Genival Silva
Dividir dores não sentidas 1
Faço-me em escombros, não para reconstruir-me, mas para eliminar aquilo que ainda existe de ruim em mim.
Eu e eu
Embriago-me no desejo de ser apenas eu. E quem me cerca me torna mais humano dom que sou, e vejo que sou menos humano do que qualquer ser que si envergonha de ser apenas humano, e o vento bate meu rosto e me torno simplesmente eu.
Frases Frias
Não sofras por deuses, crenças ou outrem. Sofras simplesmente pela necessidade de viver suas carências de crescimento.
Fragmentos de Mim
(...) E me encontrei nas entrelinhas de um lugar vazio e meu reflexo gritava chamando por mim. De repente, estava eu, bebendo todas as taças de saudades com um singelo, único e ultimo gosto de angustia (...).
Fragmentos
(...) O suicídio me fascina, tanto quanto a vontade de viver. E o que me resta é apenas o equilíbrio, quando a duvida é o que me mantem vivo (...)
Anamnese
.
Das lágrimas já derramadas
Nas passadas longas e curtas
Furtadas alegrias murchas
Nas quartas pós carnavais
São recortes de jornais
As poucas lembranças que trago
Afago o pouco que tenho
Engenho, vento e sinais
Olhares tão canibais
Toques singelos e quentes
Brisa, relâmpago e gente
Domingos e tardes iguais
A pele nua e fria
Vagas memórias mortais
Jamais o gesto mentia
Dores e desejos carnais.
Desculpas à saudade
.
Oh! Saudade injustiçada
Rogo a te o teu perdão,
Pelas reclamações das noites
Nos cantos de solidão
Pois sei que és inocente
Te chamei de inclemente
E outras culpas que te dão.
Isenta de piedade
Causticante, e renitente
Devoradora de gente
E mãe da calamidade
Doadora de sobejos
Madrasta dos meus desejos
Matadora de vontade
És da dor a promotora
Outro adjetivo teu
Causadora de gemidos
Flechando corações feridos
Acerta ricos e o plebeus
Da angustia fonte perene,
Do desespero és a farra
Onde a tristeza desgarra
Mãe noturna dos gemidos
Amores desconstruídos
Inspiração da cigarra
Mas na verdade Saudade,
Tu não tens culpa de nada.
Sempre é a paixão safada
Que diz que só faz o bem,
Roubando de quem não tem,
Assim usando o teu nome
Cria sonhos e não mata a fome
Dos sentimentos guardados
Paixão e dor são aliados
No maltratamento de gente
E nós que aqui te sente
Atravessa a madrugada
E tu, pobre coitada
Nos abraça e acalenta
E o ser que te sustenta
Prova do bem e do mal
Desculpe os meus insultos,
Acusas e maldições.
Eu defendo os corações
Do desespero e a mágoa
Quando dos zói cai a água
Quem sente assim se comove
Quando as dores das madrugadas
Com carinho são lembradas.
Só tu, saudade, resolve.
Andei mais de mil léguas
Lugares foi mais de cem
Conheci muitas pessoas
No Brasil e mais além
Gente de toda idade
Só não sei se deixei saudade
No coração de alguém
Quando a saudade toca o ser
No momento o desfaz
Corrói o cabra por dentro
Com sua fome voraz
E como se fosse vidraça
Quando quebra despedaça
E juntar, não junta mais.
Mendiguei o seu carinho
Ela nunca me notou
Tô seguindo o meu caminho
Não sou flor que já murchou
Querendo, fico sozinho
Não me serve o seu carinho
Fui eu quem me encontrou
Saudade em Septilha
A saudade arranca do peito
O que já foi alegria
Deixa a cumbuca vazia
Pra tristeza passear
Ela passa nesse engenho
Se eu não tirar a que tenho
Não cabe a que vai chegar.
Soneto de Quando Morri
As quatro paredes deste quarto triste
Me sufoca de pavor e pena
Ao reviver a imortal e triste cena
Do morrer de alguém que ainda existe.
Eu, fora de mim, sou quem assiste
O pouco de vida que me envenena
Angústia e carga numa vida pequena
Beber o veneno e de viver desiste.
Vejo-lhe os olhos calar o peito
Urros e gemidos finda o efeito
E a dor é arrancada do íntimo fundo.
Trancou o livro da pouca sorte
Se despede da vida e abraça a morte
Encontrando a paz no desejo profundo
Metades - texto 3
E assim acordei tão sozinho
Feito bêbado caído na sarjeta
Uma réstia entrando na gaveta
Pássaro aluindo o seu ninho
Um pacote deixado no caminho
Encharcado de sereno e madrugada
Um capim nascido na estrada
Onde vida jamais passou por ela
O solo da cuíca na Portela
Uma porta trancando a entrada
O muro, cegueira arbitrada
Um olhar solitário na janela.
Soneto do dia triste
Se me achares como um dia nebuloso
Que na tristeza em tua porta bate
Não negai teu sorriso aquém se abate
Na jornada de um dia melancoso
Abraçai com um abraço amoroso
Em teu peito minha dor amortece
Pois terais no meu dia que padece
O poder de diminuir o doloroso
Embora o desgosto muito seja
No olhar há um brilho, que se veja!
Nesse peito que já foi afetuoso.
Dos deslizes se mostrando arrependido
Na vida se entregou, já é vencido
Chora o choro desse dia demoroso.