Kaliandro Souza
Meu retorno, minha recompensa, meu destino, meu atalho, meu dia, minha meta, minha metade, meu atraso, minha certeza, meu vício, meu desfecho, meu plano, meu engano, minha forma, minha nota, minha rima, meu desconcerto, meu verbo, meu adjetivo, meu som, meu silêncio, minha idéia curta, meu pensamento longo, minha fixação, minha realidade, minha forma errada, meu projeto final, minha canção, minha melodia, meus rascunhos, meus textos, minha manha, meu amanhã ...
O eco da batida eletrônica emergia lembranças, o álcool feria meu orgulho, o meu corpo se rendia e ao mesmo tempo pedia pausa e eu não obedecia.
Uma dose, duas doses, três doses e o pouco tornava-se tudo e o tudo tornava-se pouco.
Nosso plano tinha ficado pra ontem, então sentamos frente a frente e deixamos nosso silêncio conversar por horas, sentia sua respiração e me sentia um bobo, por achar que aquele pulsar frenético era por estar ao me lado.
E eu que sempre sonhei com uma história abrangente, só queria sobreviver, só queria sair dali inteiro, intacto, pronto pra outra. Pediria licença do meu ego e do meu orgulho, por mais que enxergasse outras cores, por mais que planejasse novos planos, novos sonhos, novas dores, novos desenganos, eu saíria inteiro, mesmo que metade de mim ficasse ali contigo.
Outra vez, as coisas ficam fora do lugar, e é tão notavél que o que foi já não é mais vantagem e nem faz importância. Mas, fale para mim com sensatez...
Fale pra mim retroceder, fale pra mim desistir, fale pra mim parar de lutar, esquecer, fale pra mim deixar de lado. Não me olhe com cara de interrogação, me olhe e fale pra mim jogar tudo fora. Não tem mistério, não tem segredo, não tem nada fora do comum, apenas me olhe.
Acordei com uma vontade de escrever, expelir tudo pra fora, quebrar e romper as palavras, dedilhar novas frases.
Ler, sonhar, acordar e viver novamente.
Pular introdução, andamento, acelar ...
Superei o medo da distorção das palavras, provei do seu antídoto, andei em corda bamba, corri sobre chamas ...
Uma extremidade de pensamentos, sentimentos, memórias, estão tudo presente dentro de mim, algo que não tenho controle, algo que eu não domino, de uma certa forma por ser mais rápido que eu, pode me consumir antes mesmo que eu possa saber lidar com tudo isso. Era calor em meio ao frio, era calmaria em meio a tempestade, era paz em meio as turbulências, foi a exceção em meio as diversas sensações, eu queria poder verbalizar tudo em questão de segundos, mais falta consciência, falta habilidade, falta coerência, coesão ...
Falta tanta coisa.
Estava com pés presos, com as mãos atadas. Era um caminho escuro, a falta de luz me deixava inconsciente. Você implorava, você insistia, você fazia escolhas, planejava dias eternos. Mas, nada que cenas passadas, parecia tudo repentino, nada mais que palavras. A inconsciência não me reclamou por muito tempo, passaram alguns segundos e minha cabeça foi ficando clara novamente. Faltava-me força, faltava-me coragem, naquele instante sem recompensa qualquer, nada faria diferença.
Um mundo inacessível, uma rebelião em massa, sem retorno, sem atalho.
Um labirinto de sentido único. Adeus para as suas palavras.
Normalmente, se prendia, se curvava, tentava falar e não saia som algum da garganta, tentava enxergar e não visualizava nada.
Mas meus olhos iam em direção aos seus, não mostravam nada, mais sentiam tudo.
Oor frações de segundos te olhei, poderia ter te dito qualquer coisa, mas preferi sorrir pra você, preferi escutar você pronunciar aquela palavra de duas letras.
Pra mim foi tudo.
A atmosfera pesava, o mundo maneirava, os olhos fechavam, os olhos piscavam, o coração batia, o coração parava, as mãos suavam, as mãos queimavam...
Seria difícil encontrar objetividade, tudo que vinha fácil começou a ficar ausente.
Eu nunca consegui realmente formar um vínculo com as teorias a mim ditas, sempre joagava tudo ladeira abaixo, as palavras calavam fundo toda vez que tentava. E eu me tormava mais eu do que eu pretendia ser.
Um minuto e mais algumas horas de insônia. Lá fora o céu azul, aqui dentro uma chuva negra.
Garganta seca, olhos quentes, meus pensamentos vagando em um cabeça parada, gestos oscilando de ótimo para o estável em segundos, um cinzeiro cheio de memórias, uma madrugada convidativa para bons pensamentos e reflexões, a vida agora me ensina somente o que tenho que aprender, coisas efêmeras, coisas que sei lá, tenho que aprender.
Não entendia tuas palavras, não conhecia tuas músicas, mesmo assim te procurava e você insistia em me olhar. Foram segundos, minutos, horas, dias, tentando te decifrar e um eterno vazio em resposta. O mesmo filme todos os dias. Teus olhos eram mistério pra mim, teu sorriso não, eu sabia o porquê que toda vez você se sentia na desobrigação de sorrir, e isso justificava meu instinto por você. E agora você nos meus braços sem hora pra ir embora, sem dia certo pra partir iremos ao 'seja o que for'.
Hoje acordei mais cedo, lembrei de um tempo, anotei inutilmente experiências num caderno, um caderno cheio de rabisco, rabiscos cheios de vida, rabiscos inquietantes.
Talvez eu tenha perdido mais do que ganhei, talvez eu tenha me esforçado demais e recebido poucas migalhas, você me lembra demais do passado e me embaraça demais no presente.
Tudo o que um dia já foi motivo pra querer te olhar, hoje me cega (...)
Viver nunca foi fácil. Andei até faltar lugar, gritei até faltar voz, lutei até faltar força. Andei sozinho, gritei sozinho, lutei sozinho, fiz tudo sozinho. Sabia dos meus limites, mas quis ser subversivo. O chão sumiu quando tentei levantar. Procurei motivos, como um louco que procura a consciência que perdeu...
Todo dia era dia, toda hora era hora. Todo minuto era minuto. Talvez servia pra não decifrar nada e dar sentido a tudo.
08 de janeiro de 2011, um minuto de prece, no carro tocava aquela música que me embalava nos mais profundos sentimentos. Arrancava qualquer peso da minha alma, qualquer turbulência.
Estava ali parado, sentado, mudo. Mas, milhões de palavras passavam por minha cabeça, recuavam e depois se ausentavam. Só me restava um fio de sentimento, eu precisava me fortificar e inquieto eu começava a compreender aos poucos que a saudade me aproximava da lembrança. Era um consolo, era uma punição, era o intoleravél desencontro de pensamentos.
Era como se a miopia passase e eu começasse a ver claramente o mundo, não de relance mas com uma fixidez reverberada. Tinha as memórias como referência, mas no começo era bem claro não passava de possibilidades aleatórias.
Você me culpa por não ter te dado notícias, você me culpa por te amar assim, do meu jeito. Você me limita e me isola do mundo. Diz que tem medo de me perder, que sente falta quando não estou ao seu lado, diz que fez e faz tudo por mim ...
Hoje acordei sem entender teus sinais, perdi o foco, perdi todos os sentindos e me sinto com os pés presos, com as mãos atadas. Tanto desencanto em pontes transparentes. que não sei, mas sinto.
Um copo de álcool, um minuto de aminésia.
Uma vida intacta, uma história em fichamento.
Uma indireta, duas indiretas, uma única resposta.
Um diálogo, uma reação, um resíduo.
Um gesto, duas atitudes.
Uma conversa vaga, uma razão em óbito.
Foi muito repentino, era tarde, era madrugada. O mundo dormia enquanto eu me via parado em frente a janela do meu quarto. O céu era mistério pra mim, as estrelas eram mistério pra mim, você era mistério pra mim.
Fiquei ali por horas, perdi tanto tempo pensando 'jogando meus pensamentos fora', sentindo o frio da madrugada, aonde só se ouvia o próprio eco, aonde não se via nada, aonde não se sentia nada, era como se dentro daquele pequeno espaço existisse só um motivo pra minha cabeça querer se ocupar.
Eu lembrava de cada detalhe do teu sorriso, lembrava do tom suave da tua voz, mas, fazia tanto tempo que eu não te via, que fazia questão de jogar toda e qualquer lembrança fora.
A estrada se tornava mais extensa, olhava pro relógio, as horas corriam, o sol já tinha ido embora, era hora da lua começar a aparecer nitidamente e esbanjar seu feitiço. Tua imagem pairava em todas as esquinas, em todos os lados eu conseguia visualizar teu rosto, cada quilômetro percorrido era mais náusea que me causava, podia sentir alí, ao meu lado, no banco de um táxi, podia ouvir alí, tua respiração ofegante no meu ouvido.
Eu seria louco? Pra imaginar isso tudo?
Até poderia ser, era um estágio de loucura extrema. Era uma saudade incontrolável. Quanto mais fechava meus olhos pra tentar dormir naquela madrugava insana, mais eu me via pairando nas lembranças. As malditas lembranças!
Por favor, se há alguem aí dentro, devolva o que eu deixei com você, porque algo me falta.
Seu senso de humor elevava meu ego. Só lembro de seus olhos que brilhavam ao pronunciar cada palavra no ar, e eu sorria a cada dois segundos.
A maneira que você fala comigo é diferente, a maneira que você me olha é diferente, a maneira que você se expressa é diferente. É sempre diferente, é sempre oposto ao esperado.
Me perco na fronteira de um oasis e logo desapareço. Lanço sentença. Entre ações e circunstâncias, as letras me fitam, as tintas me sufocam, as cores me paralisam. Indiferença ou solução?
Fito os olhos. Miragem exposta. Não consigo nem destinguir, fica gravado na ficção.
Vou na contra mão, caminho errado, pensamento errado, momento errado.
Falta ar, falta palavra, me quebro e nada fica intacto.
Depois junto os pedaços e tento colar, ação repulsiva.
Vem sempre no mesmo horário, da mesma forma, com a mesma força. Me viro para o outro lado da cama e a insônia me faz compania. Procuro esconderijo e o teto desaba junto com uma enxurada de pensamentos que me deixam fora de cogitação.
Tão distane, parado. Levanto e tento evitar toda e qualquer contusão de sentimentos.
Perco tempo, espaço, perco vida.
O relógio corre atormentado, o frio delirante me traduz, tudo desnecessário, sem condição.
Deito, durmo!
Palavras desenfreadas cuspidas sem medição, atitudes insanas, gestos articulados.
Eu enxergava aquela mesma cena se repetir, poderia decifrar seu fim em imediatos segundos.
Meus olhos lacrimejavam, por dentro eu girava como se partes dos meus átomos estivessem invertendo a polaridade e se dispersando. Era bem mais fácil ler expressões facias naquela hora, ao invés de presenciar aquele desconcerto.
As luzes giravam em compasso, o calor me atingia, meus olhos se tornavam insondaveis, tudo era invisível pra mim ...
Quando recuperei a consciência, não havia nenhuma desorientação.
Às vezes consigo escrever, escrevo tudo exatamente o que eu estou pensando, ou o que pensei, por horas torno o lápis sobre um pedaço de papel e em minutos expresso tudo o que sinto. Do nada vem e mexe com meu alicerce, me desestrutura e me faz cair de submissão. E às vezes nunca sai, nem que seja por um segundo, um mísero segundo.
Talvez uma forma abruta de pensar, de encarar, de viver.
Vai saber ...
Volta e meia você some, depois aparece me dando explicações intermináveis. Desliga o celular, fica fora de área, me bajula, me esnoba, me mima, me enche de promessas e me esvazia de esperanças.
Deleta meu eu da equação, soma meu ego e me torna base de tudo (...)