Júlio Raizer

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A chuva continua caindo! Não sei se nesses momentos é o céu que despenca ou a terra que se eleva para receber as lágrimas do paraíso. Não são lágrimas de dor, mas lágrimas de um sorriso que não se contém ao venerar seus filhos que hoje são naturais, mas que em outros planos já estiveram no além.
Bebo dessa água celeste, lavo-me nas suas lânguidas passadas, e sou pisoteado por pequenas gotas que mais parecem cristais derretidos brindando meu corpo são.

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Minhas páginas voltadas, meu livro escrito, minhas bordas recheadas e meu caminho aflito! Tudo isso deixo do lado da estrada, quando sorrateiro pela madrugada sei que ouve a chuva comigo! Ela realmente parece uma canção de ninar. Ela embala nossos corpos e canta a nós sua satisfação em existir. Versos da passagem, poesia de uma viagem e eu aconteço antes mesmo do porvir.
A chuva se vai.... Mas sua ausência dura o exato tempo da clemência, quando implorando, pedimos para ela voltar e acompanhar o canto dos pássaros e invocar mais gotas de eternidade para nos banhar!

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Eu beijei a lua um milhão de vezes e nunca deixei a terra sob meus pés. Seu sorriso sempre foi o motivo da minha perdição e nossos jogos sedutores me fazem sonhar, eu admito. Afastei-me da distância exata me perdendo em números irreais.Criei fórmulas sem nexo só para poder divagar nas minhas segundas, terceiras e quartas intenções. Senti o labirinto da sua boca roçando meu rosto e nos cantos de um beijo busquei o centro do seu sabor. Sentei aos pés de uma árvore e provei o mel que se rendia diante da surpresa da sua companhia! E a voz me dizia sempre pra pular, fechar os olhos e voar!

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Dancei com os anjos em meus pensamentos e senti o encaixe dos quadris no absurdo da sensação. Dois corpos se rendendo ao calor de uma mesma vontade. Examinei cada centímetro das suas linhas e as descrevi repetidamente para mim, isolando qualquer possibilidade de esquecimento. Era uma imagem gravada, uma fotografia posta no álbum das seduções que guardei. Ali, naquele mundo onde as nuvens tem sabor, onde as cores ganham cheiro e o corpo é um imenso universo para explorar eu vigiei meus pensamentos mas não consegui afastá-los da vontade que tinham de recordar você

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Como um rio que corre naturalmente para o mar, algumas coisas estão destinadas a acontecer. Não sabemos ao certo o destino, mas seguimos o mesmo caminho. Somos iguais nas imperfeições e perfeitos nas distrações, quando sem querer imaginamos cenas que ainda não vivemos e nos entregamos aos desejos censurados no mundo real.

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Num dia quente de sol, eu vi nevar no verão e senti a cura da doença que nunca tive. Do chão eu pude ver o mundo como se estivesse na montanha mais alta. Bebi a água da fonte mais pura e me entreguei aos pensamentos soltos,perdendo-me dentro do meu próprio desejo. Todos meus instintos voltam e eu sei que os seus vieram também. Logo vão arder, misturando-se com o medo e a vontade de ver tudo acontecendo outra vez!

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Imaginando, eu provei dos lábios que despertaram minha fome, e saudável, esperei o milagre da minha cura. Senti desaparecer aquilo que não tive e me encontrei navegando no deserto das possibilidades, queimando no inferno das intenções. Troquei seus olhos pelo poço dos mistérios soltos. Venerei seu corpo dentro da sua mente, almejei tocá-lo dentro dos pensamentos meus e sei que isso tudo faz parte de você também.

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Uma frase, um dizer. Verdades que foram mas deixaram de ser. Num instante as impressões das mãos, as digitais do corpo estavam em minha alma, e no outro instante elas já tinham se perdido em algum lugar das lembranças.
Parece que nem tudo foi dito, parece que palavras ficaram por dizer. Talvez a segurança tivesse seu esconderijo naquele ponto onde não se vê o coração. Talvez o silêncio fosse omisso e quisesse apenas um pouco de oração. A noite então fechou seus olhos diante dos seus menores que caminharam perdidos na escuridão

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Um abraço que não era mais esperado, um conforto que não buscava mais satisfação, um olhar disperso e vago que já foi sinônimo de comoção.
Um cheiro ainda atraente, mas expulso das narinas que não querem um perfume nostálgico trazido em sinal de adoração. Tiro as mãos do meu rosto e seguro o volante para prosseguir. Esqueço você nessas horas, apago sua imagem dos meus sonhos para que você possa dormir!

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Penso que pensei ter encontrado a eternidade. Descobri a fórmula permanente da certeza. Era muito simples saber que uma tarde, se misturada ao sol da manhã traria a força de um dia. O sol misturado ao mar traria o peso do para sempre e sempre.

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Nesse exílio que se martiriza em fogo brando, encontra-se tombada, encontra-se cansada! Tomada pela angústia minha vida pergunta, e as respostas não estão a solta, as respostas estão no gosto guardado num baú escondido sob as promessas ditas de uma desculpa vazia.

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Sentado nos bancos do meu carro eu só ouvia o raspar dos pneus no asfalto frio, a rudeza das rodas que saiam. Odor de rosas, vinho vigoroso perseguiam minha prosa, traziam a poesia para meu dorso.
Ali, entre inúmeros ombros fantásticos, conheci aquele descoberto e escondido corpo. Rimava com o débil tempo dos elásticos e com os meus sapatos fizeram coro doloroso.

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Não fui o mesmo naqueles instantes, cavei a sensação naqueles momentos. Procurei suas imagens nas gavetas e encontrei a ocasião perdida de um beijo. Sinto que valeu a pena, sinto que a saudade me encontra num lugar. Até onde seu sorriso me chamava? Até onde eu poderia lhe buscar? Rodei por estradas sentindo seu perfume em minhas mãos, guardando seu cheiro para que eu soubesse onde lhe encontrar. Senti vontade de congelar o mundo em alguns momentos, como em alguns momentos nos incendiamos com um olhar!

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O telefone tocou você me disse para onde ir. A porta se abriu e então foi possível prosseguir. Uma volta pelas luzes, um passo reto na escuridão. Você soube como sair daquele mundo e assim começamos a correr. Como era bom te ver de novo ali! Como Dante poderia dizer: "A vida é uma só, um corpo, uma alma, um sol, um universo em ti e um frágil coração"! Não sei quem será o universo e quem será o frágil coração. Nós dois fomos o mundo, nós dois submetemos a razão! Para as loucuras eu peço um nova chance, mas não a chance do perdão. Quero a morte sem ser perdoado se eu tiver a dádiva da repetição.

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Entre o fogo do desejo cobramos o preço de um beijo, e enquanto todos corriam passando por nós, aguardávamos numa estrada, nesse caminho a sós! Ouvi sua respiração, senti o seu suor. Ouvi seu coração quando me aproximei o bastante para perceber que nos unimos na batida certeira de um compasso exato.

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Estive contigo por uma noite nas areias da praia. Estive contigo onde as gotas de fogo ardiam sob as águas e se confundiam com o doce daquela imensidão! Era selvagem o prazer do sorriso e foi bom contar as histórias que o céu queria nos dizer através das constelações. Senti seu abraço, a peguei em meus braços e por pouco não nos pusemos a rodar! Como ramos agitados pelo mesmo vento, e como raízes que se unem numa mesma força, escrevemos cada segundo daquele momento e guardamos os sonhos todos da mesma forma!

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Já venci o sono para saber de você, um pouco mais do que você queria me dizer! Já venci distâncias para poder te levar, pegar em sua mão e tatear um sorriso num rosto que se abria para minha imaginação. Minha cabeça dormiu contigo um sono carinhoso, sono de uma noite inteira! Enquanto a escuridão da terra nos ocultava, enquanto a lua só era vista porque eu voltava, esse imenso planeta girava com seus vivos e seus mortos na cabeceira! No meio de uma frase um beijo, no meio desse beijo uma alucinação. Perguntei se aquilo de fato era verdadeiro ou seu meus braços que rodeavam sua cintura, estavam envolvidos por devaneios!

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Eleva a dor do ódio retraído pela imagem, desenvolvido pelo instinto de aproximação. Refletem os corpos a magia indescritível, porém visível da destruição. Incrementa o horror pelo suor vertendo do corpo que luta respirando a própria esperança e derrete pelo suor da sublimação.

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Sinta! Sinta a elevação do espírito sob o esfacelamento de um corpo que desmorona por causa de uma cinta! Forca de couro, substituindo a força do ouro que como precioso metal chegou por tempos a margear a relação dos opostos! Ela o viu como um príncipe do reino perdido, ele a brindou como a próxima de uma mente doentia! Ela viu nele um texto, ele a viu como uma vírgula, acentuou o seu sinal, e tentou encerrar a frase com um ponto. O ponto que restou não foi o final, mas o de interrogação! E nós que achávamos que as cenas épicas não seriam mais tétricas, e ávidos buscávamos acreditar que não se dariam sonhos ásperos, mas sim emoções lépidas! Como enganamos nossa sensação sobre a materialização dos instintos! Morre animal grotesco, que lhe devorem os homens no seu leu labirinto! Fauno há de regozijar-se!