Jorge Ángel Livraga (1930-1991)
"Como junto às colunas caídas se constroem prédios novos que as substituem, ao morrer, uma religião é substituída por outra, após outra, sendo todas manifestações limitadas pela época e pela situação geográfica, embora sendo encarnações de uma mesma necessidade e emanações de uma idêntica fonte."
"A ciência não consiste somente em saber, por exemplo, qual é a valência do carbono, ou medir a distância entre a Terra e a Lua, ou saber porque corre o sangue no corpo. Buscamos uma ciência que para além de conhecer tudo isso possa também dizer-nos para quê o sangue corre no corpo, o que significa a distância entre a Terra e a Lua, que segredo nos move. Uma Ciência que não esteja à disposição do mais forte ou do que sabe mais, uma Ciência que não atemorize mas que sirva para ajudar a construir, uma Ciência que nos saiba proteger, uma Ciência Branca, uma Ciência Salutar."
"O enorme crescimento técnico não foi balanceado por um desenvolvimento humanístico equivalente: cada dia são descobertos novos elementos químicos, mas não se descobrem valores novos. Pelo contrário: os que já conhecíamos minimizam-se cada vez mais. O homem voa mais alto, mas não se eleva mais dentro de si mesmo; não se conhece nem se domina melhor."
"Arte é a concretização da Beleza; é a conjugação harmónica de diferentes partes. Não o podemos racionalizar: a arte é intuitiva. É mais sentida do que compreendida, o que não é belo não é Arte."
"A verdadeira Arte deve ter uma mensagem, uma mística, tem que poder comunicar sem explicações, mais além de todas as palavras, porque chega a todos, a cada qual na sua medida."
«“Arte” não é mais do que a taumaturgia de fazer aparecer diante dos sentidos aquilo que o Artista percebe com outros «sentidos» em dimensões harmónicas, belas e terríveis. O Génio pule as arestas, arredonda as coisas para torná-las adaptáveis aos olhos dos humanos de mãos frágeis, olhos pequenos e ouvidos limitados. Ele é «Ponte de Ouro» entre os Arquétipos da Beleza e as nossas misérias humanas, douradas subitamente pela luz das Musas.»
"O estado actual é um monstro deformado e decadente, sempre doente. Os seus órgãos revolveram-se e permitiram a sobrevivência no seu seio de formas cadavéricas e retardatárias que vampirizam as novas e travam a evolução do conjunto. Por outra parte permitiu-se que subestruturas demasiado jovens, quase em etapa infantil, tomassem o controlo do Estado sem maturidade nem seriedade, carentes de experiências e desenvolvimento interior, conduzem os povos de desastre em desastre, jogam e ameaçam com armas assustadoras, desafiam o Universo, mas retrocedem atónitas perante um círio aceso na escuridão de um grande recinto, temem a morte e a pobreza."
"Os governos passam, mas a ignorância, a fome, o frio, o desespero de não saber para que se vive, fica."
"Enquanto no mundo existir ignorância, sectarismo, fanatismo, racismo, postos de governo assalariados, haverá desgraças para os povos e opróbrios vergonhosos para os Governos."
"A autoridade não emana da opinião, mas do juízo. E o juízo é o recto colocar da consciência da Natureza. Deste modo, a autoridade emana da Natureza; o poder pertence a quem sabe."
"Se se constrói uma moral forte, uma boa economia e uma sociedade justa, o banditismo político não tem onde cravar as suas raízes. São necessárias menos palavras e trâmites legais, e mais amor pela humanidade, mais ordem e honradez."
"Na Política, a primeira noção de Indivíduo nasce de uma percepção de algo que rodeia e transcende o próprio limite, quando se reconhece o panorama social como algo alheio, mas que ao mesmo tempo o contém e do qual participa. Assim, o conhecimento de si mesmo, está condicionado à libertação do Eu da penumbra biológica colectiva, não para se afastar dos demais, mas para integrar um todo harmónico e inteligente."
"Nenhum tirano exercitaria as suas sangrentas tragicomédias se não existisse o coro de imbecis que festejasse isso, e o de cobardes que fogem disso. Um silêncio sereno e um sorriso evidentemente forçado desarmariam o seu braço, tornariam grotescas as suas arrogâncias e os seus uivos de omnipotência."
"A riqueza não deve ser de quem a produz mas de quem necessita dela. Na ordem e na boa vontade existem imensos mananciais de bem-estar, não somente moral, mas político e económico."
"Deitar abaixo uma casa velha e substituí-la por outra mais nova não é desprezá-la, mas fazê-la reencarnar numa forma mais elevada. Assim, as presentes formas políticas, com as suas estreitezas que enchem de angústia milhões de homens de todas as condições, não podem durar muito mais agregando «camadas de pintura»; urge renová-las profundamente, urge uma renovação total."
"Compreendendo que o Governo não é o poder de uns homens sobre outros, mas a imagem ordenadora e directriz da vontade do conjunto, devemos considerar como suas funções a obrigação de manter a unidade do Estado e propiciar e expandir para a generalidade tudo o que de positivo se manifeste nos seus integrantes. Devemos ver mais de perto a conversão da potência em acto, da ideia em palavra, da força em trabalho, do amor sentimental em fraternidade total."
"Toda a melhoria da Sociedade começa com a melhoria do Indivíduo; não existem fórmulas colectivas de salvação. Mas existe a possibilidade individual de lutar contra a própria imperfeição para conseguir, assim, elevar-se sobre o momento actual e sobre a própria derrota."
"Organização não é massificação, não é imposição de uns sobre os outros, organização é ajuda. As mãos são opostas mas, no entanto, organizam-se para pegar em algo; se tivéssemos duas mãos dirigidas para o mesmo lado, dificilmente poderíamos pegar em alguma coisa."
"A Justiça não é uma natureza, mas um atributo próximo e inerente a uma natureza. A Justiça é, na verdade, o primeiro atributo de qualquer natureza ou existência, e é o Ser da mesma. Esse Ser, enquanto objecto de conhecimento, é já uma relação e converte-se em Justiça sensível."
"Às vezes é mais fácil ser bom ou mau do que ser Justo. Sem o sentido da Justiça, a verdadeira Bondade, a Justiça espiritual, aquilo que pode dar a cada um o que lhe corresponde, num sentido de bondade e altruísmo, é o mais difícil de alcançar."
"No homem, mais além do seu corpo, da sua vida, da sua emoção e da sua razão, existe um Eu espectador e ordenador de actos no qual radica o Ser-Justiça, e ao qual se devem submeter as relações harmónicas dos seus próprios reflexos nas quatro possibilidades assinaladas. Justiça individual será, então, um coexistir de subestruturas de acordo com as suas próprias naturezas particulares, mas finalizadas num Eu que as unifica e que é o Ser-Justiça das mesmas."
"Para a concepção de delito os factos não devem ser considerados senão em relação directa com o actuante. E quanto mais capacitado e mais qualificado for o mesmo, mais estrita deverá ser a pena, pois ela não é aplicada como uma vingança ou reprimenda, mas para a segurança de todos e reprocessamento moral e psicológico do culpado."