Isabel Fernandes
Eu não fiz nada errado. Então porque parece tanto que eu fiz?
Era uma vez uma garota que sempre queria ajudar seus amigos, então ela fazia de tudo, mesmo que fosse errado. Esse erro destruiu uma amizade, desfacelou uma confiança. Ela contou o que contaram porque achou que ele merecia saber. Enquanto tentava ajudar só se prejudicou.
Mas agora o motivo é outro. Ela decidiu não cometer o mesmo erro. Não contaria, mas alertaria, assim seria uma boa amiga para todos. Só que as palavras faltaram e ele não percebeu. Descobriu que você sabia e agora a confiança era perdida por outro motivo: ela não tinha traido a dos outros, não tinha o posto em primeiro plano.
Ele é o primeiro plano, e é impossivel viver sem ele. O problema é que você o conhece, você se conhece. A culpa não é sua, muito menos dele, mas voce vai se culpar, ele vai te culpar. E agora você não está em posição de perdoar, e ele não vai fazer isso tão cedo.
Ele está do seu lado todos os dias. É com ele que você compartilha seus segredos, seus medos, suas besteiras. Você nunca teve tanta sincronia com ninguém antes. Tudo faz sentido quando estão juntos. Pensam as mesmas coisas, tem o mesmo senso de humor, gostam das mesmas coisas. Poderia se dizer que são perfeitos um para o outro, mas não são.
E é isso que dói tanto. Você sabe o que sente, e finalmente teve coragem de admitir para si mesma. O motivo pelo qual você não para de olhar o celular, o motivo pelo qual você se pega rindo do nada, o motivo pelo qual você se sente tão insegura quando ele não está aqui.
Você se apaixonou por ele.
Pode ser clichê, obvio, e o que todos esperavam. Mas você não esperava, ele não esperava. Não saber se ele sente você do mesmo jeito que você sente ele é torturante. E toda vez que ele não está por perto você analisa cada passo, cada gesto, tentando achar sinais de que talvez sinta.
Mas ao mesmo tempo você também acredita que não é nada disso. Você não está sentindo o que está sentindo, está se enganando. E admiti o contrário. Agora são só amigos, e se gostam, é isso, fim.
“Não, não é.”, é como se cada vez que você chegasse a uma conclusão concreta sua cabeça e coração fossem na direção oposta. Vezes juntos, vezes separados. Como se fosse impossível decidir o que está sentindo, impossível de comprender.
Talvez você saiba o que está sentindo, mas tem medo. Medo de que uma vez que chegar a uma conclusão tudo mude. Que essa conclusão seja para o pior. Não considera que possa ser para o melhor, não faria sentido se fosse.
E o mais dificil disso tudo é não poder compartilhar. Você não quer falar sobre isso porque ninguém entenderia. A mudança de sensação é tão rapida que nem você compreende. Você não quer alguém pensando coisas enquanto você conta uma história, não quer confundir os outros também, já basta você mesma. Você quer tudo simples. Mas só complica, só confunde. Enloquece.
Quando não estou com você vejo os segundos passarem. É por isso que a semana passa tão rapido e o final de semana demora tanto.
Eu já tinha esquecido, mas hoje você fez o favor de aparecer em meus sonhos. Agora parece que foi ontem que você foi embora sem dizer adeus.
Suas palavras doem tanto. E elas ficam se repetindo em minha cabeça, quebrando meu coração cada vez mais.
Até parece que gosto da dor, não consigo afasta-la, não consigo faze-la recuar.
É a unica maneira de te ter comigo, e se tem que ser assim, essa dor será bem vinda.
A pior hora do dia é quando coloco a cabeça em meu travesseiro; é quando sou obrigada a pensar em tudo aquilo que evitei o dia inteiro; é quando sou obrigada a pensar no que eu talvez sinta por você.
A dor se irradia do meu coração e sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Essas lágrimas estavam guardadas há muito tempo.
Tinha prometido não chorar por esse motivo porque ele não existia.
Mas ele existe e no momento em que você disse aquelas palavras ele foi solto dentro de mim, deixando tudo ainda pior.
Agora além de não ter certeza do que eu sinto eu ainda tenho que lidar com a dor de talvez sentir.
E as vezes uma dor incerta consegue ser pior que um coração partido.
Já consegui, bravamente, derrotar a luz. Porém, tudo escureceu, tenho medo. Devo então derrotar o medo pra que surjam as cores?