Idenir Ramos
Por um instante, por um mísero instante,
Divaguei no labirinto do tempo
E vi linhas projetarem-se em meu rosto,
Minha barba tornando-se alva como a neve,
Por fim, minha inocência foi roubada.
Só por um mísero e maldito instante!
Eis que eu fiquei ali parado
à margem do que eu poderia ter sido
cantando as glórias do futuro,
As glórias que jamais chegaram
Que nem se quer me conheceram
Lá no céu distante
Uma nuvem se desfaz
Então a chuva cai
E molha meu rosto
E molha meu sapato
E molha até um papel que havia no meu bolso com o número do celular da mulher que conheci ainda pouco, quando o tempo ainda estava bom e a chuva parecia ser algo impossível!
Para Franz Kafka
Fui destinado à solidão
A vagar sozinho pela casa
Às vezes, no meio da noite,
Procuro respostas para a metafísica do absurdo.
Tinha um caminho no meio da pedra
Ou uma pedra no meio do caminho
Ou uma foto do Drummond no meio do livro
Sei que meus olhos tropeçaram em algum ponto da página
Eu quisera teu amor
Como nunca quis nenhum
Eu dissera: amo-te tantas vezes
Em meus sonhos ou fora deles
Eu fora teu, somente teu
Agora na mais absoluta solidão
Sou um vaso quebrado
Onde não mais vicejam flores,
Uma alma vazia,
Uma razão desmesurada,
Qualquer fragmento inócuo
De uma vida desatinada.
Queria que fosses minha
Que vivesses a cantar junto a mim
Sob o alpendre, no verão,
Pela rua, entre as nuvens,
Ter-te e te amar, amar-te para não te perder.
Dizer-se poeta
Plasmar sentimentos
Temperados com dor
Provocar sentidos alheios
A suspirarem de emoção
- Artífice do vento!
- Homem de ninguém!
Nem a lua retribui teu lirismo
Teu pão é pedra
Tua vida - cinzas
Maldito és na terra
De teu exílio!
Não sou aristocrático
Não sou fidalgo de muitas posses
Também não sou Charles Bukowski
Sou relativamente educado
Um cérebro singular dentro desse país,
Dentro desse Brasil Machadiano
Graciliano – e cruel
Li alguns poetas latinos
Conheço um pouco de Shakespeare
Entendo de literatura russa
Tranquei a faculdade
Mesmo sendo um dos melhores da classe
Devotei-me as letras desde a adolescência
Estou sempre em movimento
Procurando metáforas, sons, ritmos,
Significados
Posso dizer com certeza
Que um dia serei reconhecido como poeta
(mesmo medíocre)
E essa terra, essa pátria, esse tempo,
Esse século disforme
Saberão que um sangue lírico
Correu pelas artérias de aço das entranhas estranhas da loucura e jorrou poesia nos muros alheios.
Tão bom dizer tudo em uma única linha, se Balzac tivesse descoberto isso teria tido mais tempo para dormir.
Bom dia meus queridos alunos hoje vou ensinar para vocês uma teoria muito complexa, cheia de pormenores e de regras e que não serve para absolutamente nada.
Amar é viver entre a fantasia e a realidade sem saber qual é qual, é uma sensação de leveza, um sabor de sonho, uma prévia do paraíso.
Não é fácil escrever sobre certas coisas complexas, como:
Amor, morte, Deus... mas à medida que cresço essas palavras vão ganhando novas formas, sentidos e significados e assim vou escrevendo sem grandes esforços, então percebo que escrever é a respiração da minha experiência, a tradução do meu existir.
Muito antes de existir Facebook, Orkut e Google eu já me deleitava com a escrita, e assim como muitos escritores eu escrevia para organizar meu pensamento e dialogar comigo mesmo, sem pretensão alguma, apenas um hobby e isso me proporcionava uma alegria tamanha que seguidamente a euforia dançava em minha mente. Não vou dizer que sei escrever bem, pois ainda tenho muitos atritos com a gramática e considero meu estilo demasiado árido e obtuso, ademais cometo muitos pecados que um bom escritor não pode se dar ao luxo de cometer, como por exemplo: o vicio de linguagem, esse infeliz me assedia em quase todas as linhas. E não é só isso, vários outros obstáculos surgem no meu caminho, outro exemplo: Quando leio um escritor clássico logo penso, Céus, estou a milhas de distância dele!
Entretanto esse pensamento, conquanto difícil de silenciar, encobre um grande segredo que só quem se dedica a profissão de escriba pode aprender: exprimir-se provoca catarse. Nosso imortal do Bom Fim, Moacir Scliar, foi quem me ensinou isso numa crônica da Zero Hora a uns bons anos atrás, talvez perto de dois mil e oito. Quando li o texto e deparei-me com a palavra catarse logo percebi que aquilo falava diretamente a minha alma, aquele canal de comunicação havia feito um milagre e Moacir fora o sábio escolhido para me revelar tal mistério.
Eu ainda não estava familiarizado com a palavra catarse, então avidamente abri o Aurélio e “voilà”; catarse - liberação de pensamentos e emoções que estavam reprimidos no inconsciente, seguindo-se alívio emocional. Subitamente pensei, então é isso o que sinto quando escrevo é esse o grande motivo pelo qual os escritores escrevem, aquela sensação de euforia que sinto é catarse.
Depois daquele dia passei a escrever com mais vontade ainda, com mais paixão, com sangue, com verdade.