Hermes Fernandes
Enquanto cultivarmos uma espiritualidade de olhos fechados, divorciada da realidade, perderemos espetáculos extraordinários como o pôr do sol, em que a natureza esbanja beleza, revelando-nos a glória do seu Criador.
Há dois tipos de beleza. Uma nos inspira reverência, quietude. Outra nos provoca suspiros, inquietação. A primeira mergulha em nós, nos perpassa, a ainda assim, mantem-se transcendente, inalcançável, revelando a sua sacralidade. A segunda se insinua, convidando-nos a mergulhar nela, a perpassá-la, a possuí-la, a experimentar a sua profanidade. Uma nos liberta. A outra nos torna reféns.
Nossa relação com Deus não é sindical, mas filial. Portanto, não perca tempo reivindicando seus direitos. Aja como filho: peça. E o pai, segundo a Sua vontade, lhe atenderá.
Deus não se dobra às nossas chantagens emocionais, nem às tentativas de suborná-lo com nossas ofertas ou boas obras. Ele sempre fará o que lhe apraz e que, certamente, cooperará para o bem daqueles que O amam.
Orar não é impor a Deus as nossas vontades. Nem mesmo fazer-lhe sugestões. Orar é, antes de qualquer coisa, reconhecer a soberania divina e submeter-se inteiramente a ela.
Não faça de sua vida um livro de registros contábeis, com perdas e ganhos. Faça dela uma história de amor que valha a pena ser contada às próximas gerações.
O amor possibilita duas vias que tornam a vida rica em significado: comunhão entre os que concordam e coexistência entre os discordantes.
No início da civilização, prevalecia que tinha a força. Depois, prevalecia quem detinha os recursos. Estamos no limiar de uma era em que prevalece quem tem informação. Mas no Reino de Deus, prevalece quem tem amor.
Perda de tempo é fazer do conhecimento a munição para sobrepujar seus oponentes. Melhor fazer dele o adubo que faça florescer até em solo infértil.
Jesus perguntou ao doutor da Lei: Que está escrito na lei? Como lês? (Lc 10:26). Repare que são duas perguntas, uma de caráter objetivo e outro subjetivo. O que está escrito revela quem Deus é, mas a leitura que fazemos revela quem nós somos.
Não se honra a Bíblia simplesmente citando-a, mas encarnando-a como fez Jesus. Antes que pregar um sermão, torne-se a mensagem.
Houve tempo em que julgava uma teologia por sua beleza, pelo sentido que fazia em minha mente. Hoje, julgo a teologia pelo tipo de ser humano que produz.
Quem mais diz honrar a Bíblia às vezes quem mais a desonra quando a usa para justificar seus preconceitos, sua ganância, seus interesses.
Você perderá amigos, decepcionará admiradores, ganhará desafetos e críticos ferrenhos, mas ao menos, não terá lavado suas mãos. A única coisa que não pode perder é a sua alma. Fiel à sua consciência, você será fiel ao que lhe chamou.
Se não quiser ser julgado e até sentenciado por alguns, recolha-se, cale-se, omita-se, deixe que a vida aconteça sem emitir a sua opinião.
Não creio que o serviço que devemos prestar deva ter pretensões proselitistas. Creio que temos perdido muito de nossa credibilidade por conta disso. Devemos, sim, servir despretensiosamente, no afã de demonstrar o amor de Deus que está derramado em nossos corações (Rom.5:5). Nosso serviço não é uma isca evangelística, mas uma demonstração legítima de amor
E quem quiser ser cabeça, que aprenda a plantar bananeira, pois o apóstolo que tinha a primazia entre os discípulos, terminou crucificado de cabeça pra baixo.
O fantasma da injustiça não pode ser exorcizado com boas obras. A consciência sempre será assombrada por ele, até que haja arrependimento sincero, seguido de confissão.
Ame, mas não a ponto de tornar-se voluntariamente cego, negando-se a enxergar o caráter duvidoso da pessoa amada. Ame mas não seja cúmplice de ninguém.
Há gente decente, mas que, devido à sua ingenuidade, deixa-se usar por gente inescrupulosa. Cuidado com aqueles com quem você caminha. Às vezes, o justo paga pelo injusto.
Não minta e não seja cúmplice de mentira alguma. Não seja injusto, nem seja cúmplice de injustiça. Não cultive ódio, nem deixe-se ser usado para alimentá-lo.