John Gray
O moderno culto da ciência vive da esperança de milagres. Mas pensar que a ciência pode transformar a sorte humana é acreditar em magia. Às ilusões do humanismo, o tempo replica com a realidade: frágil, insana, “insalvada” humanidade. Mesmo permitindo que a pobreza diminua e a doença seja aliviada, a ciência será usada para refinar a tirania e aperfeiçoar a arte da guerra.
O progresso técnico deixa apenas um problema a resolver: a fraqueza moral da natureza humana. Infelizmente, esse problema é insolúvel.
Não apenas as origens da ciência, mas também seu progresso decorrem de atitudes contrárias à razão.
A teoria de Darwin nos diz que um interesse pela verdade não é algo necessário para a sobrevivência ou a reprodução. A rigor, é uma desvantagem. Enganar o outro intencionalmente é comum entre primatas e pássaros.
Assassinato em massa é um efeito colateral do progresso tecnológico. Desde o machado de pedra, os humanos têm usado suas ferramentas para trucidar uns aos outros.
Há muito se sabe que os que praticam grandes atos de bondade raramente são perdoados.
Os humanos prosperam em condições que a moralidade condena.
O tempo e o lugar em que nascemos, nossos pais, a primeira língua que falamos – isso são acasos, não escolhas. É o fluir casual das coisas que molda nossas mais significativas relações. A vida de cada um de nós é um capítulo feito de eventos acidentais.
O ser humano mais livre não é o que age de acordo com razões que escolhe para si mesmo, mas o que nunca precisa escolher. Em vez de se agoniar entre alternativas, responde sem esforço às situações tal como surgem.
A busca tecnológica da imortalidade não é um projeto científico. Ela promete o que a religião sempre prometeu — libertar-nos do destino e do acaso.