Júlia Figueiredo
Em alguns desafios pessoais, a única saída é escavar os alicerces. Inevitavelmente, a estrutura se abala, senão desmorona. Mas para uma reconstrução genuína, é necessário viver a dolorosa experiência da ruína para começar tudo novamente, mais forte, mais robusto, mais seguro!
Não hesite se desfazer hoje. A morada de amanhã depende disso.
Romantize a vida, não pessoas.
Pessoas devem ser amadas, não romantizadas.
Romance é o amor inflamado pela expectativa.
O perdão não é o passe livre para que o causador da dor passeie novamente em seu pátio. Perdoar significa também impor limites e seguir, agora sem a sobrecarga. Isso implica deixar pessoas, bagagens e afetos para trás.
Escolha seus afetos. Guarde seu coração. Existem cargas emocionais que não nos pertecencem mais. Abandoná-las é o minimalismo que precisamos praticar mais.
Às vezes, Deus permite que todas as nossas condições, e até esperança que nos vivificava, sejam reduzidas a pó, para que a única solução reparadora dependa de um verdadeiro milagre. Somente assim a glória será única e exclusivamente para Ele.
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"Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera." (Isaías 64:4)
A nossa responsabilidade emocional tem um limite e é este:
cuidar, reparar e resolver sem invadir a si.
Limites relacionais são necessários. Construir cercas ao redor do próprio coração é a legitimidade que devemos permitir para preservar nossa integridade emocional.
Algumas dores se engessam em mágoas quando tentamos manter relações tóxicas simplesmente pelo ego de ter sempre perto todos que UM DIA foram importantes.
Não aceitar respostas simples para questões complexas é um dos piores tipos de orgulho. O simples funciona sim.
As pessoas não são obrigadas a entender o quão sensível você é. Assim como você não precisa compreender o quão rasas elas são.
Ela é mar inteiro.
Seus olhos são a comporta, a janela da alma.
Tem dia que ela jorra e noutros ela goteja... letra a letra do seu par de oceanos negros.
Um dia, de tanto jorrar, se afogou no mar de emoções (em si mesma). Era sentimento de não caber mais.
Quem iria represá-la? Quem conteria sua fúria? Seu tsunami interior…
Assim como os pulmões inflam sem exigir o ar, na certeza plena de que ele virá, dê a si mesmo o luxo de ser feliz espontaneamente.
E se for para controlar algo, que seja o leme, não a maré!
Respir arrrr.
E preso, com os pulmões inflados, estou a 1 segundo de satisfazer-me
Não tenho pulmões exigentes
Importa-me que esteja presente, na devida proporção, o ar que me cerca
Importa-me que oxigene as células
O fôlego percorre seu caminho,
encontra a existência,
mata um pouco
porque é o mecanismo da vida, um pouco de morte em si
Se eu tivesse pulmões exigentes, não haveria espaço para a vida
Eu morreria da eterna utopia de que ar melhor é o ar puro
Morreria na ideia, e não viveria a tempo de contar-lhe que ar puro mata
Mata porque não se disponibiliza
A exigência mata
Cuidado!
E mata não só de raiva os pulmões
Mata quando exigimos o melhor do ar, da vida, das relações, dos serviços, do tempo, de tudo, de todos, da evolução, dos cenários…
Melhor é viver com o simples que se tem a morrer periódicos sufocos aguardando o refrigério que merecemos
Por óbvio, merecemos o puro, o sacro.
Mas de que serve o sagrado inalcançável?
Ninguém se hiberna
A vida é urgente!
Não existe isso
Não existe esperar o melhor para degustar a vida
O melhor é agora, nos retalhos de colchas da existência
quando, nos desafios, precisamos costurar logo para existir
Comprei um par de cadeiras de praia
Na sala vazia, sem propósito, caiu bem seu lugar no cenário
Fiz o convite.
Elas vieram, sentaram-se confortavelmente, sem cruzar as pernas, e…
tomando banho de lua, no reflexo da porta de vidro,
decidiram deitar ao chão.
Lunáticas que são, era de se esperar.
A conversa deu lugar ao silêncio que escutava a música
Minha playlist "23:45" ecoava na sala cheia de vazios
Elas, as cadeiras vazias, os corpos no chão, o brilho lunar invadindo a sala…
Contemplamos, existimos, sem função, a sala não tinha propósito
Da gente, só se esperava existir…
livres, descruzadas, juntas, deitadas e enroscando as mãos em nosso cabelos
Elas foram embora.
Comprei uma poltrona caríssima para duas deitarem
A poltrona se acostumou, e eu me acostumei com seu conforto vazio, também sem propósito
Era ela para nada.
Para o mesmo que as cadeiras de praia
Mas para ser nada, custou muito e fiquei brava.
Comprei uma luminária, para iluminar seu costume na sala.
Agora existia um propósito…
a luminária, clarear a poltrona
a poltrona, ser iluminada
Mas também era para nada
Comprei uma vitrola, e era para ecoar sons na sala que já não estava vazia.
E percebi que também era para nada se não houvesse nela um vinil cambaleando
Comprei o vinil, e este era para alguma coisa.
Era para fazer funcionar a vitrola e dar a ela propósito.
E, cambaleando, percebi que também me acostumava.
Comprei um vinho para encher a taça
E enchendo a taça, a esvaziava em mim, que agora cheia dele, via alguma proposta
Eu é que estava iluminada, mesmo sem ligar a luminária na tomada.
Olhando para a sala, desci os degraus saindo de casa.
Deitei na rede, e olhando para a sala cheia, percebi que não me cabia lá.
Era tudo para nada.
Todos nós estávamos acostumados.
Tudo era para nada.
Então, desistindo de ter, existi!
A vida é mesmo desproporcional, basta um instante de existência para compensar todos os anos de uma idade.