João Antonio N. Palmeira
Toda mudança imposta é antinatural, leviana e superficial. Somente as mudanças provenientes do fluxo espontâneo da existência são reais. Tentar evocar o verão em pleno inverno ou exigir que uma árvore de fruto fora da estação favorável, é tão anômalo quanto forçar que o outro mude segundo os nossos interesses.
Natal: O Nascimento De Uma Nova Consciência
“Toda vez que o Divino nasce no coração humano é natal. Mahavira engravidado pela amorosidade que reverencia e respeita todas as formas de vida; Buda na quietude resultante da transcendência dos pensamentos, LaoTsé pacificado ante as ambiguidades do existir, Sócrates enamorado com a Voz que brotara em seu coração, entre outras singulares referências, são vislumbres de fenômenos natalinos. Sempre que um evento natalino ocorre na alma humana à existência exulta, o cosmos celebra, a terra rejubila, pois toda a criação anseia com ardente expectativa a manifestação dos filhos de Deus. Todos os que se despertaram e que nasceram de novo, experienciaram o “natal”, o nascimento de uma nova consciência, o surgimento do novo homem interior. Quando a estrela da consciência brilha nas trevas do pensamento somos guiados à semelhança dos reis magos, na direção da luminosidade que anuncia a manifestação do Caminho, da Verdade e da Vida. No estábulo da natureza humana que abriga a animalidade existe uma manjedoura, o coração, e quando o mesmo é forrado com fenos da sinceridade torna-se um receptáculo propício para o nascimento da consciência Divina. O Natal dos natais teve a sua concretude áurea na historicidade em Belém da Galiléia, com o nascimento de Jesus, onde o amor corporificou-se, humanizou e superabundou entre nós. Em Cristo compreendemos que o desejo da Suprema Realidade é nascer em cada alma, para que o crepúsculo da consciência humana se transforme na aurora da consciência Crística.”
Ouço-vos dizer que a realização existencial consiste em plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Todos esses feitos seriam designificante sem um despertar de consciência. Bom seria que o homem semeasse amor, desce a luz a si mesmo e fosse um livro vivo lido pelo mundo.
O homem que ama assemelha-se a uma arvore frutífera, independente de quem nele recorra encontrará bons frutos.
Valorizamos o que não possuímos e desvalorizamos o que temos;
Desejamos tudo o que está longe e nos entediamos com tudo que está perto;
Vivemos na expectativa do amanhã, mas negligenciamos o hoje;
Dignificamos a esperança e trivializamos a realidade;
Sonhamos com o futuro, mas dormimos no presente;
Temos ouvidos para profecias, mas fechamos os olhos para a revelação do agora;
Honramos os de fora e designificamos os de casa;
Canonizamos os mortos e crucificamos os vivos;
Cultuamos o Deus que está nos céus e desprezamos o Deus que está no próximo;
Em suma: o distante nos fascina, mas o familiar nos assombra.
Salomão disse: 'Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele'.
Esse aforismo tem ampla aplicabilidade, mais infelizmente transformou-se no princípio básico de todo condicionamento.
Em decorrência deste fenômeno se faz necessário conhecer a Verdade, pois só por meio dela que seremos desintoxicados de todo engano.
Desventurado é o homem que despreza a realidade, e se compraz no mero "existir" por meio da virtualidade.
É belo o convívio harmonioso dos semelhantes, todavia, é extraordinariamente maravilhoso a convivência harmônica dos diferentes.
Quando contemplamos espécies díspares em sadio relacionamento, descobrimos que nosso próximo não está restrito aos nossos semelhantes.
O vírus do desejo enferma-nos com a insaciedade. Infectados com este flagelo, nem toda fama do mundo é capaz de trazer o reconhecimento almejado, nem toda riqueza é suficiente para nos tornar prósperos, nem todos os prazeres podem aplacar nossas pulsões. Apenas indo além da superficialidade do ego encontraremos à cura, que desintoxica a mente dos desejos fugazes, desenvenena o coração da vaidade, desinflama a alma da intemperança e traz saciedade ao nível da consciência
Se ao homem é dada a oportunidade de fazer nascer o Sol dentro se si, porque se contentar com visitas de “vagalumes espirituais” que piscam na obscuridade da consciência e em nada clareiam.
Que a Vida lhe traga a sabedoria de discernir e compreender que mesmo a mais bela rosa possui seus espinhos, contrapartida, os espinhos por mais rústicos e perfurocortantes que sejam, camuflam em sua essência uma linda flor, que desabrochará em ocasião oportuna, mais precisamente na estação do amor.