Hermes Fernandes
Aproveitar a dor alheia para empurrar nossa visão religiosa não é evangelismo, mas proselitismo, do tipo adotado pelos fariseus; em vez de alívio, agrava o sofrimento, tornando-o insuportável.
Qualquer expressão religiosa desprovida de misericórdia não passa de presunção, nada tem a ver com a proposta de Jesus, e por isso, deve ser rechaçada.
É diante da tragédia que percebemos o quão superficiais têm sido nossas mensagens, nossas canções, nossos estudos bíblicos, pois não nos preparam para encarar a vida como ela é, com suas demandas, suas dores, suas inquietações. Tornamo-nos numa geração mimada pela teologia da prosperidade e hinos triunfalistas. Sinto pesar pelas vítimas e vergonha por nossa apatia crônica. Deus nos desperte a tempo.
Conheço bem a trilha sonora do meu passado, mas a do meu futuro ainda está sendo ensaiada. Já ouço seus primeiros acordes.
Tenho sonhos que uma vida só não daria conta de realizar. Almejo coisas que estão pra além da minha própria existência.
Penso que como seguidores de Cristo, deveríamos amar à humanidade como um todo, o que incluiria tanto o distante quanto o diferente, e não apenas o próximo e o semelhante.
Velhos amigos são mensageiros do passado, que nos fazem ver quanta estrada já percorremos... Novos amigos são mensageiros do futuro que vêm para nos avisar o quanto ainda temos pela frente.
Entre o reino de Deus que devemos buscar e o acréscimo de todas as coisas (tão sonhado por muitos) há uma palavrinha que há muito tem sido negligenciada: JUSTIÇA.
Deus nos prepara uma mesa na presença dos nossos inimigos, não para envergonhá-los enquanto nos exalta, mas para que repartamos com eles o nosso pão e, assim, sejam constrangidos pelo poder do amor.
Geralmente damos boas vindas a Jesus. Desde que Ele não se intrometa com nossos negócios, com a maneira como conduzimos nossa vida. Ele é muito bem-vindo na sala de estar, mas os quartos de nossa vida são mantidos impenetráveis. Se Ele se atrever a ultrapassar os limites impostos, nós mesmos o crucificaremos novamente.
Ainda prefiro o estresse ao tédio, o ativismo ao ócio, a frustração de não ter conseguido à de não ter sequer tentado.
A teologia moderna é responsável pelo divórcio entre o amor e a fé. Razão pela qual a esperança sequer é cogitada. O futuro deixou de ser o que era antes. Vivemos somente pelo aqui e agora. Nada mais nos interessa senão as demandas existenciais do momento.
A esperança é fruto da conjunção entre a fé e o amor. Fé desprovida de amor provoca o aborto da esperança.
Segundo João, a vitória que vence o mundo é a nossa fé... e segundo Paulo, essa fé só opera pelo amor... o mesmo amor que, segundo João, lança fora todo o medo. E o mediador entre a fé e o amor chama-se esperança. Por isso, depois que tudo passar, somente esses três mosqueteiros permanecerão: a fé, a esperança e o amor.
Como cristão, não posso "cobrar" nada do mundo. Devo vencer pelo exemplo. Uma postura ética, comprometida e compassiva poderia constranger quem quer que se pusesse como oposição.
Na busca frenética por um atalho que nos devolva a relevância, tomamos um beco se saída. Só nos resta dar marcha-ré e voltar ao primeiro amor.
Fico a me perguntar: Onde foi que perdemos Jesus? Penso que a exemplo de Maria e José, nós o perdemos dentro do templo, isto é, em nossa própria religiosidade.
Não somos mais aquele Zé Povinho que costumávamos ser. Cansamos de ser cauda. Agora somos cabeça... o preço disso é que perdemos o coração.
Deixamos de ser igreja para sermos casa de marimbondos. Nossos ferrões revelam nossa natureza. Se ao menos fôssemos abelhas... mas não há mel, somente ferroadas.
Uma vez remodelados, a obra não estaria completa se também não fôssemos cheios. Além de alcançarmos a perfeição (forma), fomos destinados a alcançar a plenitude (conteúdo). Se a forma diz respeito àquilo que se vê, o conteúdo diz respeito àquilo que não se vê.
Se a falha de alguns cristãos for capaz de me afastar de Cristo, então, não era a Cristo que eu estava apegado, mas àqueles que O cercam.
FANTASIA
Desiludir-se
desistir da fantasia
Abraçar a nostalgia
Caminhar à margem da vida
Despertar-se
Aceitar os seus limites
Refrear seus apetites
Comprar passagem só de ida
Conformar-se
Jamais ousar se aventurar
Se reprimir, deixar pra lá
Encarar a crueza da lida
Sabotar-se
Tornar sonho em pesadelo
Seguir tristonho, enxugar gelo
desprezar a destreza contida
Deus Teimoso
Por que eu?
O que foi que você viu em mim?
Será que esqueceu
Tudo quanto eu fiz pra tentar ser feliz
sem você...
Sim, doeu
Entregar-se por mim deste jeito
Por que se atreveu...
tudo quanto eu quis foi viver por um triz
Tudo quanto eu fiz foi tentar ser feliz
Sem você...
Não consigo entender sua insistência...
Por alguém que não é seu amigo e sequer vale a pena
Se entregar por amor sem qualquer resistência...
Recebendo em si meu castigo, minha dor, minha pena
Desça daí
Cravos não podem te segurar
Eu te traí
Escravo me fiz, miserável, infeliz
Tentando fingir ser o que sempre quis
Sem você...
Não mereço nem uma só lágrima, nem uma gota
do teu sangue inocente vertido na cruz de madeira
Eis o preço, o valor de minha bancarrota
Falido e perdido no mundo, sem eira e nem beira
Todo-amoroso, Deus teimoso é o que você é
Teu amor me constrange, desarma minha alma e conquista
Todo-amoroso, Deus teimoso é o que você é
Teu amor tudo abrange, não há quem mereça e resista