Iolanda Valentim

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“Felizes para sempre” no final de um conto de fadas nunca me agradou. Desde pequena achava aquilo muito vago, eu sempre quis saber mais. Sempre ficava me perguntando se a Branca de Neve realmente viveu feliz para sempre. E se o casal daquela novela ficou junto até a morte mesmo, sem nem pensar uma vez sequer em desistir. Porque convenhamos, ninguém é feliz o tempo todo. Relacionamento não é algo bonitinho 24h por dia. Não existe essa coisa de príncipe encantado, caramba. O cara que você vai amar terá mil defeitos e no futuro, vai ficar careca. Se você procura demasiadamente a perfeição, acaba ficando sem nada. Se tivesse que chutar, diria que o príncipe da Bela Adormecida se cansou da preguiça enorme dela e resolveu dar um tempo. Que a Fera largou a Bela por achar uma princesa mais bonita. E que a Branca de Neve traiu o marido com um dos sete anões.Enfim, o negócio é que não existe feliz para sempre. Você não pode procurar o seu feliz para sempre. Isso é idiotice. Na verdade, o feliz para sempre é bem entedioso. Muito calmo, sem grandes surpresas e corações palpitantes. Se tivesse que dar um conselho, diria: pare de procurar um final feliz, procure viver o momento, a realidade é bem mais interessante do que o conto de fadas.

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Sabe como é difícil não parecer louca? Vivo reprimindo a vontade de gritar no meio da multidão. A vontade de me jogar no chão e chorar feito um bebê quando tô andando pela calçada porque meu coração ta apertado e o mundo é idiota e eu sou só uma criança. Sufoco o desejo de bater na cara de gente idiota contando até dez. Queria sair correndo de uma conversa chata em vez de ter que prestar atenção e rir nas horas apropriadas. Queria… queria poder fazer o que eu quero, não o que eu sou obrigada à fazer porque é o certo e ponto final. Queria correr pra você, me esconder em você, respirar você. Mas não. Vivo me escondendo, encenando, fingindo, aceitando, engolindo, seguindo em frente, me conformando, fazendo o que é certo, falando baixo, ouvindo os outros e blá blá blá. Agora diz, quando é que eu vou fazer o que eu quero nessa vida sem parecer uma louca desvairada?

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Eu preciso parar de complicar tanto as coisas, deixar de ser tão drástica. Sempre levo tudo ao extremo, sabe? Não sei ser meio-termo, mais ou menos, um pouquinho. Não sei o que é otimismo. Sou dessas que faz da ondinha um tsunami.

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Aprendi que quem nasce só sentimentos nunca conseguirá ser leve, meio termo, café com leite. Nem dará certo com gente assim. Quem nasce só sentimentos, na verdade, tende a ser solitário. Ama demais e se entrega demais, é lei. Mas no fim da noite sempre vai correr pro canto do quarto querendo entender o sentido de tudo ou sofrendo demais por tudo. Gente que sente demais tem a necessidade não assumida por drama. Nada é bom quando está bom. Não há nenhuma felicidade que não possa ser questionada. Gente que sente demais sempre espera coisas ruins de coisas boas, porque é isso que aprenderam desde cedo. Mas entram no barco naufragando do mesmo jeito. Encaram o precipício e pulam sem pensar duas vezes. Porque, no fim de tudo, por mais que se negue, vale a pena. Sentir vale a pena e é um ato de pura coragem. Quando se sente demais, o tombo é maior, a felicidade é quase uma overdose e a tristeza é do tamanho do mundo. Tudo é bonito e triste. Tudo é sentido dez vezes mais forte e algumas vezes, nem se sabe qual é o sentimento. A dor da felicidade ou a felicidade da dor, por exemplo. Só quem sente verdadeiramente entende isso. Ou melhor, sente isso. Entender não é um privilégio pra quem sente, é tudo questão de tato. Dói ser feliz por medo da felicidade acabar e às vezes a tristeza é confortável porque não se tem mais nada a perder. É uma bagunça. Gente que sente tudo à flor da pele é uma bagunça daquelas. São as pessoas mais tristes e mais felizes que se pode ter. São as mais bonitas de se ver também. A dor que se tem quando sente demais é sempre poética. O peso que se tem que levar para o resto da vida por ser assim, não. Mas aprendi também que quando se carrega algo tão grande assim dentro de si mesmo, eventualmente você acaba aprendendo a lidar e aceitar toda a confusão, porque muito peso nas costas te ensina a levar a bagagem direito.

De tempos em tempos dou uma pausa no drama excessivo e viro do avesso pra me tornar essa pessoa calminha, despreocupada e de bem com a vida. Só até me cansar e correr de volta pro olho do furacão. Sou meio inconstante, pode-se dizer assim. Uma hora quero calmaria e na outra quero tempestade. Pra falar a verdade, nem sei o que eu quero. Vivo pra descobrir isso.

Você achou legal meu jeito ao contrário e minha aversão ao romance. Riu quando eu disse que eu era um problema e que surtava de vez em quando. Contei que estrago meus relacionamentos e gosto de magoar sem querer quem eu gosto, você fingiu que não tinha escutado e perguntou que tipo de música eu gostava. Continuei com a história do meu antigo namoro e expliquei como sou traumatizada com tudo. Você só prestou atenção na hora em que eu cantei o refrão da música do Legião Urbana. Juro que fiz de tudo pra te avisar. Mandei você ficar longe de mim. E você quis ficar mesmo assim. Sempre tive pena de quem gosta de mim. Pior ainda é quando eu gosto também. Você não sabe no que se meteu. Pobrezinho. Não consegue ver? Acabei de pôr um letreiro escrito problema na minha testa. Em néon. Que brilha no escuro. E você ainda não correu. Ou é louco ou eu achei o cara certo.

Nunca disse que era o certo a se fazer. Disse que era o que eu queria. E, meu bem, quando eu quero alguma coisa, não há conselho, mandiga, oração ou possíveis dores de cabeça que me façam desistir. Sou ferrada até a alma por isso, mas nunca me arrependi ou quis dar meia volta e fazer diferente.

É essa facilidade que eu tenho de me apaixonar que bagunça com tudo. E me ferra por uns bons seis meses, um ano, até descobrir que nunca foi amor. Nem épico. Só parecia ser. Era só vontade de ser.

Já tive outros e já amei outros. Já sofri por eles e já quase te esqueci graças à eles também. Mas depois que acaba, no fim, ou no intervalo de um para o outro, quando só me sobra eu mesma e minha confusão, meus sentimentos me encaram e me confrontam, e eu só vejo você. Só tem você ao meu redor no sábado de noite terminando com alguém. Tem você quando eu me fecho e não deixo ninguém entrar na minha vida, porque morro de medo e é sua culpa. Você na forma como eu escrevo, na música do Leoni, no texto da coca-cola. Cada parte do que eu sou… ainda é você. Mil anos e alguns caras depois e ainda é você.

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O problema é que agora eu vou ao salão mais do que o necessário. Meu cabelo nunca foi tão escovado e hidratado e minhas unhas nunca foram mais bem feitas e serradas e sem nenhuma cutícula. Eu depilo a perna e é quase um alívio sentir a dor disso. A cabeleireira puxa meu cabelo e eu boto um sorriso na cara apreciando esses raros momentos. Eu faço mais abdominais do que o necessário na academia e minha panturrilha está super definida porque eu treino mais do que eu posso. Eu treino até poder sentir só a dor de treinar e não poder sentir mais nada. Eu suo na academia e depilo no salão porque isso tudo me distrai de sentir a verdadeira dor. Você sabe. A dor de estar em pedaços. Quão poético isso pode ser? Fazer duas horas de caminhada só pra ficar sem fôlego e nem é por causa do corpo definido, e sim da cabeça conturbada, do coração estraçalhado e miserável. Eu faço de tudo. Eu nunca estive tão bem cuidada e tão maltratada ao mesmo tempo… O que? Eu sei. Esse não é pra ser um texto bonito e de longe, algo inspirador. Não é sentimental falar de depilação. Na verdade, é um texto covarde. Um texto sobre como eu sou fraca e tenho que inventar alguma outra ocupação pra não sentir isso. Não sentir nada. Não pensar em você.

Gritei, empurrei, tirei o salto alto da forma mais grosseira possível e sai correndo. Eu adorava ser rebelde, adorava fazer uma cena, me livrar de qualquer obrigação, estufar o peito e dizer que era livre. Eu era exagerada, impulsiva, imediatista, e principalmente: dramática. Sempre fazia de uma ondinha, um verdadeiro tsunami. A verdade é que eu tinha que sentir o tempo todo. Nem que fosse raiva ou tristeza. Sentir qualquer coisa é melhor do que não sentir nada. Nasci pra ser atriz de novela mexicana.
Eu odiava qualquer coisa que beirasse ao normal. Sempre surtei mesmo. É que o mundo às vezes me incomoda demais e eu sempre preciso gritar pra ele que eu não sou só um grãozinho de areia. Que menina louca, que garota estranha. Eu sei, eu sei. No final eu sempre me arrependi por ser tão exagerada. E eu continuei andando pelas ruas sem rumo, ciente dos passos que ouvia atrás de mim, mas sempre ignorando. E ele, da mesma forma, paciente e em silêncio, só esperando a hora de me cansar e voltar ao normal. Cheguei à avenida e ele finalmente veio me salvar. Parando ao meu lado, sem dizer uma palavra, só me abraçou. E era isso que eu tanto buscava. Todo o escândalo, rebeldia e incomodo que eu sentia cessaram. Eu só precisava ser cuidada, protegida, só precisava de alguém paciente o bastante pra me pôr nos eixos.
Talvez ele nunca tenha entendido porque eu fui, sou e provavelmente, sempre serei desse jeito – e quem entende? – mas ele nunca corre pro lado oposto. Nunca desistiu e quis gritar mais alto que eu. E isso me enche de esperança. Porque tanto faz o mundo não me entender, eu não entender o mundo e eu mesma não me entender também. Tanto faz minha insegurança, vulnerabilidade e instabilidade. Ter o colo dele pra chorar baixinho sempre vai espantar todos os meus medos.
Tem coisa melhor no mundo do que ter alguém pra te acolher?

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A gente se apega a qualquer coisa quando quer realmente ser feliz. Até um shampoo cheiroso, um programa bobo ou um cachorro balançando um rabinho podem te deixar feliz. Claro, se você quiser. Mas tem gente que quer passar a vida inteira no fundo do poço sofrendo e chorando, então, que seja. Passe. Só tô dizendo que se você quer ser feliz, você é. Você acha a felicidade em qualquer lugar, constrói uma. Você inventa felicidade, nem que passe em alguns minutos. Você é feliz só de achar uma moeda no meio da rua às vezes. O sorriso de um estranho que passa por você também pode te deixar feliz. Meu Deus, o mundo à sua volta pode ser sua felicidade! Você não enxerga, né? Inventa desculpa pra estar por aí chorando pelos cantos. Acha lindo se doer tanto assim, totalmente poético. Mas, meu bem, poesia não traz felicidade. Poesia é ser sempre solitário, triste e doído. Deixa ela pra lá e vai admirar o cachorro abanando o rabinho. Não é poético, mas te faz sorrir. E entre essas duas opções, ultimamente, tô preferindo sorrir.

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Te vejo passar por mim e minha maior vontade é te puxar pra perto. Mas não olho. Nem você. Fingimos que não sabemos da existência um do outro. Porém, mesmo sem olhar, conto teus passos e quase posso sentir tua respiração. O silêncio entre a gente é gritante. Me pergunto o que houve de errado. Eu sei, eu sempre botei a culpa em você, mas nunca foi somente sua culpa. Eu errei demais também, e agora é tão tarde pra me desculpar. Mas, em que momento chegamos nisso? Digo, de você passar e eu nem sequer poder chamar por você e falar casualmente. Éramos tudo antigamente. Hoje não podemos mais olhar um para o outro. E eu sinto um aperto enorme no coração só de imaginar você seguindo em frente. Eu sei, eu sei, você já seguiu, e eu também, mas é duro imaginar. Minha vontade é de gritar “Sabe a blusa que ele ta usando? Ele usa o tempo todo porque uma vez eu a elogiei. Sabe o cabelo? Eu impliquei com o corte estranho que ele fazia até ele cortar assim. Sabe essa piada? Fui eu que contei. Eu era a primeira pessoa da lista de contato dele, e você não o conhece. Não como eu conheço. Não sabe as manias e não vai aprender a lidar com os defeitos dele como eu lidei.” Que raiva. Às vezes me dá uma vontade louca de te ligar e voltar no tempo só por alguns instantes. Só pra saber se você se cuida sem mim. Só pra você me contar do seu dia e eu brigar com você na parte que você fala de alguma garota loira e legal. Eu sinto falta de nós dois, só pra constar. Sinto falta do tempo que eu te ligava de madrugada pra chorar e fazer drama, e você sempre me fazia sorrir. E eu acho que nós poderíamos ter dado certo, se quiséssemos […] Deixo a máscara cair e me permito olhar pra você só um pouquinho. Você me olha também. E o nó na garganta só aumenta. Quase dois segundos depois, a gente se recompõe e volta a tentar ignorar a presença um do outro, descruzando o olhar. E eu, mentalmente, torcendo pra que um dia possa descruzar minha vida da sua também.

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Deixo a máscara cair e me permito olhar pra você só um pouquinho. Você me olha também. E o nó na garganta só aumenta. Quase dois segundos depois, a gente se recompõe e volta a tentar ignorar a presença um do outro, descruzando o olhar. E eu, mentalmente, torcendo pra que um dia possa descruzar minha vida da sua também.

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É meio clichê dizer que tudo vai passar. Mas a vida é um puro clichê. É clichê dizer que tudo vai ficar bem também, mas é a pura verdade. Viver pode ser complicado, doloroso e cheio de altos e baixos. Tem dias que até sair da cama é difícil. Mas sabe o que acontece? Acontece que terão sempre os outros dias, as outras pessoas, os outros momentos e as outras histórias que fazem tudo valer a pena. Terão sempre recomeços, novas chances, surpresas, acasos e encontros que podem mudar tudo. É só ter paciência. Paciência, força e fé.

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Dói, mas a gente aprende. Machuca, mas com o tempo passa. Amadurecemos, aprendemos e nos tornamos melhores com as experiências ruins. Que no fundo, não são tão ruins, pois acrescentam e muito na nossa vida. Com os erros do passado, aprendemos o que é certo. Com as mágoas anteriores, aprendemos quem realmente merece estar do nosso lado. Então não se desespere e não surte, apenas espere. Espere só mais um pouquinho. Tudo passa, nossos momentos ruins também.

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De um jeito ou de outro, sigo bem. Com cabeça erguida, peito estufado e sempre adiante, porque a vida não pára. Levo comigo algumas feridas, decepções, traumas, muito aprendizado, amadurecimento e várias lições de moral. Sigo confiante para a próxima, porque sim, terão vários outros momentos ruins. E em alguns deles eu vou pensar que não dá mais pra aguentar, mas eu sei que sempre vou me erguer novamente e prosseguir, como tenho feito há muito tempo. O negócio é não duvidar do quão forte eu sou e do quanto posso suportar.

Vejo fulana reclamando de ciclano porque ciclano a machucou. Não sei se é meu espírito narcisista falando mais alto, mas penso que ninguém machuca ninguém. Quem machuca é você mesmo. O outro nunca teria o controle absoluto de te ferir se você não deixasse isso acontecer, a gente é que se permite machucar. Por isso não culpo ninguém que já me fez algo ruim, tenho em mente que eu mesma que fiz algo de ruim pra mim colocando essa pessoa na minha vida. E que sirva de lição. Da próxima eu aprendo. Não me levem a mal, porque às vezes até vale a pena se machucar por certas pessoas. Mas o que eu levo pra mim é que cada um tem que responder por si mesmo na vida. Todas as minhas dores e problemas são pessoais e intransferíveis. Carregar mágoas e apontar culpados é correr em círculos.

Se eu não entendo, não é você que vai entender. Mas deixa pra lá. Uma hora essa sensação ruim passa e eu volto a ser normal. Mas agora eu só penso em me afundar na cama e passar uns bons meses sem sair dela.

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Depois que passa nem parece que foi real. De concreto só as lembranças meio embaralhadas, que a cada dia se tornam mais confusas e apagadas. Tudo muito distante e improvável. Um grande abismo surgido e a pergunta que ecoa, “pra onde foi tudo isso aí, aqui dentro de mim?". As provas aparecem por todos os lados: os textos rabiscados, os recados deixados, as músicas mandadas madrugadas à dentro. Tudo foi vivido, mas nada me lembra na pele o que eu sentia. Mas é isso. O fim da linha no amor não é quando acaba, é quando você sente que nunca existiu.

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A gente acaba quase sempre se acostumando com uma porção de coisas na vida, por medo da solidão ou pela segurança da estabilidade. Sempre me adaptei a muitas delas, vivo constantemente no modo automático e quase sempre nada me desperta interesse, é tudo um grande borrão pra mim, passam perto e eu não sinto, dançam vestidos de palhaço na minha frente e eu só bocejo. Quase nada me toca. É difícil achar algo que me faça sentir vontade de olhar uma segunda vez ou ter alguém com quem eu queira ficar perto por horas. Ainda não descobri se sou a defeituosa ou se o mundo que é defeituoso. Mas eu já te falei sobre essas coisas. Já te falei também, e aliás, quero repetir, que você é a exceção no meio disso. Você é minha não-adaptação.

Tenho a mania de sabotar minha própria felicidade pelo medo de que ela seja tirada de mim no momento seguinte. Apenas por obra do bom e velho destino, que acaba com o tudo e o transforma em nada em questão de segundos. Por isso, antes de me acostumar com a história de ser feliz, já penso em dez maneiras diferentes de correr pro lado contrário. Pelo menos tenho a quem culpar estragando tudo antes que se estrague por conta própria.

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E qual é a minha definição de amor?
Tenho o nome de uma música do Chico Buarque, bem antiguinha, a que meu pai cantava no karaokê do bar próximo à sua casa. Depois que eu nasci, ele passou a me levar junto e no final da música fazia questão de dedicá-la pra mim. E eu ficava na mesa, morrendo de vergonha e pedindo que ele parasse com aquilo. Mas ele sempre fazia novamente. Ele sempre cantava a música do meu nome e dedicava pra mim. Por anos. E nunca sequer ficou com raiva ou magoado por eu sentir vergonha dele por isso. Isso é amor.
Quando eu era pequena, sempre que minha mãe chegava do trabalho, eu perguntava se ela tinha trazido presente. E ela, todo santo dia, antes de ir pra casa, passava no supermercado e comprava alguma coisa, mesmo que fosse apenas um bombom. Ela nunca voltava pra casa de mãos vazias. Nunca quis me decepcionar. Isso é amor.
Aos oito, vi uma gelatina no chão perto do caixa do supermercado e a peguei. Ao atravessar a rua, mostrei pra minha tia. Que me fez voltar, devolver e me desculpar pelo roubo. Ela sempre me fez ser e querer ser uma pessoa melhor. Isso também é amor.
Um dia falei pro meu namorado que não gostava de flores, porque eram apenas um presente fútil que se dá quando não se quer ter esforço pra agradar uma mulher. Mais uma grande tirada do capitalismo. Ri e completei que só iria gostar se ele mesmo fizesse a flor. Então ele passou o dia inteiro tentando fazer uma flor de origami por vídeos da internet, pra me dar. E foi o melhor presente que eu já recebi.
É isso.
O amor é isso.
É a música do karaokê,
o bombom do supermercado,
a lição sobre a gelatina,
a flor de origami.
O amor é o detalhe.

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Nunca sequer gostei de refrigerante na vida, mas semana passada fui ao médico e ele proibiu terminantemente de beber. Saindo do consultório, me veio a vontade louca de tomar um gole e sentir aquele líquido gaseificado e aromatizado artificialmente passando pela minha garganta. No outro dia, nada mais já me importava na vida a não ser esse bendito fruto proibido. Eu só tinha olhos para o refrigerante. Só pensava no refrigerante. Acordava e ia dormir querendo refrigerante. Não por gostar, mas por saber que eu não posso. É mais ou menos assim com você.

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Do que já doeu, já sufocou, já foi insuportável e jurou que nunca ia passar, só restou lembrança. Junto da sensação de que todas as coisas eternas passam, e não há nada que seja infinito, a não ser o que se está vivendo no momento. Porque tudo não tem um fim, até ter: quando dor é cessada e inesperadamente suportada, quando as promessas são quebradas, as palavras perdem o sentido e os amores se vão. E a graça disso tudo é que você sempre vai estar pronto pra mais, mesmo pensando lá atrás que nunca esteve pronto pra nada. Sempre está. E sempre vai estar. A nossa vida só pára pra recomeçar novamente.

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