Kamylla Cavalcanti
Talvez a mais triste convivência que temos é com quem já não está mais presente, é a dolorosa convivência com o perfume que fica intríseco na memória, com um jeito de falar que se repete em outros lábios, com o som da gargalhada que insiste em soar em meio ao silêncio. É a dor oculta da manhã sem o bom dia, do sábado sem o cinema, dos dias tristes sem consolo. É o costume que não se tem, de passar... por uma determinada rua e não lembrar, de olhar um andar parecido e não recordar, de ouvir uma determinada música e não chorar.
É parecer que todas as histórias mereciam ser compartilhadas com quem já se foi, é se sentir em dívida com o amor por não tê-lo entregue ao todo, é se ouvir falar dele pra si mesmo quando mais ninguém parece querer ouvir.
A convivência que se aprende a aceitar, que dilacera as certezas de tantos que repetiam exaustivamente que um dia tudo iria passar. É a dor cotidiana de não se ter mais alternativas, de não ter mais sono que alivie ou apague, de ver que as lembranças não estão passando com o tempo e sim cada dia mais vivas.
É quando tudo que se vive parece um déjà vu de um tempo que mais parece uma outra vida. É viver esperando uma resposta pra uma pergunta que já foi esquecida. É ter a verdade escondida dentro de si sem ter como mudá-la. É sentir-se enganada por si mesma de um dia ter pensado que fosse pra sempre. É querer se encostar em um ombro que já não te acolhe. É não ter mais forças pra arrumar uma cama vazia. É parecer anti social por querer estar só quando a dor apertar. É ter que conviver com o medo de não mais esquecer.
E você começa a não se assustar com o silêncio, tudo fica mais claro, aquele desespero de não se ter mais companhias para as noites derramadas em remédios para dormir cede lugar a uma solidão clara e almejada. Ninguém sabe ao certo quando se começa a enxergar tudo de forma passageira mas a dor dá início a tudo, a dor alarga as fronteiras, as lágrimas limpam os olhos cansados e o sofrimento liberta. Talvez beber demais, fumar demais, fugir demais nortei as preliminares de uma decisão ainda por tomar, mas no decorrer tudo se mostra como bobagem, porque de alguma forma a sobriedade está na alma e a alma nunca dorme. Ainda está tudo por resolver mas não se quer voltar atrás, há coisas que se resolvem por si só e por elas nada podemos fazer, é o valor da espera, a confiança no tempo e em sua completa capacidade de apagar e reativar tudo ao seu modo, o que é pra ser será e o que deixou de ser foi uma fração de segundo de uma vida que ainda espera ser vivida. É um cuidado consciente com o sentido que damos a algo que tem prazo de validade, é discernir que há propósitos e planos que findam em sonhos irrealizáveis. Mas no fundo entre lamas e esterco agente se nega a crer que a vida é dor, a vida pode ser leve, diz nossa alma, para se ter paz antes precisa ter guerra, pra se ter amor antes precisa entrega, pra se ter sol antes precisa ter escuridão, e é nessa escuridão que temos a certeza que o sol um dia virá.
Ficava me perguntando se o nosso encontro seria um plano divino ou um mero acaso de um destino infeliz, percebi ontem olhando você rindo das minhas infantilidades e depois dizendo só pra me frustrar que eu era irremediavelmente sem graça que você poderia ter nascido no Japão, na Alemanha ou até mesmo em Serra Leoa mas Deus permitiu que você nascesse aqui e em meio a minha mania de não sair de casa e a minha estranheza perante todo mundo que me rodeia Deus me permitiu conhecer você e não apenas isso ele desterrou em mim a vontade adormecida de revelar a alguém o quanto sou chata, imatura e medrosa... antes esses eram adjetivos que eu carregava dentro do meu mundinho que aliás ninguém conhecia. Como pode alguém fazer com que você saia de casa feliz, depois de um dia chato e cheio de gente chata? Como pode alguém olhar você dando a maior gargalhada e cochichar nos seus ouvidos que sabe que você não está bem? Como pode alguém fazer você ficar horas calada e só por estar perto dele esse se torna a melhor parte do seu dia? Talvez só entenda isso quando me encontrar com quem tem essa resposta...o mesmo que me trouxe você!
Passaram-se tantas primaveras não foi amor? Mas seu perfume ainda inunda meu quarto, ainda ouço sua voz me acordando pela manhã e seus passos ainda atordoam meu sono... Há tanto o que saber e tanto mais que não saber porque na verdade você sempre foi o único, o único que me fazia querer ficar nesse mundo só mais um pouquinho apenas porque você estava segurando minhas mãos e em silêncio minha alma... Te olhar hoje seria retomar um turbilhão adormecido, te abraçar hoje seria resgatar um sonho sem fundamento, te amar hoje seria acreditar num futuro que pra nós não mais existirá... Eu sei que pra o destino acabou mas porque pra mim não, porque continuo pensando em você todas as vezes que inevitavelmente me deito e sei que não irás mais me ligar? Amor, de todos os que até hoje me deram boa noite você foi o único pra quem eu quis acordar no dia seguinte... você foi o único que eu quis amar no dia seguinte... E embora minha saudade seja o suficiente para te trazer todas as noites pra meus pensamentos ela não é forte o bastante pra te trazer para os meus braços, e agora já é tarde, preciso dormir antes que me perca em você outra vez...
Cansei de tantas lágrimas a noite, cansei de andar curvada, de sofrer sozinha, de esperar a volta de alguém que nem sei se existe. Hoje nem sei mais se amei você ou o que pensei que você era. Se eu amava ouvir o que você dizia e no fim desc...obri que era tudo ilusão, na verdade eu amei uma mentira. Ainda não consigo explicar como me enganei tanto, quantas vezes meu Deus tentei te desculpar pra mim mesma, tentando lembrar de alguma atitude digna sua, pra acobertar as inúmeras podres. Você foi desleal, cruel e imaturo, você na verdade é um desperdício de talento, mente tão bem que deveria investir em ser ator. Você poderia ter sido tudo pra mim mas resolveu ser passado. E hoje decidi arrumar suas trouxas de dentro do meu coração (o que é o mais difícil), entregar roupa, caneca, aliança é fácil complicado mesmo é entregar saudade, planos, sonhos... E hoje me limpei de tudo que é seu, me permiti fazer uma varredura no meu coração. Se fui eu que abri a porta do meu coração pra você entrar sou eu mesma que vou fechá-la depois de te tirar de lá. E só mais uma coisa: pode ir mas não olha pra trás não, porque não haverá mais ombro, colo nem perdão, haverá uma esquina vazia antes ocupada por alguém que agora decidiu viver.
Talvez eu ainda não tenha aprendido a me perdoar, talvez eu precise parar de remoer todas essas coisas que me prendem a um passado que tanto subornou meus sonhos. Eu procuro acreditar no que vejo na minha frente e tento ver além do embaçado...constante dos meus olhos, guardo meus medos na gaveta e não me olho mais no espelho, a falta escreveu sobre minha’alma todas essas ausências, que me doem, me sufocam e me fazem em pedaços. Eu passei pela vida acreditando tanto, me esforçando tanto pra ser melhor, que hoje nem sei se esse era o melhor que eu quis pra mim. Vi tanta gente, andei com algumas, sorri com outras e chorei com poucos, mas hoje só me resta essa saudade e essa constante vontade de visitar lugares que já nem sei mais se sou aceita. Hoje chorei, chorei por ter percebido o tanto de palavras, lágrimas e momentos que queria apagar e que não posso, chorei por essa vontade descabida de te olhar, esse desejo inocente de te ver sem nenhum passado a nos sufocar. Chorei porque de toda essa descrença que minha vida se tornou, nós somos a única coisa que eu ainda acredito, mas ao mesmo tempo a única coisa que não alcanço. Hoje poderia te ligar, talvez um jantar, a gente poderia por o papo em dia, declarar saudades e afugentar temores, depois você poderia ir dormir lá em casa, eu acordaria a noite só pra te ver dormir, você se levantaria cedo e devagar pra não me acordar, hoje só hoje... a gente poderia reconstruir os sonhos tão antigos que o destino quis nos roubar.
Sabe muita coisa mudou, depois que você decidiu abandonar o barco... Não sinto mais medo das pessoas e sinceramente to curada da minha mania de ser auto-destrutiva. Quando você foi embora, por mania ou simplesmente saudade, eu lhe escrevi, ...escrevia como um direito de resposta que você me negou, era como se eu quisesse expulsar tudo aquilo, toda aquela raiva, todo aquele rancor contido. Imaginava nosso encontro como um festival de farpas, lágrimas... mas depois de tanto tempo olhar pra você só me trouxe alívio. Você veio e vi que não restou nada de familiar em nós, nossos olhares não eram mais cúmplices como antes, você falava e eu já não me sentia conectada o bastante pra terminar um raciocínio teu. Foram tantos anos juntos e pensava que te conhecia por inteiro, pensava que saberia decifrar cada atitude tua, mas hoje percebi que você nunca passou de um mero estranho na nossa relação, eu que queria enxergar diferente, eu que teimava em acreditar que era pra sempre. Na verdade aquela ferida toda, aberta e sangrando que você me deixou, hoje só deixou cicatriz, como artimanha divina pra me lembrar que as pessoas que a gente menos espera também nos machucam mas que é possível se curar. Hoje tudo em mim é diferente, depois que você se foi me vi tão minha, aparei minhas arestas e controlei minha dor, fiz tudo que antes achava que fazia só por sua causa, mas hoje só porque te vi percebi que o de melhor que sobrou de nossa relação eu já tenho: SOU EU.
Sim, eu escutei tudo que você falou, eu ouvi e entendi, mas mesmo sabendo dos seus motivos, nada mudou, eu ainda me sinto presa, ainda há um elo invisível me segurando a sua vida. Esse sufoco não passa, porque mais uma vez engoli tudo, as p
alavras desceram como farpas e ainda sinto um desconforto no estômago e um aperto na alma, coisa de quem cala demais, sofre demais e encara de menos. E você ta aí, vida caminhando, é eu soube... trabalho novo, e quem sabe amor novo, Amor? Acho que não, só se aprendeu a amar porque até onde eu sei você nunca soube. E eu caminho também talvez não tão bem por ter que conviver diariamente com seu fantasma, por vezes o ouço, por vezes o sinto e sua presença continua sendo mais real do que a de muita gente que comigo divide meu tempo. Sabe o que me dói? é que você talvez nunca vai saber, talvez nunca vai se arrepender, queria que você assistisse meu desespero por tantas vezes maquiado por trás de um ‘to bem’, queria que alguém lhe dissesse como estou ‘vai lá cara! Ela não tá bem, o que você fez?’, queria que você ouvisse meus gritos e sentisse comigo essa dor que me impede de seguir minha vida como você tão bem fez. Alguém tem um advogado que me defenda de mim? Do meu amor? Deponha a meu favor, diga que eu não mereci, diga o quanto fui leal a nós e peça pra esse juiz desavisado que é meu coração pra me libertar, me soltar de vez porque to cansada, essa prisão tá fria e as visitas estão cada vez mais raras. Você talvez nunca saiba, mas eu vou saber, meu silêncio vai saber, meu coração vai saber, que ás vezes a gente ama tanto sem saber que quem ama demais assina atestado de culpa, se condena, se entrega a prisões muitas vezes sem volta.
Não fizemos nenhum trato eu sei, e pode crer não consigo me perdoar por ter sentido tanto ciúme, é claro que inevitavelmente nós iríamos tomar outros rumos, você iria encontrar alguém e iria conquistá-la com a mesma facilidade que me conqui
stou, mas eu não queria tá perto pra ver isso, eu não queria ouvir isso, de ninguém muito menos de você. A verdade é que me pergunto se poderia ter evitado, se poderia te dizer o quanto tava pensando na gente nos últimos dias, o quanto achava realmente que nós dois poderíamos dar certo, mas não deu tempo e alguém deve ter pensado o mesmo que eu, mas fez algo que eu não fiz: agiu. Você sempre foi tão livre, que achei que dizer o que sinto prenderia você, limitaria a gente, e sempre achei bonitinho seu jeito de me chamar de ‘amor’ sem ao menos saber o quanto isso mexia comigo. A verdade é que nunca me senti tão presa a uma possibilidade, eu não queria você agora, você não me queria agora, mas no fundo conseguia me ver em você daqui há alguns anos, casa bagunçada, fotos na estante, recadinhos na geladeira. Você nunca prometeu nada, na verdade nós não tínhamos nada, pelo menos era o que eu pensava até perceber que na verdade eu tinha tudo, amor, ciúme e um medo infame de te perder de vista. Acho que seu jeito me ajudou a me acostumar com todo esse turbilhão aqui dentro, a maldita maturidade, que deixa a gente mais sensata, se fosse há uns anos atrás já tinha dito tudo, feito poemas e te dado, dedicado música em rádio, o diabo a quatro! tudo menos esse silêncio esmagador, tudo menos esse conformismo escondido por trás de um ‘tô nem aí’. Já sei que eu te perdi, e o pior perdi sem nem tentar te ter, perdi sem nem ter sentido o gostinho de dizer que um dia eu tive você, nem que fosse um pouquinho, nem que fosse por um breve instante de eternidade. Te perdi sem nem ao menos ter tido a chance de te querer, pra mim, pra sempre.
Eu amadureci, eu sei disso, mas ainda não aprendi a controlar minha dor, ainda não consigo lhe dar com despedidas, e sinto demais, sofro sempre mais do que o permitido e vivo passando do limite do saudável. Ontem me vi assim, como uma crian
ça no primeiro dia de aula, fechando um ciclo, um ciclo feliz, mas um ciclo que precisava ser fechado, pois sempre há mais o que ver e ninguém merece ter a visão limitada pra tudo que se ainda há pra viver. Hoje acordei querendo fugir de tudo, querendo esquecer o tanto que errei e o tanto que erraram comigo, querendo dormir e só acordar quando puder enfim respirar aliviada. Hoje queria uma máscara temporária, que me fizesse passar desapercebida, não exijo novos lugares, novas pessoas, novas histórias, eu só queria não ser lembrada por um tempo. Eu só queria me convencer de que essa sensação vai passar porque agora está tudo doendo tanto que parece que eu já nasci com essa dor. Queria sumir um pouco, de tudo, sentir essa dor até ela parar de fazer sentido, chorar até eu decidir que já deu, gritar até essa mágoa sumir. Queria me esconder, me esconder até poder olhar pra todo mundo sem me sentir vigiada, até reconhecer familiaridade em todos que me rodeiam, já que hoje ninguém parece entender nem aliviar o que tá me matando. De tudo que mais queria hoje, eu desejaria aprender simplesmente a me perdoar, a admirar a minha entrega, a sentir orgulho de tudo que sou e me faz ser essa intensidade em pessoa. Das coisas que mais me atormentam, a pior é saber que não há nem nunca houve alguém em que eu pudesse ver um pouco de mim e não me sentir só nesse mundo que ninguém parece sentir.
Você sempre me disse que eu precisava mudar, parar de ser tão dependente e largar a mania de se importar com tudo e com todos, você se incomodava com minha sensibilidade, minha maneira estranha de ver o mundo sempre achando espaço pra fanta
sias confrontava você com sua maneira tão ‘no chão’ de enfrentar a vida. Eu tentava ouvir o que você dizia e juro, cheguei a pensar realmente que eu era boba, por cuidar tanto e muitas vezes não receber nem o mínimo de volta, mas pra mim amor nunca foi um jogo de trocas recíprocas, eu sempre tive em minha mente que um sempre tinha que dar mais, e nesse caso era eu. E em todo tempo que estive com você, eu estive inteira, sem reservas, não porque você foi melhor que os outros, mas porque simplesmente eu sou assim, eu não entro em nada pela metade, eu não vou ao mar pra molhar o tornozelo, se não for pra mergulhar de cabeça pra mim não vale a pena. Com o tempo toda a tua rejeição começou a mexer com algo até então intacto em mim: meus valores, eu comecei a me perguntar até que ponto valia à pena dividir meus sonhos com alguém que me tinha como uma fase não uma constante. No começo doeu me acostumar com a idéia que toda minha entrega pra você não fazia sentido nenhum, que na verdade eu vivia um sentimento unilateral, que tudo o que vivemos foi uma história que só eu posso contar, porque pra você nada foi relevante, mas hoje parei de me castigar por ter sido tão sua, em tudo que me propus a ser, porque sei que o erro não tava em mim por se doar demais, o erro estava em você por não conseguir aceitar que tudo que eu te dei foi porque eu quis, não porque eu queria tudo de volta, você não entende que amor não é pesque-pague, toma lá da cá, amor não é batalha, não é guerra onde um vence e o outro perde. E eu por fim não me arrepende do que eu dei, porque essa é a única forma que aprendi a amar.
Deixa eu despedaçar essas chícaras no chão, deixa eu jogar esse porta retrato fora, deixa eu rasgar suas roupas e me libertar de toda essa dor que me consome, não se assusta com meus gritos porque você ainda não ouviu o turbilhão que tá aqu
i dentro. Deixa eu brigar, porque quem sabe uma hora tudo isso pare de fazer sentido, deixa eu chorar mas não vai embora, assisti meu desespero, não se aproxima mas também não vire as costas, senti comigo tudo isso, se atormenta com meu choro desenfreado e com minha voz embargada. Me entende, me salva do nosso fim, não está nada fechado, ainda dá pra você tentar, diz que é mentira olhando nos meus olhos e me arranca toda essa decepção que ta me roubando a razão. Se estou louca é por sua causa, é você que está me negando o remédio, você é minha cura e você sabe. Me castiga com a pior verdade, me espanca com teus casos absurdos e desenfreados, mas não silencia, não cala diante desse coração rasgado e despedaçado que insiste em acreditar em nós. Deixa eu jogar toda a minha obsessão, meu medo, minha solidão, minha carência na tua cara porque quem sabe meu amor vá junto, e me largue, me solte, me liberte. Meu amor tá surrado, mas ainda é amor... esse amor maltrapilho um dia foi saudável e você se aproveitou dele até a última gota então não o abandone agora, porque é agora que ele mais precisa de você. Me dá motivos pra te perdoar, me faz acreditar que essa crise vai passar, só não deixa tudo isso morrer, só não deixa meu amor sem colo, sozinho numa esquina qualquer, esperando algum outro alguém se compadecer e dele cuidar.
Você pensa que não sei mas eu sinto que você ainda gosta dela, eu percebo nas vezes que você me olha esperando uma reação que talvez só ela teria. Eu noto na sua voz um tremor, um medo de de repente num comentário qualquer você me comparar
a ela e estragar o pouco que construímos até hoje. E eu fico na defensiva, meu coração acelera cada vez que ouço você dizer que não quer se envolver ainda, porque no fundo sei o motivo de sua auto proteção. Você me admira, mas sinto que minhas qualidades pra você nunca superarão as dela, porque por mim você sente admiração, por ela é encanto. E eu fico torcendo, empenhada noite e dia em te mostrar que eu também posso ser interessante, tentando em meio a seu mistério descobrir a fórmula pra mexer com você, mas como lutar contra uma história intensa? Como lutar contra alguém que mesmo longe ainda controla teus passos e habita em teus pensamentos? Queria que fosse uma briga minha com ela, mas não é, essa briga é minha com a coisa que mais prezo no mundo: seu coração. Queria saber até quando você vai se esconder por trás do seu medo, até quando você vai traçar uma relação tendo em mente o que você já viveu, até quando você vai me guardar na sua caixinha e me prender com seus carinhos descomprometidos. Há um mundo lá fora, e nesse mundo seu medo e minha liberdade não cabem, ou um ou outro, então não me faça ter que escolher, porque querido não sei se você percebeu mas eu não sou como o resto e por não ser como o resto eu não aceito restos nem de você nem de ninguém.
Não eu não me iludo fácil, posso parecer boba, ingênua mas todas as vezes que sofri ou me magoei por causa de alguém não foi inocentemente, no fundo eu sabia, bem lá no fundo eu tinha noção da onde eu tava me metendo. Não sou de fantasiar,
não construo castelos pra abrigar ninguém em mim, eu construo pontes, elos que unem, mas elos que são frágeis, fadados a se romperem, afinal o que há de certo nas relações que temos além de que um dia terão fim? O motivo? Ninguém sabe mas o fim esse sim todo mundo por mais puro e casto que seja sabe que terá, e eu me enquadro nisso também. Tantas vezes perdi meu tempo culpando sicrano, beltrano pela minha dor, mania tosca essa de quem sofre, arrumar um culpado, um réu pra vê se alivia, melhora, mas quem participou da vida mais do que aplaudiu sabe que nossas dores são frutos nossos que a semente muitas vezes não somos nós que plantamos, mas seu crescimento somos nós que permitimos. Sei que nem todas as minhas dores terão cura, e sei mais ainda que a cura não vem quando eu responsabilizo alguém por elas, a cura vem quando tem que vir, quando o tempo passa e a gente nem percebe que sente mais, quando a gente olha pra aquela pessoa que te arrancou lágrimas intermináveis e se senti a vontade e livre pra desejar um bom dia, um feliz natal, pra desejar felicidade. Você foi assim, passou por mim e hoje depois de ter sentido tudo que alguém pode sentir por outra pessoa: amor, raiva, rancor, tristeza, carinho, hoje consigo lembrar de você e rir, rir das suas piadas tão fora de hora, rir das suas infantilidades sem limites, rir do seu passado mal resolvido e rir de mim, da minha besteira em pensar que um dia essa dor não iria passar, que um dia nossa história não ia passar, que um dia inevitavelmente do teu perfume eu não iria mais lembrar.
Eu ainda sinto sua falta, mas é uma saudade tranquila, mansinha... ás vezes eu acordo e sinto um vazio ilegível, branco, isolado em torno dele mesmo. É como se eu vivesse num mundo que estivesse ainda me esperando mas que eu nunca consegui
chegar pra realmente senti-lo. As decisões que tomei e o rumo que minha vida tomou não segue mais teu roteiro, não me vejo mais presa a tua aprovação e nossas lembranças estão cada vez mais ofuscada pelo tempo, mas ainda sinto um pesar aqui dentro, não choro mais e nem sei se eu realmente sofro porque nada mais me atormenta, nada parece me abalar, nada mais estremece minhas verdades. Depois de um tempo você percebe que a dor é tão sua que não dói mais, não fere tanto, não arranca mais tuas noites de sonos, não tira mais teus planos do eixo. Você ainda é uma dor sem cura mas já cicatrizada, você é uma lembrança triste de um passado que quis muito ser futuro, você foi a mais bela possibilidade da minha vida. Hoje o que mais dói é saber o quanto minha saudade é inútil, eu não posso te ligar pra dizer que lembrei de você ouvindo uma música, eu não posso mais te contar o quanto a noite foi pesada porque você não tava comigo, eu não posso mais te abraçar quando acordar com medo de não mais te ver. E você nunca vai sentir, nunca vai ver, nunca vai saber o quanto minha vida é um simples parênteses depois que nossa história teve um ponto final.
Pai ligou agorinha e disse que você tava mal, que talvez não sobreviveria a essa madrugada, juro que pela primeira vez na vida não sei o nome disso que estou sentindo, minha boca tem gosto de sangue e meus olhos ardem. Nós sempre fomos tão abertas e sempre disse a você o que sentia como se você fosse um espelho, nós nunca tivemos reservas uma pra outra, e hoje nem sei o que te dizer, porque nem sei o que sentir. Comecei a pensar coisas bonitas sobre o céu, que ele talvez fosse uma montanha de algodão doce, e que você escorregaria nela e ria, ria, ria como eu nunca vi você rir, apertei meus olhos e tentei imaginar você encontrando vovô, contando a ele o quanto estamos diferentes desde que ele se foi e confidenciando que o natal nunca foi o mesmo, havia um vazio, branco, nítido e um pouco atordoador. Mas nada disso me trouxe alívio, porque eu nunca mais iria olhar teus olhos em vida, nós nunca mais iríamos sentar ao lado uma da outra e eu nunca mais iria aprender crochê. Sua partida deixou o gosto amargo do nunca mais. Fui pra o quarto e comecei a sentir medo, um dia li em algum livro que com o tempo a gente esquece o rosto das pessoas, a memória nos trai, fiquei apavorada em pensar que daqui há alguns anos eu faria um certo esforço pra me lembrar do seu rosto e isso doeu, é deve ser esse o lado mais obscuro da morte: o esquecimento. Compartilhamos tantas coisas e não posso negar que estou com raiva de Deus, eu sei que esse era o último sentimento que você gostaria que eu sentisse, mas sempre fui transparente e não vai ser agora que vai ser diferente, pode parecer que não há motivos, eu deveria está feliz apenas por ter te conhecido, provavelmente é isso que vou ouvir no seu enterro, mas não! Eu me nego a aceitar que você tinha que ir agora, e a nossa viagem a Disney? E os meus 15 anos? Sei que você providenciou tudo mas como vou encarar todo mundo, se a única pessoa que eu queria ver era você? Como vou dançar a valsa, celebrando meu rito de passagem se o que eu queria era estagnar e voltar atrás só pra te ter mais um pouquinho. Vó eu to com medo, eu não sou tão forte como você me dizia, eu não sou você, eu não sei se vou aguentar, eu sei que o trato era eu me cuidar, mas eu não quero me cuidar, eu não quero acordar, na verdade eu nem quero dormir.
Você foi embora e eu entrei em casa com aquele vazio do tamanho do buraco na camada de ozônio, sentindo minhas emoções frágeis novamente, um aperto descomunal de não saber quando irei te ver, se irei te ver. Você tá perto e parece que sou forte, parece que as coisas tem sentido, que a vida não é tão banal quanto parece, quando você tá aqui eu consigo até cogitar a idéia de que posso ser feliz. Mas você sempre vai, e quando isso acontece nos dias que se seguem tento lembrar de você pra não me ver decaindo na minha vida vazia, tento te enxergar nas pessoas pra não achar o mundo e quem vive nele tão sem graça, tento me convencer de alguma forma que um dia tudo que eu sinto vai se encaixar em tudo que você quer. Antes era tudo tão simples mas hoje o simples me sufoca, porque já não sei como nem onde guardar o que sinto por isso fujo, corro mas inevitavelmente te encontro, numa frase, num jeito de andar, numa cor, numa oração. Quando a gente gosta de alguém pouco a gente sabe e pouco importa saber, gostar mesmo é não entender, é não se caber, é não pertencer mais ao mundo de antes, é não se ter memória do que se foi. Mas entendo que o pouco que decifro do que sinto é que gosto de você pelo que você tem que eu nunca vou ter, gosto de pensar que toda minha solidão fica pequena quando se depara com toda sua vontade de viver, gosto de ver no seu sorriso a esperança de um mundo que já não me acolhe, gosto de me fazer feliz por você por medo de minha dor te assustar e te levar mais rápido que o destino. Mas deixa eu ficar aqui quieta por enquanto, deixa eu me procurar e me achar no tempo que você ainda não existia, não tinha forma, deixa eu pensar que você um dia vai embora pra me acostumar com a ausência da minha parte mais bonita que junto você irá levar.
Hoje a noite não vou sair e por incrível que pareça depois de um tempo esperando respostas suas pra toda a minha vontade de estar com você, hoje não estou esperando você, hoje não saí porque simplesmente quis estar com alguém que há tanto tempo não cuidava: eu mesma. Pode parecer louco pra você mas a verdade é que eu não quero mais minhas emoções em frangalhos, não quero mais acordar no meio da noite querendo está com alguém que tem milhões de prioridades e eu não estou em nenhuma. Durante um bom tempo estava pensando que você talvez poderia ser a pessoa certa: você todo certinho, cabelo, roupas impecáveis, compromissos agendados, emprego fixo e com um bom futuro pela frente, olhava pra você e nada parecia tá errado, filho querido, amigo disputado, mas hoje tenho raiva de mim por ter acreditado algum dia que existe a "pessoa certa", você nunca foi a pessoa certa pra mim porque isso não existe o que existe são duas pessoas erradas tentando acertar juntos, e de nós dois só quem quis acertar fui eu. No início queria me divertir, mas a verdade é que eu melei nosso trato, porque eu me apaixonei e o pior como toda mulher apaixonada comecei a acreditar que um dia você enxergaria isso, e pensaria com carinho em mim, eu e você, almoço de domingo, passeios de mãos dadas, brigas intermináveis, reconciliações com direito a amor depois. Boba eu sei, e isso pra mim é segredo de morte, você nunca vai saber. Agora simplesmente é hora de cair na real, aprender com tudo isso, e olhe que estou aprendendo, não significa que não sinta uma falta absurda de você porque eu sinto e dói, é engraçado como mesmo não te esperando mais
algumas coisas perderam a graça pra mim, mas isso é questão de tempo um dia isso vai passar, sempre passa, pena pra você, pena porque estando tanto tempo comigo nesses últimos dias pude ver a mulher fantástica que eu sou, teimosa um pouco egoísta mas verdadeira, que seria mais que uma amante seria sua amiga, compraria sua briga, adotaria sua causa. Mas agora já deu, eu fui, desculpa não ter te avisado, mas é que me lembrei que eu precisaria significar um pouco mais pra você merecer uma explicação.
É a tristeza, entrou sem aviso prévio, se instalou e você está aí: paralisada. Tristeza vêm e sem motivos trás consigo todas as dores que você fingiu que não viu, trás todos os ‘nãos’ que você engoliu e as mãos que te encolheram você consegue através dela vê-las claramente. Tristeza é o abandono da sua própria verdade, é quando se percebe no meio de uma vida corrida que não se tem mais pra quem lutar, por que lutar, tristeza é um trânsito engarrafado que não nos deixa olhar mais adiante e nem sair do lugar. Tristeza é ter que dar adeus a quem se foi sem nem saber quem se é. É ter que se afastar dos amigos por sentir que nossa melancolia encomoda, por querer ficar só com ela. Tristeza é o vazio de não ter como explicar o que sente, tão acostumados que estamos a descrever o que sentimos, a tristeza nos cala, nos trava. Você corre e não se move, você dorme e não descansa, você ouve mas não escuta, você chora e não se consola. Tristeza é quando você quer chegar rápido em casa, chorar calada no chuveiro, abafar as lágrimas no travesseiro sem ninguém ver, sem ninguém notar. Tristeza é quando você engole a dor o dia inteiro, ensaia sorrisos, distribui ‘to bem’ pros quatro cantos, abraça a hipocrisia e permite que ela te proteja. Tristeza é um não na cara de um adolescente rebelde. É um sim de um médico pra um tumor. Tristeza é o não-sentir, um não-querer-sentir e ainda assim doer.
Mais uma vez a vida me pede pra ser forte, me obriga a engoli todo esse sentimento surrado pra tentar buscar algo de digno ao final dessa guerra, guerra minha com você, minha com meu amor, minha com minha dor. Mas onde está meu amor próprio quando procuro nosso amor nos escombros, quando tento limpar toda essa ferida, sendo que nem saudável eu estou? Onde está toda aquela segurança de se saber insubstituível? Não era ele que devia ta chorando agora, me procurando, implorando por um nós no futuro? Então porque eu estou aqui com o celular na mão mandando a milésima mensagem, justificando o não recebimento das respostas pra mim mesma. Mas sempre foi assim, nunca soube lhe dar com rejeição. Rejeição pra mim sempre foi como asma, tira o ar, sufoca, comprime o estômago, e mesmo sabendo que não há mais o que tirar de nossa veia aorta, nosso sangue parou de bombear, foi morte na certa, ainda preciso ouvir você dizer que me quer, nem que seja pra mentir, inventar um mundo em que nosso afastamento não foi por falta de amor, por sua falta de amor. Deixa eu ficar quieta e buscar em mim essa força que me falta, porque ainda quero ser lembrada como a mulher fantástica que você conheceu, não como essa louca neorótica que te liga tarde da noite pra perguntar pela milésima vez porque que acabou. Porque a gente faz isso? Não seria mais simples entender que acabou, fechar a porta e ir embora, tirar um dia pra beber até cair, dormir no colo de um amigo exausta de tanto chorar, ouvir todas as músicas depressivas até toda essa dor virar pó? Tudo isso em silêncio pra que ele nem imagine. Porque a gente tem que gritar esse amor, se nem ele quer ouvir, porque a gente se vitimiza tanto e torna algo que um dia foi tão bonito em algo medíocre. Aquele sentimento que pra ele era tão bonito e atrativo, hoje apenas causa recusa, asco porque pra ele o amor acabou, pra mim ele ta vivo, agarrado aos escombros, implorando resgate, surrado, feio sem nenhum atrativo a mais que seja o suficiente pra trazê-lo de volta.
Pra mim você continua sendo o mais inteligente, o mais bonito, o mais atraente. Pra mim você ainda é quem eu desejaria que me esperasse na parada em um dia de chuva, você continua sendo o único pra quem eu queria dividir casa, cama, lençóis, abraços, saudades, vida. Seu sorriso ainda é o mais sincero que já vi, e sua gargalhada continua sendo a mais gostosa que já ouvi. Você será sempre o melhor. E como sempre tive mania de perfeição, todo esse tempo nenhum me contentou porque na minha mente você continuava sendo o primeiro, o único, até ontem, até esse fim de semana. Durante sua ausência consentida mergulhei em tudo para me desvencilhar da única coisa que me prendia: você. Novos amigos, novas pessoas, novos rolos, envolvimentos, início, meio e fim e você continuava lá, no silêncio de tudo que sentia, no meu medo infame de me ver querendo alguém, na minha mania errada de colocar prazo de validade em relações. Tudo que eu sentia por você e todo o passado que tivemos me fizeram leal a uma vida que nem minha era mais, você já havia ido embora, nem sei mais de você, mas tudo o que fomos continuava cercando à espreita na calada da noite. E eu permitia, permitia nossas lembranças invadirem meus dias, permitia ver você nas pessoas que eu saía, pra tentar ver alguma graça, pra tentar não pirar com toda aquela entrega involuntária, sem controle, que me fazia ser sua sem você nunca ao menos ter sido meu. Mas ontem parei pra pensar em quantas histórias interrompi, em quantas pessoas deixei de enxergar por sua causa, por causa do ‘nós’ que nem existe mais. E doeu, doeu saber que tô caminhando para uma solidão esperada, doeu saber que há anos nem sei o que é ser amada, porque até a amar desaprendi, doeu ver a superficialidade de tudo que mergulhei que não me permite sentir, doeu saber que até de sofrer sinto falta, porque qualquer sentimento é bem vindo nesse enorme vazio que me tornei. Hoje to me entregando a um tratamento que há tanto tempo fugi, hoje eu quero encontrar quem sabe o segundo melhor? Quem sabe O novo melhor? Hoje eu quero preencher toda essa saudade inútil com a presença de alguém que pode um dia me devolver toda aquela vontade de ser de alguém que você levou de mim.
Você não era nada do que eu sonhei, mas teu mistério me permitiu imaginar quem você poderia ser, quem poderíamos ser, e fomos tantas coisas, deixei que você fizesse parte de um mundo que antes era só meu, e você foi o meu mais intenso devaneio. E hoje de você só restou essa minha vontade incansável de te desculpar pra mim mesma, de fazer você voltar por um caminho diferente, já que nos perdemos um do outro na velha estrada que trilhamos. Por tantas perguntas que me tiram o sono, hoje é apenas uma incógnita, uma loucura, de saber que acabou mas querer tirar a última gota de suor dessa relação tão surrada, mas que ainda me dá fôlego. Me diz que acabou, mas não sai limpo disso, me deixa te sujar com meu amor lamaçado, me deixa estapear teu rosto com minha falta de amor próprio, me deixa chorar sobre a tua mais linda camisa de linho. Me diz onde ir, que eu te entrego ao mundo que te encontrei, me diz por onde seguir agora, se na minha mente nossa história me prende, me ensina a me desapegar do que fomos, já que ainda não me encontrei sozinha. Como encontrar forças, se esse pedaço de mim você levou? Se minha segurança tava nos teus olhos postos nos meus? Se minha fome de viver se saciava no teu corpo em mim? Termina de matar todos esses sonhos, rompe nossos laços, pisa nos nossos planos, acaba conosco da forma mais indigna possível, me deixa que essa dor um dia ainda há de me curar.
E pela primeira vez depois de algum tempo eu saí a noite sem querer que você estivesse comigo, pela primeira vez quis estar só com meus amigos e com meu desapego. Talvez seja assim que a gente sinta que acabou, quando não há mais necessidade de te mostrar que to bem, quando eu não preciso procurar um motivo pra te ligar, quando tudo volta a fazer sentido quando você não está. Hoje eu posso dizer que cansei, que realmente me devolvi a mim mesma, hoje meu amor próprio é maior que a minha insistência insana, que minha teimosia em te querer por perto se nem ao menos em teus pensamentos eu estou. Você pode agora nem perceber, mas um dia vai sentir falta da mulher que fui pra você, louca, insana, por vezes até um pouco desequilibrada, mas ainda assim apaixonada, compreensiva, que se colocaria em qualquer situação, que iria a qualquer lugar se fosse por você, se fosse por nós. Mas agora tanto faz, e por ironia do destino foi com você que aprendi que realmente tanto faz, meu bem há tanto o que ver, há tanto o que sentir, e nesses últimos dias de casamento comigo e com minha auto estima descobri o quanto eu sou demais pra você, o quanto eu sou mulher demais pra um menino que ainda nem decidiu se quer crescer, o quanto eu sou linda demais pra perder tempo com alguém que ainda nem descobriu o que é ser inteiro. Dessa vez eu não precisei te avisar que eu tava indo embora, eu simplesmente fui, sem dor, sem peso na consciência, sem remorso, sem medo, eu roubei a parte da minha alegria que você tomou e virei a esquina.
Como alguém pode ser tão familiar em tão pouco tempo? Como um abraço pode nos deixar tão livres de nós mesmos ao ponto de querermos ficar ali pra sempre? Quietinhos, quentinhos... Como pode ser tão fácil contar a alguém uma dor que de tão sua você nem teve coragem de se tornar ciente dela? Como podemos nos sentir tão livres para ser nós mesmos, sem máscaras, atuações, sem reservas diante de alguém que há pouco tempo era um mero estranho? Ás vezes a vida nos dói tanto, arranca pedaço, acorrenta-nos ao passado, mas ás vezes no meio de uma turbulência, de quando a gente se ver sozinha no meio de uma multidão nosso olhar cansado encontra uma alma amiga, que divide o mesmo peso de uma vida que deixou muitas marcas mas carrega um coração alagado de esperanças. Você é assim, é o colo quentinho no final de um dia cansativo, é o abrigo seguro quando o que mais queremos é nos esconder da dor, você é uma canção de ninar quando os problemas nos roubam o sono, você é a maior prova do cuidado de Deus conosco, quando nos permite conhecer pessoas que nos ensinam que em meio a dor ainda há motivos pra sorrir.
Não precisa se assustar eu sou assim mesmo, eu nunca fico por muito tempo, envolvimentos pra mim sempre tiveram limites e o nosso já deu. Talvez você queira me entender pra me deixar ir, mas não tem o que entender, eu não nasci pra ter manual, eu não nasci pra que alguém pudesse me ler e me descobrir, meu livro não está aberto. Eu tô cansada desse mundo em que precisamos de motivos pra gostar de alguém, porque eu sempre gostei de você sem precisar explicar, eu nunca senti necessidade de listar suas qualidades pra entender porque demoro tanto pra dormir pensando em você, porque pra ser sincera acho que foram seus defeitos que mais me atraíram, comigo sempre foi assim, o bom, puro, certinho nunca me encheu os olhos, pra mim tinha que mostrar um podre pra me tirar o sono. E você quer jogo e eu não to afim, eu to numa fase que quero verdade mais que qualquer coisa, me falta paciência pra interpretar suas entrelinhas, seu modo subliminar de dizer que me quer me irrita, não sou mais menina pra brincar de detetive e ladrão, eu não quero desvendar nada, eu quero clareza pra me permitir viver esse sentimento que ainda nem tem nome, mas que um dia pode ter. Já me protegi demais, deixei pessoas bacanas irem embora porque não tava pronta, mas hoje eu to na corda bamba, ou eu me equilibro de uma vez ou me perco num abismo de uma vida vazia. Desculpa mas não quero mais histórias vazias, não quero mais começar algo com prazo de validade, hoje eu quero ter certeza que algo nessa minha vida vai continuar, agora meu bem se não tiver sentido eu descarto, não insisto mais. Hoje eu quero liberdade, liberdade pra me prender, pra me envolver, pra sofrer talvez, mas acima de tudo liberdade pra me permitir viver.