Jaak Bosmans
Ébrio
Em passos largos ainda tenho
A velocidade da estagnação
Ainda que, de longe venho
Permaneço ébrio na lucidez do coração
Ópera dos interior.
Começam os acordes do velho acordeão,
Em leque que brinca de abre e fecha.
Entra junto, a melodia simples da rabeca.
Que chora feliz fora do ombro.
Nesse momento se inicia a ópera em uivos tristes.
Da terrível dor, que faz o “tíu” latir.
Falta ritmo! Falta um batido.
E começa escondido o ritmo proibido
De um triângulo amoroso.
Ela, ele e ele; e às vezes ele, ela e ela.
Assim a dança começa,
Sem ter hora de nunca acabar.
Apeia do cavalo o coronel
Que manda calar o “tíu”.
Aos pouco o ritmo diminui.
Separando aqueles vértices.
Acordeão e rabeca,
Isto é casal comum.
Não dá dança, e acaba a festa.
Jaak Bosmans 2 -11- 2008
"Da prata liberdade"
Folhas prata da embaúba
Em meio ao verde de toda a mata
Gritam chuva.
Minha prata interior também grita.
Liberdade.
Embaúba prata é folha é mata.
Recebe chuva e desfolha.
Liberdade.
Começo de paisagens.
Primaveras repetidas, nunca iguais.
Na mesma busca que tenho em mim.
De gritos presos, silêncio e mata.
Diferentes amores, primaveras e pratas.
Jaak Bosmans
Caminho familiar
Pesado elo entre o sonho e a realidade.
De impor felicidades
De querer apenas em simples pensar.
Abandono de lares imperfeitos.
Só posso te ver em saudades.
Através das grades da prisão de que me fiz.
Noite de grandes luas.
Pequenos gritos de guerra vencida.
Grandes sabores de beijos crus.
Apenas cozidos no mel da amargura.
Só vozes cruéis me embalaram.
Inesquecível noite de dezembro.
Que do filho amado ouvi gritar.
Que algemas colocassem em seu pai.
Com crueldade e sem perdão.
Noite de pesados elos desfeitos.
Jaak Bosmans
7-11-2008
"Realeza em pedaços"
Pedaços nobres de mim
Cortados em fatias finas e transparentes
Para que me degustem os corvos reais
E mantenham viva a realeza dos meus sonhos.
Pedaços de sonhos apaixonantes
Derramados em noites frias e sem estrelas.
Nas torres que habitam meus corvos
O reinado se perpetua em belos cantos.
Nas melodias,
Acordes em harmonias e amanheceres
Pedaços do ritmo que se desencontram,
Perdidos na travessia de qualquer Tamisa.
Jaak Bosmans
14–11-2008
Não sei se o que escrevo é tão poético.
Procuro apenas decifrar as angústias e as esperanças que me calam.
Jaak Bosmans
Alegra-te
Alegra-te.
Muito perto já se encontram lugares.
Mágicos e estrelares.
Banhados de luares.
Sortes que se presenteiam com beijos
Carinhos e ternura.
Sempre na corredeira de um manso rio.
Onde pesco apenas esperanças.
Jaak Bosmans
Deslizando céus
Esperei pela nuvem maior
Num bater forte do coração
Entre águias, céus e azuis,
Surfei equilibrado na prancha da saudade.
Do outro lado, em redemoinhos de nimbos
Te via sorrindo e de braços abertos.
Gritavas em puro e suave silêncio.
-vem, vem, meu grande amor.
E deslizei respingado de gotas dos céus
Até ou teus braços, teus lábios, nossa aventura.
Jaak Bosmans 30-11-2008
LUGARES
Lugares são perfeitos.
Ali nos encontramos.
Lugares áridos, campinas, mares e montanhas.
Lugares recebem sempre os encontros.
E deles fazem novos encantos.
Se movem em danças, marcadas pelo ritmo dos encontros.
Corações acelerados, almas silenciosas e ternuras em chamas.
Lugares nunca se desfazem.
São eternos, são lembranças.
E nenhum desencontro jamais consegue destruir lugares!
Porque lugares só existem em corações apaixonados.
Te esperando
Giro no sentido contrário de quem passa o tempo.
porque só assim, posso permanecer fiel ao tempo que volta.
Nas fotografias ainda em negativos, que se revelam na química do que sei de amor.
Em ternuras, e no brando e suave tocar-te, me aconchego.
Vens de longe em púrpura carruagem, que te traz.
Corro pelos campos em pureza de alegrias.
Abro os braços, como surpresa para de te receber.
Passaste.
Jaak Bosmans 24 – 11 -2008
Caminho certo.
Amor incontido é
Como bala perdida.
Expressa um caminho
De somente encontrar
Amor escondido e
Silêncios de dor.
A bala partiu.
Quebrando o encanto.
Sem volta, sem cores.
Apenas revolta.
Do amor incontido,
Que a bala matou.
Encanto quebrado, no
Retorno das dores.
Em perdidos recantos.
De vivos encontros.
Bala perdida é
Amor repetido.
Jaak Bosmans 8-12-08
Alma que ama
Você se torna parte de mim
quando sinto que meu coração bate diferente com suas palavras,
mesmo no silêncio.
Busco não acreditar que em amanheceres chuvosos ou ensolarados,
você ainda pode me estender a mão.
Não como anjo etéreo e suave,
mas como alma que ama!
E que me surpreende a cada instante
com sua maneira de ser e de não ser.
Jaak Bosmans
Cinecittà e os quadros por segundo.
Dentro dos meus olhos existem muitos espelhos.
Cada um deles reflete uma história.
Aquelas da infância ensolarada em dias de chuva.
Outras dos medos reais e irreais.
Muitas sem começo e sem final – arrancaram as páginas –
Assombrosas e alegres, sonhos e pesadelos.
Só como histórias que me fizeram,
Balanço entre inícios e finais de histórias inacabadas.
Tendo sempre um você que apenas fecha os livros.
Recomeço.
Porque meus olhos apenas piscam e os espelhos se refazem.
Novos reflexos
Novas histórias
Jaak Bosmans 8-12-08
Sou
Sou aquela pequena explosão estrelar
Multicolorida aos teus olhos ingênuos
Multi dolorido pelos sonhos desfeitos.
Sou a estrela cadente que alegra os teus desejos
Decadente em cada lágrima que te fiz derramar
Deslizando sem rumo na infinita escuridão.
Sou feito de brinquedos verdadeiros
Perfeito nos gestos desastrosos
De todos os dias que ainda me restam.
Sou todas as cores vivas já desbotadas.
Revelando apenas o branco de meus desejos
E o negro dos teus nobres despejos.
Sou ainda um pouco de esperança
De poder te encontrar numa dança
De novos acordes, ritmos perdidos
E a melodia que sou!
Jaak Bosmans 14-12-08
Pássaro ferido!
Faz bem calar frente às dúvidas
Sofrer todas as vezes que se tornam constantes.
Perdido em desencantos, ilusões e majestades.
Não me encanto com palavras escolhidas,
Prefiro os versos perdidos do silêncio.
Que me sangram em total prazer.
Que culpa tenho?
Percorro com vigor e qualquer coragem
Os campos onde posso correr em desalinhos
Em busca dos encontros reais
Raridades que em cantos solenes
Não se entregam à perversidade das almas.
Apenas ao sorriso leve, que sobrevoa sinceridades.
Que plumas tens?
E em direção ao arco-iris
Num único e derradeiro vôo
Atravesso por todas as suas cores.
Ali me tinjo apenas do branco.
Podendo ser paz, podendo ser nada.
Mas na certeza que contenho todas as cores.
Que liberdade!
Jaak Bosmans 16 -12-08
Estações
(ler ouvindo as “quatro estações” de Vivaldi)
Minha realidade sempre se transforma em sonhos.
Em tuas mãos suaves carregas minhas alegrias.
No brilho dos teus olhos sobrevoam gaivotas.
No sentir de teus dançares me retorço em chamas,
Me persigo em bandos e te abraço em solidão.
Minha realidade sempre se esconde em mim.
Ainda assim me esperas nas estações.
Dos invernos às primaveras percorres meu corpo.
Estendes teus braços sem nunca me alcançar!
Me repito em prantos, risos e pratos rasos.
Finais de outonos, ensaios de verão, vulcão em erupção.
Deixa que tudo não aconteça e espera pela realidade.
É quando nossos beijos se repartem em brilhos e se multiplicam.
Permanecendo imóvel o vai e vem das ondas do mar!
Minha realidade se parece muito com você!
Obs. Se for disco vinil, recite mais uma vez!
Jaak bosmans 19-12-2008
Capas
Mais que os presentes
A mim encanta seus embrulhos.
Caixas e papéis me divertem muito mais.
Seus brilhos, cordinhas e fitas têm sempre seus encantos.
Nem se importam se é festa.
Os adultos ali nem mexem.
Com eles sempre podemos brincar!
Rasgar, amassar, depois jogar fora.
Faz parte da brincadeira.
São apenas capas.
Como nós.
Jaak Bosmans 26-12-08
Perpétuo
Caminho por lugares vastos
Onde ouço apenas o arfar dos rochedos
Ali, onde a liberdade se fixa
Porque qualquer movimento é prisão.
As cadeias fortes das cordilheiras.
Algemam no seu ventre qualquer neblina.
Apenas a presença forte de qualquer sol,
Derrete e a liberta antes da condenação.
E do sêmen deste calor e liberdade
Rompe-se em nova aurora
Do fecundo e perpétuo grito
Um movimento, ainda que foragido.
Quietude da escravidão dos ventos.
Retorna aos mares a porção líquida e menor
Que se fez liberto de toda essa corrente:
A criatura, o criador e muita dor!
Jaak Bosmans 31-12-08
Desaparecer do dia
Foi no primeiro desaparecer do dia
Que com ternura e sonhos de aventura
Te abracei nas matizes que se fizeram em cores.
Olhei sereno o tempo e o espaço que se fundiram,
Num silêncio perfeito para a criação de um Éden.
Te criei em tanta beleza, que somente ali me permiti sorrir.
Correste ao encontro do mais perfeito jardim.
Colorindo as flores, fazendo cantar os pássaros, atrasando o tempo.
E no suave tocar de tuas mãos me fizeste sentir os teus desejos.
A todos satisfiz, porque a todos te pertenci.
E, em retorno pelo tempo e no espaço,
Ficaste ainda, no último desaparecer do dia.
Jaak Bosmans 1-1-09
Cupido errante
Vou por melodias e ritmos me perder
Em teus encantos, que não percebem
Cada compasso, circundando toda a sinfonia.
São flautas, violinos, harpas e percussão,
Que se encontram na ponta de uma batuta.
Seu olhar disfarça a dissonância
Que existe entre o meu acorde e sua voz
Ali no lugar do nosso encontro
A cortina sempre se fecha mais cedo.
Pelas mãos inocentes do cupido errante.
E o último acorde fica sempre no ar,
Onde lembra a despedida nos ecos do coração
E em moto contínuo, te espero no próximo compasso.
O compasso da espera, sem notas, só pausa.
Silêncio perdido entre as notas que se foram!
Jaak Bosmans 2-1-09
Por onde me procuras?
Por onde me procuras?
Entre as flores e as nuvens?
Não! Muito longe delas estou
Em paisagens campestres e silêncios?
Porque me procuras?
Acaso me queres?
Guardar-me?
Aprisionar-me em tão pequeno espaço?
Só posso existir na liberdade de ser.
Por onde me procuras?
Jaak bosmans 21-12-08