Ivo Terra Mattos

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⁠Por todas as vezes que eu disse: te amo, tenho certeza que não foram suficientes, ainda. Há quarenta e cinco anos eu te perguntei -"Quer namorar comigo? (naquela época era assim que as pessoas agiam), até hoje você continua dizendo que sim. Você é parte da minha alma.
Te amo.

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⁠História do Chicão Terra Mattos
Era uma manhã. mês de junho, chuva e frio. Debaixo de uma marquise, mas parecendo uma caixa de papelão, lá estava você. A principio pensei que estivesse dormindo mas você me olhou de um jeito, meio assim pedindo ajuda.. Me aproximei de você e vi que você estava ferido. Pensei que fosse acidente, pelo local, uma avenida movimentada, mas não, não foi acidente. Conforme o veterinário você foi brutalmente chutado. Quebraram a tua .perna.
Fazer o quê? Você estava sofrendo e precisava urgente de um veterinário e foi o que eu fiz. Os exames mostraram que não tinha sido atropelamento e sim, um chute que quebrou sua perna,na altura do joelho. Depois de uns 10 dias internado e após a alta, você veio morar na nossa casa, isto há 10 anos.
Um mês atrás, antes deste acontecimento, nosso cachorrinho, Xuxo Terra Mattos, havia falecido de câncer .Estávamos todos tristes em casa.. O Xuxo Terra Mattos, viveu 13 anos. Tinha toda uma história com a gente. , mas aí apareceu você e você amenizou nossas tristezas.
Você faz nossos dias, todos, diferentes..

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⁠sou o silêncio dos seus segredos
o medo da sua coragem
sou um pedaço da palavra adeus nunca pronunciada.
sou todas as voltas ocultadas nos seus desejos;
sou quase uma soma de nós. /i

⁠O trenzinho:
lá vai ele.
cheio de notícias boas, quem sabe
cheio de saudades, quase sempre
devagar...assim, na velocidade dos abraços saudosos...
contornando as curvas das lágrimas, brincando de esconde esconde nos túneis dos sonhos, demorando pra chegar

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⁠minha alma criança
ficou escondida nas aventuras
da minha infância.
hoje, já quase não mora mais em mim.
têm dias que se abraça nas lembranças de outrora
e brinca de heroína nas batalhas
imaginárias dos meus sonhos de menino. Ivo

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⁠Pequeno Delito.
Em 1953, onde foi a Olerol, era uma acampamento de uma empresa que estava construindo a Rodovia (asfaltando) Havia várias casa. Umas mais simples e outras um pouco melhor que eram destinadas para os engenheiros, acho. Como qualquer moleque da minha idade, 6/7 anos eu me maravilhava com aquele vai e vem de máquinas. fazendo estrada e jogando aquelas mistura de pedras que depois eram cobertas com piche, deixando aquele cheiro de óleo diesel no ar. O dia era curto.
Uma noite acordei com minha mãe me chamando. Estava pegando fogo numa das casa do acampamento. Como era uma casa bem simples, cobertura de sapé, queimou bem rápido. Na manhã do dia seguinte eu encontrei várias garrafas derretidas parecendo figuras de bichos. Guardei algumas como relíquia. Eu tinha um esconderijo, uma caverna, que ficava debaixo do assoalho da nossa casa. No esconderijo ficava meus tesouros. Tinha estilingue, pião, faquinhas feitas de serra, bolinhas de gudes, um canivete corneta, coisa rara. algumas pedras coloridas e agora os vidros com aspectos de bichos.
Eu dividia o tempo em duas partes; de manhã ficava vendo as máquinas trabalharem e a tarde fuçando pelo acampamento, subindo e descendo nas máquinas quebradas me imaginando operando aqueles monstros.Vez ou outra eu dava uma inspecionada nas casa dos engenheiros. Numa dessas "fuçadas" achei uma casa com a janela da cozinha aberta e, como não podia deixar de ser, olhei e vi, sobre a mesa, uma lata de abacaxi.; Uma coisa inimaginável para nosso poder aquisitivo familiar . Me afastei rápido dali, mas algo me puxava de volta. Entre idas e vindas, numas da vindas pulei a janela e levei a lata de abacaxi, que por um dia, passou a fazer parte do meu tesouro. No dia seguinte, aquela máxima que diz que o criminoso sempre volta ao local do crime, atuou e lá estava eu observando o movimento. Tudo calmo,nada de anormal, janela aberta e no local da ex lata, um vasinho com flores. Esperei mais um dia para dar fim naquela tentação. Tive que dividir uma boa parte com as formigas, mas faz parte. Dei fim na lata e voltei a ver as máquinas que comiam e vomitavam terra
Eu me confessei alguns anos depois. Fiz um combo de pecados e entreguei nas mãos do padre. Aquelas mesmas mãos que um dia eu beijei com a boca cheia de manga. Claro que esse pecado não foi o maior, mas ele só perdia para os da figurinhas. /i

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⁠Depois deste tempo e se houver outros tempos, fique comigo. Não me deixe ir embora de você nunca mais. /i

⁠O menino de cabelos de anjo
No segundo ano primário. veio estudar na minha classe um menino que era filho de uma família circense. Esse circo ficou muito tempo em SM. Minha irmã, Madalena, fez até alguns papéis de Nossa senhora em uma das peças que eles apresentavam, isso me permitia entrar de graça. Mas voltando ao menino. Então,o menino devia ter a mesma idade minha, uns 8 anos. A unica diferença era o tratamento que foi dispensado a ele pela nossa professora, que sei o nome, mas não vou dizer. Ela, depois que esse menino veio estudar na nossa classe, simplesmente esqueceu do resto da classe. Tudo era para menino. --"Ela dizia que ele era o mais bonito."Que Ele parecia um anjo", ah, era limpinho...,, ´´E verdade.ele era louro dos cabelos encaracolados e cheirosos, como dizia a professora. Um dia, nós vimos; ela botou ele sentado no colo e ficou alisando os cabelos dele.Todos os dias era a mesma situação., Quando algum outro aluno tinha alguma duvida e perguntava para ela, além de chamar o aluno de burro ela jogava o que tinha na mão, giz, régua, apagador, etc. Era um bagunça generalizada na classe.
Enquanto o circo ficou em SM, foi aquilo. Um dia, o circo se foi e o anjo sumiu da nossa classe. Eu, hoje, cheguei a seguinte conclusão: nós:, feios, fedidos, cabelo cortado bodinho (mais fácil para catar piolho), descalço (grande parte), o guarda pó mais azul do que branco, e mais, a gente vivia grudando tatu debaixo da tampa da carteira e comendo a borracha do lápis.., queria o quê?
A unica coisa que ficou do menino anjo, para a professora, acho, foi a saudade dele, Vez ou outra ela ficava olhando para a carteira que ele sentou, e ficava assim, meio que suspirando de saudades../i

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⁠ma vez, mês de junho, dia bem frio, eu e mais dois meninos, pegamos uma lata vazia, colocamos estopa embebecida em óleo diesel, (dois deles trabalhavam na oficina mecênica e eu no auto peças) e fizemos um fogueira para esquentar do frio, que estava bravo. Naquela época, a roupa era bem simples, Normalmente a gente usava um calção de elástico,uma camiseta e uma blusa de flanela, que nossas mães mesmo faziam. Descalços e da canelas cinzentas. Estávamos por ali, com frio, mas dando risadas, se divertindo, quando chegou um menino, filho do dono, com uma roupa totalmente diferenciada da nossa. Estava de luvas, uma bota, gorro na cabeça e um cassaco, azul. Ele olhou pra nós, riu da nossa situação e perguntou: --Vocês não te roupa de lã, não? Lã? Que que isso? .Ele permaneceu um tempo, ali, tentando se entrosar, mas ele só tinha a roupa de lã.ele não era igual a gente, jamais seria. /i

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⁠CESTA DE NATAL AMARAL.
Houve um época, que o charme em Santa Mariana era,
no final do ano, comemorar o natal se deliciando com os produtos que vinham dentro das famosas, "Cesta de natal Amaral.". Então, nesse tempo., com meus 9 anos de idade, ela era meu o sonho de consumo. Sonhava com aquela maravilha. Havia propaganda nas emissoras de rádio, No alto falante do bacarim,Nos carros de som pelas ruas da cidade, que divulgavam a bendita cesta. Você podia compra-la no inicio do ano e ir pagando mês a mês, até chegar o natal.
Próximo da nossa casa, havia uma família, classe alta, que comprou uma cesta daquela.,a maior, numero cinco.,( quanto maior o numero maior o tamanho da cesta). Fiquei o ano todo esperando a chegada do caminhão que fazia a entrega. Meu desejo era ver se era verdade e se tinha tudo aquilo que eles mostravam nas propagandas, dentro da cesta, isso, claro, se o meu vizinho permitisse . Num belo dia, final do ano, eis que chega a tão esperada cesta. Uma festa na nossa rua. Moleque pra tudo quanto era lado. .Eu, como morador vizinho, me sentia meio sócio do objeto, com direito até à descrever alguns detalhes da referida Cesta.. Naquela noite, depois de uma espera angustiante, me foi permitido olhar dentro daquela coisa linda.mas só por cima sem tocar em nada. Depois de aberta, eu vi: havia uns enfeites de papel celofane vermelho., e do meio dele dava pra ver as pontas dos litros: do vinho, dos espumantes / champanhe, suco de uva.,Tinha também castanhas. Mais para o fundo, os donos remexerem e apareceu, debaixo do papel vermelho, uma maravilha., uma obra prima muita linda.Era uma lata redonda. Na tampa, as figuras desenhadas daquilo que vinha dentro. Eram quatro desenhos no formato de triângulos, com as bordas arredondadas. Não teve jeito, pedi para segurar aquela maravilha..,relutaram mas deixaram que eu segurasse por
alguns segundos, aí eu pude ter nas mãos aquela lata magica . Olhando para ela, deixei que a minha imaginação viajasse e eu pudesse saborear, um pedaço por vez, da goiabada, da marmelada, do figo e do marron glace, que fiquei sabendo o nome naquela noite., pra mim era batata doce..Alguns dias depois, fuçando no entorno da casa do vizinho, meus olhos se depararam com ela--ela mesmo!, a lata. Aquela obra prima, ali, jogada,vazia, como se fosse uma coisa qualquer. Por alguns segundos, fiquei, ali, olhando pra ela, meio consternado pelo fim que ela teve.. Muito tempo depois, alguém da minha família comprou uma lata igual àquela, e eu pude conhecer o sabor daqueles doces. mas não era natal. e nem era da Cesta de Natal Amaral./i

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⁠O primeiro carro da familia Mattos (nossa)
Um dia especial, um sábado. Então, , ali estávamos nós; eu, meu irmão Mauricio (in memorian) e o Fusca, este ainda meio cansado da viagem, que tinha sido cansativa e cheia de aventuras, O Fusca, ainda quente da viagem, vez ou outra dava o ar da graça com uns rangidos e pequenos tremores. Mas como começou esta história, que ocorreu há muitos anos ? Foi assim:
Depois de um tempo em São Paulo, meu irmão conseguiu comprar o primeiro carro da família.(lado pobre) Como não podia deixar de ser: um Fusca 67, azul , muito lindo, o mais lindo do mundo. No dia da compra nem trabalhamos direito. Aquela espera angustiante de estar com o carrinho. Era quase noite quando meu irmão pegou o dito cujo. Tudo certo. Ajeitamos as nossas malinhas na porta mala, A gente, naquela época, tinha mais felicidade do que coisas para carregar. Pegamos os nossos convidados, três, e.... estrada. Assim que escureceu, cadê a luz dos faróis? Uma claridade bem fraquinha, mas nada que um eletricista de estrada não resolvesse. Um par de faróis "tremendão", moda na época, que custou uma boa parte das nossas economias reservada para a viagem. Resolvido o problema, pegamos estrada novamente. Só alegria. Depois de viajarmos uns 250 km mais, próximo à Avaré, um pequeno problema? Furou um pneu. Coisa simples de resolver, só trocar e seguir viagem e, boa. Abre capô, tira as malinhas. Eram tantas que cobriam o estepe. Estepe na mão, vixe! vazio. Na pressa da viagem não verificamos as condições do referido pneu... Madrugada, fria, Mês de junho e nós lá, eu e mais um amigo pedindo carona para chegar até um borracheiro, sabe lá aonde. Depois de uns minutos, parou um caminhão cegonha. Aquele que carrega carros. Sem muitas explicações, o motorista do caminhão mandou que subíssemos na carroceria. Se Parado já está frio com o caminhão em movimento a coisa piorou e muito. Rodou uns dois quilômetros, parou e nos chamou para dentro da cabine aquecida. Logo encontramos um posto com borracharia e restaurante. Enquanto arrumava o pneu aproveitamos para tomar café. O motorista, igual a todos motoristas de caminhão, conhecia todos os outros motoristas de caminhão e logo encontrou um que estava indo no sentido contrário ao dele. Ficou fácil, O outro motorista nos deixou perto do fusca e ainda ficou com os faróis do caminhão acessos para facilitar a troca do pneu do fusca. Ao sair, enchemos ele de agradecimento e... estrada novamente. Como morávamos todos em Santa Mariana, a distribuição dos três amigos foi rápida.
Sempre que voltávamos para nossa casa, saindo de São Paulo, a gente avisava nossa mãe. Que castigo!! Ela ficava `a noite toda nos esperando. Mas fazer o que? Mãe é mãe. Bem, dormimos um sono rápido, café de bule, e a missão maior: mostrar o fusca para cidade. Afinal, ele era o objeto de desejo para muitas pessoas. Era muito difícil ter um carro naqueles tempos. O coitado do fusca ainda estalava, resultado da viagem longa. Azar do fusca, tínhamos coisa a fazer. E lá Fomos nós! Meu irmão dirigindo e eu de carona. Paramos em frente ao Cine Plaza e ficamos do lado de fora com aquele sorriso de felicidade, igual ao de criança quando ganha presente. Não demorou muito e chegou um conhecido(nome deletado por ordem judicial)., Para o nosso padrão de vida, da época, ele era milionário. Nem cumprimentou a gente. Ficou olhando para o fusca e fez a pergunta ferina: --"Ué, a firma que você trabalha deixa você viajar com o carro dela ? Tudo bem que o carro ainda não era da família Mattos lado pobre,. Era da financeira e faltavam vinte e quatro prestações, de um numero de vinte quatro para serem pagas, mas ele não precisaria ser tão maldoso. Tirou nossa alegria. O dia ficou triste. Perdemos a vontade e voltamos para casa, ficar perto da mãe. //I

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⁠Histórias que vão construindo uma vida. II
Depois de ficar uns três meses parado, gastando muito e não ganhando nada, surgiu uma possibilidade de eu voltar a trabalhar na área energética. Foi assim: Um dia conversando com um amigo, que trabalhava em uma empresa de equipamentos de segurança e que tinha como clientes empresas do setor energético, ele me falou sobre uma firma de São Bernardo do Campo, fabricante de escadas para a área energética, com pretensões de entrar no mercado de linha viva;.minha área. Meio ressabiado e ainda com a decepção da última empresa, não botei muita fé, mas considerando que eu precisava urgentemente voltar a trabalhar, fui conversar com o dono da empresa, Era um senhor de mais ou menos 60 anos, cheio de ideias mas pouco capital para o empreendimento. Os equipamentos de linha viva, o melhor, o maquinário para a fabricação das ferramentas era caríssimo e pior, não era fabricado no Brasil. Passamos algumas horas conversando. Ele me mostrou a fábrica, aliás, duas fábricas. Junto à de escadas, grudado, tinha um outo galpão enorme onde era fabricado escadas doméstica e tabua de passar roupas, linha voltada mais para setor doméstico. Como eu estava parado, sem trabalhar há algum tempo,fizemos um acordo de experiência no setor elétrico/telefônico. O salário era bem inferior ao da última empresa, mas a situação não era para regatear. Iniciei com um trabalho de divulgação das escadas junto às cias. Elétricas. Como eu havia trabalhado muito tempo com esses clientes ficou fácil de desenvolver o trabalho. Na sequência fui para o setor telefônico.
A pedido das empresas do setor elétrico desenvolvemos algumas escadas especiais, montadas sobre veículos e com esse tipo de equipamento eu voltei a viajar, claro, muito menos do que antes. Com o tempo, e com a dispensa de um gerente da área doméstica eu acabei assumindo a parte comercial das duas fábricas. Um dia eu estava na minha sala conversando com minha esposa quando o senhor João, dono da empresa, entrou e ouviu parte da conversa. A minha sogra estava muito doente, internada num hospital em Osasco. A preocupação era muito grande com o estado de saúde dela e para piorar, o hospital de Osasco era muito ruim, Minha sogra estava piorando dia a dia. Quando ele ficou sabendo da história, ligou para o hospital de São Caetano, e falou com o diretor do hospital, seu amigo e relatou a situação da minha sogra amigo --"Qual o nome da sua sogra e qual hospital ela está internada? Passou os dados para o amigo dele e me falou: vamos tirar ela de lá"". E assim foi feito. Durante 30 dias ela ficou internada no Hospital de São Caetano. Saiu curada, super bem. --E a conta Sr.João?? Como vamos pagar? -- "Não se preocupe. Na hora que chegar damos um jeito nela, me disse ele.--" Um dia a conta chegou . Eu nunca soube o valor. Ele não me deixou ver.. Fiquei sabendo que ele ligou para o Hospital, conversou com o diretor e em seguida carregou um caminhão com uma grande quantidade de tabuas de passar roupas, banco escada, escada metálica e escada de alumínio, mandou tudo para o bazar beneficente do Hospital. O tempo foi passando e continuávamos nosso dia a dia. Vez ou outra Viajávamos juntos para visitar clientes, principalmente para o Rio Grande do Sul. Ele adorava Caxias do Sul.
Um dia a telefonista me passou uma ligação. Era o diretor de uma firma que trabalhava para a Cesp. Centrais Elétricas de São. um empreiteiro. Dr. Rubens era o nome dele. Atendi. Ele me disse que era um assunto confidencial e se eu podia estar com ele no dia seguinte. Conversei com Sr João, falei que uma empresa tinha me contatado e que queria conversar comigo, mas eu não sabia do que se tratava. Na manhã seguinte fui direto conversar com o Dr. Rubens. Chegando na portaria da empreiteira, me identifiquei e pedi para falar com a pessoa que estava me esperando. O porteiro me disse: --não tem nenhum Dr. Rubens, aqui. "Claro que tem, ele marcou uma reunião comigo, disse eu. Nisso ligaram para o porteiro, pelo telefone interno. Depois de atender, ele me falou que tinha se enganado, disse: ele vai te atender. Na conversa que tive com o diretor, Dr. Rubens, naquele dia, ficou claro, para mim, que havia alguém querendo me contratar, mas não era ele. De dez palavras que ele falava, oito era sobre a Munck. (A Munck foi a maior fábrica de guindaste da América do Sul.) A fábrica era em São Paulo. Possuía filiais no México e na Argentina. Distribuidores em todos os países da América do Sul e uma operação em Londres que atendia o Oriente Médio. Uma grande fábrica. Bem, depois de uma conversa informal, sem compromisso, deixei claro que não me interessava a proposta, mas dado a insistência lhe disse que eu ia pensar e daria um retorno no outro dia. Sai dali e me dirigi para o meu serviço. No caminho concluí que, quem estava querendo me contratar era a Munck e não aquela empreiteira. Do meu serviço, liguei para a Munck e pedi para falar com o dr. Rubens. a telefonista perguntou quem queria falar eu me identifiquei, depois de alguns segundos ele me atendeu. Não falou nada, só me perguntou quando que eu poderia passar na fábrica da Munck. Aí mudei de vida, novamente. A história segue qq hora. /i

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⁠Histórias que vão construindo uma vida. III
Ano 1981 - Fev.hora 8 da manhã. Local: Munck
Cheguei no horário para a reunião com o dr. Rubens. Conversamos sobre o ocorrido no dia anterior, quando então, ele me explicou a razão de ter marcado a reunião em uma outra empresa e não na Munck. Disse que foi em função de eu estar trabalhando, ele não queria ser deselegante com a outra empresa.
Na reunião não me senti muito bem. Parecia que eu estava solicitando o emprego
e não eles me querendo contratar. Quando falei da minha pretensão salarial, o seo Munck me disse que a empresa não poderia pagar aquele salário (primeiro impasse). Bem, então continuo no meu emprego e vocês procurem uma outra pessoa para o cargo. O serviço que eu iria fazer, e fiz, era junto à Cesp Centrais Elétricas de São Paulo: homologar um equipamento, denominado "Cesta Aérea”.(um guindaste montado sobre caminhão, que eleva os eletricistas e os coloca diretamente em contato a rede energizada, linha viva). Naquela época havia, por parte do governo brasileiro, um protecionismo muito forte para tudo que era fabricado no Brasil. Este equipamento, o que a Munck estava desenvolvendo, não passava nos testes mecânicos, exigidos pelas normas de segurança, mas o governo não liberava a importação e mais, havia um impasse: mesmo a Cesp querendo contribuir com a indústria nacional, ela precisava efetuar a compra com segurança.
Voltando a reunião, aquele dia, não houve acordo em minha contratação. Passado uns dois dias, a Munck me chamou novamente e aceitaram minha proposta, mas eu fiquei com a impressão que eu corria o risco de, após a aprovação pela Cesp, ser despedido. Era um risco que eu teria que correr. O desligamento do emprego que eu tinha com o sr. João foi traumático. Me lembro que ele me abraçou e disse: -- Vai ser melhor para você, vai, vai sim! E este serviço, linha viva, é o que você sempre quis. Se não der certo, é só voltar, as portas estarão sempre abertas. //

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⁠Histórias que vão construindo uma vida. IV
Começando uma outra história.
O sr. Munck foi um empreendedor visionário . Ele era norueguês, amava o Brasil. A Munck chegou a ter quatro fabricas, com mais de mil funcionários. O grupo possuía escolas profissionalizantes para os funcionários e seus filhos. Médicos e dentistas nas dependências das fábricas. Plano de Saúde, de salários, gratificações etc.. No meu segundo ano,trabalhando na Munck, ganhamos uma concorrência internacional, na Venezuela, Competimos com empresas americanas e canadense.
O Senhor Munck faleceu em 1985., O filho mais novo, dos quatro que ele possuía, assumiu a presidência da empresa. Por varias vezes eu pedi demissão. Não me dei bem com ele. Eu tinha um projeto de trabalhar por conta própria, mas todas às vezes que eu pedia demissão ele me convencia a não sair. Na última,1985, ele me passou a gerência da área comercial da fábrica. Passei, então,Junto com os equipamentos de linha viva a gerenciar a parte comercial dos outros equipamentos que a Munck fabricava, administrando toda a área de distribuidores do Brasil e mais os vendedores, (cinco engenheiros mecânicos) que atendiam São Paulo capital e o interior do estado. Fiquei na Munck até 1990, foram nove anos de trabalho
A Munck desenvolveu seu equipamento usando como modelo um equipamento americano. (Até hoje somente três países fabricam esses equipamentos, Brasil, Estados Unidos e Canadá). A parte metálica do equipamento estava pronta, o problema estava na parte isolante,feita em fibra de vidro. A técnica estava nas mãos dos americanos e canadenses. No Brasil somente uma empresa tinha a técnica, a mesma que eu tinha trabalhado e ela jamais iria ajudar a a Munck, pois nos estados unidos ele fabricavam o equipamento concorrente. Depois de várias tentativas sem resultados positivos e com o tempo passando, não tive dúvida, fui atrás do meu amigo, (aquele que foi meu instrutor de linha viva e que possuía uma empresa com condições de fazer as peças em fibra de vidro que a Munck precisava). Durante um mês e depois de vários testes de resistência dielétricas (isolantes) e mecânicos, as peças estavam prontas para serem acopladas no equipamento. Os testes do equipamento demoraram uns três meses e já se passando quase seis meses do meu início na Munck o equipamento foi aprovado.
Depois das propostas comerciais Cesp efetuou a compra dos primeiros equipamentos, (cesta aérea) com isolação para trabalho até 138 kW, totalmente brasileiro =, uma vitória.
Quando fui buscar o pedido para doze unidades com valor aproximado de um milhão de dólares, com sinal de 30% no pedido , havia toda uma especificativa para "botarem a mão no pedido e no cheque, .Primeiro, pelo investimento,que tinha sido bastante custoso para o desenvolvimento do esquipamento, segundo, passar a ser um fabricante de cesta aéreas, o que lhe permitiria atender outros clientes no Brasil e fora do país
Depois que a Cesp homologou o equipamento, iniciou uma nova fase. As outras empresas passaram a adquirir os equipamentos da Munck (cestas aéreas) e na sequencia empresas da America do Sul, que até então compravam dos Estados Unidos e do Canadá.
No final do ano, comemorando as vendas de todos os equipamento, tinha sido um bom ano para a Munck, ele fez um deferência muito especial para o setor de cestas aéreas.
Depois disso passei a viajar para atender, especificamente os usuários desse equipamento, no Brasil e fora,
Trabalhei na Munck até 1990. /i

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⁠Os dois meninos.

No segundo do primário, acho, alem do menino com cabelos de anjo, tinha um outro menino, Este filho de fazendeiro.. Todos os dias, um carro da fazenda trazia e buscava o menino fazendeiro. O motorista ficava em frente ao portão da escola esperando.
Teve um tempo em Santa Mariana, quando a cidade não tinha asfalto, era necessário jogar água nas ruas para diminuir um pouco a poeira. Isso era feito por dois caminhões, chamados de "regador ". Eles lançavam jatos de água sobre a poeira e por uns tempos amenizavam aquele “poeirão.” Esses caminhões eram abastecidos de água no lugar onde eu morava,,o local era chamado de bomba d água. Vez ou outra eu pegava uma carona com eles. Um era operado pelo Senhor Luiz, pai da Leonilda o outro pelo Senhor João pipoca. Um belo dia, bem no horário da saída das aulas, passando na minha frente: la estava o Senhor o João pipoca.Ele para o caminhão e me chama. Imaginem a cena: aquele menino, filho de fazendeiro , com sua prepotência, olhando para o caminhão "regador", e como, todos meninos da nossa idade, admirando a operação. Ele me viu subindo na cabine do caminhão e ficou me olhando com uma inveja danada, porque, de todos aqueles meninos, somente eu tive o privilégio de me sentar da cabine. Fechei a porta, botei o bracinho para fora e por uns segundos fiquei mais importante do que eles: o menino de motorista particular e também do menino com cabelos de "anjo"./i

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⁠O carroção e a bicicleta.
Meu pai, na década de quarenta, foi carroceiro. Trabalhava numa fazenda, aí em Santa Mariana. O serviço dele, conforme ele nos contava, consistia no transporte de cereais de Santa Mariana para Cornélio Procópio ou vice versa. A carroça ou carroção era tracionado por seis burros. Todos com nome. Muitos anos passados ele guardava o nome de cada um deles, Aquilo era um trabalho bastante pesado. Como ele dizia, cada "viagem" era uma aventura. Ele conduzia aqueles animais com um chicote que, dizia ele, tinha uns quatro metros de comprimento. Detalhe, estalava sempre próximo do animal, que respondia com mais força no trabalho. Ele nunca judiava dos animais.Uma vez, conforme a história dele, choveu o dia todo. A estrada praticamente deixou de existir, estava intransitável. A carroça já tinha atolado várias vezes, e como estava bem carregada de sacaria, chegava a encostar o eixo no chão. Naquela lida, barro, chuva,frio, trovões e raios, que não paravam, os animais já ofegantes, cansados e como dizia ele:. bufando fumaça, continuavam tentando tirar a carroça do atoleiro. Foi quando ele começou a escutar um barulho de alguém andando de bicicleta e o barulho foi chegando,mas dado a escuridão, um breu,dizia ele, nada se via, mas o barulho foi aumentando,e Quanto mais próximo, mais os animais ficavam inquietos e até zurravam, De repente um raio muito forte clareou grande parte do local onde ele estava e ele pode ver a bicicleta passando ao lado dele, normalmente, no barro e sobre ela um vulto todo de branco com umas luzinhas no lugar dos olhos. Bem difícil de pegar no sono,depois que ele contava essa história. Vai saber!

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⁠Que coisa, né?
Nas festividades do incio dos anos setenta, acho que 1972, eu meu sobrinho estávamos regressando para SP, depois de haver passado as festas em SM quando aconteceu esta história: Naquela época,a rodovia até Avaré era pista simples, depois que começava a Castelo Branco. Era comum a gente parar no ultimo posto, antes da CB. para abastecer de combustível e fazer um lanche. Naquele dia, do meu lado, carona, parou um outro fusca com quatro meninas, jovens e muito bonitas.. Começamos a jogar conversas fora e, depois de abastecer os fuscas, paramos num estacionamento, ali mesmo no posto e fomos nos apresentando.Detalhe:, no vidro do fusca, delas, atrás do banco do motorista, tinha um papel grudado, com os nomes das quatro, que dizia mais ou menos assim: A,B,C e D desejam um feliz ano, etc. Eu, quando me apresentei, ,disse que era estudante de engenharia, o meu sobrinho, estudante de medicina, Elas também foram se apresentando e dizendo que curso faziam, exceto uma, aí eu perguntei; "e você, como é seu nome? ela foi próximo ao carro e mostrou, no papel, um desenho. Uma desgraça de um desenho que acabou com a nossa viagem e disse: este é meu apelido, apontando para aquele bicho, desconhecido para nós, até então.... Depois de darmos umas olhadas para o céu, dar uns chutes no chão, disfarçando aquele incômodo, fomos nos afastando do carro delas sem antes ter que ouvir elas rachando de rir.
Pegamos a estrada, cuidando para não vê-las e fomos confabulando, tentando adivinhar que bicho era aquilo, . -"Será que o apelido dela é ripinha, balaustra, etc e mais algumas besteira? . Passado alguns dias descobrimos que aquele desenho nada mais era do que o simbolo do Pi, traduzindo era o apelido dela. Acho que ela devia se chamar Jupira e não gostava do nome.
Eu podia ter contado esta história antes, mas tive que ter a anuência do Newton Roberto Gobis, meu sobrinho, um cara de bem com a vida e de quem eu gosto muito
Claro que as mentiras foram uma brincadeira de momento, mas dado a situação constrangedora que aconteceu, nem tivemos tempo de consertar a burrice, o que não iria resolver em nada, nós não iríamos saber mesmo o significado daquele "bicho"e, talvez, a situação ficasse pior.

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⁠Um doce de vó.
Minha vó morava perto do campo de futebol. Era comum, depois de brincarmos no campo que ficava no local onde é o colégio hoje, passar na casa dela. Uma vez, eu e mais um amigo, achamos uma bola de capotão furada e com o couro bem desgastado. Demoramos um tempão para arrumá-la e poder brincar. Fomos, então, até a casa da minha vó, onde existia um quintal bastante grande. Marcamos o gol com nossas camisetas e começamos a "chute em gol". Bate três e depois troca o batedor. Na troca de jogador, minha vó apareceu no nosso campinho com uma faca nas mãos, pegou a bola e furou umas dez vezes a coitadinha., sem antes dar uns cloques na minha cabeça com seus dedos duros. . Acabou com a festa. Passados uns dias eu encontrei a bola que ela havia"matado". Estava jogada debaixo do assoalho da casa dela. Ressuscitei aquele pedaço de couro..Chamei meu amigo, de "bater falta", fizemos um enxerto, agora com areia,e a colocávamos num ponto estratégico da rua, onde existia mais alguns meninos e fingíamos que estávamos jogando. Logo aparecia alguém querendo mostrar suas habilidades em "faltas" e chutava a bola. Aquilo era tudo que queríamos, nós e os outros meninos que já conheciam aquela brincadeira. Um dia, um menino bem maior do que nós, depois de quase torcer o pé, deus uns tapas nos menores, incluindo ali, eu e meu amigo batedor de faltas, pior, ainda levou nossa bola de areia embora. /i

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O comprador de ovos.
Eu tive um amigo, quando criança, que vendia ovos. Ele era mais velho que eu. Ele percorria os sítios da redondeias com ser carrinho de madeira (um caixote) e ia comprando a "produção" q depois ele vendia na cidade. Uma vez ele me convidou para ir com ele, eu e mais um amigo em comum. Saímos cedo. No caminho ele foi explicando o processo que ele usava. Bem mais complicado do que o de frutas, que era bastante simples que consistia em colher um cento de mexerica, botar no carrinho, pagar e voltar para a cidade e já começar as vendas. Ah, e a gente podia comer à vontade nos pés, diferente de ovos que você não podia comer. O dono, (sitio dos Geraldo) uma pessoa que tinha o coração maior do que ele, nunca contava o que a gente colhia. Uma vez eu troquei uma espingarda de pressão por uma cabrita com ele, mas isso é outra história; Mas então.. o mercado de ovos funcionava assim: havia a compra com entrega imediata e com entrega futura. Era aquele sistema que mexia com nossas cabeças, , --"quando acontecer, vocês vão entender" na prática fica mais fácil, disse ele-". E lá fomos nós acompanhando ele, torcendo para acontecer uma compra futura. Acho que no terceiro vendedor aconteceu. O nosso amigo comprou uma dúzia e levou somente seis ovos. Num outro ele pagou seis ovos e levou uma dúzia. Foi então que entendemos aquele mercado. Meio complicado, diga-se de passagem. Ele adiantava o dinheiro quando as galinhas, por algum motivo, desconhecido por nós, não liberavam a produção, mas o vendedor precisava do dinheiro, então ele completava numa próxima negociação. Com aquele sistema ele prendia o vendedor, que não vendia para outro comprador .
Depois daquela aula, na volta ele veio nos contando sobre um rio que existia por alí e que, infelizmente, iríamos ter que atravessá-lo, e pior, a ponte era muito estreita e tinha sido construída sobre a parte mais funda do rio. Vez ou outra ele dizia: --"Escuta só, o barulhos do rio,tá lá bufando! igual a um bicho."- era com tanta criatividade, que passamos, também, a escutar o "bufo" do rio. Quanto mais perto, mais aumentava nossa curiosidade. Quando chegamos, era só risadas, Crianças riem de tudo. Era um riozinho, (rio balaio, para quem é da região) que tem menos de dois metros largura, mas naquele dia era como se tivesse cem.

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⁠Te preservei do jeito que você era para eu ficar do jeito que eu era!

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⁠Aquele tempo da minha vida, que um dia te pertenceu, me traz tantas saudades, hoje.(idm)

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⁠bom velhinho.
Toda vez que chegava o natal era sempre a mesma conversa -- "papai noel este ano não vai poder passar por aqui". Nunca podia. Num naqueles natais alguém falou que era necessário deixar os sapatos na janela que " o bom velhinho" colocaria o presente dentro. Sapatos? Que sapatos? Outra vez falaram que ele vinha pela chaminé, mas na minha casa não tinha chaminé. -"Ah, Então era esse o problema. Não era culpa do papai Noel, a culpa era nossa que não tínhamos os requisitos necessários para recebe-lo-". Chegava o dia vinte e cinco e nós, outra vez, com cara de pedinte. Nada de nada. Fazer o quê?A gente usava a criatividade. Íamos para cidade, (morávamos retirado da cidade) e ficávamos vendo as crianças brincarem com seus brinquedos, deixados pelo papai Noel. Eu pensava: As casas delas têm chaminé e e todas elas têm sapatos.Era isso.
Algumas crianças até deixavam a gente ver os brinquedos, mas com a promessa de não tocar para não sujar. E assim era nossos natais. Num natal, eu já mais velho, com mais ou menos 8 anos, resolvi que a coisa não podia ser daquele jeito. Então, numa manhã de Nata,l Fiquei no jardim, em frente à igreja, vendo as outras crianças brincarem com seus brinquedos. Umas com bolas, outras com bicicletas e as meninas com bonecas. Mas tinha um menino que superava. Ele estava brincando com um jipe de pedal. O jipe era verde com um a estrela branca no capô. Não tive dúvida, tomei o jipe do menino. "emprestado." Ele era bem menor do que eu. Pequei o jipinho e andei por todo o jardim. Fiz derrapadas, freadas, disputei corridas com outros meninos que estavam de bicicletas. Fiz o diabo com o brinquedo. Quando devolvi o jipinho para o menino, depois de estar cansado de andar, olhei para ele e ele estava sorrindo. Ficou meu amigo. Sempre que eu queria andar no jipinho, eu ia até a casa dele e deixava ele brincar com meus brinquedos: um pião de madeira, feito por mim mesmo e que ensinei ele jogar, um bilboquê feito de lata de tomate, um monte de bolinhas de gude e rodar arinho. Vez ou outra eu levava uns besourões de chifres e ficávamos brincando, fazendo os bichos puxarem umas caixas de fósforos carregadas de areia. Acho que papai noel nem conhecia aqueles meus brinquedos. /i

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⁠A Cabrita
Nada para mim, quando criança, foi fácil. Conseguir a minha primeira bicicleta foi uma luta. Tudo começou com a compra de um relógio Omodox na relojoaria do Sr. Pedro. Devo ter ficado com ele uns 10 dias. Em seguida troquei por uma espingarda de pressão e no mesmo dia por um relógio seiko. No dia seguinte troquei o relógio por uma espingarda de cartucho que fiquei com ela por uns 30 dias.
No lugar onde eu ia caçar; um sitio, nós, moleques, chamávamos de "os claudio", (era onde a gente comprava frutas para revender nos dias de chuva) o dono queria porque queria a espingarda. Dinheiro ele não tinha, mas tinha várias cabritas e me deixava até escolher uma. Não deu outra. Deixei a espingarda e vim para minha casa com uma cabrita. Imaginei que na minha casa todos iriam ficar feliz com a cabrita, ledo engano. , minha mãe quis me matar; me expulsou de casa com cabrita e tudo. Fiquei ali, na rua, olhando para a cabrita e ela para mim. Depois de um tempo a levei para pastar e tomar água no rio arara. Voltando para casa e sem saber o que fazer com a cabrita, porque, conforme minha mãe; em casa ela não entrava, fiquei, então, andando com a cabrita pelas ruas. De repente escutei uma voz dizendo --"ei, quer vender essa cabrita? Quando olhei, vi um menino, mais velho que eu, em cima de uma bicicleta, toda cheia de acessórios (buzina campainha, espelho retrovisor dos dois lados, fitas nas pontas do guidão e mais, uma luz que acendia pelo dínamo no pneu)., aquilo era tudo que eu queria. Respondi que não, mas podia fazer uma troca. Ele olhou para mim, pensou e perguntou: --
--"que mais que você tem, fora a cabrita?
--"tenho um canário belga e uma colerinha., respondi.
--"dobrando? (cantando) (
--"sim! Os dois."
--"me deixa ver
--"Negócio feito"
Depois de algum tempo, o menino que ficou com a cabrita, me disse que a cabrita não era ela, era ele, ou seja, era um bodinho, mas que foi até melhor. Me disse que ia fazer uma carrocinha e ensinar o bodinho a puxa-la. Acho que isso era gozação dele, mas sei lá..
E foi assim que eu consegui a minha bicicleta.//Ivo

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⁠A camisa Xadrez
Foi num filme que a vi. Era a camisa dos meus sonhos. Xadrez, de gola com botão, para usar por fora da calça.
Fui na Casas Pernambucanas, achei um tecido bem parecido; xadrezinho vermelho com preto. Procurei um alfaiate que pudesse entender o que eu queria. Achei um. A alfaiataria dele ficava quase em frente ao armazém do Igawa. Valor acertado: mãos à obra. Uns quinze dias de espera. Muito serviço havia na frente a ser feito, me disse o alfaiate. Num belo sábado, eis que vejo a minha camisa pronta. Não ficou igual; ficou melhor do que a original. À noite, lá fui eu, todo garboso para o cinema com minha camisa, que nem lavar eu deixei. Falei para minha mãe que eu queria que a camisa ficasse com aquele cheiro de nova. Ela só passou. Depois do cinema, brincadeira dançante no Fênix, e aquela felicidade estampada no rosto misturada com a mescla de patchouli com lancaster. A gente era quase dono do mundo. Ivo

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⁠A moda nos anos de 1960 para os rapazes era calça boca de sino e sapato com salto plataforma. Com muito custo eu consegui comprar os dois, mas desfrutei por pouco tempo. A droga era que, um foi feito para outro. casal perfeito. Não dava para imaginar uma pessoa vestida de calça boca de sino sem os sapatos plataforma. Pois então, a calça eu consegui primeiro. Ela era feita de um tecido azul claro, cintura alta para poder usar sem cinto, muito bonita. O par de sapatos com salto plataforma demorou um pouco mais, talvez uns dois meses para eu conseguir. Me lembro como se fosse hoje o dia que estrei o conjunto. Devo ter crescido uns dez centímetros com aquela plataforma de couro. Naquele dia choveu muito e as ruas estavam um barro grudento e pegajoso; uma cola, melhor dizendo. Saí de casa com uma altura e cheguei na praça com outra;tinha tinha crescido com o barro que foi grudando nos nos sapatos. Quando isso acontecia, a gente tinha a prática para tirar aquele torrão do salto do sapato; era só bater com força que ele se soltava, mas para meu azar, quando bati o salto plataforma no cimento, fiquei manco. O salto se desprendeu e saiu feito um bólido para o meio da rua. Demorei mais uns dois meses para voltar a usar o conjunto. Tive que comprar outro par de sapatos plataforma. Nunca encontrei o salto do primeiro. Ivo

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