J. C. Costa
O berço
a madrugada é o berço dos gênios e dos loucos
das angústias
das traições
do esmeril soturno
da saliva alcoólica
a madrugada se inicia no primeiro copo
na lua que brilha
no colo do desconhecido
no oferecimento gratuito
a madrugada só termina quando não resta
mais coração
nem sentimento
ou qualquer casal
Moldura
o vestido não te faz
não tanto quanto teu corpo
o batom não te faz mais
não chega aos pés da sua boca
seu rosto não precisa de moldura
já és uma pintura
que eu desejo
nada enfeita mais suas bochechas como meu beijo
Presidente da sociedade dos homens sozinhos
Todo homem chora
nem todo homem ri
tanto tenta subir
ainda não aprendeu a cair
todo homem é pequeno
como um colar
precisa ser arrumado
como um lar
Todo homem é homem
erra e não se desculpa
mas no fundo sabe que errou
e prefere viver com a culpa
Todo homem gosta de mandar
gosta de liderar e reger
não aprendeu que a maior virtude é obedecer
O carnaval é do diabo
a festa da carne
do suor
do gosto
do povo
o feitiço que atiça
que belisca e trisca
e feito isca
vai e se joga
quando o eu sai do armário
tira do rosto
aquela peça de antiquário
põe na cara um sorriso
sem motivo
só por estar vivo
se o diabo criou isto
meus parabéns
muito agradecido