José Carlos Fineis
Sonhos frustrados não devem ser motivo de tristeza, se para buscar a sua realização vencemos o medo, e ousamos, e criamos, e nos abrimos às experiências, e expandimos a mente, e avançamos para além de nossas limitações. Celebremos os sonhos que põem a vida em movimento, bem-sucedidos ou não.
Dentre as muitas maneiras de prejudicar alguém, existe uma particularmente mesquinha, e que quase sempre passa despercebida: atribuir-lhe rótulos.
"O inferno são os outros." Não duvido. Mas o pior inimigo, na maior parte das vezes, está dentro de nós.
Para que você e eu pudéssemos existir, o sopro da vida precisou ser transmitido de geração em geração, desde os primeiros seres vivos até nós. Um fio de prata jamais rompido que nos liga às primeiras formas de vida, aos precursores dos precursores dos humanos mais remotos. Procuro lembrar-me disso sempre que, por uma dessas muitas chateações do cotidiano, fico propenso a pensar que a vida é banal.
Não é só por acréscimo, mas também por subtração que a experiência nos lapida. Depois de uma certa idade, somos tão somente o que somos. Não negociamos no mercado futuro.
Deve haver um lugar reservado no Inferno àqueles que, tendo nas mãos o fogo sagrado do jornalismo, dele se valem apenas para ganhar dinheiro, entreter as pessoas e mantê-las alheias às verdades que precisam conhecer.
Embora sejam sinônimos em certo sentido, existe uma diferença substancial entre lealdade e fidelidade. A lealdade é espontânea e vem do coração. A fidelidade, nem sempre: pode ser apenas um subproduto de convenções, imposições ou conveniências. Entre uma pessoa leal e uma fiel, vou sempre preferir a leal.
Aprendi com um homem sábio que devemos dizer a verdade com amor, e o resultado será sempre bom. Quando deixamos de dizer a verdade com amor, a seu tempo certo, um dia acabamos por dizê-la com raiva, e o resultado será sempre ruim.
Deixar de enfrentar os grandes problemas que estão à vista de todos para apontar problemas que não existem é uma prática mais comum do que se imagina em empresas, famílias e relacionamentos em geral. Muitos chamam a isso de incoerência. Eu chamo de covardia.
Aprendi a não cometer esse grande erro que é subestimar as pequenas vitórias. Enquanto conseguimos seguir em frente, mesmo que seja aos trancos e barrancos, estamos no lucro.
É mentira que o amor sai pela janela quando a dificuldade entra pela porta. O amor verdadeiro se fortalece justamente nos momentos mais difíceis. Quanto maiores as dificuldades, mais unidos se tornam os amantes.
Graças aos noticiários matutinos, começamos o dia informados de uma série de acidentes e crimes e tragédias pessoais que fazem menos diferença em nossas vidas do que a previsão do tempo.
Por mais caprichados que sejam o currículo, o perfil no LinkedIn, o PowerPoint, os stories, o terninho, a gravata, a pose, a prosa, a frente e o verso, não se deixe iludir: no dia a dia é que a gente sabe quem é quem.
Caminhar de manhã pelas calçadas ensolaradas, sentindo o cheiro das plantas e admirando as cores da cidade que desperta, dando bom dia para pessoas que sorriem para mim sem sequer me conhecer, tem sido algo mágico em minha vida -- quase tão bom como dormir até mais tarde numa cama bem quentinha.
Comparar-se aos que sofrem, aos doentes e desamparados, como forma de concluir que, afinal de contas, não se está assim tão mal... Pode haver maneira mais indigna de enfrentar os próprios problemas?
"Só peço que não me rotulem", disse um homem numa roda de amigos.Eles fingiram concordar com ele, enquanto pensavam, lá com seus botões: "Pretensioso." "Autoritário." "Intransigente." "Cretino." "Sem noção."
Num momento sou um barco no oceano, no outro sou o próprio oceano. Que estranha aventura essa de ser, a um só tempo, o sonho que pulsa e o dente que dói.
E então, de repente, sem rufar de tambores ou troar de trombetas, chega o dia em que somos compelidos, não por Deus, mas pela consciência, a prestar contas dos talentos que nos foram confiados. Uma estratégia é tentar se convencer de que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Mas nem sempre funciona.
Alguma coisa deve estar muito errada com uma sociedade em que as pessoas têm sempre tantas explicações e tão poucas dúvidas.
Seguir o coração, sim, sempre, com certeza. Mas não sem antes trocar um dedo de prosa com ela, Dona Razão.
Quando a vida termina? Conforme a definição médica mais aceita, é quando ocorre a morte cerebral. Já eu, embora sem qualquer comprovação científica, acredito que morremos quando deixamos de sonhar.
Que bom seria se a sabedoria da Humanidade fosse cumulativa. Mas cada geração precisa conhecer o horror da guerra com os próprios olhos, sentir o dor do látego com a própria pele, descobrir o valor da Liberdade à custa das próprias perdas. Deveríamos aprender as coisas ruins nos livros e as boas, estas sim, vivendo-as intensamente. Porém, por mais lições que nos traga a História, em larga medida não somos mais do que aprendizes daquilo que já deveríamos saber.
Conforta-nos acreditar que estamos no comando, mas a verdade é que, nesta vida, mais somos levados do que levamos. Presunçosos, fazemos planos para as próximas semanas, meses e anos, mas não podemos contar sequer se nos será dado terminar o livro que começamos a ler.
O que os outros dirão não importa. Os outros são livres para pensar e dizer o que quiserem. Não conhecem nossos motivos e por isso, geralmente, são injustos em seus julgamentos. A pergunta a ser feita sempre, diante de uma decisão difícil, é uma só:
o que minha consciência dirá?