Geraldo Vilela Mano Júnior
Quando a gente dá-se um tempo para "colocar a cabeça no lugar", logo vem uma ideia brilhante: a de sempre recriar. Viver dias iguais de formas iguais é o que diminui a vontade de ser, crescer, ser feliz. A gente começa a perceber que felicidade é mais simples do que imaginamos: basta estar ao lado de pessoas que nos amam e nos respeitam, reforçando laços e renovando as brincadeiras, o papo, os móveis, o carinho, a forma de demonstrar amor. Gratidão, hoje, é a única palavra que eu consiga definir os meus dias. E que eles sejam cada vez melhores, Amém.
Oração bonita é aquela que a gente faz pensando nos problemas do mundo. Fome, miséria, desigualdade, injustiça, roubalheira e hipocrisia. É aquela reza doída, mas cheia de esperança em um mundo melhor. Tem muita gente boa do nosso lado, mas a correria dos dias nos cega diante dela. Agradeço quem doa sangue, alimento, tempo, dinheiro, roupas, leite, abraços e sorrisos. Mas não vale querer virar estrelinha porque fez o bem ao nosso igual. O mundo não precisa de caridade, gente, mas sim de compaixão. Piedade. O que a sua mão direita faz, a esquerda não precisa saber, lembram disso? Mas um detalhe é essencial: a não ser que usaste a mão pra ferir, mesmo que indiretamente, outro alguém. Oração de verdade a gente faz em qualquer canto, com qualquer barulho, e com todo o amor. É desejar baixinho com que a vida da gente melhore junto com a do amigo ali do lado. É parar de se contorcer diante do que não temos, pra aprender a oferecer o nosso melhor. E o que temos de bom não é pouco não, é só acreditar. E fazer. Que a vida, diariamente, trate de nos oferecer forças pra transformar o mundo num lugar melhor. E nessa oração eu posso contar pra vocês: isso a vida já fez.
Ironicamente, quando alguém nos abandona, o nosso coração, antes longe, começa a bater dentro da gente. E a gente aprende a se virar com tanta palpitação, tanta exigência, tanto barulho que ele faz. Parece que quanto mais o coração bate dentro da gente, maior ele fica. E mais coisas nele cabem. Mais gente, mais sentimentos, mais esperança, mais fé. E mais trabalho. Coração, de uma hora pra outra, vira chefe: aquele que manda. E manda embora, pra longe. Aquele que ordena. E ordena a bagunça. Aquele que governa desgovernado. Até chover. Até transbordar...
Amores impossíveis desenharam-me de uma forma única. Sempre me chamaram a atenção pessoas cuja reputação não necessitasse ser a melhor, mas a mais, digamos que, importante. Não me apaixonei por coisas, não vejo graça. Me apaixonei por pessoas. Pessoas pequenas de coração grande. Pessoas que me mostravam o que fazer sem alguma palavra. Pessoas exemplo, para os meus pais. E é claro que foram amores impossíveis não pelo que havia de bondoso, mas de especial. Me pegava louco de amores por quem atraía mais pessoas que a banda mais famosa da cidade. Sou amante de cheiros, de vozes, de olhares fraternos. E qualquer um pode ser dono disso tudo, quando existe uma outra pessoa buscando alguém para se apaixonar. E sim, eu sempre busquei alguém para me apaixonar. Mas acontece que eu não era a pessoa certa para elas, embora acreditasse que elas fossem feitas para mim. Nossa, como amei loucamente! Como me vi necessitando de um outro alguém para que pudesse encontrar a tal felicidade. Como eu me perdi, meu Deus! E como eu sofri, chorei, esqueci de mim mesmo, me desrespeitei, perdi completamente o valor. Mas criei asas fortes. Criei rios largos. E muros, bem altos...
A gente vai crescendo e quem nos são apresentados? Amores improváveis. Aqueles por quem passamos sonhando grande parte de nossa juventude, e os que vão surgindo em nossas descobertas. O problema em ser um amor improvável é que ele deixou de ser impossível, e passou a ser provável (no sentido "desgustativo" da palavra, se é que me entendem) e improvável (em se tratando da probabilidade de dar certo). Bom, aí sim começamos a aplicar aquelas disciplinas que apreendemos ao longo de nossos estudos, inclusive na Matemática. Cálculos amorosos são o fim, mas é o que nos sustenta. "Eu não vou ligar porque...", "eu não vou procurar porque...", "eu não vou acreditar porque...", "eu não vou insistir porque...". São questionamentos calculistas que nos defendem e nos afastam daqueles que amamos. Somos fartos em racionalizar a essa altura do campeonato. E perdemos o medo dos amores impossíveis. Aliás, julgamos que perdemos esse medo. E nos tornamos uma bola de ping pong em aço, que por pesar tanto quica menos, mal sai do lugar e é resistente, muito resistente. Os amores improváveis, além de tudo, são oferecidos a nós - ou seriam procurados por nós? - nos momentos em que estamos quase nos situando em algum lugar. Só pra nos desviar do caminho...
Ah, os amores imprevisíveis! Fazem parte de uma crença bonita e sem fim. Você se arruma para a escola, para o trabalho ou pr'aquela confraternizaçãozinha na casa do vizinho sempre com a esperança do "vai que...", "e se...", "quem sabe...". Você crê ainda em sorte no amor, mesmo depois de tudo dar errado. Até que você aprende que o segredo não é esperar, é esquecer um pouco essa ânsia de ser dois. É aprender a gostar de você sozinho, a cuidar de você como se fosse - e é - o seu maior amor. Chega um momento na vida da gente que as histórias de amores impossíveis e improváveis ganham charme, ganham espaço nas nossas conversas e até um tom de graça, quando lembramos o quanto éramos imaturos. Amores imprevisíveis existem, ainda que eu não os conheça empiricamente. Podemos perder tudo, mas nunca a fé. Um dia achei que o amor fosse a raiz de todos os sentimentos, mas eu me enganei, sabe... Sinto que o amor acaba, mas a fé de continuar vivendo o amor permanece, enquanto houver ferida, enquanto houver vida. Não é à toa que acho a coisa mais bonita da vida essa capacidade das pessoas seguirem em frente, mesmo com tudo desabando, mesmo com a esperança ao chão.
Hoje eu vim falar de gente. Essa gente mesmo, do nosso dia-a-dia, que gasta mais horas sorrindo, com pensamento positivo fluindo nos olhos, com a auto-estima que mais parece um sol, que ilumina onde passa. Hoje vim ganhar meu tempo desejando sucesso a quem almeja, e paz a quem precisa. Tô desejando paz principalmente pra quem só sabe viver de picuinha, de montar drama, de relembrar feridas. Porque tudo isso só me aponta detalhes de quem se ama pouco e quem não tem coisa verdadeiramente boa pra se preocupar. Vim agradecer os ombros amigos que surgem de esquinas que mal passamos, as palavras amigas de quem nem conhece a gente direito, os elogios vindos de quem a gente nem acreditava que tinha um coração - mas que nos surpreende ao mostrar que tem, e enorme! E não só falar, mas orar mais pr'aqueles que não acreditam em boas intenções e só veem espinhos em buquês de flores. Aplaudir quem segura a língua, a maldade, o rancor, a inveja, e troca tudo por uma boa caminhada ao entardecer, ao invés de deixar o corpo pagar o pato. Vim dizer pra esses amores malucos virem quentes que eu tô fervendo, porque medo de amar é o que tá em falta aqui em casa. Vim dar boas vindas aos viajantes, oferecer carona aos carentes, e apontar novos rumos aos maus intencionados. E é claro, tô passando pra dar até logo e volte sempre pra quem é aventureiro, desejando boa sorte e deixando de lembrança os bons momentos que tivemos. E só espero uma coisa: que os opostos continuem se atraindo, e que o bem prevaleça. Que as cabecinhas difíceis encontrem as melhores companhias, aquelas que são capazes de fazê-las melhores, não no sentido individualista, mas comunitário. O mundo é uma equipe, gente, e é válido o clichê de que não dá pra ser feliz sozinho. Dá trabalho, e muito, seguir o caminho que transborda o bem, mas a gente vai tentando, e relevando, e perdoando, e transformando mágoa em prece, tristeza em esperança, decepção e fé. Acredito mesmo é na vontade de fazer as pessoas felizes, porque é o que está todos os dias em nossas mãos. Somos livres e temos a capacidade plena de transformar, com gestos, com atos, com silêncios e palavras. Conforme a frase - magnífica! - que li recentemente: Pensar antes de fazer é grátis. Não fazê-lo sai caríssimo. Simples assim.
Chega de pesos desnecessários, lenga lenga, conversinha de esquina, leva e traz, papo de gente infeliz. Chega de reclamar de fulano ou ciclano, mostrar os pés atrás que tem com alguém, sorrir com demasia pra quem não se suporta. Natal é recomeço, e pra recomeçar é preciso o mais difícil pra se conviver: aceitar e perdoar. Se nenhum desse itens existe, é melhor tocar o barco pra outro rumo. Todo dia é tempo de travessia. Todo dia é tempo de renascimento. Mas só falar ou escrever não basta, tem que viver. Do contrário, é só mais uma das mentiras de natais. O maior ato de coragem é aceitar uma coisa como ela é sem precisar dar significados. Significado também é defesa. Do que vc precisa se proteger? Do amor que não se sabe se é recíproco? Da amizade que não se quer dividir? Das relações profissionais que não podem se transformar em algo mais íntimo? Ou de ser vc? Natal, antes de tudo, é aniversário de Jesus. Não quero falar de fé, nem testar a fé de ninguém. Mas antes de desejar feliz Natal é preciso conhecer as margens desse dia. Natal existe pra nos fazer lembrar de quem viveu e morreu por um único propósito: as outras pessoas. Pra quem temos vivido? Com que propósito temos vivido? Fica a dica de reflexão pra gente, enfim, encontrar o verdadeiro e íntimo significado de feliz Natal!
Irônica a maneira como que em busca de algo de verdade, nos deparamos com tantas mentiras. Quebramos a cara. Nos iludimos assim, de graça, como quem sabe que não vai dar certo, mas insiste assim mesmo nos erros. Parece que quanto mais difícil, maior a vontade. Amor-desafio, eu diria. E, de corajosos que somos, não desistimos. Insistimos no ato de começar o dia bem e logo encontrar uma pequena fenda aberta, de onde saem aqueles malditos sentimentos de abandono. Mas a cada encontro com a solidão, aprendi a agradecer...
Abençoados sejam os momentos que nos salvam de nós mesmos. Do nosso vício de direcionar energia para a palavra-mágoa, a imagem-mágoa, ou a mágoa da felicidade distante. Abençoados sejam nossos amigos, que nos livram por algumas tardes ou noites desse sentimento inferior. Abençoados os bons drinques, que nos alegram instantaneamente. Abençoados os chocolates, os livros e filmes - de ação e suspense, por favor. Abençoada seja a calça folgada como sinal de que você está entrando em forma, e quem sabe não seja a sua melhor forma de existir. E abençoada seja a maneira de compreender que não é necessário ter tanta pressa. Tudo é aos poucos, assim como o amor. É que a gente tem a mania de viver os melhores momentos como se fossem os últimos, o que nem sempre soa tão bem, então aquela sensação de que tudo o que é bom dura pouco bate na porta. Mas apaixonar demora muito, e como demora! Assim como desamar. Assim como decidir que caminho seguir. Assim como demoram quaisquer memórias que nos façam quase desistir de se fazer feliz, se fazer bonito e se dar o devido valor. Demora muito pra gente ser feliz todo o dia, mas a gente aprende. Tem que ter olho pequeno e enxergar muito bem. Tem que ter ouvido que só capta o essencial, e boca que só diz o que for possível de, caso seja necessário, engolir. E não nos esqueçamos que em qualquer relacionamento que estamos, a felicidade é pouco perceptível, até que percamos algo ali. Não vamos perder pra dar valor, não precisamos. E nem vamos nos agarrar àquilo que nos coloca abaixo de zero. Acredite, tem sempre alguém nos querendo bem. Isso sim importa.
Simplifique sua vida: Se não estiver a fim de sair, atenda ao telefone e diga. Se não está bom, diga também. Se tiver algo acontecendo, seja honesto (pois no final, estará sendo mais honesto com você). Não chame um colega de amigo, nem tampouco vice-versa. Não confie em estranhos. Dê mais valor na sua intuição, e para além disso, desconfie dela. Use manteiga de cacau nos lábios em dias muito quentes ou frios. Não critique pessoas que estão surgindo em seu círculo social (aparências enganam e elas podem se tornar seu maior tesouro). Aprenda que suas exigências mudarão conforme a abertura de sua mente. Escute seus pais quando disserem "leve um guarda-chuva" ou "leve uma blusa de frio" ou "não vá". Não pergunte a uma criança se você está bonito quando você estiver de baixo astral. Não espere ser cortejado por alguém que te serviu somente para tapar buracos (pessoas percebem isso e mudam de atitudes para com você). Crie menos expectativas em relação ao outro (pessoas erram, esquecem, não percebem). Não queime o filme de ex ou amigo com quem ainda pretendes reatar laços. Não espere muito do final de semana ou feriados (boas surpresas adoram o acaso). Não deixe as coisas para a última hora, deixe para, no mínimo, faltando umas duas rs. Não mande e-mails ou mensagens contendo informações de terceiros, algumas pessoas podem usar isso contra você. Nunca esqueça sua identidade em casa. Desconfie arduamente das pessoas que tentam te distanciar dos velhos - e verdadeiros - amigos. Tenha mais cuidado com as palavras que usa para se despedir de alguém, podem ser as últimas de ambos. E por fim, opte por não viver programações: a vida foi feita pra ser mais natural.
Enquanto o dia nascer, virá com ele a certeza de que tudo o que fiz, tudo em que acreditei e tudo o que se foi sempre tiveram o melhor de mim. Nascerá, ao longe, escondida entre as nuvens, uma esperança que ascenderá luzes onde o olhar já se escureceu. E serei capaz de fazer de novo, acreditar de novo e suportar de novo. Quem vai, que leve consigo tudo aquilo que sufoca, que aperta, que trava, que não surpreende. Mas se quiser deixar alguma coisa, que seja apenas as boas recordações, nada de vestígios de sentimentos doídos atrelados às bordas da alegria recriada. E quem vem, que traga consigo somente a capacidade de se colocar no lugar dos outros. Isso sim é dádiva a ser valorizada. Porque o resto, tudo o que sobra, não passa daquela beleza que sai com sabão e água.
Não tão rápido, nem tão fácil, muito menos prático como abandonar uma leitura nem um pouco interessante. Amor envolve mil e uma dores, quando não vivido até o fim. Até o último suspiro por um sentimento. Até esvaziar a última gota de sangue dos pulsos - metaforicamente, por favor. Até a mudança das nossas atenções. Se soubéssemos das bolas de neve em que entraríamos, não teríamos aceitado nem um mísero 'oi'. Mas, infinitamente, tá na hora de sair do papel de vítima. Parar de alimentar os pensamentos que nos tornam megalodramáticos, melancólicos, viciados em abstinência de endorfina. E mudar, nem que seja por um minuto, a música de fossa. Que a gente vive em um mundo de expectativas é lógico, embora a todo tempo esqueçamos. Não que gostemos de sofrer, cá pra nós, mas um bocado de sofrimento é como pimenta, diferentemente aproveitada pelos baianos ou pelos japoneses. Cada um sabe como tem que ser temperado, mas aquele velho clichê de que ninguém nasce sabendo é a mais besta verdade que já ouvi. Precisamos sofrer o ardume dos sentimentos pra só assim considerarmos valedor de pena ou não. E não admitamos que sofrer é natural, porque não é, não mais, não neste nosso zeitgeist. O espírito do momento é o prazer instantâneo, é suportar pouca dor, ou querem abrir mão da eficácia dos medicamentos? Eu quero! E não, não curto sofrimento, nem tampouco aquele provindo das palavras. Mas suporto. Sou resiliente. E creio que todos sejam. Quer uma dica? Elabore seus sentimentos. Suas vontades. Seus planos, suas perdas, seus sonhos, isso mesmo, no pronome possessivo "seu/meu". Elabore não, Reelabore, reinaure-se, renasça. E o "como?" é a frase mais mágica que encontrei em uma quinta-feira nublada de novembro. Não vou dizer que a vida é uma só. Que o tempo passa. Que morreremos. Não mais. Não direi que você é aquilo que você come, que você faz, e não o que você acredita. Precisamos de pouco, sabe... Um pouco que a cada dia se torne mais. Mais paciência ao ouvir. Mais amor ao falar. Mais coragem ao persistir, e ao desistir só aquela coragem que sobrar. Porque sou da geração que persiste porque quer, e depois não precisa culpar ninguém por isso. E que persiste no fácil e ignora o difícil. Essa ideia de que tudo que vem com facilidade se vai com facilidade não me contaminou. E a melhor que consegui produzir foi a de que tudo vai ser diferente se a gente quiser. Se a gente se esforçar. Se a gente acreditar. E o mais essencial, verdadeiro, óbvio, correto, e sei lá mais o que: se a gente fizer. Se a gente se levantar. Se a gente agir. Às vezes, a gente precisa sonhar pra descansar da vida. Mas se a gente não viver e deixar os sonhos descansarem, acho difícil sair do lugar onde tudo dói... até o amor.
Quando insistimos em um relacionamento complicado, não significa que nos faltam forças para sair, mas sim que nos restam forças para ficar.
"A dor e a delícia" de ser diagnosticado
Inicialmente ressalto que não utilizarei termos acadêmicos porque a minha atenção neste texto é que ele alcance um número de pessoas que entendam, de forma simplória, o que eu quero dizer.
A caminho de seis anos me interessando por assuntos voltados para a psique, diariamente me deparo com a proporção que tomou o uso de diagnóstico pelas pessoas. Muitas se "autodiagnosticam" visitando sites, respondendo a uma bateria de testes sem algum embasamento teórico-científico, conversando com um amigo que está cursando - visitando a sala de aula de - Psicologia ou uma matéria chamada "Psicologia alguma coisa" em um determinado curso. Enfim, pessoas querem se enquadrar a uma psicopatologia ou estrutura psíquica.
Saber o que/quem se "é" em tempos onde todos têm de se mostrar "cult" é chique. E "ser" "bipolar" ou "boderline", então? Moda-psi. E acreditem, estes são diagnósticos dificílimos de serem identificados, e eu ousaria dizer que levariam no mínimo dois anos, com ajuda e controle profissionais, para então a confirmação do que se trata.
O fato de a pessoa ter em mãos seu próprio diagnóstico, quando provindo de um profissional qualificado, não me incomoda. Mas eu ter a convicção de que exista um medicamento ou uma fórmula de "cura" para uma psicopatologia que ainda não foi sequer divulgada, bom, aí já é demais. Comportamentos da nossa era atual estão sendo ditos como doenças, déficits e síndromes em uma velocidade assustadora e isso me preocupa. Por quê?
Bom, acredito sim que toda pessoa tenha o direito de saber o que se passa, tanto no adoecer físico quanto psíquico. Mas o problema maior é a forma em que é passada, e para além disso, o jeito com que a pessoa internaliza a forma que a disseram que ela é/está no mundo. Uma forma que não tem salvação, como se a aprisionasse dentro do seu "ser". E com isso, tem muita gente utilizando o "seu diagnóstico" (o que eu sou, o que eu tenho?) como desculpas a ações absurdas, como a própria obrigação de ser feliz a todo e qualquer custo, ou como desculpas para não se ter responsabilidades. Pessoas estão fazendo mal umas às outras, aos ambientes em que convivem, e no final dão a desculpa do diagnóstico. E isso acontece num tempo de urgências, antes que tudo se acabe, já que para todos a vida tornou-se algo breve.
Para que tenhamos clareza da seriedade do que é diagnosticar, em estágios e acessos a prontuários da Psicanálise e da Psicologia eu vi muitos "psicóticos" ou "obsessivos" sendo enquadrados como "perversos". Psicóticos sendo chamados de "histéricos" ou "neuróticos". "Melancólicos" e "depressivos" sendo chamados de manhosos. "Pessoas fóbicas" ou com "TOC's" tendo direito somente ao uso de medicamentos, e não de se perceberem nas suas dificuldades. E em todos esses casos, é como se tirassem o sujeito da doença e a pessoa tornasse apenas uma telespectadora do sofrer.
Eu aprendi que o diagnóstico psíquico é de uso do profissional no campo da Psicologia ou da Psiquiatria ou da Psicanálise. O que o paciente é ou o que ele tem não é retirado de uma CID ou de um DSM, mas de uma história de vida. Manuais são um caminho, não uma solução. E o tratamento, embora muitas vezes eu concorde que deva sim ser medicamentoso, parte das possibilidades apresentadas pelo paciente ao profissional, e é claro, na busca pela forma que o adeque, por vontade e liberdade dele, a um estilo de vida suportável e feliz.
Acredito que as pessoas não deveriam se preocupar tanto com o que têm ou são no adoecimento psíquico, mas sim com o que podem fazer para cuidarem de si e das pessoas aos seus arredores. Não se trata de parar de dizer qual o diagnóstico, mas de mostrar ao paciente que ele é bem mais que qualquer nome. Não podemos deixar de acreditar na mudança dos sujeitos, na responsabilização dos sujeitos, tampouco superação das limitações dos sujeitos. Todos nós temos limitações. Mas se superar e se autoconhecer são pontos importantes que também fazem parte de uma terapia. Por fim, a terapia é um momento de parar, refletir, recuperar forças... e seguir em frente. Coisas que um diagnóstico não proporciona a ninguém.
Consulte um psicólogo.
Que o fato de ter de nos tornar pequenos para caber em algum lugar não interfira na consciência da nossa grandeza.