Georg Groddeck
Quando alguém se sente doente, deve ser tratado como doente, mesmo que não apresente nada de patológico. É fácil falar de imaginação, histeria, vontade de chamar atenção, mas é uma imprudência. Se se quer tratar um ser humano como "doente imaginário", não se deve esquecer que, agindo assim, se está destruindo a alegria de uma existência.
A doença é um dos meios de aceder ao conhecimento de si mesmo, é uma linguagem, um caminho através do qual o homem descobre, em si, a infância e a violência de suas paixões.
O artista é aquele que chega a captar o ´não-captável´ do seu ser, e a exprimi-lo de forma justa: que o revela e o esconde ao mesmo tempo. É aquele que sabe exprimir a reflexão íntima do ser humano, aquele que não tem palavras e é por isto que suas obras causam efeito.
A vida é o que cada um sente por sua mãe; viver é chegar a clarificar suficientemente a paixão para não ser quebrado por ela.
Não é preciso ter medo de se aproximar da morte para aí encontrar a vida; as forças que conduzem à morte são também aquelas que reconduzem à vida. É preciso amar e temer a doença, para poder cuidar dela.
Somente quando o médico cessa de querer ser médico, começa, realmente, a arte médica. Quem é ser humano é médico, todo ser humano é médico, todo ser humano pode vir a sê-lo, se deixar de ser persona, comediante, e se encontrar a si mesmo como ser humano.
A linguagem, enquanto dupla articulação, é não somente constituída de signos, mas veículo dos símbolos e, também, portadora de sentido, muito frequentemente desconhecido para aquele que fala.
O acaso não existe: toda doença, acidental ou não, tem um significado.
O id utiliza a doença para alcançar certos objetivos.
De fato, só se pode aplicar a análise quando o doente permite e reconhece a indicação do tratamento pelo abandono da resistência. Um doente que resiste até a inconsciência não pode ser analisado, pois o objeto do tratamento é o consciente e o recalcado, o que pode aceder ao consciente. Um doente que manifesta sua resistência sob a forma de uma doença rápida não pode ser analisado.
(in La maladie, l´art et le symbole, p. 137-138)
Porque é um erro crer que o doente vai ao médico para sarar. Ele tem apenas uma parte do seu ´id´ disposto a isto, a outra teima na doença e espreita sinistramente a oportunidade de obrigar o médico a prejudicá-lo.
(Livre du ça, Gallimard, Paris, 1973, p. 308)
Se o médico representa a vontade de cura, aparece para o doente - que recorreu à doença para resolver um conflito - como o inimigo a combater. Ambivalente em relação à sua enfermidade, ele pode encontrar em seu médico motivos de resistência à cura e também de agravamento da doença.
Em um tratamento onde transferência e resistência constituem os eixos, tudo o que sobrevém como tentativa de ruptura da relação analítica, como um agravamento brusco da doença ou gesto suicida, é resultado de um ocultamento - da parte do médico e do doente - dos símbolos que operam neste momento.
Não se deve esquecer que a recuperação não é realizada pelo médico, mas pelo próprio doente. Ele cura a si mesmo, por seu próprio poder, exatamente como ele anda por meio de seu próprio poder, ou come, ou pensa, respira ou dorme.
A doença é uma manifestação de vida do organismo humano.
Reconciliar o adulto com o ser-criança consiste em readaptá-lo, amputá-lo do que nele é doente, confuso, associal, pervertido, desordenado, excessivo, mas dar-lhe possibilidade de "brincar com", restituir-lhe sua liberdade.
A sexualidade do adulto é o resultado da integração das sexualidades infantis, pulsões parciais dos diversos órgãos, e não o resultado de seu recalcamento, assim como a vida adulta é o resultado da integração de todas as formas de vida infantil.
Por que deveríamos levar sempre a sério o que se diz científico? Parece-me que a ciência cessa no momento em que se transforma em regra, em que se torna lei.
Freud é inibido pela funesta crença na absoluta necessidade do batismo, da nomenclatura, mas ele compensa por seu gênio. Você também reconhece isso mas não nota que o grande chapéu do adulto, que envolve sua cabeça embrutecida, para que nada entre ou nada saia, é um jogo para nós, crianças. Graças a Deus, um jogo. (Carta a Ferenczi de 12-11-1922, in Ça et moi, p.186)
Abolir a oposição entre o bem e o mal, conhecer-se a si mesmo e tornar-se criança (...). Devemos considerar tudo com um olhar humano, sem saber se é realmente assim ou se parece unicamente assim. Esta afirmação abala a respeito pela autoridade, mas a reverência pelas coisas profundas ela nao abala