Josane Hodniki
E o coração da menina foi se enchendo de desilusões, aí veio alguém com alfinete e - e nada, blindado, o coração dela estava blindado. Nem com furadeira Black&Decker de última geração. Nada, intacto.
Até que, certa tarde, ninguém sabe dizer o motivo ou não é preciso dizer, o coração da menina começou a se esvaziar. Ela ouvia o barulhinho quando fechava os olhos antes de dormir. Então, numa tarde de olhos chorando, o barulhinho parou.
Foi aí que ela percebeu que seu coração estava novamente cheio, cheio de sonhos e esperança. Sentiu medo, um frio na barriga. E era a melhor sensação do mundo. Ela não trocaria um milhão de toda certeza do universo por aquilo
que estava sentindo outra vez.
Um coração só pode se encher de sonhos depois de esvaziar suas desilusões.
Seja você quem for, seja você.
Pois não deve existir tristeza maior
do que a de se olhar no espelho e não se ver.
Tem vento dentro de mim
E uma faísca perto do coração que me assusta
Um caracol de vento se formando bem próximo
Tem vento dentro de mim
Vem com pressa, depressa.
Corre!
Quero tudo, menos a completa e excessiva paz
Gosto do tumulto que causo em mim
Me provoco, como um pássaro sobrevoando em cima de touros
E eu não me canso nunca, eu gosto!
Vivo meus rasantes e finjo que caio
Num vai e vem constante entre as manadas
Me desviando de toneladas e toneladas de patas e poeira
E quando menos se espera, levanto voo novamente
Os meus amores são os impossíveis
Os meus objetivos são insensatos
Minhas vontades ultrapassam os limites
Enquanto alguns dão um passo de cada vez, eu apenas sei voar...
Trecho do poema "Toneladas de Patas e Poeira" http://josaneh.blogspot.com.br/2012/09/toneladas-de-patas-e-poeiras.html
Mania boba essa minha de querer escrever o que sinto. De querer escrever cartas de amor como se estivesse no século dezoito. De direcionar meus sentimentos a alguém como se houvesse uma necessidade de entendimento que ainda persiste. É como se o amor por si só fosse escasso de expressão. Que amar apenas não basta. Acredito – tamanha egocêntrica que sou – que a paixão destilada em palavras num papel ainda supera todos os outros gestos provenientes do amor. É como se as palavras trançassem fios de lãs e formassem um cachecol para esquentar um coração ligado ao meu. (escrito e setembro de 2007)
Deus me deu um coração que sabe amar, uma impulsividade soberana e uma criatividade irresponsável. Aos poucos, como todo adulto, vou perdendo tudo isso. Amadurecendo ao contrário. Uma chatice. Eu, logo eu, que sempre achei o máximo amar, viver intensamente cada gota e até sangrar por amor. Vou me juntando, lentamente, a todo resto desse mundo medíocre, coberto de razões intolerantes. Todos gostam de Shakespare, mas vivem com versos Clinton no seu criado mudo.
Então, alguém me aparece assim, de repente, como se fosse preciso me fazer “desamadurecer”. Faz eu ouvir Legião Urbana, beber seu vinho caro e fumar falsas doces realidades. Pulei em câmera lenta e falei das colheitas de algodão. “Jô, eu nem sabia que algodão era planta”.
Como é difícil escrever um cartão de natal para um cliente quando o seu coração esta despedaçado. Ser redatora publicitária exige uma tecla para desligar dores. Sempre fiz isso muito bem. O problema é quando a tecla não quer funcionar. E você fica apertando, apertando, desejando ter um ctrl alt del interno pra resolver logo a situação. Então, você começa a escrever o cartão e fica mais ou menos assim:
“Desejo que os Maias estejam certos e que o mundo acabe dia 21 de dezembro. Mas se isso não acontecer, Feliz Natal e um Prospero Ano Novo. Passar bem!”
Pecado impecável
A única parte boa de quando lhe tiram - a força
a chance de viver um grande amor
é que fica uma lembrança do que se desejou,
do que se poderia ter vivido, se lhe fosse permitido.
Aqueles momentos que se esperou para viver
e não aconteceram se tornam imortais.
De tão perfeitos, permanecem impecáveis.
Por que foram tão intensamente desejados,
imaginados da forma mais pura e verdadeira
que não morrem nunca, nem são esquecidos.
Como o abraço que não foi dado num aniversário,
mas foi sentido levemente, como a brisa que se sente
quando um beija flor voa por perto.
Josane H.
Hoje é segunda
Dia de chegar do trabalho e descalçar o sapato
Dia de ouvir uma boa música, acender um cigarrinho
Desligar a TV, abrir as cortinas, preparar um suco de limão
Hoje é segunda, meus amigos
Dia de abrir aquela latinha gelada
Que sobrou do final de semana
Afinal, é segunda
Mas pode ter terceira, quarta, o que você quiser
Segunda é dia de ouvir um sambinha bom
De pensar na vida ou não pensar em nada
De colocar os pés, o pensamento e a alma pra cima
Já que amanhã é outro dia
Aliás, é terça, e depois quarta, quinta
Mas só por hoje, só hoje, meus amigos
Vale a pena viver assim, levemente
Por que é segunda
E até segunda ordem “ninguém me manda”...
O mundo não parou, o relógio continua rodando
Começou o outono, 20 de março de 2013
Estação das flores em folhas, pra gente acreditar
Que a felicidade está onde queremos vê-la
E pode estar em tudo, até em dias tristes
Por que o outono é assim, como a vida
Nem sempre há flores, mas olhe para o céu...
O céu de outono, nos finais de tarde, é inesquecível
Ela brinca com garçom, canta o marinheiro
Pede tequila, sal e gomos de laranja
Fica descalça, faz piada sobre o cozinheiro
Acende mais um cigarro, ri e canta
Alguém diz
Chante une chanson d'amour...
Vem sempre aqui?
Quase nunca
Gosta de Yoni?
Gosto de sunga
Rimas horrorosas
para uma noite de chuva, não acha?
Você quer?
Mais rimas horrorosas?
Des mains sur le corps?
Só se for com g-spot.
Ma maison ou dans votre?
Sans amour?
É melhor assim.
Café e abraços
Raramente tomo café da manhã. Mais raro ainda é tomar café da manhã na padaria.
Hoje me deu vontade. Acordei e resolvi que ia tomar um cappuccino e comer um pão de queijo recheado. Gorda.
Lembrei de um lugar delicia, pertinho da agência e segui pra lá.
Sentei, fiz meu pedido, peguei um jornal e escutei alguém dizer “Jô?”. Era bem cedo. Muito cedo. Quem diabos acorda tão cedo assim?
Meio sem jeito, olhei pro lado e vi um homem, bem bonito, elegante. E eu? Bom, eu não fazia a menor ideia de quem ele era. Mas, por educação, fiz a mesma cara de surpresa dele. E respondi “oooi”. Então ele me abraçou. Cheiroso, todo social. E ficamos abraçados por um tempo. Um tempo mais que o normal, já que nem imaginava quem ele era.
Ele me olhou e disse “você não tá se lembrando de mim, não é?”. Quando ele disse isso, olhando nos meus olhos, eu vi nos olhos dele aquele menino por quem um dia eu fui apaixonada. Eu não acreditei. Minha primeira paixãozinha, ali. Pra minha surpresa, ele se convidou pra tomar café comigo.
É claro que cheguei atrasada na agência. A conversa foi daquelas boas, sinceras. Conversas que a vida nos presenteia às vezes e pode ser maravilhoso. E foi.
Falamos sobre o tempo, como passa e o que fica realmente. Sobre como fazer a melhor batida de coco do mundo. Sobre o filho que já tem 10 anos, joga futebol e toca guitarra igual o pai. Sobre a “inércia” do facebook e a frieza digital. Sobre casamento, divórcio, preconceito. Sobre o amor verdadeiro.
No final, rimos muito, lembrando das onças que iríamos ter em nosso quintal.
Saímos juntos daquela padaria e nos despedimos na calçada com o mesmo abraço. Dessa vez até mais apertado. Daqueles abraços que dá pra ouvir o coração da outra pessoa. E ficou aquele sentimento bom de que a vida é mesmo incrível.
Não confundam amor com possessão
Muito menos com desejo
O amor está bem longe disso
O amor é aquele que nos aproxima de nós mesmos
nunca de outra pessoa
Aprendi amando o que só o amor é capaz de fazer por nós
É amando que nos conhecemos melhor
Amar é raro, perfeito,
pode ser um turbilhão, mas não dói
O amor não dói
Sentir saudade faz bem, faz o coração ficar mais forte
A alma mais doce, a vida mais interessante
Mesmo quando os corpos estão longe
O amor está dentro
E é assim que deve ser.
Fomos felizes enquanto guardamos nossas armas de flores.
Quando a verdade se fez presente, os abraços demorados
começaram a vir com choros engasgados.
E foi assim que um dia... desistimos de lutar
para que a paz se fizesse presente.
Eu vou estar onde você está.
E toda vez que chegar de viagem, eu estarei te esperando.
Por onde eu for, a melhor parte, sempre será a volta.
E aconteça o que acontecer,
meu quarto é na sua casa,
a vista da praça é e será única.
Não importa onde eu esteja,
eu sempre vou voltar
pra nossa casa, pai.
Ontem, depois de 36 dias viajando, ele voltou mais uma vez.
E eu... eu estava lá.
Ouvindo e rindo das mesmas piadas!
Ela sabia que seria a melhor noite de toda sua vida. Naquele momento, ela sentia algo que nunca tinha sentido antes. Por ninguém.
E ao descobrir isso, tão claramente, ela colocou suas mãos sobre os cabelos daquela mulher, num gesto de sim. Mas quem disse que aquela mulher a queria? “Era apenas uma aposta, lembra?”.
Tudo na vida depende do ângulo que você olha pra ela. Não importa o quanto sejam estranhas as atitudes que você toma. O importante é ter razões para não desistir de nada. Mudar é necessário, renovar é essencial. Existe um milhão de possibilidades para se viver em um dia. Pare e pense um minuto em tudo que se pode fazer em UM dia. Somos nós que escolhemos. Ser feliz é hoje. Novidade boa, cafuné, piada engraçada, trabalho bem feito e um pouco de amor sempre valem a pena.
Então, alguém me aparece assim, de repente, como se fosse preciso me fazer “desamadurecer”. Faz eu ouvir Legião Urbana, beber seu vinho caro e fumar falsas doces realidades. Pulei em câmera lenta e falei das colheitas de algodão. “Jô, eu nem sabia que algodão era planta”.
Lembro da minha infância [e que bom lembrar]
vejo você correndo pelo nosso quarto
você dançando comigo na chuva
pulando no seu aniversário
e sinto o seu amor maduro, mesmo tão menino
Os meus medos nunca me impediram de fazer nada
Gosto deles
São como amigos de escola que a gente não vê mais
e que as vezes aparecem
e dá aquela impressão de que nunca estiveram longe
Conversando com minha mãe!
Mãe: o importante é ser uma pessoa boa de coração,
fazer o bem para o próximo, Jô.
Eu: ô mãe, nem vem com essa conversinha hoje.
Vejo muita gente ruim, que nunca pensa nos outros,
vivendo bem melhor que eu. Eu não ganho nada sendo boa.
Mas sou boa por que eu quero ser boa,
não por que quero ter paz na minha próxima vida
ou quero um lugar no céu ou por que o Deus polinésio quer.
Mãe: você tem que fazer o curso básico da academia filosófica,
eu falo, você não me escuta!
Eu: mãe, você trabalha com seguro há 20 anos e nunca deu um golpe.
Unzinho sequer. Nada. É correta. E aí? Nem pra dar pelo menos um golpinho mãe,
pegar um dinheirinho, conhecer a Europa, visitar a Capela Sistina...
Mãe: kkkkkkkkkkkkk... você me diverte, Jô.
Nos despedimos com os olhos cheios d´água, mas com a alma limpa. Tão limpa quanto o céu de manhãs de outono, depois de chover a noite toda.
Existe sim, dor no amor. Mas não no próprio amor. O verdadeiro amor é intocável. Ele nasce, cresce e, sim, pode acabar. E é justamente nesse momento, que a dor aparece e em vários momentos.
Sentir a dor de se perder um amor é necessário, como tomar água para matar a sede.
Primeiro vem a dor de quando a relação acaba. O desejo acabou para a outra pessoa. Você tem que se acostumar com a ausência dela. Isso é difícil. Entender que os velhos costumes não vão existir mais. Que aquele restaurante que vocês frequentavam juntos ficou no passado. Que as conversas até de madrugada não vão acontecer mais.
Com o tempo, surge outra dor. A dor de perceber que a vida pode ser interessante novamente. Talvez com outro alguém, com novos amigos desse outro alguém, com a nova família desse alguém. Aí dói. Por que estamos acostumados ao amor daquela outra que amamos, que nos foi retribuído e vivido intensamente. E você acha que amor igual a esse nunca mais vai ter na vida. Por que era tão bonito, tão verdadeiro, impecável. Você não quer abrir mão daquilo que já viveu. Mas essa é a justamente a questão: já foi, já viveu.
E na verdade, é só o medo de recomeçar que assusta. Você já não ama aquela pessoa mais, como antes, mas gosta do amor que sentia por ela. Se admira por isso. Se admira por tudo o que viveu.
A última dor é a dor de sentir que esse amor já não está mais dentro de você.