Jéssica Taiza
Ambos aprendemos a viver um sem o outro, deixamos que a saudade fosse virando amiga, deixamos que a lembrança fosse sendo suficiente, deixamos que o medo e a desconfiança tomassem o lugar de sentimentos outrora bonitos.
O bom é que com tudo isso estamos bem. Já não dói saber um do outro, já não machuca a dor da perda. Acabamos por nos acomodar com a felicidade alheia ao outro, e o pior é que ela realmente nos satisfaz.
Eu continuo o amando, às escondidas, da minha forma meio errada e assim, de certa forma, cumprimos sem perceber a nossa promessa de que seria pra sempre.
Aprendi, talvez da forma mais intensa, que o verdadeiro amor sempre te derá uma mão, duas. Aliás, te dará quantas você precisar. O verdadeiro amor não vai te pedir muito, ele pouco quer, tem muito mesmo é pra dar. O verdadeiro amor vai na hora da dificuldade te olhar nos olhos e dizer: "Vamos encarar juntos". O verdadeiro amor é também o bom parceiro, incapaz de te deixar remar sozinho e sempre disposto a fazer o que for melhor pra você. O verdadeiro amor completa, abriga, compreende, perdoa e surpreende. É mágico. O verdadeiro amor é coisa rara, sol na madruga, difícil de encontrar.
No fim das contas quase tudo que parecia ser eterno acaba por acabar. Foi assim com alguns sonhos, planos, pessoas, medos e traumas. E ainda vai ser assim com uma infinidade de coisas.
A verdade é que o sentimento é tão forte e bonito que tudo que a gente quer é que nunca acabe, mas sempre acaba porque cedo ou tarde perde a graça, vira dor ou simplesmente deixa de fazer sentido.
Se quiser saber como estou direi que estou bem, porque estou mesmo, por incrível que me pareça eu sobrevivi - como tantos outros que também chegaram a acreditar que não conseguiriam.
Acabou como sonhos que acabam ao acordarmos e que deixam sempre aquela vaga lembrança que te faz voltar a dormir pra quem sabe conseguir sonhar o mesmo sonho, quando no fundo você sabe que é impossível.
E daí que eu chorei à toa? E daí que não deu certo? Foi lindo, intenso, verdadeiro. Foi tudo que tinha que ser, digo mais, foi além... Muito além do que um dia eu imaginei.
Então a gente foge. Foge porque num primeiro momento a fuga é o melhor remédio. E se esconde das músicas, lembranças e de tudo o mais que volte a fazer do passado ferida presente. Vai buscando abrigo numa voz diferente, num beijo que não toca mas engana, num abraço que não sacia mas conforta.
A gente fica aqui, parado no tempo, enquanto a vida segue e a gente não sabe se vai conseguir. Não sabe por saber do quanto a falta ainda machuca e de como fica cada dia mais difícil ouvir aquela música que não tem tua voz, mas diz exatamente o que você não tem forças pra dizer.
E em conversas como essa, quando as verdades são ditas sem perceber, é impossível não falar do amanhã que nunca chega e do ontem que nunca passa.
Vai levando essa angústia triste, vai seguindo um caminho longo, até encontrar um consolo numa companhia que nem sempre agrada, mas ao menos ilude.
E vai fingindo que não se importa, porque é assim que deveria ser, mas tanto leva em conta que não sabe como esquecer e ao tentar fingir que não, só consegue deixar transparecer.
Porque pegar o telefone e falar a quem se deve é insuportável. Porque bater na porta de quem realmente interessa parece impossível.
E com esse orgulho desmedido e esse medo da verdade vai levando, vivendo recomeços de mentirinha e sorrindo pra que ninguém descubra essa falsa felicidade.
É que o frio toma conta de todos os meus dedos, que costumavam estar aquecidos só de tocar teu corpo.
Fica então o fiozinho de memória gritando algo na cabeça sobre o tempo que passou e parece ter sido ontem, deixando claro que eu esqueci muita coisa e outras até nem parecem ter existido, mas do teu corpo eu lembro.
E eu poderia até fazer promessas, mas já passei da fase em que se diz mais que o que convém - não prometo nada que eu não possa cumprir.
E depois, não muito depois, vou deitar no lado da cama que você costumava ocupar, e cantar baixinho "Não me deixe só aqui, esperando mais um verão".
E agora você está aqui, uma frase bonita que não sai da cabeça, que se encaixa no meu atual contexto e que diz exatamente o que me faltava ouvir.