Guimarães Rosa

101 - 125 do total de 306 pensamentos de Guimarães Rosa

Viver de graça é mais barato.

O correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio da tristeza...

1. Sou figura reduzida e de pouco aparecimento.
2. Quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa.
3. Quem rala no aspro não fantaseia.

Sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão.

Guimarães Rosa
Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

Nota: Trecho do conto A hora e vez de Augusto Matraga.

...Mais

Cada criatura é um rascunho a ser retocado sem cessar.

Viver é um rasgar-se e remendar-se.

Eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem intenção, sem sobêjo de esforço, fazia de conversar uma conversinha adulta e antiga. Fui recebendo em mim um desejo que ele não fosse mais embora, mas ficasse, sobre as horas, e assim como estava sendo, sem parolagem miúda, sem brincadeira— só meu companheiro amigo desconhecido.[...] Mas eu aguentei o aque do olhar dele. Aqueles olhos então foram ficando bons, retomando brilho. E o menino pôs a mão na minha. Encostava e ficava fazendo parte melhor da minha pele, no profundo, désse as minhas carnes alguma coisa.

Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Malagourado de ódio: que sempre surge mais cedo e às vezes dá certo, igual palpite de amor.

Por esses longes todos eu passei, com pessoa minha no meu lado, a gente se querendo bem. O senhor sabe? Já tenteou sofrido o ar que é saudade? Diz-se que tem saudade de ideia e saudade de coração…

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Não gosto desse passarinho. Não gosto de violão. Não gosto de nada que põe saudades na gente.

Há pessoas que estão vindo muito demoradas...

Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos.

Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Fino, estranho, inacabado, é sempre o destino da gente.

Ninguém é doido. Ou, então, todos.

Coração da gente – o escuro, escuros.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniÃES...

O verdadeiro amor é um calafrio doce, um susto sem perigos

A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba.

Qual o caminho da gente? Nem para frente nem para trás: só para cima. Ou parar curto quieto. Feito os bichos fazem. Viver... o senhor já sabe: viver é etcétera...

Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar.

Merece de a gente aproveitar
o que vem e que se pode,
o bom da vida é só de chuvisco.

Olhar para trás após uma longa caminhada pode fazer perder a noção da distância que percorremos, mas se nos detivermos em nossa imagem, quando a iniciamos e ao término, certamente nos lembraremos o quanto nos custou chegar até o ponto final, e hoje temos a impressão de que tudo começou ontem. Não somos os mesmos, mas sabemos mais uns dos outros. E é por esse motivo que dizer adeus se torna complicado! Digamos então que nada se perderá. Pelo menos dentro da gente.

Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego.