Josie Conti
Às vezes uma pessoa não tem intenção de nos magoar, mas, por ela ter pouca empatia, ela não percebe o quanto alguns de seus atos podem soar hostis. São pessoas que machucam simplesmente porque não conseguem se colocar no lugar do outro.
Proibir sempre foi a melhor maneira de estimular. O homem é fascinado por aquilo que dizem que ele não pode fazer.
Existe o ideal do que é certo.
Existe o ideal do que é errado.
E existe a realidade, zombeteira de verdades absolutas, onde tudo se cruza o tempo todo.
As feridas geradas no círculo familiar causam traumas, carências profundas e vazios que nem sempre conseguimos reparar. São, portanto, as dores mais difíceis de serem curadas.
Quem é acostumado com a regra tem muita dificuldade para reconhecer, e até mesmo admitir, a exceção.
Existem duas coisas que ficam claras em pessoas que apelam para ataques pessoais e arrogância frente a uma divergênciaa argumentativa: fragilidade emocional (complexo de inferioridade, traumas, inseguranças e muito, muito medo de que tudo isso seja descoberto) e fragilidade teórica, pois não são capazes de argumentar com conteúdo e precisam apelar para grosserias e destruição do outro que enxergam como "o oponente" que explicita suas fraquezas e sentimento de pequenez. Nos dois casos e algo bem triste de se ver, principalmente porque o que a pessoa pensa que esconde sua mediocridade é exatamente o que mais a evidência.
Aquele que odeia vive confortável na zona de conforto do extremismo. Ele não precisa raciocinar sobre os pontos bons e maus de suas interações. Ele não precisa assumir suas responsabilidades e nem mesmo ser humilde com relação aos aspectos em que errou. O que odeia vive tranquilinho em sua falsa superioridade porque ele atribui tudo de ruim ao seu objeto de ódio. Dessa forma, além de covarde (aquele que odeia morre de medo do outro) é um belo preguiçoso!
As pessoas são tão apegadas aos personagens que criam para si: cidadãos de bem, pessoas honestas e justas, homens de família e assim por diante que, quando confrontadas com uma faceta não tão perfeita de si, chegam a se desestruturar e sentir ódio por quem ousou indicar uma possível imperfeição daquele ideal autoproclamado. Nesses casos, talvez por pura incapacidade ou medo de enfrentar o seu lado feio, optam por dizer que a feiúra está no outro. Afinal, é mais fácil colocar a culpa no espelho e destruí-lo do que olhar para o seu próprio reflexo. Ficam elas, então, condenadas a escravidão da incompletude e rasas de si mesmas.
Como são mais belas e completas as pessoas que não têm medo de acessar seus próprios porões. Como são mais maduros aqueles que discutem na hora certa ao invés de cultivar uma falsa bondade que camufla um vulcão sempre prestes a explodir.
Um excelente dia para os que são imperfeitos, pois só eles são capazes de amar.
Pilares
Plumas caiam do céu e criavam uma manta branca sob a paineira onde ela estava deitada com o avô. Homem e menina deitados no gramado. Dois corpos sujeitos a temperatura e a umidade que subia do solo. Ambos à sombra. Protegidos. Em silêncio. Dois seres repousando sobre as ondulações de raízes teimosas que, ao invés de entregarem-se a total submersão na terra, escolhem uma existência entre os dois mundos.
Cabeças viradas uma na direção da outra. Os sorrisos abrem. Acendem os olhos. Em cumplicidade. Cílios de abano em olhos apertados.
Joelhos dobrados apontando para o céu. Visão caleidoscópica. Poeira iluminada por raios dourados.
A mão pequena toca a mão grande. Ergue-a. Levanta-a em um gesto de vitória. A mão grande envolve a mão pequena. Entrelaça dedos e afetos.
A menina dá uma gargalhada. Inesperadamente salta e corre levando essa memória para sempre.
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Josie Conti- texto autoral sobre memórias de infância
Algumas das pessoas mais interessantes que eu conheço estão longe da ideia de normalidade da sociedade. É justamente a diferença que as torna especiais.