Hugo Cavalcante
Lá fora só se ouve o vento. Ele deve ter vindo para me consolar. Tremendo calor de verão e ainda não chegou nem a primavera. Contraste curioso entre o clima e o meu coração no momento. Um quente e o outro congelando gradualmente. Sensação estranha, melancolia adversa. Esse nó na garganta está me sufocando, dando a impressão de que quanto mais eu tento desatá-lo, mais espesso ele fica. Abro a janela, enquanto sinto meu coração se quebrando, batendo lentamente. Sinto aquela brisa gelada que vem em direção ao meu corpo. E eu luto… Literalmente eu luto contra essa vontade desesperador de chorar. Luto para não deixar as lágrimas quentes e salgadas transbordarem dos meus olhos e molharem toda a minha face. Mantenho meus olhos fechados, me focando na escuridão por detrás das minhas pálpebras. Escuridão. É isso o que eu vejo. É isso o que sinto. Escuridão, essa, que me rodeia e me abraça.
Não me conformo com minha imutabilidade, todo mundo quer ser bobo um dia. Imagino que se apaixonar de verdade uma vez ou outra deve ser legal; passarinhos cantando para que você acorde e borboletas voando em seu estômago te mantendo vivo. Tudo bem que depois de um tempo matamos os pássaros, borboletas e qualquer outro animal que insista em nos fazer de bobos; foi bom enquanto durou, mas que bom que passou.