Iolanda Valentim
"Nunca sequer gostei de refrigerante na vida, mas semana passada fui ao médico e ele proibiu terminantemente de beber. Saindo do consultório, me veio a vontade louca de tomar um gole e sentir aquele líquido gaseificado e aromatizado artificialmente passando pela minha garganta. No outro dia, nada mais já me importava na vida a não ser esse bendito fruto proibido. Eu só tinha olhos para o refrigerante. Só pensava no refrigerante. Acordava e ia dormir querendo refrigerante. Não por gostar, mas por saber que eu não posso. É mais ou menos assim com você."
Às vezes é difícil não se machucar. Mas em alguns casos - como o meu - sempre é difícil. Sou sensibilíssima. Me dói qualquer palavra dita e mal interpretada ou algum gesto pequeno e imperceptível. Gosto de remoer e me doer até pelo que não aconteceu – mas poderia – e pelo que poderá eventualmente acontecer no futuro. Até por coisas que deveriam passar despercebidas. Comigo, elas não passam e sim grudam no cérebro, me fazem pensar e sentir coisas ruins e querer correr pro lado contrário, amedrontada. Fico sentida por besteira e magoada por coisas bobas, sim. É mais um lado chato de ser exagerada: meus dramas também são.
Eu te amo porque todos os dias com você são dias bons. Porque até no dia que a gente briga, continua sendo um dia bom, pelo simples fato de ter você nele. E um dia sem você é um dia perdido. Eu te amo também pela vontade que eu sinto de te matar quando você se atrasa, mas esquecer disso no segundo que eu te vejo e só pensar em correr pros teus braços pra fugir desse mundo, ser só eu e você. E tá tudo bem, mesmo que tudo ao nosso redor não esteja bem, contanto que um tenha o outro, a gente dá um jeitinho e aguenta qualquer coisa. Eu te amo, não por mim, não por você, eu te amo por nós e por tudo que somos juntos.
A gente finge que esquece, finge que deixou pra lá, finge que não tem tanta importância ou que não foi nada demais. A gente deixa nosso orgulho e nossas vontades de lado. Se anula. Se entrega. Faz malabarismo. Tudo isso pra ter a companhia de alguém. Tudo isso por sentir que, por essa pessoa, vale o risco, o trabalho e até a queda.
A música que tocava no bar, abafada, dizia… “sempre depois das brigas, nós nos amamos muito”. A letra é linda, mas pensei cá comigo, em todas as vezes que a gente brigou e eu te odiei tanto que poderia te dar um soco, mesmo nesses momentos, eu me preocupei com sua gripe, com aquela sua prova de amanhã, com seus problemas, ainda sim, quis cuidar, te proteger, te amar. Nas brigas é que meu amor se tornava maior. Não há momento mais oportuno.
Não é que a vida ande sendo fácil, mas venho tentando ao máximo ser feliz com o que eu tenho. Acredito que a chave para a felicidade é só tentar não reclamar de tudo. Tá chovendo? Se molha. Não deu certo? Tenta de novo. Terminou? Bola pra frente. Se atrasou? Aproveite a vista. Chorar sobre o leite derramado não resolve nada. Nossas energias e pensamentos influenciam diretamente o ambiente em nossa volta e as direções que nossas vidas tomam. Por isso, tenha mais gratidão e menos aborrecimentos, experimente dar bom dia à estranhos e evite xingar no trânsito, deixe pra lá, peça desculpas, perdoe, respire fundo e conte até três. A vida é uma só e não há pausas. Não perca tempo com bobagens.
Ser forte, na verdade, não é ser indestrutível e impenetrável. É saber lidar com sua fraqueza. E viver, mesmo sabendo que a vida, eventualmente, pode te deixar em pedaços. E que esses pedaços nunca serão consertados ou refeitos. No máximo, serão colados e, mesmo assim, nunca serão como antes. Ser forte é abraçar esses pedaços remendados e saber que são eles que definem quem você é.