henrique bucherk monteiro

Encontrados 5 pensamentos de henrique bucherk monteiro

⁠O amargo

o amargo é quando estou dizendo que nós inventamos a pessoa amada. As lentes da paixão beiram o delírio e nos permitem olhar para o outro com uma gentileza que quase rompe com a realidade. Porque na paixão idealizamos o outro, não a partir dele mesmo, mas a partir daquilo que gostaríamos que ele fosse. Mas, se tudo funciona bem, o outro cai do pedestal que lhe oferecemos e demonstra sua preferência por vestir sua própria pele, em vez da fantasia que costuramos para ele.

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De mim, para mim.

Começo esta escrita como uma forma de agradecimento. Saiba que esta carta que te dedico é a forma mais pura e fiel que consigo te oferecer sobre o que sinto, desejo ou agradeço.

Enquanto te escrevo, estou sentado nos fundos de casa, no nosso pomar, tomando um mate. Hoje é uma manhã tranquila, é véspera de Ano Novo, e a cidade barulhenta acordou silenciosa. Eu acordei silencioso. Observo minha família em paz e em harmonia. Tudo está tão calmo e tranquilo.

Esse tempo que passamos juntos me trouxe momentos de afeto muito bonitos. Desde nossas compras no supermercado, nossas idas à pracinha, até os passeios com a Luna. Obrigado.

Tudo o que vivemos foi lindo, mas eu não consigo ser só metade de tudo o que poderíamos ser. Obrigado por me conhecer de uma forma que ninguém antes havia conhecido. Você foi calmo e gentil. "Enquanto todos me pediam pressa, você me pediu calma." Acho que isso diz muito sobre você.

Estava lembrando daquela noite em que fomos fazer compras, você cozinhou, eu fiz os drinks, e ouvimos alguma música pop que você gosta. Por um instante, tudo parecia perfeito. Mas uma memória que ficou muito clara foi o momento em que coloquei uma música da Adele e você perguntou se eu sabia a tradução. Eu disse que não, e então coloquei a versão com tradução. Aquela música parecia que tinha sido escrita para nós, naquele momento:

"If this is my last night with you
Hold me like I'm more than just a friend
Give me a memory I can use
Take me by the hand while we do what lovers do
It matters how this ends."

"Se esta for minha última noite com você
Abrace-me como se eu fosse mais do que apenas um amigo
Dê-me uma memória para guardar
Pegue minha mão enquanto fazemos o que os amantes fazem
O modo como isso termina importa."

Você me disse que Gold Rush, da Taylor, fazia você lembrar de mim. Bom, essa música me faz lembrar de você.

E, se você nunca mais me vir – porque às vezes a existência tem dessas coisas, seja pela vida ou pela memória –, gostaria que você lembrasse de mim, nem que seja por algo bobo. Obrigado por tudo, e quero que saiba que, de onde eu estiver, estarei vibrando pela sua felicidade.

Com afeto,
Henry.

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⁠Agonia

Essa semana voltei a ler bell hooks e em uma página ela diz que, quando adolescente, costumava escrever, mas após terminar as escritas, achava algo "bobo". Com o tempo, percebeu que estava se inviabilizando. Não discordo dela. Sempre que termino de escrever algo, leio e penso comigo mesmo que bobagem, que ninguém nunca leia isso. Confesso que estou mudando de ideia sobre isso. Com o tempo, tenho certeza de que vou melhorar minha escrita e talvez achar isso até mesmo aceitável. Mas até lá, sigo por essa caminhada da autocrítica e me automenosprezando.
As palavras definem quem somos: órfão, viúvo, colega, mas não há uma palavra que defina a agonia da incerteza. Eu invejo aqueles que acreditam em um ser superior que escreve nossas histórias e nos protege de algum mal. Amor, amigos, conexão por um instante Quando dizemos essas palavras, o caminho se torna claro por um momento e depois desaparece. Se há algum caminho para mim, estou procurando por ele ainda.

''assim como nos apegamos à ideia de que aqueles que nos machucaram quando éramos crianças nos amavam, tentamos racionalizar o fato de sermos machucados por outros adultos, insistindo que eles nos amam. No meu caso, muitas práticas de humilhação às quais fui submetida na infância continuaram em meus relacionamentos românticos adultos."

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⁠Berlim

Essa semana tive uma conversa muito interessante com minha irmã, uma conversa muito afetiva sabe? Eu e minhas irmãs nunca tivemos isso de falar sobre seus sentimentos e expressar o que sentimos sobre determinada situação, talvez tenha sido por isso que a maioria de nós encontra 'família' em pessoas que não são do seu sangue. Comigo foi algo parecido. Quando criança, nunca fui ensinado pelos meus pais a falar como eu me senti, pelo contrário, qualquer demonstração de sentimento era tida como algo de 'bicha'. Então, sempre foi algo muito reprimido. A partir daí, eu comecei a buscar esse acolhimento de 'família' em amigos, em pessoas que não me reprimiam. Encontrei amigos que são bem parecidos comigo e nos tornamos família. Brigamos e nos acertamos novamente. Desde então, considero que me tornei uma pessoa com muita maturidade e muito afetiva (agradeço aos meus amigos que nunca me trataram de outra forma). Sendo assim, decidi quebrar esse ciclo da minha família. Confesso que está em processo ainda. Acredito que meus irmãos, assim como eu, tenham feridas tão profundas e que com o tempo tornou-se uma simbiose com eu deles e seus traumas. Sempre que posso, chamo eles para minha casa, convido para fazer alguma coisa, e tento ao máximo ser uma pessoa afetiva (dentro dos parâmetros que consigo). Alguns de nós demonstram a afetividade das formas mais subjetivas possíveis, pode ser através de gestos, presentes, palavras e algo muito subjetivo de cada indivíduo. Ontem, eu e minha irmã tivemos uma conversa. Ela disse para mim que quando ela resolver a vida dela, eu poderia ir morar com ela em outra cidade. Também disse que ela sempre estará ali para mim. Saber disso me trouxe uma certa paz de espírito. Eu consegui fazer com que ela se abrisse para mim, isso foi tão gratificante. Respondi a ela que o sentimento era mútuo e que ela também sempre poderia contar comigo, que eu achava muito importante a gente se apoiar, já que não recebemos isso de nossos pais (não é uma crítica à minha mãe, que fez o seu melhor para nos criar enquanto mãe solteira. Hoje, mais velho, entendo que ela só poderia passar para a gente o que foi ensinado a ela, como ela poderia ensinar algo que nunca foi dado a ela?). Sinto que eu e meus irmãos estamos chegando em algum lugar dentro da afetividade, estamos nos buscando mais, e isso me deixa muito feliz.

Amor é uma experiência grande demais para se reduzir a apenas uma modalidade. Há muitas formas de amar e nenhuma delas é exatamente fácil, uma vez que nenhuma delas nos livra da solidão. Ana Suy

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⁠guerra

Gente como nós sempre encontra gente como eles". Um amigo me disse essa frase essa semana e ela foi muito marcante por inúmeros motivos. Mas é verdade né... gente como nós sempre encontra gente como eles. Passei o restante da semana elaborando essa frase. Bom, ela me trouxe algum conforto, mas o desconforto é tão imprescindível. Descobrir que é bom ter alguma distância de algo ou alguém que se ama, porque quando eles partem é menos doloroso. Me sinto tão sozinho ainda, me olho no espelho e não me reconheço. Ter começado a ler Alice tem me ajudado com as frequentes crises. Este livro é tão devidamente preciso sobre o que deseja passar, ele nos ensina o que fazer quando em cima, é em baixo e, em baixo é em cima, quando a direita é a esquerda, como agir quando se está do outro lado do espelho. O ano está acabando e tenho ficado tão "subjetivo", talvez seja porque agora tem tanto mais em jogo, tanto mais o que perder. Tenho sido tão forte, não sei até onde mais vou com isso. Faço uso dessas escritas para que, se um dia eu precisar dizer adeus, que meus amigos saibam que eu vivo nas minhas escritas e nas suas memórias, que quando sentir um pingo de saudade pode voltar aqui. Conflitos de identidade são tão complexos, nunca me imaginei nesse lado do espelho, o lado o qual se despede e clama a um deus que o liberte de tal sofrimento.

As véspera da batalha, em uma noite fria e sem vento, um velho general se voltou a uma jovem soldado e disse: "Amanhã você conhecerá o medo". A jovem soldado, que ainda não havia vivenciado a agonia da guerra, olhou para o general com os olhos curiosos. "Como vou conhecer o medo se Não sei como ele se parece", perguntou ela. O general respondeu: "Você conhecerá o medo porque ele fala muito rápido e fala muito alto".

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