Ida Lenir Gonçalves
Tudo, absolutamente tudo que a gente vive, dá uma boa crônica. Basta prestar a atenção nas pessoas que estão ao seu redor e não apenas nas coisas que possuem.
Ainda hoje, muitas de nós só se sentem plenas, pessoal e socialmente, quando trazem um homem a tiracolo que possam chamar de seu...O amor é a desculpa para encobrir uma ditadura cultural.
Este é o preço de deixar de ser objeto ou bonequinha de luxo. Precisamos esperar o tempo social dos homens amadurecerem. Até lá, já me desfiz debaixo da terra.
Já escrevi livros, tive filhos e plantei árvores. Se eu morresse agora, morreria completamente feliz.
O fim deveria ser percebido como algo intrínseco ao ser. Sinto-me pronta para ir, tranquilamente. Mas não me importo de ficar!
Tive uma ideia singular. Já que somos todos vaidosos, uma boa solução da natureza seria tornar nossa pele transparente. Os órgãos, veias, músculos, nervos ficariam visíveis a olho nu. Mostrariam a beleza interior, literalmente. Quem sabe, movidos pela vaidade, nos tornaríamos mais cuidadosos com nosso único bem real.
Criar bem o filho é uma escolha pessoal, a qual se impõe a responsabilidade civil. Além disso, é um ato de amor responsável, que não se pode empurrar com a barriga, nem quando se está de barriga, nem quando o conteúdo da barriga foi colocado no mundo.
Amor não dá em penca, não está disponível ao nosso bel prazer, nem pode ser programado e controlado. Amor tem a ver com empatia, com paz, com brilho nos olhos, com alegria, com bem-estar, com confiança, com esperança. O amor não é, apenas; ele é construído diuturnamente.
Consideração é irmã da gratidão e só pode senti-las quem consegue olhar o outro com generosidade e amor.
Um dia, essa saudade doída que teima em me acompanhar, vai acabar. Tenho medo quando eu olhar para mim e não mais encontrá-la. O que farei com o amor romântico que sobrará?
Pais culpados criam filhos egoístas. Filhos egoístas, quando se tornam pais, são omissos. E os filhos desses pais omissos, tendem a ser pessoas perdidas, suicidas, irresponsáveis, meliantes. Tudo porque não perceberam o mal que estavam fazendo ao não torcer o pepino quando era possível.
Fazer nada, pensar em nada, viver do nada: eis o supra sumo da sabedoria. O fim do caminho para a serenidade absoluta.