Hidely Fratini
ENCONTROS
O amor, reflito,
apesar dos conflitos,
conduz-nos como os raios
de infinitos versos.
Fazer amor, repenso,
apesar do repouso
merecido entre espaços
de finitos verbos,
desnuda a fonte
primitiva de cada ser.
Abrem-se botões... de flores.
Desnudam-se ... corpos e estrelas
como entre versos representados por poemas.
É a poesia que se esvai em cada gesto,
rito do animal frente sua alma.
Comovem-se corpos e muitos astros
desta Via-Láctea representante de infinitos mares.
Os olhos, bem atentos, espreitam outros olhos
buscando a poesia contida em cada ato.
Jan/1993
REVELAÇÃO
Domingo como tantos de final de ano...
Não fosse a revelação da existência de uma “musa”,
tudo transcorreria pausadamente igual.
Como se sentir sendo a fonte
de inspiração amorosa de outra pessoa?
Ainda mais quando este alguém é a fonte
de inspiração da maioria dos versos escritos por essa “musa”?
Levitar é a única resposta
frente à vastidão do mundo
com estrelas
buracos negros
e o seu olhar profundo!
Dez/1992
TEMPORALIDADE
Choque de ideias.
Maestria cigana.
Pois, quem diria,
ela, pensando ser a dona do seu tempo,
acabou mortal
frente a instantes
desconexos da sua vida.
Passados cem anos,
pessoas, trabalhos, amores e solidões,
abertas suas mãos,
o nada a persegue!
Dez/1992
.P.A.L.A.V.R.E.A.N.D.O.
PRIMEIRA NEUROSE
(inspiração adolescente)
Sou eu,
Simplesmente isso:
Neurótica.
Vinda de neuroses!
De um caminho...
... beira da loucura!
Sem cura,
Sem remo.
Vai devagar infiltrando-se em minh’ alma.
Escolhe um canto,
Ali mora...
Instala-se!
Cresce e depois simplesmente morre.
Sim, vem com ela a morte.
Eternamente.
Sempre.
Leva-me e leva-o também.
Sempre assim.
Amém!
Jan/ 1969
SEGUNDA NEUROSE
(inspiração adolescente)
Neurose ou loucura?
Até o título mudei.
Passou à frente.
És segunda!
A primeira? Destruída...
Esta? Maltrapilha, fulgurante.
Também, caminha!
Ah, sim, resides em mim.
És amiga nova.
Bem-vinda sejas!
Queres ficar? A casa é tua.
Não mais minha... nem da outra, a primeira.
Como vês, sou bem mais tua amiga.
__ Mas, notes bem, não confia.
Vás levando.
Mores em mim!
Fiques mais. Assim... caminha.
Não tenhas dó.
Há muito não sei disso...
Sou sozinha!
Ah, o amor?
Quantos o temem.
E tu?
Não respondes... é impossível.
Tu és destruição.
O amor constrói. Cria vidas!
Bem, como eu sei?
__ Já amei:
Tomei uma flor...
Rebusquei-a. Maltratei-a até!
Mas ela era perfeita!
Quem não a amaria?
Como vês, quem não ama alguma coisa?
E tu, amas também?
Set/ 1970
BEIRA
(inspiração adolescente)
Com licença!
Aqui não é lugar pra mim.
Eu sou um revoltado...
-- Ora quero amor.
-- Ora a solidão.
Com licença!
Aqui não é lugar pra mim.
Eu sou um neurótico.
-- Ora não sei por onde vou.
-- Ora encontro só caminhos.
Mas com licença!
Aqui não é lugar pra mim.
Bem, eu sou um quase louco.
-- Ora não reconheço imagens.
-- Ora, há hora em que há menos ainda.
Com licença, eu me vou!
Aqui não é lugar pra mim.
-- Ora nem para ti.
-- Ora nem para nós todos!
Nós somos... quase.
Só isso!
Um pouco de nada com um toque de cor!
Set/ 1970
Partida paterna (período de luto)
Parte I
Fecharam-se os olhos
do corpo,
da alma,
da vida.
Fecharam-se para sempre ao plano físico e material.
Continuam abertos em outros mundos,
Nos lugares onde tudo fica registrado.
Lugares além do visível a nossos carnais olhos.
Muito além...
Parte II
Histórias, muitas delas e variadas.
Há o lugar das histórias do dia a dia
Das infantis e de todos os períodos
e com todas as pessoas!
Lugar de histórias de choros e sorrisos.
Lugar dos medos, do estender as mãos...
E do voltarem sozinhas e vazias...
Das mãos perdidas de afetos e sentimentos condignos.
Da falta de colo e de abraços.
Da falta dos aplausos e do chorar juntos.
Lugar do aflorar da raiva disfarçada,
dissimulada,
não posta para fora...
Da raiva não vivida para, enfim, ser enterrada!
Lugar do seguir adiante buscando meu caminho,
Posto que iluminações sempre chegaram a mim,
Como clarões de ajudas internas e externas,
Por estar num alerta constante e transcendente:
__Comigo;
__Com amigos de uma rede de apoio desta vida;
__Com amigos invisíveis que, pressentia, estavam presentes...
por ouvir através de ouvidos fluídos
e, confiante, os seguia.
Histórias de força de vontade e de determinação paterna.
Enfrentamento de medos e limitações.
De ter racionalidade, honestidade e Justiça:
-- O maior legado ensinado por meu pai!
Histórias de todos os matizes,
De alegrias, choros e sentimentos vários.
Fatos carregados comigo,
que me formaram!
Parte III
O bilhetinho de despedida,
posto ao lado do corpo morto de meu pai,
queimou-se na fornalha que consumiu seu físico e transcendeu sua alma.
As palavras escritas foram apagadas da memória
ao serem consumidas pelos fogos fátuos e dos rios eletrificados...
Apesar das palavras virarem cinzas junto às suas cinzas,
foram-se juntar ao pai espiritual e da minha história,
Como que coladas em sua pele para acompanhá-lo por um bom período
Ou para todo o sempre.
A história que agora se inicia:
__A minha...
__A sua,
ora separadas,
Decidirá novos caminhos!
Quem sabe,
um dia,
se cruzarão de novo...
Para terem um desfecho renovado,
aquele do afeto claro,
inocente,
fraternal,
mas consciente de humanidades!
Quem sabe o que o destino nos reserva!
Sigamos!
abril/ 2024
ZOO ? !
(inspiração quase adolescente)
Zodíaco, um aquário...
Lendas mitos e, no fundo, um saber.
Zodíaco, um peixes...
Do mar, do mistério, do homem nu.
Um áries...
Fogo e brasão, representação de gente histérica!
Do taurus... fugidio, rico e que acelera a vida.
Do gêmeos com câncer...
Leva o espírito, mata a matéria compadecido e passivo...
Zodíaco, astrologia leonina...
Marca o marco, ponto largo; o universo gira.
Ah, virgem!
Vida santa, martiriza a flor
Protege seus restos com o poder da vontade.
Signo libra e escorpião...
Vem do amor, marca a música, é imortalidade.
Num quase findar, sagitário...
Arredio, constrangido, que a vida leva.
Que marca o mundo...
Capricórnio...
fim de tudo.
Quase vida.
É terra, da teimosia e das cores negras que não existem.
Todos, tudo unido num poço fundo...
Mistérios que se compadecem da alma humana.
Set/1970
GÊNIO
(inspiração quase adolescente)
Sabe, simples folha,
Branca e mal riscada,
Eu queria te contar um segredo
Revelar a minh’ alma.
Colocar-te a emoção deste momento
Que dedico a um gênio...
Gênio da arte, Chopin!
Chopin com todos se seus prelúdios que me revigoram.
Ah, minha simples folha,
Eu te revelo:
__ Queria ser cada nota deste prelúdio...
De um quase outono.
Ah, como queria morrer...
E me transformar em som melódico
Para vasculhar a alma humana.
Fazê-la voltar-se às coisas supremas
Feitas de notas simples...
Mas amo tanto este impossível
Que possivelmente eu morra antes do tempo certo.
Talvez eu morra antes do meu morrer.
Mas será, folha mal traçada,
Será que compreendes? Responda!
__ Entendo-me!
Mais uma vez há um toque de silêncio,
Mais uma vez só!
Para se repetir sempre.
Impossível eu não me render
Às profundezas deste abismo.
Ah, meu gênio já está morto,
Com uma vida mais de essência.
E é para esta essência que eu caminho:
- Para a essência eterna.
- Para o mundo do além!
Set/1970
DESPEDIDA
É na partida triste
Que se encontra um todo,
Um todo a querer ficar
Para vagar, vagar...
Com os anjos do além-mar.
E depois ter beijos doces da morte,
Deixar ser levada pelo anjo
Lá para o fundo do oceano ativo,
Dentro do desconhecido.
Deixar ser levada pelo vento,
Pela brisa suave da noite rubra.
Deixar a vida tola... e ser tua!
15/11/1970 (retorno da Praia Ocean)
A PROCURA
Procuro você
Não há encontro
Existe uma variedade de crianças:
Irrequietas, quietas, travessas, malcriadas, comportadas.
Onde está você?
Em que ponto do passado encontrá-lo?
Vasculho o prédio:
Por baixo da mesa, das cadeiras,
No pátio, diretoria, no lixo.
Não o encontro!
Vou à Bahia, de Mucuri ao Ibó.
Vasculho Itabuna, Vitória da Conquista, Ibirapitanga...
Perdeu-se!
Não foi a morte que o levou
Foi a vida!
Junho/ 1974
ENTARDECER E A LUA
A noite descia como em voo de pássaros,
Em rajadas de flocos coloridos.
Meus olhos se deliciavam, estremeciam,
De prazer e dor.
Como cristalizar este momento?
De que forças retirar o fluído para tal proeza?
Pensamento tolo que me fez perder todo o poente.
Quando dei pela natureza,
A noite me abraçava,
Beijava meus lábios com o nascer da lua.
Espetáculo de noite invernal.
Como deter o astro prateado
No seu lugar de agora?
Para saciar o meu prazer,
Para matar a minha sede de beleza.
Oh maldito pensamento!
Fez-me perder todo o nascer da lua!
Todos os poentes, todo o sol no seu turno.
Todos os verdadeiros voos de andorinhas!
E aqui estou sem saber contemplar.
Desejando obras monumentais da natureza.
Maldizendo o pensamento,
Vi-me num túmulo frio, escuro,
Sem haver sentido o momento de minha morte
Por tanto haver pensado nela!
Conclusão de alma:
O belo está naquilo que se vê e sente
Não no que se quer!
Nov/ 1974
Grande dor a uma criança morta
(em homenagem à prima Kátia)
I
Chegaste e eu fiquei triste.
Chorei... Não podia crer
Que isso fosse a pura verdade.
És muito mau meu amigo.
Por que dar uma notícia assim?
II
Fiquei chocada, gritei...
Mas tudo inútil,
Pois só tu me ouvias!
III
Tristeza, sempre estás
Aqui junto a mim.
Nem sei se aguento...
Mas a ilusão de tudo se acalmar,
E a nossa felicidade voltar,
Ainda existe em meu coração.
IV
Sorrir, sorriso puro?
Era o daquela linda criança
Que conheci há algum tempo...
Seus olhos azuis, quase negros,
Fitavam os meus vivamente
Enquanto eu, pobre pirralha,
Escondia, para não veres,
Uma enorme, grande
Tristeza e dor...
V
Teus cabelos perfumados
Todos os dias eu afagava.
Tu sorrias, pura criança...
Andavas, corrias e choravas...
Mas eu não me importava!
Tu me querias e eu a ti.
Amada, minha querida!
Eras tão boa de alma.
Singela, tão sonhadora e triste!
Será que tu herdastes algo meu?
Não, não quero...
VI
Mas hoje, criança,
Dormes um sono,
Um pesado sonho angelical.
Aquele que permite a nós, homens,
O descanso eterno pela morte...
Não corres, nem choras e nem sorris mais...
Teus cabelos estão ainda perfumados...
Teus olhos, nem posso lembrar-lhes a cor!
Mas lembro que eram puros,
Tão puros quanto a flor!
(junho/ 1967)
Mar, luar e canção
(uma história em versos)
Assim, como para anunciar a chegada de alguém,
O mar cantava um hino.
Ambos sozinhos – eu e o mar,
Unimo-nos e esperamos que sua preferida
Se enfeitasse para nos ver.
Você fazia das ondas lindos saltos...
Estava contente, feliz!
Trazia algumas pérolas que tomara para si.
Estavam ali, na superfície, vindas de suas profundezas
Para ofertá-las à sua amada.
Enfeitava-se e compunha hinos,
Hinos ora alegres, ora tristes, serenos ou enfurecidos.
Estava impaciente, nem tudo preparado
Pois faltavam os pássaros...
Mas eis que surgem, assim, em bandos
De tenras nuvens calmas, diferentes do mar.
O sol se foi e seus raios vermelhos beijavam os céus,
Abraçavam as águas...
Então, ela se fez surgir!
Não era pura, mas singela...
Seu manto rosa dourado reluzia...
Tomando para si as pérolas
Que horas depois vestiu!
De seu rosa feminino tornou-se mais pura, prateada...
Surgindo sua imagem trepidante por entre as ondas do mar.
E o mar, apaixonado, tomou-a, beijando-a...
Mas não era ela... Somente seu reflexo, sua luz!
E mesmo assim ele se fez feliz!
Nisso, como num encanto,
Uma canção saltitante se fez ouvir...
Mais pássaros, eram eles, brancos... calmos.
Um grande bando...
Rezavam, como em prece suplicante
Para os que ali, embaixo de suas asas, descansavam...
Outros, brincalhões, trocando encontros com as águas,
Inspiravam-se naqueles que ali foram felizes,
Aos que ali admiraram o mar!
Ainda não era noite...
As estrelas não se faziam todas presentes
Para constituir o grupo daquelas
Que, antes da amada do mar chegar,
Enfeitavam-na com vestes simples, femininas
Para, na terra, os seres se apaixonarem.
As nuvens estavam ligeiras, douradas,
Cobrindo muitos desses mitos infantis.
O mar, então, repleto de esplendores, deixou soltar um suspiro,
Suspiro de namorado que ama realmente alguém.
Cada vez mais se fazia noite...
A lua, muito mais feliz, atirou, de modo admirável,
Uma luz que se fez voar pelo espaço...
O seu prateado, às vezes modesto,
Deixava o mar louco e este se enfurecia.
Chegava, então, às praias com suas ondas de censuras amargas,
Amargas por não poder tê-la.
E foi assim que se fez noite.
Noite encantadora, repleta de esplendores.
Fiquei triste... tinha que partir.
Não podia ficar ali eternamente...
Lágrimas começaram a rolar.
Fiquei triste, tão triste que mal podia caminhar por entre a imensidão da noite.
Suas espumas, tão suaves, estavam sempre a me beijar...
Eu ia sorrindo, enquanto a tristeza me invadia.
Pensei:
E quando tudo terminar? O que será do mar?
Irá se enfurecer e com toda a sua força crescer para aos céus implorar
Por outras noites, assim, lhe acompanhar!
Mar, com suas canções...
Canções saltitantes e felizes
Acabará por chorar eternamente por não poder rever a lua novamente!
Não, você não tem um coração!
Não tem olhos, nem ilusões.
O amor pela lua acabará, pois tem outras coisas para amar...
Esta noite não mais se fará...
Foi a primeira e única; aproveitem-na.
Não se esqueçam de se amarem,
De se amarem a todo custo.
Então, deixei-os a sós.
E mesmo que meu coração doesse, eu já havia assistido ao espetáculo.
Sabia que iria ficar assim, noite adentro,
O mar cantando suas canções para se declarar à lua,
A lua, cheia de emoção, amaria por toda a noite o mar!
(junho de 1967)
PENSAMENTO SOLTO
Eu estou passando.
Outros estão nascendo.
Um dia só um retrato, talvez, venha a revelar algo de nós.
Mas tudo isso será recordação
E recordação é coisa falha como falha é a vida.
Abril/ 1971.
PARTES ARRANCADAS DE MIM
(amor integrativo)
Parte complementar arrancada de mim...
Vivi como mutilada
Hora sem mãos, pés ou cabeça
Faltando-me de mim
Ah, essa parte arrancada do outro em mim...
Levada embora
Jamais retornada
Faltou-me a boca perfumada
Nunca mais beijada, nem outras encontradas
Inigualável em intimidade e emoção
Ah, essas partes arrancadas,
Multiplicadas,
Nunca preenchidas
Busca que vem de longe, de mares não navegáveis
Percebidas cedo
Encontradas
Depois perdidas em múltiplas etapas
As, essas partes do outro arrancadas de mim...
Faltas multiplicadas ao infinito
Nunca mais apartadas, nem retornadas
Ah, que falta sinto delas em mim!
2024
PALAVRAS... LAVRAS
(Essencial é ver; ser, basta!)
Não há palavras! Há.
Esperar?
Não há por quê. Para quê?
Silêncio...
Tristeza...
Invisibilidade!
Não sou.
Sou?
Ser!
Essência,
Basta?
Que bosta!
Universo
Terra/ mar/ ar...
Misture tudo!
Nada?
Vazio!
Dez/ 2017
TEMPO
(Cosmovisão: achando-se nada)
Amigos, muitos.
Família, nada.
Perdeu-se no tempo!
Gerou-se sozinho...
Muitos, (a)parentes.
Mão estendida...
Volta vazia!
Dias vários.
Vida curta,
Sem fim!
O Tao de tudo.
Profundo!
Sorria,
Pois é contínua,
Continua!
Dez/ 2017
AUSÊNCIA
(Sem ir, sem vir. Tudo o mesmo e no mesmo esmo!)
Irmão:
Chama acesa no peito.
Filho:
Chama acesa no peito.
Amigo:
Chama acesa no peito.
Ardência de tantas chamas.
Ausências.
Presença de si,
de mim,
de ti.
Do, ré, mi, fá, sol, lá, si... ________
• O retorno! }
• A partida! }
Ida X Volta!
2017
DESIMPORTAR
(quando se desligar da energia... retorne à fonte para brilhar!)
Cansa mesmo...
Fale menos!
Enche mesmo...
Esvazia mais!
+++++++++++
Ih, não passa!
Volte,
Retorne,
Retome.... mumumumumu_______________*
Começar de novo?
Que saco, diz-se...
Não diga!
Esmurrar a ponta
da faca __
fraca?
Sangra,
Dói.
E daí, quem se importa?
2017
ONTEM
Na razão inconsciente
Da minha mente insatisfeita,
Vi quebrarem-se as barras de ferro.
Senti um desejo
De residir em nós.
Na loucura da minha consciência
Quase satisfeita,
Vi unirem-se as barras do sentimento.
Sumiu, então, a moradia que nos unia.
A morada se vestiu
De um brando amor humano.
A mente tomou o seu lugar...
O coração repousou,
Bateu leve.
E as mãos uniram-se fortes e ternas.
Abril/ 1971
Alguém pequeno, tão grande
(inspiração adolescente)
Você criança, de olhos grandes, calmos e serenos, reluzindo como a lua...
Sua voz infantil era sua, só sua...
Quando iria tomar forma?
Quando iria crescer?
Andava tão engraçado...
Eu só podia rir de você!
Meu riso não foi zombador,
Foi somente de dor, em pensar tantas coisas... de você!
Meu riso? Foi riso!
Quem pode dizer do que foi?
Sua altura era sua, só sua...
De repente...
Fez-se gigante, apesar de ser tão pequeno!
Você, rosto fino, mãos longas, pés grandes...
Era engraçado, meio desengonçado!
Mas eu gostava de você!
(1967)
Da bondade à maldade
(Inspiração adolescente)
Uma maldade divina do inferno
Surgiu nos passos de regelante vida
Com formas de amor e doçuras de liras
Contendo no coração o prazer
e nas mãos o pecado!
De um sono de anjos, roubavas um beijo
E sempre a beijar guiavas teu anjo ao relevo
De inanimadas vidas e incorrigíveis prazeres
Esquecias que o maior pecador eras tu, pobre imprestável
Em tudo buscavas vida e esta passava a odiar-te!
As coisas que te cercavam morriam odiando-te,
Fugiam desesperadas, sem querer olhar-te
Um perdão nunca ouvistes, tu eras mau
Nada mais para beijar, tu querias o prazer
Implantastes a maldade e colhestes teu plantio,
E por fim, por tua vítima, fostes perdoado...
[Agosto/ 1968]
Poema livre
(Inspiração adolescente)
Página aberta de um livro
Fechou-se...
Capítulo algum,
Não mais existe...
Nada!
Foi de compreensão que sucedeu,
Foi de paz,
Espírito consagrado...
Amor!
Foi e sempre será por nós,
Pelo bem-estar espiritual.
Não virás a mim
Casa minha
Refúgio santo!
Tu somente,
Ninguém mais.
Gélidas vidas?
Nada mais
Só paz &
Amor!
Mas, por quê?
__ Pelo amor, respondem
Mas que amor?
Ninguém explica!
Nosso olhar reflete a alma,
Alma pura de amor
Consagração real de felicidade.
Nossas mãos encontram-se sempre,
Num juramento eterno.
Amar sempre,
Seguir em frente...
Amando-nos sempre...
Sempre!
(1969)
ELEGIA AO PRIMEIRO AMOR
(Apaixonado, arrebatadoramente apaixonado. Amante confesso e condenado)
Chuva.
Tarde.
Pôr do sol.
E versos morenos sobre a areia.
Calor.
Noite.
Lua cheia.
E um banco de jardim com dois amores.
Adolescência.
Descoberta do outro.
Beijo das mãos.
Toques de lábios carnudos.
Desnudos, os corações se apaixonam.
Como é possível?
primeira tarde
primeira noite
alma ansiosa
amor platônico
tomar conta de tudo?
Instalar-se para sempre
“feito um posseiro”
dentro do meu mundo!
(jan./1992)
BALANÇO DOS ANOS 40
Recebi a vida sem pedir nada.
Cresci.
Aprendi a exigência do amor,
a impaciência da crise.
Perdi luz.
Enfraqueci ideais.
Conquistei planos.
Queria um aeroplano
vivaz e transparente
para me levar pelos tempos
(presente, futuro, passado)
Em busca de mim,
em busca do outro.
Da quietude dos campos,
com cavalos pastando
entre fontes inquietantes
de vilas perdidas.
Borbulhantes,
sadias,
por entre mil romarias.
O coração entre preces, amor, fantasias.
O cotidiano quebrado
como a semente do milho
caída na terra,
germinando,
gemendo a cada ciclo
por vida.
(abril/ 1992)