Hebo Imoxi
A dependência cultural, económica e política
Em relação aos países desenvolvidos é crítica
A dívida externa aumenta com vigor
A expectativa de vida baixou
Crescimento populacional elevado
Oligarquia perpétua, nepotismo acentuado
A mutação na economia mundial
E na geopolítica planetária como tal
Agravou a desigualdade da natureza
Da acumulação de riquezas e da disseminação da pobreza
O desenvolvimento, por sua vez
Assume padrões perversos
Marginalizando a maioria da população
Porém o desenvolvimento e a dogmatização
Das potências mundiais vive de modo patético
Às custas da exploração dos países periféricos
Onde está a cidadania democrática?
A sociedade civil é estática!!!
Tem medo do titular do poder Executivo
O ópio do povo se chama Executivo
O fardo que eu transporto pelos outros por outro lado
Faz-me esquecer do meu próprio fardo
Como Aristóteles, digo certo
"Quem não tem amigos, não é um homem completo"
A bondade que vejo nos outros, é curioso
Torna-se o meu bem mais precioso
Compromete-me com a construção de um mundo novo
Onde o homem tenha um lugar ao sol do Deus que promovo
O amor que sinto pelos outros sem medidas
Enche de alegria a minha própria vida
Onde saber mais, poder mais, poder ser mais
Implica andar cada vez mais
O caminho que eu percorro com os outros não tem perigos
Porque é o caminho que Deus percorre comigo
A paz é um efeito de amor e Deus é amor, aliás
O homem foi feito para amar, feito para a paz
O que se aprende do Ocidente tem algum sentido
Mas por mais útil que seja nem sempre é benvindo
Canto aos homens a história dos seus ancestrais
Para que a vida lhes sirva de exemplo capaz
Eu não morro eu reincarno no baobá
Como um sortilégio a quem ofende os orixás
Camarões, Burkina Faso, Serra Leoa, Libéria
Togo, Níger, Gâmbia, Gana, Nigéria
Contar e ouvir estórias na minha opinião
São formas de manter a socialização
Joseph Ki-zerbo, Tierno Bokar, Leophold Senghor
Cheik Anta Diop, Mory Kanté, Youssou N'dour
Griot em francês, Djeli em bambara
Do antigo Sudão à imensidão do Saara
Sou testemunha do passado, adulto e maduro
Sou cantor do presente e mensageiro do futuro
Não sou apenas porque tu és, na verdade
Eu sou por meio de ti na minha simplicidade
Ser humano significa ser por meio de outros
Sejam estes humanos ou não, vivos ou mortos
O que sou significa calor humano, compaixão
Cuidado, humanismo, respeito, compreensão
O que sou se traduz num conceito moral
Numa filosofia, num modo de vida natural
As sociedades africanas têm por objectivo
Dar importância ao altruísmo colectivo
À partilha e a colaboração entre os seres humanos
Sempre com o devido respeito e este é o plano
Entendo tudo isto de forma primária
Como um guia de conduta social solidária
África entende que estamos, na verdade
Conectados uns com os outros, daí a nossa humanidade
A minha existência é regida por uma ética colectiva
Uma filosofia humanista espiritual e educativa
Pautada pelo altruísmo, fraternidade
Respeito e colaboração entre toda humanidade
Já não sou tão precipitado em qualquer ocasião
A fazer juízos de valor de quem está ao meu lado ou não
Onde estão os impiedosos e exímios fiscais
Que com a crise se decidiram a criar ainda mais
Fundos e impostos nada nobres
Nos bolsos já vazios dos mais pobres
No intuito de taxar o contribuinte coitado
Por coisas que ele sequer usufrui do Estado
Se for para buscar um objectivo para este poema cá está
Não espere ganhar milhões para iniciar a trabalhar
Não espere ser amado para amar o irmão
Ou a separação para buscar uma reconciliação
É forte o homem que controla o vício que domina
Todo pobre que imita um rico sempre se arruina
Os desejos tem razões que a razão não aprova
Se não os controlares eles levam-te à cova
Para quem crê, não existem perguntas isso mostra
Que para quem não crê, não existem respostas
Se existir fome que seja de um amor sincero
Se for para ser feliz que seja o tempo inteiro
Não espere cair para lembrar-se deste conselho
Ou envelhecer para respeitar os maia velhos
Ser homem eu acho que é ser menino
Firmar a vontade na verdade com um espírito genuíno
O país é produtor de petróleo
Mas o preço do combustível sobe aos nossos olhos
Só não sobe a qualidade de vida da população
E o salário paupérrimo do pacato cidadão
Quero uma dose de paz com um certo agrado
De amor, de felicidade e de sonho realizado
Quero partilhar com quem tem disponibilidade
De aspirar à paz com naturalidade
Para o resto, só quero justiça imediata
Por mais que as convulsões do sistema sejam ingratas
Imaginem um mundo diferente do que pensa a maioria
Com vários países, mas uma só cidadania
Várias culturas, uma só irmandade
Onde o respeito é o mosaico da igualdade
A paz, a harmonia e o bem estar social
Serão encontradas se seguirmos uma bússola moral
Que aponte na mesma direcção com frequência
Independente de modismos ou tendências
Mahatma Ghandi aconselhou do seu jeitinho
Não existem caminhos para a paz; a paz é o caminho!
Felizes os que saberem perdoar, por ser aquilo que adianta
Os que sabem que as guerras jamais serão santas
Os que aceitam o perdão com um coração acessível
Os que acreditam que o consenso é ainda possível
Os que provocam as guerras não acarretam suas sequelas
E na sua generalidade nunca pagam por elas
As armas não garantem a paz e é curioso
O poder enlouquecido também mata os poderosos
Imaginem que o diálogo seja tudo que queremos
Para abraçar aqueles que ainda podemos
Imaginem um lugar onde se prima pela igualdade
E os egos dão lugar à gratidão e a humildade
Imaginem um mundo onde o amor resiste à opressão
Enfatizando o consenso altruísta nas tomadas de decisão
O futuro está nas mãos dos que souberem dar
Às gerações de amanhã razões de viver e esperar
Eu sou o griot, o mestre da literatura oral
Narrador por excelência, sou um instrumento musical
Trago uma vertente mais sublime, inalcançável
Suavizante, transcendente, agradável
Não formatada dada a sua originalidade
Não palpável a sua imaterialidade
Escutar é ir além do simples ouvir
É captar o sentido dos sons e reflectir
Perceber e compreender sua forma estrutural
Quanto maior o conhecimento, melhor a compreensão musical
O que canto foge às leis entendíveis da razão
O que canto é o que escrevo e o que escrevo não canto em vão
Quem ainda me escuta até os dias presentes
Mergulha logo numa realidade envolvente
Sei que o que eu canto não agrada tipo lixo
Nem por isso vou parar de cantar para alimentar caprichos
Há músicas que nos fazem querer dançar juntos
Há músicas que nos fazem querer cantar juntos
Mas as melhores são aquelas que têm a magia
De nos levar de volta à primeira vez que as ouvimos um dia
E mais uma vez, partem o nosso coração
A minha música é assim, desde a sua concepção
Como quem volta para casa e resolve se amar
Sustentar a chama no corpo sem deixar a luz se apagar
A música RAP comigo é assim e neste momento
É a que melhor explica o que me vai no pensamento
Quando tudo parece perdido ainda assim se pode cantar
Por essa razão eu escrevo sem exitar
Assim é a música que faço e chama-se RAP
Um estilo banalizado por esta sociedade inerte
Posso não ter a voz ideal para cantar
Mas posso fazer as pessoas ouvirem o que tenho para falar
Eu vou cantar até que a idade permita
Não o que os outros querem, eu canto o que o povo necessita
Isto não é brincadeira, é coisa séria
Sou narrador por excelência, mestre de primeira
O século XX trouxe a revolução musical
O entusiasmo foi grande, e como tal
Inovações, pretensões, criações, tendências
Novos géneros musicais, novas preferências
Quando canto, encanto porque, o que canto é bonito
E a minha vida assume a dimensão do infinito
Cantando invento sempre de tudo um pouco
Uma mentira, uma saudade, um romance louco
Canto para espantar os demónios, juntar os amigos
Seduzir a vida, sentir o mundo comigo
Muito além da realidade, hoje busco falar
De um sonho pelo qual se deve lutar
De uma utopia pela qual vale a pena dar a vida
De uma fé que em contrapartida
Não contradiz o humano mas, que realça
O divino em nós mesmos com a sua graça
O ocidente é um Cristo ingrato e pouco perdoador
Que hoje despreza a mulher que ontem lavou
Os seus pés com suas lágrimas de sangue aliás
Os enxugou com os seus cabelos e muito mais
Esconderam o Imperialismo por trás do Evangelho
E trouxeram a cruz da Escravidão não só para os mais velhos
Para crucificar a nossa liberdade visto
Que fomos considerados inimigos de Cristo
Mas os santos alimentaram-se do sangue dos pecadores
Quem é quem? Vamos aos pormenores
Jesus é o caminho, a verdade e a vida
Um caminho que muito mentiu a verdade das nossas vidas
Depois de escravizarem o cristianismo na Europa
Vieram para África cristianizar os sem roupas
Só quando os malefícios da tirania atingem a maioria social
É que é possível o direito à resistência contra a força ilegal