Giulia Staar
Há quem diz, que seu eterno inverno um dia já foi verão. Que suas melancolias, são apenas tristes lembranças de alguém que um dia ousou derreter seu gelo, lembranças de alguém que não ousou ficar. Há quem diz, que seus lamentos não passam de histórias, e que a verdade, nem ela mesmo sabe, ou entende, o que se passa nas suas estações. Há quem diz, que seu mundo é pequeno, resumido em palavras escritas ou pensadas, nunca ditadas. Há quem diz que essa garota pensa. Pensa tanto que esquece de falar, de viver, de se arriscar. Há quem diz que ela já se foi, que nenhuma parte sua lhe resta…Há tanta gente que diz, há tanta gente não diz… Há garotas que são decifráveis… E há garotas como ela. Há garotas como ela. Não mentira. Há garotas, e há ela.
Eu sabia, dês da primeira vez que você pôs os olhos em mim, o quanto você me odiava. Odiava minha voz, meio jeito de sorrir, minhas piadas sem graça, odiava o modo como eu pensava, como eu gritava, e insistia que sabia cantar. E talvez se na quela época eu parasse para pensar um pouquinho mais, teria chegado a conclusão de que você me odiava até quando eu respirava. A gente não se dava bem, não se completava, nem ao menos se suportava. E bem eu até poderia dizer que também te odiava. Suas palavras sempre coincidiam com suas ações, suas verdades sempre eram verdades, e o resto bem, que se tornasse mentira. Você não se importava, nem ao menos um pouco ligava. Porque eu não conseguia ser assim? Porque eu não conseguia jogar no mesmo jogo que você? Porque eu ligava e me importava? Você me dizia, tanto fazia. Dizia que o mundo não estava nem aí para ninguém e que eu provavelmente eu iria acabar sozinha. E que você provavelmente também. Dizia que pessoas como nós nasciam para viver sozinhas, e terminarem sozinhas. Fazia horrores com minha mente, trazia e criava lembranças das quais eu queria esquecer, você tornava o mundo mais difícil para mim. Você odiava meu cabelo. Não suportava vê-lo solto, dizia que o irritava. Não gostava quando eu começava a falar e sempre mandava eu calar a minha boca. E eu pensava, uau, que submissa eu. Me calando por um homem qualquer. Eu estava enlouquecida. Você estava me enlouquecendo, e me perguntava até aonde essa loucura iria. Até onde você chegaria com essa história mal terminada, até onde você me controlaria, até onde você iria me fazer agir sempre pensando em você, até quando você me deixaria, ou me agarraria para sempre. Você criticava meu modo de viver, e me dizia que eu iria morrer sem nada ter feito, enquanto na verdade eu pensava constantemente em que você iria morrer sem nada fazer. Eu criticava o seu jeito, seus defeitos, minha mente estava sempre posta para apertar o gatilho em sua direção. Meus medos de todos o maior era terminar sozinha. De envelhecer, e no fim de tudo, nada viver. Eu corria sempre para o inevitável, e queria mudar ser a mudança, e como sempre você me criticava dizendo que eu sonhava demais. Você afirmava que sim, eu não era ninguém. Mas bem, dias depois você me disse que eu estava te deixando louco, e que não aguentava mais dividir o mesmo comodo que eu por muito tempo. Você me odiava, me desprezava. Engraçado, achei que você tivesse dito que eu era um ninguém, gritei uma vez para ele. E bom, ele gritou de volta: “Você sabe e sempre soube que você não é nada, uma ninguém, mas isso só quando não está comigo.” E eu pensei, meu deus como eu odeio esse tipo de cara. A gente não se completava, não se controlava, nem se suportava. A gente não servia para nada, muito menos para ficar juntos. Mas bem, tínhamos algo em comum, nós dois odiávamos seguir regras.
Ela sorria com facilidade aquela noite, o que não era diferente dos outros dias… Mas eu estava feliz só pelo fato de pelo menos naquele dia, ser o motivo de algum de seus sorrisos.
Mas do que é feita a vida? De pessoas? Lugares? Momentos intermináveis? De palavras esquecidas e sorrisos nunca dados? Do ódio presente em cada passo? Do incentivo sem motivo? Eu me perguntava: “Do que é feita a vida?” A minha não era feita de nada, eu não tinha pessoas, ia a lugares, mas do que eles valiam sem os momentos? Eu tinha todas as palavras, mas essas nunca eram esquecidas… E sim eu já havia dado muitos sorrisos, mas esses nunca foram retribuídos. Eu era uma garota como outra qualquer, cheia de perguntas das qual nunca ninguém teve respostas. Era a garota esquisita na escola, que no final apenas sonhava com um futuro brilhante. Diziam-me que todo problema tinha uma solução… Mas e se você é o problema? O que seria sua solução? Pelo estado de espirito que havia se adaptado cada vez mais de minha alma, pude concluir que se eu possui-se alguma ela estava bem longe de mim naquele momento. Do que era feita minha vida eu pergunta… E o mundo me respondeu: “Descubra.”
[…] A gente não se completava, não se controlava, nem se suportava. A gente não servia para nada, muito menos para ficar juntos. Mas bem, tínhamos algo em comum, nós dois odiávamos seguir regras.
Esvaziei minha alma, esvaziei-me. Esvaziei, o que por um grande tempo foi vazio. Esvaziei, porque ela sempre foi melhor vazia. Esvaziei porque sempre odiei matemática, e o problema que ela vinha me causando nenhuma incógnita resolvia…
Era um desastre no amor e no ódio, um desastre na vida, um desastre na morte. Ela era uma fatalidade, não um garota fatal. Ela sempre agradecia, mas não era agradável, nunca foi. Era um sinônimo, mas nunca algo exato, tinha suas manias que ninguém nunca entendia, tinha uns sorrisos largados por aí, memorias guardadas numa caixa, que nem ela mesma tinha a chave. Aos 13 anos ganhou um presente chamado decepção, aos 16 tornou-se o presente. Com 21 anos, era um desastre, era um sinônimo de viver, tinha suas fatalidades, infelicidades, não era agradável, nunca foi…. Mas, se existia? Claro, e quem não gostava de com 21 anos brincar de existir?
E ele ia me dizer que não precisava mais de mim. Eu sabia disso. E então eu gritei primeiro querendo parecer forte e convicta de minha opinião: “Eu nunca precisei de você.” Ele riu cínico. Seu cinismo era impraticável, eu odiava esse riso, eu o odiava. Ele não economizou palavras em me responder. Não economizou tempo, não economizou olhares, nem maxilares trancados. Ele gritou de volta: “Eu vi o quanto você nunca precisou de mim, eu vi isso quando você me procurava em todos os lugares, me ligava pedindo só para ouvir minha respiração, eu vi isso quando você me disse intermináveis vezes com o olhar que me amava e que se entregaria para mim, eu vi isso quando você chorava por falta da sua existência, por falta de algo, por falta de mim. Eu vi o quanto você não precisava de mim, você nem consegue dar cinco passos sem ter que precisar de minha ajuda, você não consegue nem pensar direito quando eu estou longe de você. Você não só precisava de mim, como você está viciada em mim, você se tornou dependente de mim, eu me tornei suas pernas, eu me tornei seu apoio. Você diz que não precisa de mim, eu sei que faz isso por quer ter a ultima palavra, você sempre quer ter o controle. Mas não admite nem por um segundo, que quando se trata de nós você perde totalmente o controle, quando se trata de mim, para você nada mais importa. E não diga que não precisava mais de mim, não diga que você consegue viver sem mim. Isso seria muito estranho, porque EU não consigo mais viver sem você, não consigo mais pensar direito com você muito longe, nem com você muito perto, eu sinto que eu estou enlouquecendo Mary, e isso tudo é culpa sua. Eu estou ficando desarmado, eu estou ficando sem opções, na verdade eu nem quero opções, eu quero apenas você. E todo esse tempo, acreditei que você também, que você apenas me queria. Então não diga que você não precisa mais de mim, só não diga. Não me faça esvaziar novamente esse vazio no meu peito… Não desista das coisas porque você acha que vai dar errado. Não termine tudo que ainda nem começou direito, não diga que não precisa de mim com medo de que eu diga isso primeiro. Só não diga Mary, não diga nada, apenas respire, eu também me sinto mais vivo ouvindo sua respiração.” Um sorriso se espalhou sobre minha face, e por mais estranho que fosse, naquele momento eu sentia que conseguia fazer tudo, menos respirar.
E sabe qual é o pior? Eu a amo. Amo com toda a minha existência, e ela nem sequer sabe existir…
Get in married if you can, Dan.
Sinto falta do seu cheiro impregnado em minhas roupas, sinto falta do seu perfume no ar, sinto falta do seu olhar, do seu modo de falar, das coisas que você me falava. Eu sinto falta de você. Mas muito mais do que isso. Eu sinto falta de nós. Da gente. Do plural. De quando saiamos e não tínhamos nenhum objetivo a não ser ficar juntos. De quando só a nossa presença importava, de quando um sorriso bastava, de quando eu não tinha ideia do futuro e só o presente importava. Tenho saudades de quando você sussurrava coisas no meu ouvido, de quando você um dia tentou cantar para mim, mesmo não sabendo cantar, só para me fazer feliz. Lembro que você me amava, e nem precisava dizer isso, eu lembro, eu via nos seus olhos. Lembro de quando a gente foi se afastando. De quando você foi me deixando me largando, me deixando cair no chão. Foi como se fosse ontem, você não correspondia mas meus olhares, um sorriso começou a não ser o suficiente. Eu não sei se você enjôo do meu jeito idiota, de minhas piadas sem graça, de minha risada sem motivo, dos meus choros por besteira, da minha falta de sensibilidade com coisas serias, da minha falta de cuidado com tudo. Talvez você tenha enjoado, talvez você nunca tive-se menos gostado. É talvez. Mas não muda o fato de que eu não enjoei, eu não deixo de pensar em você, de reparar em você, não deixo de sofrer, de te olhar de longe e sorrir, não deixo de pensar em mil motivos para fazer você me querer de volta. Não deixo de imaginar como seria ter você de novo comigo. É talvez seja assim, difícil mesmo perder alguém e saber que nunca vai poder ter de novo. E é nessa hora que você começa a ter um relacionamento com as memórias, aquelas reais e as que você mesmo cria para não piorar as coisas
Ela era como o inverno e ele como o verão. Opostos, não tinham nada em comum, nada que os agradasse, nada que os juntasse, nada que os atraíssem… Mas que de alguma forma, muito estranha, se completavam.
Diziam-me que todo problema tinha uma solução… Mas, e se você é o problema? O que seria sua solução?
Ela tinha um jeito arrogante, prepotente. Ela se achava a melhor, e pior, se achava melhor até que eu. Fazia questão de jogar na minha cara, que eu sempre estava atrasado, que eu sempre errava em tudo, e que se, nem dela eu conseguia tirar proveito, imagine dos outros? Oh sim, ela nem imagina o quanto eu estava louco para tirar proveito de tudo que ela tinha a me oferecer. Ela podia ter as melhores qualidades de uma mulher, mas infelizmente era ingenua. Não fazia ideia, do quanto ela me provocava, e do quanto eu gostava daquilo. Ela não fazia ideia do quanto eu pensava de mil maneiras diferentes de leva-lá a loucura. E bem, durante tanto tempo, eu não havia conhecido uma garota como ela… Tão garota, tão mulher. Tão minha, sem fazer ideia, sem dar a minima. Ela tinha um andar despreocupado, achava que tudo ia dar sempre certo para ela. Ela não parava nem um segundo para pensar, e eu gostava disso. Gostava de jeito dela, gostava do seu sorriso, do seu andar, do seu jeito estranho de recusar outros homens dizendo propositalmente que era casada. Casada? Oh eu bem sabia. Ela sempre teve horror a casamentos, e quem diria que logo ela ia ser a madrinha do casamento da própria mãe? Devo admitir, que amei assistir tantas vezes o seus gritos estéricos quando algo dava errado na organização, ou no vestido da noiva, amei vê-lá, irritada por ter que ensaiar todas as entradas ao meu lado, o padrinho. Amei, tanto, tanto, que aqui estou eu, disposto essa noite, falando na frente de todos os convidados do casamento de sua mãe, com ninguém menos que meu pai, que adoraria faze-lá mudar de ideia em relação a casamentos. E principalmente em relação a nós. E aí, Mary Anne aceita o desafio?
Dan, Get in married if you can
Maldito seja o tempo que não conspira a meu favor, malditas sejam as coisas você um dia me deu, que tem seu cheiro, e que me viciou. Malditas sejam as mensagens que um dia você me escreveu, e que agora só passam de tristes e melancólicas lembranças do que poderia ter sido. Vagas imagens de momentos felizes passaram pela minha mente, sua presença continua intacta sobre minha pele. Sua mania de sorrir cínico enquanto me fazia gritar por ficar enchendo meu saco estava intacta, suas ações perturbadoras me faziam enlouquecer, principalmente agora, que você não as fazia olhando em meus olhos. O que irei fazer? Tentar me livrar de minhas lembranças contigo? Impossível, pois agora o meu mundo já havia se convertido no seu, e nada mais podia separá-los.
O engraçado é que durante toda a minha vida, eu nunca fui de ninguém, e ninguém nunca foi meu. Quanta falta de adjetivos possessivos! Eu era tão singular… As vezes eu queria ter a chance de ser um pouquinho no plural. Eu era tão sem graça, que chegava até a ser engraçada. Eu tinha uns pedaços soltos por aí, e você devagarzinho venho juntando tudo… Chegando perto, se aproximando, me deixando sem fala, sem graça, me deixando ser sua. E eu adorava a ideia de ser pelo menos um pouco sua. Mal sabia você, que esse quebra cabeça que era eu, não possuía peça alguma que se encaixava. Não com você por perto, assim, de forma que eu possa ouvir sua respiração. Não com você com os olhos grudados no meu gritando que eu sou sua. Não com você se aproximando dessa forma perigosa. E quer saber? Eu nunca me senti tão bem vivendo em pedaços.
Outrora doce, outrora amarga. Outrora sua, outrora nada. Outrora quente, outrora fria. Outrora noite, outrora dia. Outrora, outra hora, outra alma, outro alguém. Outro dia, outro não. Outro amor, quem sabe, outro coração? Outrora amada, outra hora desarmada. Outrora desejada, outra hora despejada. Outrora loucura, outrora amargura, outra hora viver, outra hora existir. Outrora querida, outra hora esquecida… Outrora já fora alguém, hoje apenas um ninguém, outrora já sorriu com alma, Hoje apenas com os lábios. Outrora corria perigo. Mas quem sabe se salve outra hora?
A arte de morrer,
é morrer aos pedaços,
e viver de escassos,
tentar se encontrar,
e se perder,
achar o caminho
em alguém,
que por fim,
lhe acha um ninguém.
Eu penso muito na minha morte. Eu penso que não posso morrer agora, não posso morrer e ser esquecida, não posso morrer sem ter escrito meu primeiro livro, ou sem ter publicado para o mundo algum dos meus sonhos. Penso que não passei a vida inteira fazendo algo que eu nem mesmo sabia o que era para morrer assim do nada, não antes sem me entender, ou deixar os outros me entenderem. Penso que não posso morrer sem pelo menos uma vez andar de balão, e ver a vida de cima. Não de baixo como eu costumo fazer. Penso que não posso morrer antes de provar café e me libertar a gostar de certas coisas que eu sempre venho evitando. Penso que morrer não será uma grande aventura, não. Morrer será o fim de uma aventura que nem começou… Penso que não posso morrer sem ao menos criar uma trilha sonora para minha vida, e chorar por algum romance que deu errado, deitar na cama e fazer mil planos, e realiza-los na manhã seguinte. Eu penso muito na minha morte, e por mais que eu viva, sem nem ao menos saber pelo que estou vivendo, e por mais que eu lute, sem saber pelo que eu estou lutando, eu quero viver. Penso que quanto mais eu vivo, mais confusa eu fico, e quer saber? Eu sempre amei uma confusão mesmo.
Ele parece estar tentando entender que tipo de pessoa eu sou, rezo para que ele nunca descubra, é bem capaz de ele se afastar de mim depois disso. É o que as pessoas normalmente fazem.
Tarde de mais para voltar atrás, não tinha jeito, jeito nenhum de eu desgostar dele agora. E é por isso e por outros motivos que tudo é muito melhor quando a gente se limita a provar e fazer certas coisas que no final sabemos que nunca vão dar certo. Não gosto de devoluções, nem mesmo quando não gosto do produto. Não é como se a gente pudesse substituir algo que esperávamos que fosse perfeito. Por isso não crio esperanças. Sei que a vida não é uma loja. Sabia que agora que eu havia escolhido ele, não haveria como troca-lo. Talvez joga-lo fora se algo desse errado. Mas esse é o problema. Saberia que ele já esteve ali um dia e isso tornaria tudo tão vazio… Então foi mergulhando em seus olhos que descobri, o que minutos depois preferia nunca ter descoberto. E se eu continuasse dessa forma, mergulhando assim, sem nenhuma proteção, alguma hora iria me afogar. Disso eu tinha certeza.
Eu suspeitava que o fato era que eu nunca tinha me entregado de verdade. Eu estava indo pelo fato de nunca ter ido. Eu estava me despedaçando. Me fragmentando. E o que eu menos queria admitir é que tive que esquecer a mim mesma, para não ter que me forçar a esquecer você.
Antes eu sentia falta de algo e não sabia o que era… Era como um vazio constante. Eu sempre saia a procura de algo…Mas como procurar por algo que não fazemos a menor ideia do que seja? E por mais que eu andasse por aí, nada parecia me completar, nada nunca deu certo. Não para mim. Mas ele apareceu, um sorriso se instalou em minha alma, e tudo pareceu se encaixar. E eu que já fui tão vazia, transbordei. Mas aí ele se foi, e desde que ele se foi, o vazio permaneceu e manifestou-se impetuosamente. Porém, pelo menos agora, eu sei de que modo posso fazer para completa-lo