Idenir Ramos
A soma de todos os orgasmos deve compensar ao menos a metade de todas as nossas tristezas, senão o mundo não teria sentido.
Para Ítalo Calvino.
Uma cidade invisível
Numa paisagem irreal,
Um mundo onírico
Criado por um escritor genial.
Confissões.
O escritor é um homem que se desdobra em múltiplas vozes para atender a necessidade de comunicação dos fantasmas de sua cabeça.
As histórias que ele conta podem ser meras fantasias ou sólidos desejos reprimidos.
Em geral o homem das letras é um amante da solidão e do café e está sempre sonhando com sucesso e fama.
A primeira coisa que um escritor pensa quando escreve é dialogar com os outros intelectuais, de preferência seus heróis, depois disso é que ele imagina seus leitores.
Frio lá fora, café quentinho aqui dentro, páginas em branco esperando para serem escritas, contos e poemas emaranhados em minha cabeça.
Sinto-me tão bem, é assim que vou dar sentido a minha vida, é dessa forma que aproveitarei meu tempo.
Quantos livros lidos, quantos textos salvos no note?
É hora de deixar meus pensamentos comungarem com os pensamentos dos antigos.
Escritores, sábios, poetas sejam pacientes ensinem-me a escrever, ajudem-me a descortinar minhas melhores idéias.
Quero a clareza e a simplicidade em minhas frases, quero escrever de um jeito novo e original, quero pensar o que ninguém pensou, se é que isso é possível, enfim quero evadir-me, extraviar-me entre as linhas, transmutar-me em palavras para assim ganhar sentido.
Para trás deixo as intrigas do mundo, o medo, o fracasso, as preocupações, e avante sigo, avante escrevo.
Talvez a literatura tenha como principal objetivo esse: olvidar as amarguras, vencer as decepções. Talvez todos os escritores soubessem disso e conservassem esse segredo a sete chaves para que o mito não fosse quebrado e banalizado.
Desde a antiguidade grega, desde os escribas egípcios, desde os místicos e profetas judeus, que as palavras vêm sendo exaltadas e depuradas, e todos descobriram o poder que emana de cada sentença. No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus, isso resume muita coisa, e hoje, para além de Saramago, de Freud, de Nietzsche, de Shakespeare o verbo ainda é o verbo e ainda encanta, elucida e exerce a potencia de ser verbo.
Estou sendo obscuro? Nesse ponto prefiro ser obscuro mesmo.
Céus, montanhas, horizontes, oceanos, pássaros, sonhos, almas, gramática, descortinai o mistério, rompei o véu do enigma, o sentido da parábola. Kafka abra as portas de seu mundo hermético. Joyce mostre-me as nuances mais secretas de seu mundo onírico, de modo que eu venha a entender o que cada símbolo traduz...
O seriado americano na tv,
Eu tomando uma xícara de café e assitindo,
E no computador um fantasma escrevendo esse haikai.