Gabriele Fernandes
" E eu fico me perguntando o que eu ainda faço com alguém tão idiota quanto ele, quando eu poderia muito bem mandá-lo para aquele lugar sem dó. Porque mesmo que eu falasse tudo o que está engasgado aqui dentro de mim, eu sei que de nada adiantaria: ele não entenderia. Ele nunca entenderia uma palavra. "
" Eu esperei tanto, tanto tempo por você... " - foi o que ele me disse com aquele seu jeito especial e encantador, tão lindo!, me enchendo de uma alegria e um amor incomparáveis a qualquer coisa no mundo. E eu também tenho que dizer que eu esperei, demasiado, que ele chegasse. Ele fora o meu pedido de aniversário do ano passado, o meu presente desejado de Natal, o meu pensamento na virada do ano, na festa de Reveillon. E ele chegara, assim quando eu menos esperava, pegando-me de surpresa e tomando conta da minha vida, do meu mundo. E eu decidi, - Por que não? -, viver esse amor com todas as coisas boas que ele possa me proporcionar. Afinal, ele não foi tudo o que eu sempre desejei? E ele está aí, pulsando em mim, criando vida, me fazendo ter essa cara de pateta, me tornando só mais uma pessoa clichê apaixonada. Uma boboca com os olhos brilhantes e o coração feliz!
" Fui eu que toquei no assunto. Fui eu que coloquei um ponto final no nosso amor tão precoce.
E eu digo amor, porque não importa que tenha durado tão pouco, fora, demasiadamente, intenso... "
" Já estou tão habituada ao mar, e ele tão a mim, que ao pisar na terra, sinto-me tremerem as pernas. Engana-se quem pensa que o mar é perigoso, quando vivemos num mundo tão violento quanto o nosso... O mar, muitas vezes, torna-se um refúgio... "
" E eu estou só cansada de mendigar algum sentimento que seja de alguém, quando ninguém pode me dar nem metade daquilo que eu necessito... "
" ... A única certeza que temos na vida: a de que morreremos e ponto final. Acabou. Sem finais felizes, sem príncipes, sem gente 'pé no saco', sem vida, sem nada. Apenas pó e cinzas, jogadas ao vento, onde desaparecerão e não significarão mais nada. "
" Quando eu era pequena, eu sonhava que um dia o meu príncipe encantado viria me buscar e tudo seria mais feliz. Eu construiria uma família ao seu lado e viveríamos felizes para sempre. O céu, de repente, ficaria azul, e nunca mais seria o céu cinzento ao qual eu estava acostumada. As pessoas sorririam para nós e eu me sentiria, pela primeira vez, amada de verdade. Tudo seria colorido. Quiçá, até repleto de arco-íris. O sol, radiante lá no céu, nos encheria de luz e uma sensação de paz, conforto e felicidade brotarião em nossos corações.
Mas aí o tempo passou, eu mudei e tudo mudou. A criança que eu era, cheia de sonhos e fantasias, já não existia mais.
Depois de tantas decepções, lágrimas, corações despedaçados, eu não era mais a mesma. Uma alma intacta, pura e inocente, fora cruelmente vilipendiada, tomada de seus sonhos, dando lugar a esse ser vazio, oco e sem esperanças. Pude enxergar o mundo com os meus olhos de adulta. Aqueles olhinhos pequenos e arregalados de criança curiosa a tudo, não podiam imaginar a extremidade das coisas que eu poderia ver um dia, ou seja, as obscuridades desse mundo insano. Aqueles olhos acreditavam no que os filmes e os livros infantis diziam. Aqueles olhos sorriam e tinham esperanças, mas os meus olhos foram ficando duros, com o passar dos anos, ocasionalmente por terem enxergado a realidade como realmente ela é. Deixando-me cética a tudo e a todos. Achando o mundo um tremendo saco de viver... "
" Tudo tornara-se incrivelmente insuportável e até respirar me causa algum sofrimento, como se fosse um holocausto terrível. "