa e fui te ver, feliz, realizada, fingindo ser a única a andar com você no banco passageiro do teu carro, te querendo como nunca.
Acordo falando comigo mesma: tem alguém aí? Será que sobrou alguém aqui dentro pra me ouvir? Coloco os pés no chão frio, e sinto algo externo, fico um pouco feliz por sentir algo que não seja essa dor. Conversei com meu melhor amigo, mas ele não me entendeu, porque toda essa tristeza não tem nome, ninguém morreu, ninguém me trocou, ninguém me abandonou a própria sorte, mas eu morri, não há nada aqui dentro só uma ferida aberta que dói, dói. Ontem tentei sair, não deu, ontem vi um rapaz tão bonito, fiquei olhando um pouco, tentei ficar feliz só porque ele retribuiu o olhar, mas essa tristeza não deixa, porque eu não quero que ninguém me olhe, eu só quero me trancar no escuro de mim e cega dormir, dormir, dormir. Eu já fiquei tantas vezes triste, meu amigo me disse: você já passou por coisa pior, mas nada é pior que agora, nada é pior que se ter dinheiro pra comprar a melhor roupa e só ter vontade de vestir um trapo qualquer, nada é tão triste que ver seu prato preferido na sua frente e só querer vomitar no banheiro mais próximo e eu tô assim, tenho todas as oportunidades do mundo batendo a minha porta e eu só quero ficar sozinha. Nada é mais justo, levaram minha leveza, não tem mais nenhuma risada guardada, não tenho nenhuma lembrança boa na manga, eu não penso, eu não sinto, eu só respiro e se isso é ta viva, eu ainda tô. Tentei congelar minha melhor lembrança mas escorreguei na minha vontade de não lembrar, tentei encostar no colo de alguém mas cai no poço fundo de mim, tentei ler, comer, trabalhar mas é tudo mecânico, virei um robô com o controle remoto na mão da dor, é ela que me direciona, é ela que me acorda e é ela que me faz dormir. Um dia vi uma garota chorando num banco e um rapaz a abraçava, apertava, ele não dizia nada e ela chorava, soluçava, desejei ser aquela mulher por um minuto, só pra poder chorar, só pra querer ser tocada por alguém, só pra me diluir em mim e me recompor depois, mas eu não consigo, eu não aceito o toque, eu não aceito olhares compassivos. Então eu deixo, deixo toda essa coisa sem nome que virou meu peito, me dominar, ditar as regras, só pra não me esforçar pra viver, só pra deixar alguém cuidar de mim, até que um dia lúcida eu me tenha de novo.
Eu te achava tão lindo, olhava pra você e pensava: Meu Deus é demais pra mim. Você sempre bem vestido, com palavras prontas milimetricamente ensaiadas. Nada parecia está errado em você: família perfeita, amigos perfeitos, vida perfeita. Era tudo tão perfeito que me embrulhava o estômago. Você veio fácil demais, com promessas rápidas, elogios baratos, liberdade calculada. E eu a garota cansada da intensidade de tudo que vivi mergulhei de cabeça no vazio sem fim que você é. Tentei olhar pra você como alguém que tava passando por uma fase, que um dia ía enxergar toda a breviedade das coisas, mas não, não era uma fase: era você. Esse vazio todo não era essas festas frequentes sem hora pra terminar, esse valor exacerbado a luxos tão banais, esses amigos do de vez em quando que você colecionava, esse vazio todo era você. Era você com seu jeito tímido que escondia um cara frio e calculista, com seu gosto musical apurado que disfarçava sua falta de sensibilidade pra ouvir além do som, com sua mania de perfeição que só gritava o quão longe da perfeição você era. E como te enxergava assim doeu acordar pra quem você sempre foi e perceber o quanto tudo que você me oferecia era menos pra mim. E hoje me permiti ir embora, paguei um ingresso caro demais e o seu show é pra uma platéia selecionada que eu definitivamente não quero fazer parte nem fazer coro com essa gente que te rodeia, que te enaltece, que te faz rei. Sempre fui transparente com tudo que sou e pra ser bem sincera, quem anda comigo, sabe não perco meu tempo com pouco, não aguento futilidade nem no meu armário quanto mais no meu coração.
Eu corro, corro porque todo mundo me acha tão boazinha que se eu ficar um minuto a mais vão descobrir que não é bem assim que na verdade eu to pouco me lixando pra opinião de quem quer que seja, eu só tô aqui porque não queria ficar em casa hoje, está com alguém pouco me importa porque eu to surda para o mundo, porque eu to surda pra essas conversas vazias, pra essa gente cheia de conteúdo. Ninguém nunca me disse que seria assim, a vida é uma injustiça sem tamanho, você faz planos, constrói castelos, se acha dono do mundo e de você e de repente: acabou! Você é nada mais nada menos que um zumbi, que vive sobrevivendo e abrindo os olhos todos os dias ignorando tudo que já morreu por dentro. Eu só não quero sentir mais, quero acordar, trabalhar, sair, ler e pronto, por que diabos no intervalo disso a gente tem que sentir tanto? Como eu faço com esse embrulho no estômago que matou todas as borboletas que tinham aqui antes? Mas eu parei de brigar com a vida, e todos dizem: você ta tão zen... mas a verdade é que eu to sem: sem esperança, sem gana, sem saco. Cheguei a um nível que nem chorar eu choro mais, porque sofrer é tão pouco sabe, porque soluçar já não me basta, aliás nada me basta porque eu sou o próprio basta. Ninguém me entende, ninguém enxerga o tudo e o nada que corre nas minhas veias mas eu não to nem aí, que se dane esse negócio de ser compreendida, pela primeira vez na minha vida passar despercebida virou um alívio. Se essa dor vai passar eu não sei, mas com um tempo ela vai ficando, ficando e quando você vê ela se torna um braço cê se acostuma, cê acorda mais um dia e vai vivendo até achar um sentido, até se agarrar em algo ou alguém pra continuar.
Domingo sozinha em casa dá nisso: eu com saudades de você. Tentei assisti um filme, você tava lá no andar do antagonista, tentei ler um livro você tava lá no jeito que o mocinho foi embora e deixou a mocinha sofrida, decaída, pelos cantos. Depois de todas as tentativas frustradas de tirar minha cabeça de você me rendi e abri seu perfil num site de relacionamento, nada novo, você nunca foi muito adepto de rede social e não sei o que é pior: não saber de você ou saber que você está infinitamente melhor sem mim. Comecei a ler nossas conversas antigas e chorei feito uma criança birrenta e me perguntei pela milésima vez o porquê de sermos tão bacanas juntos e não estarmos juntos. Há um bom tempo não sei nada novo de você, sei que se formou e que continua no mesmo emprego, mas não sei que banda nova você anda ouvindo, qual o livro recentemente foi adicionado aos seus preferidos, nem se ainda sente falta de mim. Já era tarde e queria tanto ligar pra você, nem que fosse pra ouvir tua voz e desligar rapidinho feito uma daquelas adolescentes e suas paixões platônicas, mas ao invés disso liguei pra o carinha atual pra vê se encontrava um pouco de você e dormia em paz. Não deu certo, ele tava apressado, voltando de uma viagem e eu desliguei rápido porque a pressa dele me lembrou o quanto você sempre teve tempo pra mim, não importava a hora, nem onde ou com quem você estava, você sempre me atendia com a maior paciência do mundo mesmo se fosse só pra eu te perguntar qual cor de sapato era mais apropriado para uma entrevista. Mas acabou, prometi não falar mais de você pra minhas amigas, prometi pra mim mesma não comparar você com ninguém mais, mas ainda não consegui entrar num acordo com meu coração, pra não lembrar mais de você, pra não ressuscitar você num dia qualquer quando o vazio aqui dentro me lembrar que você é exatamente do tamanho do que falta em mim.
Eu fiz um pacto de silêncio, hoje eu sei que há poucos, bem poucos interessam o que eu passo, o que eu sinto. Então para os demais eu vou sempre está bem, não isso não é falsidade, mas a certeza de que meus sentimentos valem muito, o que eu sinto é meu, não diz respeito a mais ninguém. Chega uma hora que a gente cresce e percebe que o que você diz é constantemente usado contra você, então é melhor se segurar, sofrer calada. São tantas pessoas felizes no mundo que está triste se tornou pecado, é um erro, é besteira. E que mal há em está triste, ou quieto, ou em silêncio? Você não pode permanecer assim porque ninguém merece ser triste o tempo todo, mas está triste faz parte, é necessário, ensina muita coisa. Sinceramente, eu tenho medo de quem corre da tristeza, eu tenho medo de quem canta felicidade aos quatro ventos e tenho pavor de quem julga o que os outros sentem, se põe num patamar elevado tipo ‘eu nunca vou passar por isso’ e olha a tristeza e o sofrimento alheio com desdém. O que eu sinto, o que você sente tem muito da nossa história, ninguém fica triste por um motivo só, pra você julgar alguém teria que ter um filme autoral contando como foi a vida em mínimos detalhes daquela pessoa e sentir o que ela sente, por isso ninguém é capaz de analisar a dor de ninguém, o que a gente vê na maioria das vezes não é nem 2% do que realmente ta acontecendo. Então vamos aprender a se colocar no lugar dos outros, a ser menos egoístas, a respeitar a dor e o sofrimento de quem quer que seja. Nessa vida aprendi que ninguém está imune de nada, que assim como o sol é pra todos a tempestade também.
Você me mandou um poema por mensagem hoje, nenhum bom dia, nenhum interesse de como eu estou apenas o poema. Você sempre soube da minha paixão por poesia e achei engraçado porque eu nunca contei isso a nenhum cara que me relacionei porque sempre achei que eles poderiam pensar que eu era uma “romântica-não-me-toque”, mas pra você eu disse, na primeira conversa longa que tivemos eu já tava soltando todos os meus segredos numerados e infantis. Você sempre conseguiu arrancar tudo de mim, minha melhor risada era sua, era tão sua que eu guardava as coisas engraçadas que eu ouvia pra contar pra você e rir com você e rir da sua gargalhada ‘soluçante’, minha melhor dor era sua, porque na verdade tudo em você me doía, quando você tava longe me doía a saudade, quando você estava perto me doía o tanto que te queria e nunca poderia ter, porque eu queria teu sangue nas minhas veias, eu queria tua respiração ofegante sobre meus poros, eu queria teus sonhos derramados no meu cansaço e querer demais é o caminho mais rápido para a frustração. Me assusta o modo que fico feliz quando você se lembra de mim, eu sei que de vez em quando você lembra, porque minha intensidade sempre foi o seu refúgio preferido quando você ta mergulhado na sua vida vazia. Eu com minhas manias você com suas certezas, eu te querendo pra agora, você me guardando no de vez em quando, eu te amando aos gritos, você me amando pelos cantos. Você sempre duvidou da gente, me lembro do dia que você me disse “e se eu me apaixonar por você? caminho sem volta”, prendi o choro e abracei você: Eu te espero na volta. Li o poema e comecei a pensar em uma resposta, agradecimento pela lembrança mas depois me lembrei o quanto você sempre gostou da minha transparência, de como sempre fui clara com você sobre tudo, se não era clara com as palavras era com o olhar, eu nunca menti pra você e decidi não responder, porque nada que eu falasse caberia no que eu queria dizer, porque nenhum agradecimento resumiria tudo que sinto em saber que você ta aqui, não aqui, mas ao alcance, ao alcance de toda essa minha saudade.
É isso: você tem medo do amor. E sempre quando sai de casa, com alguém ou sozinha, se certifica se está protegida dele o bastante. Você pensa no amor como algo que bloqueia, lembra de tantos sonhos que foram construídos em torno de alguém que hoje são apenas escombros que você desistiu de erguer sozinha. E aquele cara da faculdade está há tempos chamando você pra sair, seu ex que ainda não te esqueceu, um amigo do seu irmão que já mandou dezenas de indiretas, e você está aí, imune ao mundo, imune a tantos caras que enxergaram em você a beleza que ele nunca viu nem vai ver. Mais um fim de semana que você passa mergulhada em CDs antigos, filmes, livros com histórias que nunca serão as suas. Tudo isso porque um dia o domingo era o dia dele, tudo isso porque todos esses CDs são trilhas sonoras da sua primeira tentativa de amar. Você se esforça mas a verdade é que parece que toda graça do mundo foi embora junto com ele, toda aquela vontade de conhecer gente nova, de sair sem destino e sozinha está guardada numa gaveta qualquer junto com as roupas que ele deixou pra trás. E mesmo assim você aceita sair com o cara bonitinho da auto-escola só pra se certificar que aquele lugar ainda é o dele, só pra lembrar que ninguém te deixa à vontade com a sua gargalhada como ele deixava. O mundo é tão grande e você sempre foi tão realista, mas hoje está limitada a essa tal de realidade que não te deixa ver que existem outros, exitem alguns, e pode existir aquele, aquele que vai te olhar na alma e te fazer querer acordar cedo pra caminhar na praia, que vai te querer por baixo de toda essa armadura, que vai te fazer desejar ser inteira de novo, pra ele, pra você, pra vida.
Minhas amigas dizem que estou louca, meus amigos apostam que nós não vamos durar. Minha mãe me pergunta direto o porquê das minhas risadas sem motivos e do meu choro abafado depois das duas da manhã. Eu escondo, disfarço porque o motivo de tudo isso é você, toda minha confusão está intitulada com o seu nome. Tudo aqui dentro tá sufocado, minhas feridas estão abertas e você ri, porque no fundo você não entende, não sabe que ninguém mais arruma o que sinto aqui dentro, não leva a sério esse furacão que eu sinto no meu peito porque pra você ele é apenas uma brisa. Minha mãe sempre me diz que quando um cara não ama a gente no início ele nunca vai amar, mas cada vez que eu te olho eu penso que posso te congelar assim... que você pode não ir embora como todos pensam. Eles não entendem que eu quero me iludir, que eu quero pensar que você pensa em mim antes de dormir, que você sai na rua cogitando me encontrar, como todos os dias faço. Eu sei que vai doer, porque já ta doendo, não consigo nem pensar que um dia vai tá tudo vazio de novo e eu não vou sentir esse turbilhão quando o telefone tocar e no visor aparecer teu nome. Me deixa sugar cada segundo de você, me deixa respirar todo teu tempo, me deixa fugir pra tua casa quando eu tiver medo de toda essa ilusão que eu criei. Deixa eu acreditar que todos eles estão errados e que essa voz aqui dentro que grita teu nome é a que eu devo seguir.
Então eu fico sentada em frente ao mar, ao nosso mar, aquele que por tantas vezes chamamos de nosso, que por tantas vezes testemunhou coisas tão nossas. Mas agora ele só testemunha a minha solidão sem você, eu começo a pensar que talvez ele chore quando me vê aqui nessas pedras, lembrando que um dia dissemos ‘pra sempre’ olhando pra ele. Mas hoje essa imensidão não me tortura, está contemplando o universo sem você, essas estrelas que juntas formam algo que nunca iremos alcançar não me deixa pela metade mais. Um dia você esteve aqui e o que vivemos foi tão real quanto esse vento que agora assanha meus cabelos. Um dia a gente falou que seria pra sempre mas quem disse que não foi? Foi o nosso pra sempre, fomos honesto com o nosso amor quando o vivemos por completo e hoje não resta nada de nosso nesse amor que é tão meu. Ao meu redor vejo casais e me pergunto se eles sentem o que a gente sentiu, se já se sentiram esmagados por um amor tão grande mas em contrapartida leves como uma pena ao vento. Será que tudo que sentimos foi tão forte que a vida pôs prazo de validade por ser tão injusto com quem não viveu nem metade do que nós? Eu não deixo de pensar que nosso curto tempo deixou faíscas que ainda me fazem rir do nada, que tudo que aprendi com você serão pontos luminosos na minha simples existência, que talvez o meu sempre durou o tempo que nós duramos. Um dia ouvi dizer que quando morremos revivemos nossos melhores momentos aqui na terra como se fosse um agrado do criador pela nossa passagem, não demorei muito pra desejar viver minhas melhores alegrias e não me surpreendeu ter a certeza que em todas elas você esteve lá.
Dá pra fazer uma pausa entre essas coisas lindas que você me diz, deixa eu respirar todo o ar que me resta até eu desabar nos teus braços. Não me faz acreditar nesses teus clichês, porque faz tempo que tenho achado mó bobagem esse negócio de amar. Daí você vem bagunçar essa perfeição que virou a minha vida, quando eu descobri que dá pra ser feliz sem criar expectativa de amar e/ou amar alguém. Se me quer de verdade me convence que vai valer a pena, porque eu não tiro meu coração da gaveta por uma simples aventura mais. Não me olha desse jeito, porque eu não sei desviar meus olhos dos teus, eu me desvio dos teus impulsos, dos teus convites mas o teu olhar pra mim é covardia. Você diz que tá cedo mas no meu coração já passou da meia noite, você faz promessas para agora e o meu agora tá dormindo no berço do amanhã. Não me desperta porque minha alma é um vulcão, menino você não me conhece, quando eu acordo demoro pra pegar no sono e é aí que tá o problema, aqui dentro ainda resta um pouco de ressaca do meu ultimo suspiro antes de adormecer. Você é tão lindo que passei a noite passada toda pensando em como trocaria boa parte das minhas paisagens diárias pra ficar vidrada olhando teu rosto. Você é tão lindo que eu me pego pedindo ao tempo que me traga você pra eu te olhar um pouquinho mesmo que eu não me permita te ter nunca. Desde que você chegou as horas voltaram a ser minutos, as músicas de Los Hermanos voltaram a ter sentido, as noites sozinhas em casa voltaram a ter graça. Desde que você chegou e só porque você chegou tenho pensado que amar não é tão bobo assim, que bobo mesmo são teus olhos nos meus, teu andar distraído querendo pegar carona na minha pressa, bobo mesmo é essa mania de não te querer que me faz te querer mais, pra mim, pra sempre.
Esse texto é pra você. É pra você porque essa menina falante sua presença consegue deixar muda, é pra você porque meu único refúgio é escrever, escrever, diluir em palavras tudo que me bagunça por dentro. Tenho medo de te encarar, medo de te ouvir, medo porque você é tão doce que te olhar amargo assim me dói, dói como nunca pensei que doeria. Aí eu fico muda, eu tento rir na sua frente, tento fazer com que você me note, insisto pra você esquecer minhas bobagens, porque é isso que eu sou uma boba que só faz besteiras perto de quem ama. Eu te amo tanto, e eu sei que eu te amo porque eu não consigo ser coerente com quem gosto, eu tento, analiso, mas só consigo forçar correção, eu erro, erro, machuco mas pode ter certeza que quem sai mais machucada sou eu. E é assim que eu to: machucada, rindo por fora e gritando por dentro, escutando músicas alegres pra confundir a ópera dramática que canta nos meus ouvidos. A gente é tão parecido por isso que eu respeito tanto seu distanciamento, porque eu não quero te invadir, porque eu sei que não adianta mais eu dizer que nunca quis te machucar porque isso não vai mudar a dor que já se instalou. Eu não sei onde isso vai parar, não sei se algum dia você vai me olhar e querer rir comigo de uma besteira qualquer, mas a única coisa que eu queria e te peço se for mesmo o fim, se você realmente não quiser pensar em mim como alguém que vai está ao seu lado no futuro, lembra de mim de vez em quando, mas lembra das coisas boas, das nossas risadas exageradas, dos nossos códigos infantis, lembra de mim como alguém que daria a vida por um sorriso teu, se algum dia mesmo longe um do outro eu saber que é dos nossos melhores momentos que você mais lembra eu vou sentir lá no fundo que pelo menos por algum tempo a gente valeu a pena.
Passaram-se alguns meses da última vez que nos vimos e foi tudo tão confuso e ao mesmo tempo tão triste, confuso porque não sabia o que seria de nós dali por diante, triste porque todas as nossas despedidas me deixavam dilacerada por dentro. Mas como eu já esperava não foi um ponto final foi mais um ponto na enorme reticência que nossa história se tornou. A verdade é que tudo me lembra você, das coisas mais intensas as absurdamente mais comuns, você sempre foi a ilusão mais palpável da minha vida. Toda vez que em minha solterice assumida eu quero me lembrar de alguém pra construir um nós é você que vêm a cabeça. Quando alguma coisa nova acontece no meio da monotonia dos meus dias é você a primeira pessoa que eu queria contar. Talvez você nunca irá saber disso, mas você foi e está sendo mesmo de longe o homem da minha vida, o homem dos meus sonhos, todos esses clichês repetitivos que ouvimos desde sempre você é pra mim. Você é o meu melhor clichê, e a minha melhor novidade também porque toda vez que eu te vejo eu descubro uma nuance nova para o teu sorriso. A gente nunca vai dá certo eu sei disso e pode acreditar não sofro mais com essa verdade, não vou te dizer que ela não está engasgada na minha garganta porque ainda está, mas ela não dói mais. O que me dói é saber que todo esse meu amor não vai servir pra nada, o que me dói é saber que um dia eu vou me casar com alguém e esse alguém não vai ser você. Nossa história vai ser meu quase mais triste. Poxa, eu quase passei no vestibular, eu quase ganhei aquele sorteio, eu quase tive você. Eu vejo tantas pessoas fazendo planos e quase sempre encontrar alguém está na lista, na minha sempre esteve reencontrar alguém. Porque por mais que eu conheça gente nova todo dia, eu sempre antes de dormir desejo sentir de novo tua pele quentinha com cheiro de paz, porque por mais que eu conhecesse o mundo seus braços continuariam sendo o melhor lugar pra eu voltar.
A gente nunca daria certo, e eu sempre lutei para que você entendesse isso. Não adiantava ter química, não adiantava a gente ter o mesmo gosto pra música, rir das mesmas coisas, o problema é que nossos sonhos sempre andaram na contra mão e entre uma encruzilhada e outra a gente se encontrava. Você sempre foi tudo o que eu esperava em um homem, mas também foi tudo que eu não suportaria ter, porque você era bom demais pra uma menina tão milimetricamente errada como eu. Eu queria não gostar de algo em você, eu queria que você tivesse gritado comigo no dia em que te troquei pra dançar com outro naquela festa, eu queria que você não tivesse cuidado de mim quando eu tava sofrendo por mais um fora, tudo isso pra que eu pudesse sentir algo além de amizade, tudo isso pra que eu ficasse um pouco insegura em relação ao que você sentia por mim, porque a verdade é que eu sempre soube que você me amava e isso me afastou de nós desde o início, desculpa mas nunca soube lhe dar com o amor, muito menos um como seu, tão livre, tão entregue. Hoje acordei com uma saudade absurda de você, vez ou outra eu acordo assim culpando até minha última geração por ter deixado você ir, mas no final do dia eu sempre durmo com a certeza que foi o melhor pra você. Você me ensinou a deixar meu orgulho de lado, a ser menos egoísta, porque no dia que eu pus um fim em nós eu pensei mais em você do que em mim, eu sei que você não acreditaria se te falasse por isso me calei, deixei você ficar com raiva pra te livrar de um sentimento que não ía te levar a lugar nenhum, não era justo eu prender um passarinho na gaiola, cê me entende? Queria te dizer que nunca conheci alguém tão bacana quanto você, que se eu pudesse escolher uma risada minha seria uma com você. A última vez que te vi foi numa festa, tão lindo, rodeado de amigos como não podia deixar de ser sempre foi irresistível ter você por perto, você me viu, correu e me deu um abraço desses que estala seus ossos das costas, sorriu com aquele riso de quem não tem nada a perder e me disse: Pensei que nunca mais iria te ver, na hora eu tremi, pela primeira vez eu tremi na sua presença, eu sempre tão segura de você, me senti tão pequena, pela primeira vez eu não vi amor em você, pela primeira vez você me cumprimentou como uma simples amiga, era apenas carinho, você se despediu e eu só quis te pedir pra que você ficasse, me amasse só por mais um dia, porque fazia um tempo que tava sentindo uma falta descomunal daquele teu olhar de devoção, mas não disse nada e você foi. Soube que você tá feliz, arrumou alguém e que planeja até se casar, quando vi uma foto de vocês numa rede social, fechei os olhos e desejei, não você de volta, mas desejei com todos as minhas forças que essa garota te fizesse feliz o tanto que eu quis fazer, mas não consegui.
Você vai embora e eu vou ficar por um tempo ouvindo a mesma música alternando com momentos de silêncio profundo. Vou assistir pela milésima vez o concerto ao vivo da sua banda predileta não por gostar dela mas por saber que em algum lugar você poderá está assistindo também. Vou ir ao cinema sozinha, dormir no domingo a tarde, aprender a jogar pôquer só pra dizer a mim mesma que eu consigo fazer coisas que você dizia que eu não nasci pra fazer. Você vai embora e eu vou aprender francês, viajar pra Suíça, vou aprender a fazer frango xadrez. Vou virar vegetariana, vou fazer ioga, vou encontrar alguém. Você vai embora e eu vou aprender uma nova música, comprar uma meia calça roxa, vou casar. Você vai embora e eu vou viver, vou amar, vou florescer. Não hoje, não agora mas um dia eu irei, eu sei que irei.
A gente poderia se conhecer numa churrascaria, numa noite chuvosa de segunda feira, aniversário de um amigo em comum. Você poderia sentar atrás de mim numa prova qualquer de concurso público, me achar familiar e com um pouco de vergonha me perguntar as horas e se não nos conhecemos de algum lugar. Eu poderia visitar a igreja que você frequenta, eu te olharia de lado, acharia você bonito e perguntaria pra minha amiga quem você era. Você poderia vim assim sem nenhuma pretensão, numa terça a tarde na sorveteria da esquina, numa festinha de criança na escolinha do meu sobrinho. A gente poderia ser fã da mesma banda e colecionar a mesma série de livros. Meu pai e você torceriam para o mesmo time, a sua gargalhada seria meu motivo de gozação e meu jeito manteiga derretida seria o seu. Minha camiseta preferida poderia ser uma que você me presenteou pra se desculpar da nossa primeira briga, a sua camisa mais bonita poderia ser a que você usou no nosso primeiro encontro. A gente poderia discutir sobre o destino de nossa primeira viagem, sobre o brinde de uma compra na internet, sobre a justiça do árbitro num jogo qualquer. Eu poderia convidar você pra ver a lua na beira da praia a noite, você poderia me convidar pra uma exposição no museu de arte. Você poderia ser o primeiro a me dar um anel de compromisso e eu a primeira a te dar a coleção de todas as temporadas de Friends. Meu irmão implicaria com seu cabelo e sua mãe adoraria meus anéis. A gente dormiria todo domingo depois do almoço no tapete da sala da sua casa e elegeríamos a segunda feira como o dia do“nós”. Você seria meu admirador declarado e eu seria a sua fã enrustida. Nossos olhares brilhariam na visão um do outro, e o final de um dia enfadonho de trabalho ainda teria cor, porque passaríamos a noite na minha casa arrumando tudo para a festa de aniversário de casamento dos meus pais. Você poderia chegar amanhã, mês que vêm, daqui há alguns anos, mas vê se não demora tanto, vê se não se perde com essas meninas-patricinhas-vazias, vê se não viaja pra longe de mim ou vê se vem morar na minha rua, mas não deixa eu perder a esperança de acreditar que você vai vir, não deixa eu encontrar um meio amor qualquer e perder de viver uma grande história, a nossa história.
Se me perguntassem qual minha risada preferida eu diria sem medo de errar que é a sua, o som estridente de uma gargalhada que parece avessa a toda dor, o olhar distante de quem sofre demais e encara de menos. A primeira vez que te vi chorar foi por uma história que eu contei, mas parecia que você viveu aquilo, que a dor que eu sentia você já sentiu, nossa história era a mesma só mudava os personagens. Com você aprendi que algumas dores gritam mesmo em silêncio, que por mais que suas risadas ecoem na sala, tua dor faz zuada em meus ouvidos. Fingir é seu escape, fingir é um dom que você tem, mas seu fingimento é fraco, meu olhar cansado encontra o teu e penso que por trás de sua risada alta você percebe que eu te entendo, você percebe que eu te enxergo. As pessoas perguntam como alguém pode ser feliz assim, as pessoas sentem sua falta quando você não está, o vazio que você sente é o vazio que você deixa quando se vai. Você é tão amável, talvez seja por isso que você se machuque tanto, quando a gente ama muito a gente se machuca muito, amar é estar nu pra dor, é tirar toda a armadura da hipocrisia e se deixar livre, mas amar tem um preço e você como eu sabe que as vezes é alto demais. Ah se eu pudesse te dar um presente, algo pra você lembrar de mim pra sempre, mas o que eu pensei em te dar é muito além de algo material, vai muito além de algo que se toca, que se veste, o que eu queria te dar é algo que se sente, o presente que eu te daria seria esperança. Esperança de que há um sol escondido por trás dessas densas nuvens, esperança de que um dia, não muito longe, esse teu riso traga consigo um olhar de quem conseguiu achar um porto, de quem conseguiu achar no amor um bom motivo pra continuar.
Os anos teen passaram, os trinta estão chegando, não há mais tanta coragem, mas em contra mão não há mais tanto medo. A gente se despede mais fácil, e quando sofre, sofre devagar, se perde algo ou alguém chora de manhã pra terminar de chorar semana que vêm. Os amigos de adolescência estão com outros amigos e os amigos recentes estão cansados de festa, a gente quer voltar pra casa cedo, a gente quer dormir na mesma cama todos os dias, o silêncio canta mais alto que qualquer música da moda, as músicas da moda já não mexem mais nossas entranhas seletivas. Os dias de nostalgia diminuíram de uma vez por semana pra uma vez por ano, já não há o que se desesperar, os amores estão melhores resolvidos e a solidão é companhia. Não se quer adiar pra amanhã nada: nem a viagem, nem aquele romance, mas também não se quer pra agora por medo de se quebrar de novo, afinal foram anos se reconstruindo. Se algo não sai como planejado a raiva não vêm com a frustração, o choro sai ardendo a alma cansada, o riso sai descompromissado, a saudade acalenta mais do que machuca. Você se acha maduro porque aquele amor antigo não machuca mais, o amor recente não desestabiliza tanto, o tempo perdido é com a realidade e as fantasias estão numa caixinha da memória aberta só de vez em quando. Você se pergunta quem é esse cara do espelho, esse reflexo que já não é tão jovem mas não chega a ser velho, você se assusta com essa calma que te invade quando tudo lá fora tá à beira do caos. São os quase trinta, são os vinte e tantos, é o tempo de desencontros marcados, de encontros atrasados, é o tempo do choro contido, das palavras árduas mas sábias, dos amores maduros e livres. É a alma dando voz àquele desejo antigo, é o sono de domingo, é o suco no lugar do refrigerante, é o jantar no lugar da boate, é o silêncio no lugar do rock, é a aceitação no lugar do espanto, é o até quando Deus quiser no lugar do pra sempre.
Ontem você me ligou depois de anos e disse que não me esqueceu, que não se arrependeu de tudo o que fizemos e que a gente de alguma forma tinha valido a pena. Custei a acreditar, e você estranhou, antigamente era tão simples me convencer de algo que você falava mas agora algo mudou, coração blindado sabe? Pois é, aprendi. Numa conversa de trinta minutos eu entendi o porque que tínhamos que está longe, você me disse que estava feliz e eu mesmo sem ninguém também estou, to sorrindo mais e olha o meu progresso: falar com você não me afeta tanto como antes. Cheguei a um estágio em que já me acostumei com essas ligações suas, é como se algo dentro de você quisesse ter a certeza se eu ainda estava ali.Não lembro mais de você como antes mas quando lembro são as melhores lembranças, das risadas, das conversas sérias, do seu jeito único de poetizar tudo, você foi a pessoa que eu conheci que mais se pareceu comigo, deve ser por isso que não demos certo. Havia desejo, sintonia, amor mas não havia o aval do destino e hoje sei que era verdade quando você me disse que ele seria nosso maior inimigo. Fazia tanto tempo que não sentia sua falta mas quando você me disse que imprimiu e guardou nossa última conversa eu tive raiva por aquilo tudo, eu tive raiva por um nós que nunca existiu,eu tive raiva por não ter tentado modificar nada por medo de me ferir, sendo que a minha desistência me machucou mais que qualquer tentativa. No fim de ontem eu só queria está com alguém que eu conseguisse sentir a metade que eu senti com você, eu só queria vê minha voz trêmula por ouvir outra voz que não fosse a tua, eu só queria esperar outro alguém no fim de todos dias que não fosse você.
Porque toda vez que eu olho pra você eu quero dizer: sim, por você eu diria sim, pela gente todos os meus medos infantis dissipam. Você me enxerga por dentro e eu fico pensando o que eu não faria pra que você ficasse mais um pouquinho, será que há algo que você me pediria que eu negaria? Talvez você não entenda e nem eu quero te explicar, mas sente isso que eu to sentindo, ri comigo todas as vezes que eu ficar muda diante da gente. Você veio e me fez esquecer das bobagens de antes, porque antes de você tudo foi bobagem, buscas inúteis, desencontros. Porque todo meu dia muda quando olho seu rosto, quando você ri de canto e conta segredos de nós dois no meu ouvido eu me lembro grata a Deus que poderíamos morar cada um em um hemisfério e nunca nos encontraríamos, mas estamos aqui, vivendo o que tanta gente passa a vida toda e não vive. Eu nunca vou saber, nem sei até que ponto do nosso cansaço emocional alguém chega e nos faz entender que tudo foi por uma razão, mas você desnudou minha descrença, você descamou meus olhos de ressaca. Eu amo você, e eu amo muito mais além de você eu amo a gente junto, eu amo nossa gargalhada depois de uma piada sem graça, eu amo nossos olhos quando se encontram depois de um dia cansativo, eu amo nossas pernas se esquentando no frio. Talvez um dia tudo que estamos vivendo vire memória e você seja apenas um sonho bom, mas por hoje tudo já valeu a pena, mas por todo sonho que você me devolveu, por toda essa fé que hoje eu tenho em mim nosso amor foi muito mais que um acaso foi um plano divino.