José Saramago

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... É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

Toda a obra literária leva uma pessoa dentro, que é o autor. O autor é um pequeno mundo entre outros pequenos mundos

(...) que os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer, isso mesmo fizemos com o cérebro, se a ele fizemos, a elas faremos (...)

Se não houvesse tristeza nem miséria, se em todo lugar corressem águas sobre as pedras, se cantassem aves, a vida podia ser apenas estar sentado na erva, segurar um malmequer e não lhe arrancar as pétalas, por serem já sabidas as repostas, ou por serem estas de tão pouca importância, que descobrí-las não valeria a vida duma flor.

José Saramago
Memorial do Convento

Não são os políticos os que governam o mundo. Os lugares de poder, além de serem supranacionais, multinacionais, são invisíveis.

José Saramago
Jornal Expresso 1993

Talvez rejeição não seja a palavra mais apropriada, o caracol não rejeita o dedo que lhe toca, encolhe-se. Será a maneira que ele tem de rejeitar? Será. No entanto, você, à vista desarmada, não tem nada de caracol, às vezes penso que nos parecemos muito. Quem, você e eu? Não, eu e o caracol...

(O homem duplicado)

...o senso comum é demasiado comum para ser senso.
(O homem duplicado)

De fato, nunca se sabe muito bem para que servem as vitórias, suspirou o professor de matemática. Mas as derrotas sabe-se muito bem para que servem.
(O homem duplicado)

É de todos conhecidos, porém, que a enorme carga de tradição, hábitos e costumes que ocupa a maior parte do nosso cérebro lastram sem piedade as idéias mais brilhantes e inovadoras de que a parte restante ainda é capaz...
(O homem duplicado)

Inserida por EmOutrasPalavras

...pensa nas contradições da vida, no fato de que para ganhar uma batalha às vezes possa ser necessário perdê-la... (O homem duplicado)

A vida tem me ensinado que nenhuma coisa é simples, que só às vezes o parece, e que é justamente quando mais o parecer que mais nos convirá duvidar.
(O homem duplicado)

...é tanto o que temos para dizer quando nos calamos...
(O homem duplicado)

...pensava que o pior de todos os muros é uma porta de que nunca se tem a chave, e ele não sabia onde a encontrar, nem sabia sequer se tal chave existia.
(O homem duplicado)

...o que sucede é que tudo me cansa e aborrece, esta maldita rotina, esta repetição, este marcar passo. Distraia-se, homem, distrair-se sempre foi o melhor remédio. Dê-me licença que lhe diga que distrair-se é o remédio de quem não precisa dele... (O homem duplicado)

Não se pode exigir a toda a gente que seja sensata. Por isso o mundo está como está. (O homem duplicado)

O Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um é somente a ausência do outro.
(O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

Nada começa que não tenha que acabar, tudo o que começa nasce do que acabou.
(O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

...o seu pensar não foi assim tão claro, o pensamento, afinal de contas, já por outros, ou o mesmo, foi dito, é como um grosso novelo de fio enrolado sobre si mesmo, frouxo nuns pontos, noutros apertado até a sufocação e ao estrangulamento, está aqui, dentro da cabeça, mas é impossível conhecer-lhe a extensão toda, seria preciso desenrolá-lo, estendê-lo, e finalmente medi-lo, mas isto, por mais que se intente, ou finja intentar, parece que não o pode fazer o próprio sem ajudas, alguém tem que vir um dia dizer por onde se deve cortar o cordão que liga o homem ao seu umbigo, atar o pensamento à sua causa.
(O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

...cada um de nós é este pouco e este muito, esta bondade e esta maldade, esta paz e esta guerra, revolta e mansidão.

José Saramago
O Evangelho segundo Jesus Cristo

O mundo esquece tanto que nem se quer dá pela falta do que esqueceu.

O destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece a linha reta. O nosso grande engano, devido ao costume que temos de tudo explicar retrospectivamente em função de um resultado final, portanto conhecido, é imaginar o destino como uma flecha apontada diretamente a um alvo que, por assim dizer, a estivesse esperando desde o princípio, sem se mover. Ora, pelo contrário, o destino hesita muitíssimo, tem dúvidas, leva tempo a decidir-se.

Imprevisibilidade da Vida, por Saramago

Estamos neuróticos. Não só existe desigualdade na distribuição da riqueza como também na satisfação das necessidades básicas. Não nos orientamos por um sentido de racionalidade mínima. A Terra está rodeada de milhares de satélites, podemos ter em casa cem canais de televisão, mas para que nos serve isto neste mundo onde tantos morrem? É uma neurose coletiva, as pessoas já não sabem o que é que lhes é essencial para a sua felicidade.

José Saramago

Nota: (publicado em Zero Hora, 1997) José Saramago, sobre a nossa neurose.

Por um voto em branco, você está dizendo que você tem uma consciência política, mas você não concorda com qualquer um dos partidos existentes.

Quero estar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos.

José Saramago

A Solidão
Ora, a solidão, ainda vai ter de aprender muito para saber o que isso é, Sempre vivi só, Também eu, mas a solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz, Você está a tresvariar, tudo quanto menciona está ligado entre si, aí não há nenhuma solidão, Deixemos a árvore, olhe para dentro de si e veja a solidão, Como disse o outro, solitário andar por entre a gente, Pior do que isso, solitário estar onde nem nós próprios estamos.