Hermes C. Fernandes
Catequese
Quanta pretensão a minha!
Achar que detinha
o monopólio da raça
Que estupidez a minha!
Pensar que eu vinha
com o portfólio da graça
Eu com catequese
Tu com hospitalidade
Um rio que não se represe
desafia minha vaidade
Eu, civilizado
Tu, selvagem
Eu, educado
Tu, à margem
Teu sorriso fez calar o meu sermão
Onde piso não há lama, não há chão
O meu siso já nasceu, dói mais não
Meu juízo se perdeu na razão
O que pensava te levar
Tu trouxeste a mim
O Deus que fui te apresentar
Surpreendeu-me enfim
Minhas roupas, meus costumes
Não parecem te atrair
Tu me poupas de queixumes
Te contentas com o que vir
Não bastasse a pretensão
de impor as minhas crenças
Além da religião
Também trago-lhe doenças
Pela fé no deus do império
Te escravizo, te anulo
Roubo todo teu minério
Te ironizo, te rotulo
Quem levaria a sério
interesse travestido de amor
Se em nome do Mistério
se explora até a dor?
Com a cruz que se estampa
tanto escudos e brasões
Se conquista, se acampa
tantos mundos e rincões
Se déssemos ouvidos
ao que diz nosso Senhor
Em vez de oprimidos,
gente livre em amor
Que vergonha, que vexame
Deus não está nas catedrais
E quem sonha, busque ou ame,
Vai encontrá-lo nos quintais
Sob pontes, a relento
Em barracos de sapê
Na favela, assentamento
onde ninguém quer ou pode ver
Não te afrontes, te apresento
Nosso Rei e bem-querer
Sabe qual o pecado mais cometido pelos crentes e menos cometido pelos ateus? Tomar o nome de Deus em vão.
A diferença entre amor e paixão é que a paixão tem como objetivo o bem do apaixonado, o amor objetiva o bem de quem se ama.
Ideal
Não é por fama ou por aplauso,
Nem pela luz do holofote
Se o escândalo eu causo
Se houver soberba que eu arrote
Que esta chama, que este alvo
Em mim se apague, alguém sabote
Que milagre ou prodígio,
Vai impor o meu querer?
Não busco a posse ou o prestígio,
Nem o prazer, ou o poder
Mas...
Um ideal pelo qual morrer
Um amor para o qual viver
Ao oprimido estendo a mão
Às injustiças eu cerro o punho
Ao desterrado, pedaço de chão
Ao desesperado, meu testemunho
Saio às ruas para proclamar
Que um novo tempo já se insinua
No horizonte a esperança a raiar
Que a distância entre nós diminua
E o que a mão esquerda fizer
A direita não saiba jamais
Que eu sofra a perda que vier
Mas não desista, nem olhe pra trás
O Seu amor hei de manifestar
No sacrifício pelo semelhante
Com o Seu perdão quero aterrar
o precipício que houver adiante
Quero ser voz para o mudo
para o mais fraco, hei de ser um escudo
Quero ser luz no escuro
Faz de mim seta que aponte o futuro
Se todos dedicassem suas energias na felicidade do outro, este mundo se tornaria num paraíso. Distraídos conosco mesmos, alimentamos as chamas do inferno.
A grande ironia da vida é que nossa felicidade depende do outro. Deus escolheu que fosse assim para que não fôssemos autossuficientes.
O segredo da felicidade não está no mundo das coisas. Somente pessoas têm o poder de nos fazer felizes. O problema é que elas estão tão ocupadas na aquisição das coisas, que se esquecem do essencial.
Sabe o que é mais frustrante? Há quem saiba fazer o outro feliz, porém não pode. Enquanto há quem possa, porém na queira.
Urge redescobrirmos Jesus e Sua mensagem subversiva de amor. Isso desencadearia uma revolução sem precedentes na história humana.
Imagine uma banheira. Se o ralo estiver aberto, toda água que nela cair será sugada e ela jamais se encherá. Mas se estiver fechado, ela não apenas se encherá, como também transbordará, inundando o banheiro. Assim somos nós. A fonte da vida está sendo jorrando. Se o ralo do nosso egoísmo estiver aberto, sugará tudo ao redor. Mas se estiver fechado, transbordaremos a ponto de beneficiar todos à nossa volta. Portanto, só é possível encher-nos do Espírito, se vedarmos o ralo de nosso egoísmo.
A diferença entre ciúme e inveja? Ciúme é não querer compartilhar o que é nosso. Inveja é querer o que é do outro. Duas mãos de uma mesma estrada chamada egoísmo.
Nosso ciúme é proporcional ao reconhecimento de que outro poderá proporcionar felicidade maior a alguém do que a que estamos dispostos a oferecer.