Iasmin Borges
A caça e a caçadora
"Eu sou a presa
Alvo fácil
Já fui acuada
Não me deixaram saída
Posso ver o cano apontado
Sei que vai doer
Eu já fui a caçadora
Conheço os movimentos
Seria então esse o castigo adequado?
Vejo a arma ser carregada
Tem potencial para ser fatal
E eu gostaria que fosse
Quando então será o tiro de misericórdia?
Aguardo no canto
O medo aumenta
A ansiedade se prolonga
As lágrimas rompem enquanto oro para que a caçadora volte a ser cativadora."
Iasmin Borges
A caça e a caçadora II
"O tiro foi dado
Sai do canto onde fui acuada
Me antecipei a caçadora e apertei o gatilho
Imaginava não haver mais espaço para tamanha angústia no peito
Errei!
O tiro foi de grosso calibre, mas não me abateu
Os ferimentos são graves
A dor indescritível
O grito abafado
As lágrimas quentes
O tempo se arrasta e as feridas continuam sangrando
A caçadora se retira, silenciosa
Não lhe apetece ver o sangue jorrar
Sigo inerte tentando avaliar o estrago
Pode-se morrer de um tiro metafórico?
Não posso afirmar nada
Sei apenas que a dor é física e real demais pra suportar."
Iasmin Borges
"E todo fim de tarde é igual, essa vontade de te chamar
De perguntar como foi o teu dia
De contar os minutos pra sair correndo pros teus braços como já fiz um dia
Mas teus braços já não se encaixam nos meus
Todo fim de tarde é essa saudade do cheiro, da voz, do tom, do som
Todo fim de tarde me vejo menos sua
Todo fim de tarde vejo mais fim
E quando a noite cai não me vejo mais em mim
Quando a noite cai te vejo em cada canto
Quando a noite cai, teu vazio me preenche em pranto"
Iasmin Borges
"O que é a saudade?
Sentimento tão inconveniente
Às vezes nos faz chorar, noutras nos faz sorrir, lembrar
Outras faz querer gritar e outras só faz calar
Calar até sufocar, calar até o mundo inteiro não ter som
Me calo com o mundo e aguardo
Sua voz, o único som que anseio
Num tom que apenas eu conheço
Aguardo. Se devo? É incerto!
Apenas sei que o mundo está assim
Sem som e sem cor, só dor"
Iasmin Borges
Retóricas
"O que fazer quando a ausência é tão presente?
Quando a saudade é vizinha?
Como esquecer o inesquecível?
O que fazer quando seu silêncio grita?
Como agir quando suas palavras me calam?
Pra onde seguir se meu caminho ainda é você?"
Iasmin Borges
Retóricas II
"E quando a gente perde todo o controle que pensávamos ter da vida?
E quando as feridas parecem nunca parar de sangrar?
E quando não existe sutura capaz de impedir que elas se abram cada vez mais?
E quando pensamos que o mar está acalmando e as ondas quebram mais forte?
E quando a gente só se encontra no outro, mas o outro que está perdido dele mesmo?"
Iasmin Borges
Segunda-feira
Dizem que o trabalho dignifica o homem, o meu remedia, refugia, socorre, acolhe.
Enquanto todos esperam pelos prazeres do fim de semana eu os temo.
O ócio tem sido meu inimigo, o labor meu fiel aliado.
O trabalho me acolhe, mas não por inteiro.
Enfrento cada dia como uma batalha, em alguns vencedora, outros derrotada.
Derrotada por eu mesma, minhas memórias, sentimentos e esperanças.
Nos finais de semana geralmente eu perco e nesse fui inconsequente.
Bebi lembranças e expectativa o final de semana inteiro
Agora tento me curar dessa terrível ressaca
Fui a todas as farmácias da cidade a procura de algo para aliviar os sintomas
Infelizmente lá não vende amor e meu antídoto é raro, o único existente não tá disponível.
1 mês de ausência
1 mês de saudade
1 mês te vendo em todo em canto
1 mês sem te ver em lugar nenhum
1 mês tentando renascer das cinzas
1 mês de nó na garganta
1 mês de lembranças
1 mês de dor
1 mês de insônia
1 mês insosso
Barzinho
Amigos reunidos
Drinks coloridos
Papo divertido
Gostoso o aperitivo
A musica no ouvido
O coração dolorido
O vazio fez abrigo
Iasmin Borges
Memórias
Às vezes acho que sua memória ruim começou a me esquecer
Às vezes acho que o impossível está por vir
Vejo você tão distante, tomando um rumo tão diferente
Sinto que já não lembra do meu perfume
Dos meus abraços, da minha pipoca doce e dos meus dilins
Às vezes, não tão às vezes, sinto que virei memória e a sua não é das melhores.
Iasmin Borges
O tempo
Ele é incrível e igualmente cruel
Ele nos fere e nos cura
Ele é impiedoso, não perdoa, não dá tréguas
Ele nos arrasta como uma onda gigante rumo ao desconhecido
Ele não negocia, não aceita desculpas e não volta atrás
Ele nos deforma, nos transforma e nos reforma
Ele nos lembra a todo momento o quão precioso é
E inegavelmente passa e ao passar, tudo altera.
A ferida rasgou, só sinto dor
O sangue jorra, quente e viscoso
Sujando tudo, até a alma
Vermelho vivo, o oposto de mim
Me vou junto com ele, mas dessa vez não é lento, é pulsante
Cada músculo, nervo, em espasmos tenta combater
Mas cada célula do meu corpo quer o vazio
O vazio do não sentir, o vazio do não ser, o vazio do não existir
A ferida está grande demais pra ser ignorada, a dor forte demais pra ser remediada
A cura foi quem me feriu. O que faço agora?
A Princesa e a Incerteza
Era uma vez, num reino muito distante, uma princesa de pele clara como a neve, ela tinha o corpo coberto de estrelas e seus cabelos mudavam de cor assim como seu humor. A princesa adorava cantar, era amorosa e muito alegre. Ela não vivia num palácio, pelo contrário, vivia em meio a simplicidade, porém a princesa nunca se importou com isso, pois para ela o amor era seu bem mais precioso. Seu reino sempre foi conhecido por ser muito alegre, cheio amor, planos, sonhos e principalmente esperanças.
Um dia esse belo reino foi tomado por uma escuridão horrível. A princesa perdeu tudo o que lhe era mais precioso, sua vida, antes tão alegre se tornou vazia e sem cor. As canções, antes cantadas com tamanha alegria, se calaram e seu coração se partiu com a solidão que ali se fez.
A princesa, sempre muito determinada, não aceitou que seu destino fosse esse e depois de muita tristeza resolveu lutar, virou guerreira. Suas batalhas contra a escuridão eram diárias, incansáveis, ferrenhas. Ela estava tão determinada a mudar seu triste destino que não percebeu quando uma nova moradora chegou ao reino. Ela era silenciosa e parecia inofensiva. Seu nome era incerteza.
A incerteza se alimentava de cada pedacinho da guerreira, mas seu apetite tinha uma predileção por esperanças. A cada dia a Incerteza consumia mais e mais suas esperanças e com ela se iam também as alegrias, sonhos, planos. Tudo aquilo que levara tanto tempo tentando recuperar.
A guerreira enfim notou a Incerteza, ela estava grande e muito forte. Tão forte que a guerreira com medo, correu para bem longe e deixou somente a princesa ali. A princesa mais uma vez determinada enfrentou a Incerteza como pôde e ao se ver fraca para lutar sozinha gritou por socorro, mas ninguém a ouviu. Então ela gritou mais e mais. Gritou, suplicou, rogou, mas o socorro nunca chegou.
Dizem as histórias a princesa gritou tanto que perdeu sua bela voz. Alguns camponeses juram ainda ouvir seus gritos nas noites mais silenciosas, mas a princesa, aquela do reino das alegrias, essa nunca mais foi vista.
Iasmin Borges